Capítulo 3
7 anos atrás…
O pátio do templo estava em sua habitual calmaria, o vento sussurrando pelas folhas das árvores e o som distante das ondas do mar chegando até ali. Duas crianças brincavam sob a sombra de uma grande figueira, rindo enquanto giravam em círculos com um cavaleiro negro imaginário, que sempre aparecia nos momentos em que estavam mais tristes.
— Vamos, Cavaleiro Negro! — Nix exclamou, apontando para o céu como se liderasse uma tropa. — Vamos salvar o mundo!
Fallon riu, seus cabelos castanhos balançando suavemente enquanto imitava o som de espadas sendo desembainhadas.
— E se eu quiser salvar o mundo com um pouco menos de barulho? — brincou Fallon, o sorriso travesso refletindo a cumplicidade entre as duas… que não durou muito tempo.
Uma pequena luz prateada piscou no ar, chamando a atenção de Fallon. Era um vaga-lume, ele possuía um brilho intenso, quase sobrenatural. A criatura voou em círculos ao redor das crianças, como se tentasse falar, como se pedisse algo. Fallon, curiosa, estendeu a mão, e o inseto pousou delicadamente em seu dedo.
— O que é isso? — Nix perguntou, inclinando-se para olhar mais de perto.
Antes que Fallon pudesse responder, uma voz suave, como o eco de uma canção antiga, sussurrou em sua mente.
“Por favor, ajude-me.”
Fallon arregalou os olhos, surpresa. Ela sentia a súplica como um peso no peito.
— Você consegue ouvi-lo? — perguntou Fallon, olhando para Nix.
— Ouvir quem? — respondeu Nix, confusa.
A luz do vaga-lume se intensificou, envolvendo Fallon em um brilho fosco que parecia ecoar o próprio luar. Ela sentiu uma onda de calor percorrer seu corpo, como se algo muito maior que ela mesma estivesse entrando em sua alma.
— Sim. Eu ajudo você — Fallon murmurou, sua voz trêmula, mas firme.
O vaga-lume desapareceu em um flash, e naquele instante, os cabelos castanhos de Fallon se tornaram prateados como a lua. Sua pele parecia refletir a luz, e seus olhos brilharam como duas estrelas. Nix deu um passo para trás, sentindo uma pontada de algo que ela não conseguia nomear. Era admiração, mas também medo.
— Fallon…?
Antes que pudesse dizer mais, o pátio foi inundado por acólitos e o mestre do templo, atraídos pela luz. Eles pararam ao ver Fallon, suas expressões oscilando entre reverência e espanto.
— A Santa da Lua… — sussurrou o mestre, caindo de joelhos. Os outros acólitos seguiram seu exemplo, curvando-se diante de Fallon.
Nix olhou ao redor, confusa e assustada. Ninguém olhava para ela, ninguém sequer parecia notar sua presença.
— Fallon é a Santa da Lua? — murmurou Nix, dando um passo à frente, mas um dos acólitos ergueu a mão, impedindo-a.
— Não toque nela. Ela agora é sagrada.
— O quê? — Nix exclamou, indignada. — Ela é minha irmã!
— Ela não é mais apenas sua irmã, Nixoria! — respondeu o mestre, levantando-se e encarando Nix com uma expressão dura. — Ela pertence ao Espírito da Lua agora. E você…
Seus olhos se estreitaram ao olhar para Nix. As sombras ao redor da garota pareciam mais densas, como se algo as agitasse.
— Você não deveria estar aqui. Essa escuridão que a segue… não pode permanecer.
Antes que Nix pudesse protestar, Fallon tentou correr até ela, mas foi segurada por dois acólitos.
— Não! — Fallon gritou, sua voz carregada de desespero. — Não a levem! Ela é minha irmã!
Mas ninguém a ouviu.
Enquanto os acólitos afastavam Nix, uma presença surgiu das sombras ao lado da garota. O Cavaleiro Negro, que sempre estivera com elas nos momentos difíceis, observava tudo em silêncio enquanto a garota era empurrada para fora do templo.
Do lado de fora, enquanto Nix soluçava de joelhos no chão, o Cavaleiro Negro se aproximou. Sua armadura brilhava com um tom opaco, e seus olhos, escondidos pelo elmo, pareciam observar a alma da garota.
— Você chora por sua irmã? — perguntou ele, a voz profunda, mas cheia de curiosidade.
— Eles a tiraram de mim… — Nix murmurou, os punhos cerrados. — Eles a chamaram de sagrada e disseram que eu era má.
