Capítulo 04 - Ataque surpresa
ALVO PRIMEIRO
No dia seguinte, depois da última prova do rei, fomos informados sobre um banquete que seria dado no palácio, onde o próximo governante seria nomeado.
Quando terminamos a “prova de geografia”, Grenford nos disse:
— Muito bem, verificaremos os resultados das provas. Amanhã, no final do banquete, direi quem será meu sucessor!
Com isso fomos dispensados, quase varridos, do palácio.
Quando eu, Rufo e Henco saímos do palácio, carruagens estavam esperando meus adversários, cheios de criados em volta. Não senti inveja, longe disso, mas a sensação de não ter ninguém me esperando me deu um leve aperto no peito. Raramente penso a respeito, mas sei que tenho poucas pessoas ao meu lado, me dando suporte. Fãs entre as massas da população não contam como apoiadores, falo de amigos. Tenho apenas Listro e Pírio nesta “posição de honra”. Preciso agradecer a eles devidamente no futuro.
Na noite que seguiu a prova não consegui dormir. Repassei tudo o que aconteceu em minha mente diversas vezes. Depois de alguns minutos de sono, já era amanhã e tive que levantar.
Para não ficar tão evidente a minha pobreza perante os outros eleitos, decidi alugar uma carruagem para ir ao banquete.
— General, tem certeza que fará isso? O senhor não precisa se provar para eles — comentou Pírio. Foi para ele para quem pedi que alugasse uma carruagem em meu nome.
— É por etiqueta. E também tem uma primeira vez para tudo… Por quê não aproveitar a ocasião, e fazer algo extravagante? E não será de todo mal, aproveitar a vista de dentro de uma carruagem ao anoitecer… Ah, você será o cocheiro — joguei um pequeno saco de moedas de ouro para ele.
— Eu estava achando que seria convidado, mas o senhor prefere que eu fique na carruagem, cheirando esterco de cavalo, a noite toda?
— Seu tio quem deu a ideia, dizendo que eu precisava de “seguranças”. Entre meus subordinados você é o mais qualificado para este tipo de tarefa. Sem contar que não podemos levar convidados para o banquete, nem mesmo serviçais. Apenas fique na carruagem, de olho nas coisas, por favor.
— Tudo bem, mas fique sabendo que vou alugar uma carruagem bem cara. Se vou ficar cheirando esterco, que seja de cavalos de raça.
Cumpri minhas obrigações como general durante o dia. Assinei diversos documentos e treinei como de costume.
Sem que eu percebesse, a noite se aproximou.
Perdi a noção do tempo treinando novatos, ensinando alguns golpes com espada. Comecei a me aprontar um pouco em cima do horário.
Pela quinta vez meu chofer bateu na porta do meu quarto.
— Ainda não está pronto, Alvo? — Perguntou Pírio através da porta. Como não estávamos no período de serviço do quartel, ele me tratava informalmente.
— Só estou trocando este calçado. Aparentemente o coturno preto, padrão da companhia, não é requintado o suficiente para eventos no castelo… — Terminei de lustrar um sapato próprio para ocasiões especiais. — Ok, tudo pronto! Vamos, cocheiro!
— Ha, ha, ha. Engraçadinho!
Descemos as escadas juntos até a rua na frente do batalhão. Estacionado ao lado da entrada vi a carruagem prateada, alugada por Pírio. Com certeza perdi todo o meu salário com esta carruagem.
— Não tinha algo menos chamativo, Cocheiro?
— Você é a luz que ilumina a esperança de toda humanidade, deveria ter mais “brilho” nas coisas que faz e usa. Só fui atrás da carruagem mais parecida com você! — Pírio terminou a frase com um sorriso de orelha a orelha.
— Não tenho tempo para discutir. Vamos logo — entrei na carruagem luxuosa. A porta era pequena demais para alguém no meu porte.
A vestimenta que eu usava era bem parecida com o uniforme de oficiais do dia anterior, só que na cor branca. Tinha algumas medalhas dispostas na minha farda na altura do meu coração. Condecorações concedidas pelo próprio rei no passado.
Enquanto seguíamos até o palácio, eu via pela janela da carruagem todos os transeuntes parando para observar, boquiabertos, a carruagem extravagante. Eu não conseguia ver, mas sabia que Pírio estava com um sorriso enorme na cara, todo feliz de estar no centro das atenções.