O Cavaleiro ajoelhou-se ao lado dela, tirando o elmo lentamente. Por baixo, revelou-se um rosto humano de pele retinta, com olhos que refletiam um infinito de caos e possibilidades.
— Eu sou Morfeus, o Senhor do Caos. — Sua voz era firme, mas não ameaçadora. — Vejo em você algo que o mundo teme, mas que pode mudar tudo.
Nix o encarou, confusa, mas não recuou.
— E o que isso significa?
— Significa que você tem escolha. — Morfeus estendeu a mão para ela. — Deseja ser minha filha? Deseja ser forte o suficiente para libertar sua irmã e nunca mais ser separada dela?
Os olhos de Nix brilharam com determinação. Sem hesitar, ela segurou a mão dele.
— Sim.
Morfeus sorriu, um sorriso paterno que parecia prometer tanto caos quanto liberdade. Ele a pegou no colo, como se ela fosse uma criança pequena novamente, e envolveu-os em sombras que os levaram para longe do templo.
— Minha filha. — a criatura disse, depositando um beijo sobre a testa de Nixoria, seus cabelos agora se tornando negros ao contrário dos da irmã.
Atualmente…
O ar do templo parecia denso, quase sólido, pressionando os pulmões de Nix enquanto ela corria pelos corredores. A respiração vinha em arfadas curtas, mas ela não tinha tempo para hesitar. Cada passo ressoava como um tambor, uma confissão de sua localização para os paladinos que a perseguiam. As ordens que gritavam atrás dela eram ecos de uma traição que ainda doía. As mesmas vozes, que um dia ensinaram lições de fé e bondade, agora soavam frias, afiadas como as lâminas que carregavam.
Ela dobrou a esquina apenas para dar de cara com mais deles. Espadas desembainhadas refletiam a luz tremeluzente das tochas, enquanto olhos cheios de desprezo a fitavam com ódio por ter matado seu companheiro.
— Renda-se, filha do Caos! — bradou um dos paladinos, erguendo a lâmina como se fosse a mão de um juiz divino.
O título pesou sobre Nix como uma âncora, imobilizando-a por um instante. Não importava quem ela fosse, apenas o que representava. A Filha do Caos era isso que viam nela. Não a menina que correu pelos jardins do templo, que se aninhava nas histórias da Deusa da Lua. Apenas um monstro. Uma aberração predestinada a destruir o mundo.
— Vocês realmente acham que podem me deter? — Sua voz saiu baixa, carregada de sarcasmo e fúria contida.
Os paladinos avançaram, confiantes em sua superioridade numérica. Nix, porém, não recuou. Algo profundo dentro dela rugiu, uma força que evitava reconhecer. O calor começou no peito e se espalhou por cada fibra do seu corpo, crescendo até se tornar impossível de conter. Então, com um movimento explosivo, suas asas negras rasgaram o ar.
A rajada de energia foi avassaladora. Os paladinos foram lançados para trás como folhas ao vento, alguns tropeçando, outros caindo de joelhos, os rostos congelados em choque e terror.
Nix abriu as asas por completo, e a luz prateada da lua se espalhou sobre elas. O couro negro reluzia, as bordas afiadas como lâminas. Sua sombra se projetava gigantesca nas paredes — monstruosa. Por um instante, até ela mesma se perguntou se não era, de fato, aquilo que diziam.
Mas ela não parou ali. Com um salto poderoso, suas asas bateram, erguendo-a no ar. O vento soprou contra os rostos atordoados dos paladinos enquanto ela voava em direção ao salão principal, onde a grande estátua da Senhora da Lua se erguia, majestosa e imponente. Nix pousou no topo da estátua, equilibrando-se com facilidade no ombro da deusa, como se tivesse nascido para aquele momento.
— NIXORIA! — a voz do mestre do templo ecoou pelo salão, grave e cheia de autoridade. Ele estava no centro do espaço, a túnica cerimonial tremulando com o movimento do ar. — Como ousa profanar este lugar sagrado?
Ela inclinou a cabeça, um sorriso amargo brincando em seus lábios.
— Profanar? — repetiu, com uma falsa inocência. — Eu diria que estou redecorando. Este templo precisava de um toque de caos, não acha?
A provocação fez o mestre apertar os punhos, e os paladinos ao redor hesitaram, olhando para ele em busca de instruções. Nix, do alto de sua posição, parecia uma rainha negra, desafiando não apenas a autoridade deles, mas também os próprios deuses.
— Desça agora e enfrente seu destino! — ordenou o mestre, mas sua voz tremia, traindo sua fachada de confiança.
— Enfrentar meu destino? — Nix riu, uma risada baixa e cortante. — Vocês já decidiram o que eu sou, já me condenaram antes mesmo de eu ter a chance de provar quem sou. Então, me diga, mestre… o que exatamente eu tenho a perder?
Antes que ele pudesse responder, uma voz cortou o silêncio.
— Nix?
O nome, dito com tanto carinho, fez o coração dela parar por um instante. Ela virou a cabeça, seus olhos encontrando sua irmã na janela da torre. A luz da lua iluminava o rosto pálido de Fallon, os cabelos platinados arrumados em uma trança, assim como a de Nix, bochechas para dentro como se não comesse direito a um tempo, vestia uma longa camisola branca sem corte e seus olhos fundos davam para a santa um aspecto de fantasma, mas havia algo ali que Nix não via há anos: um sorriso genuíno.
— Fallon! — gritou Nix, o sorriso desaparecendo. — O que eles fizeram com você?
A irmã não respondeu. Em vez disso, ela subiu no parapeito da janela, os pés descalços equilibrando-se no limite.
— Fallon, não! — gritou Nix, as asas se agitando como se já soubessem o que estava prestes a acontecer.
Ela sorriu uma última vez olhando para um canto do salão antes de enfim pular.
Fallon pulou. Pulou de uma altura que certamente a mataria.
O tempo pareceu parar. O ar ficou pesado novamente, mas desta vez, Nix não hesitou. Com um impulso poderoso, ela se lançou ao ar, as asas batendo com força. O vento rugia em seus ouvidos, e seus olhos estavam fixos na irmã, que caía como uma estrela despencando do céu.
Por pouco a alcançou, seus braços envolvendo a irmã enquanto suas asas batiam furiosamente para desacelerar a queda. O impacto do peso de Fallon fez seus músculos gritarem de esforço, mas ela segurou firme. Elas desceram suavemente até o chão, e quando seus pés tocaram a pedra fria, Nix não conseguiu conter as palavras.
— Você está louca? — perguntou, a voz tremendo entre alívio e raiva.
— Eu sabia que você me pegaria. — Fallon sorriu, abraçando a irmã com força.
Nix segurou o rosto dela, os olhos percorrendo cada detalhe, cada traço, como se quisesse garantir que ela estava inteira.
— Nunca mais faça isso, entendeu? Nunca mais. — Sua voz era firme, mas havia um tremor de emoção.
Os gritos dos paladinos ecoavam ao longe, se aproximando rapidamente. Nix sabia que o tempo delas ali havia acabado. Ela segurou Fallon com firmeza e alçou voo, as asas batendo contra o vento enquanto elas desapareciam na entre as nuvens.
A praia estava deserta, e a lua cheia banhava a areia com uma luz prateada. O som das ondas era a única coisa que quebrava o silêncio, além da respiração pesada de Nix enquanto ela colocava Fallon no chão. A irmã parecia frágil, como se o vento pudesse levá-la a qualquer momento, e isso deixava a mais velha inquieta.
Elas ficaram sentadas lado a lado por alguns minutos, o silêncio entre elas preenchido apenas pelo som do mar. Fallon abraçava os joelhos, e Nix observava o horizonte, a mente um turbilhão.
— Eu não entendo — Nix começou, a voz baixa, quase um sussurro. — Por que eles fizeram isso? Por que me chamaram de… monstro?
Fallon não respondeu imediatamente. Sua mão tremia quando ela a levou até os cabelos, tentando desfazer o emaranhado de nós.
— Eles sempre tiveram medo de você, Nix. Desde o começo.
— Medo? — Nix riu, mas não havia humor em seu tom. — Eu era uma criança.
— Uma criança com um poder que eles não podiam controlar — Fallon murmurou, olhando para o mar.
Nix virou-se para encará-la, o olhar cheio de perguntas.
— Eu me lembro de quando nos protegiam. De quando éramos… especiais. Eles não tinham medo de mim, Fall.
— Porque você não sabia. — Fallon ergueu os olhos, o rosto cansado, marcado por anos de responsabilidade e sofrimento. — Morfeus te protegeu disso. Ele te deu uma vida, uma família. Mas eu, que escolhi ficar. Eu vi como eles falavam de você.
Nix estreitou os olhos, tentando processar as palavras. Era como se o templo que ela lembrava fosse um lugar completamente diferente daquele de que Fallon falava.
— Por quê? — A pergunta escapou de seus lábios antes que ela pudesse segurá-la. — Por que você ficou?
Fallon engoliu em seco, e seus ombros afundaram.
— Porque eles precisavam de mim. Porque eu achei que podia fazer algo bom.
Nix não sabia o que responder. Olhou para Fallon mais de perto, notando os detalhes que antes não tinha percebido. As bochechas fundas, os olhos cansados, o corpo magro demais.
— O que aconteceu com você?
— Não importa.
— Claro que importa! — A voz de Nix se elevou, cheia de emoção. — Olha pra você! Você está… — Ela não conseguiu terminar a frase.
Fallon fechou os olhos, e as lágrimas começaram a cair, silenciosas.
— Eu fiz o que eles queriam, Nix. Tudo o que eles pediram. Cada ritual, cada oração, cada sacrifício. E no final… no final, não foi suficiente.
Nix sentiu um nó se formar em sua garganta. Ela nunca tinha visto a irmã tão quebrada.
— você devia ter vindo comigo.
— Eu não posso. — Fallon finalmente olhou para ela, os olhos brilhando com lágrimas. — Você tem uma chance de ser livre. E o templo ainda é o meu lar, por mais cruel que seja eu amo o meu lar.
As palavras atingiram Nix como um soco. Ela estendeu a mão e segurou a de Fallon, apertando-a com força.
— Eu estou aqui agora. E não vou deixar eles te machucarem de novo.
Fallon sorriu, mas era um sorriso fraco, cheio de dor.
— Eu só quero que você esteja segura, Nix.
— E eu quero o mesmo pra você. — Nix passou um braço ao redor dos ombros de Fallon, puxando-a para perto.
Por um momento, elas ficaram ali, abraçadas sob a luz da lua, tentando encontrar algum conforto em meio à dor que compartilhavam.
A lua continuava iluminando a praia, mas o vento começava a soprar mais forte, trazendo consigo o cheiro salgado do mar e uma promessa de tempestade distante. Nix sentiu o corpo de Fallon relaxar aos poucos contra o seu, como se finalmente se permitisse ceder ao cansaço.
— Você precisa descansar. — Nix sussurrou, olhando para o rosto abatido da irmã.
Fallon não respondeu, mas seu corpo pesado nos braços de Nix era suficiente para dizer que ela estava no limite.
Com cuidado, Nixoria se levantou, carregando a como se fosse feita de vidro. O peso era quase inexistente, e isso só aumentava o aperto no coração de Nix. Caminhar pela areia era difícil, os pés afundando a cada passo, mas ela não hesitou.
Seus olhos vasculharam os arredores, e logo ela encontrou o que procurava: uma formação rochosa próxima à base de um penhasco. Entre as pedras, uma pequena abertura escura, mal visível na luz da lua, chamou sua atenção.
— Uma gruta… — murmurou para si mesma, ajustando Fallon em seus braços.
Com esforço, ela subiu pelas pedras, o som das ondas ecoando contra as paredes do penhasco. A entrada era estreita, mas logo se abria em um espaço maior, protegido e seco. Era simples, mas seria suficiente para proteger Fallon do vento e da umidade da noite.
Nix colocou a irmã no chão com cuidado, ajeitando-a sobre uma camada de areia seca. Pegou o cobertor que havia trazido consigo — o mesmo que usava como capa durante as viagens — e o colocou sobre a irmã, cobrindo-a até os ombros.
Fallon suspirou, murmurando algo incompreensível antes de finalmente cair em um sono profundo.
Nix observou-a por um momento, sentindo um misto de alívio e culpa. Estava feliz por estar ali para cuidar de sua irmã, mas a visão dela tão frágil e desgastada a corroía por dentro.
Ela se levantou e foi até a entrada da gruta, encostando-se à pedra. O vento ali era mais forte, mas ela preferia assim. Precisava manter-se alerta. A presença de Fallon era como uma isca para aqueles que os perseguiam, e Nix sabia que não poderia baixar a guarda.
Enquanto o tempo passava, os sons do mar e da respiração tranquila de Fallon preenchiam o espaço. Nix cruzou os braços, os olhos fixos no horizonte. Sentada na entrada da caverna, as asas de dragão dobradas contra as costas, os olhos turquesa brilhavam no escuro, atentos como os de um predador. Ela sentia a presença deles antes mesmo de vê-los.
— Chegaram. — Um sorriso lento e felino se espalhou pelo rosto dela enquanto se levantava. As garras arranharam a pedra, mas o som a fez hesitar. Estava ansiosa, o coração acelerado. Não sabia se era raiva ou medo, talvez os dois.
Das sombras, três figuras emergiram: um naga, com a espada presa ao lado e um olhar firme; um homem-peixe, cujas escamas reluziam à luz da lua; e um homem-pássaro, as penas brancas movendo-se como espectros no vento.
— Filha do caos. Não queremos a santa, só você. Não complique as coisas. — O naga foi o primeiro a falar, a voz baixa e carregada de autoridade.
Ela inclinou a cabeça, o sorriso ampliando-se contra a sua vontade. Era nervosismo. As palavras deles a atravessaram como uma lâmina. Sem responder, deu um passo para o lado, o corpo se dissolvendo no ar, as sombras parecendo engoli-la.
“Volte!” ela pensava, desesperada, enquanto a forma física desaparecia. As memórias das aulas com Morfeus invadiram sua mente, mas o pânico tornava impossível concentrar-se. Tentou agarrar as paredes da gruta, as garras arranhando a pedra em um som agudo que ecoou, alertando os homens.
— Fique atento. Ela está brincando conosco. — O homem-pássaro sussurrou, os olhos atentos.
“Não estou brincando… Não sei o que fazer!” O pensamento era um grito interno. As sombras em volta pareciam sufocá-la, até que um instinto tomou o controle. Nix se concentrou e sentiu seu corpo mudar novamente. A carne, antes dispersa, se solidificou, e ela caiu das sombras, agora na forma de um gato.
Sem pensar, avançou. Suas garras brilharam à luz da lua quando atingiu o homem-peixe no ombro, fazendo-o cambalear. Ele tentou reagir, mas ela desapareceu novamente, evaporando no ar antes que pudesse atingi-la.
O homem-pássaro ergueu-se no ar, as asas batendo com força, pairando sobre o campo de batalha.
— Aqui em cima, pequena! — Ele gritou, um sorriso de desafio no rosto.
A fúria tomou conta dela. Sem hesitar, surgiu atrás dele tão rápido que parecia ter se materializado. Agarrou uma das asas com força, girando no ar antes de lançá-lo contra uma rocha próxima. O impacto foi surdo, e ele desabou, inconsciente. O naga, observando tudo, cerrou os dentes. Ele sabia que precisava agir rápido.
— Nix, pare com isso! — Ele avançou, a espada cortando o ar em um golpe direto.
Ela virou-se lentamente, os olhos brilhando no escuro como os de um predador. Sem dizer nada, começou a circular ao redor dele, como um gato examinando a presa. Ele atacou novamente, mas ela desviou com facilidade, deslizando para o lado, uma risada baixa escapando de seus lábios, estava se divertindo com o medo do homem.
O som o desconcertou. Ele girou a lâmina mais uma vez, conseguindo cortar seu braço. Sangue escorreu, mas ela mal sentiu. A dor era insignificante diante da raiva que a consumia. Ela se lançou contra ele, usando o peso das asas para derrubá-lo na areia. O naga caiu com força, o ar escapando de seus pulmões. Antes que pudesse se levantar, Nix colocou uma garra contra seu pescoço, pressionando levemente.
— Acabou. — A voz dela era baixa, quase um sussurro, carregada de alívio e algo mais sombrio. De repente, um som suave quebrou o momento.
— Nix!
Ela se virou e viu Fallon, parada à entrada da caverna. Os olhos da irmã estavam arregalados, cheios de medo. Naquele momento soube, era um monstro como diziam.
— Não faça isso!
A voz de Fallon foi como uma corrente fria que atravessou o fogo em seu peito. Nix hesitou, o olhar indo de Fallon para o Naga, que estava imóvel sob suas garras. Sua respiração era pesada, e o peso do que estava fazendo finalmente a atingiu. Lentamente, recuou, tirando as garras do pescoço dele. O homem arfou, ainda deitado na areia.
— Ele não vai parar até me pegar. Nenhum deles vai. — Se justificou.
— Nix, não seja como eles. — Fallon se ajoelhou ao lado do naga, verificando se ele ainda respirava. — faz tempo Draven, me leva pra casa? — perguntou ao naga no chão.
Nix desviou o olhar. O rosto endureceu novamente, mas a dor era evidente. Por fim, deu um passo para trás, as asas se dobrando lentamente contra as costas.
— Eu vou na frente. Me promete que vai ficar segura?
— Prometo. — A mais nova repondeu sorrindo.
Sem olhar para trás, Nix se transformou novamente em fumaça e desapareceu na escuridão. Fallon permaneceu ali, a respiração ofegante, enquanto os três homens se reagrupavam, derrotados, prontos para levar a santa da lua ao templo.
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