Algum tempo depois, estávamos próximos do palácio. Meu nervosismo cresceu.
— Consegue ver se os outros convidados chegaram, Pírio? — Perguntei de dentro do vagão da carruagem. Minha voz saiu bastante abafada.
— Sim, fomos os últimos a chegar. Daqui vejo a uma mulher exatamente como você me descreveu, muito bonita e com olhar arrogante, que deve ser Henco, e meu tio, ambos parados na entrada. Parecem estar esperando “alguém” chegar.
“Obviamente eu”, pensei. Por isso prefiro ir a pé. Se eu estiver atrasado, só dou um salto e vários quarteirões ficam para trás… Pelo menos estávamos chegando.
Alguns instantes depois a carruagem estacionou perto do portão de entrada. Pírio desceu de onde controlava os cavalos e abriu a porta da carruagem para mim. Rufo percebeu seu amado sobrinho sendo tratado como um cocheiro. Aparentemente ele achou toda a situação muito engraçada.
— Obrigado, Pírio. Por favor, fique de olho no perímetro. Não deixe ninguém estranho se aproximar.
— Chefe, você sabe que toda a guarda real está protegendo o castelo, né?
— Precaução nunca é demais!
Fui em direção a entrada. Henco atirava flechas com os olhos em minha direção, de tanto ódio.
— Que desrespeito, chegar tão atrasado para um banquete real!
— Mil perdões, Senhor Feudal Henco, não estou acostumado a andar de carruagem. Meu cocheiro também se perdeu no caminho — Pírio ouviu tudo, mas engoliu a vontade de retrucar, dizendo que era culpa minha por ter demorado demais me arrumando.
— Desculpas esfarrapadas. Vamos acabar logo com isso! — Como sempre a animosidade sem fim de Henco direcionada a minha pessoa.
— Pírio, meu sobrinho querido, estão te pagando bem no seu trabalho de meio turno? — Rufo falou antes do seu sobrinho sair.
— Ah, meu amado tio, infelizmente não… Este é basicamente um trabalho escravo — falou Pírio tentando parecer uma pessoa idosa e cansada.
— Cocheiro. Carroça. Agora! — Falei entredentes.
— O dever me chama! Senhores, Senhora, com sua licença!
Então Pírio girou nos calcanhares, como um dançarino, e voltou para a carruagem.
— Mais perda de tempo… Guarda, podemos subir? — Perguntou Henco a um dos guardas que protegiam o portão de entrada.
— Certamente, senhora Henco. Por favor, prossigam! — O jovem rapaz abriu o portal para nós.
Nos alinhamos na entrada para subirmos juntos a escadaria gigantesca do palácio. Antes de darmos o primeiro passo, uma explosão, tão grande quanto um trovão, abalou toda a cidade de Porto-Norte.
— O QUE FOI ISSO? — Gritou Rufo ao meu lado, enquanto o chão tremia com o som ensurdecedor.
Henco se desequilibrou e se apoiou em Rufo por um instante.
Olhei em volta para tentar descobrir a origem do barulho e percebi que um clarão laranja pintava a noite, bem ao sul da cidade. A explosão ocorreu na entrada de Porto-Norte.
— Henco, Rufo, busquem abrigo no castelo. Irei verificar o que está acontecendo. Pírio, vá no batalhão e prepare todos que estiverem aptos para dar apoio a qualquer que seja o problema. Me encontre o mais rápido possível na entrada sul da cidade.
— Entendido, General! Boa sorte!
Assenti para Pírio e dei uma olhada em Rufo e Henco. Arranquei a parte de cima do meu uniforme branco e joguei no chão. Esse tipo de vestimenta, mais formal, atrapalharia nesse momento, em que eu precisava ser mais rápido. Eu usava uma camiseta branca por baixo, então não fiquei totalmente sem vestimenta na parte de cima do corpo.
Fortaleci minhas pernas enquanto agachava, como se estivesse me preparando para correr. Ao invés de me impulsionar para frente, dei um salto com ângulo de 45°, me lançando a mais de cento e cinquenta metros de distância do ponto de partida. Cada vez que eu tocava o chão dava saltos cada vez mais longos, chegando na entrada da cidade em poucos instantes.
A imagem era assustadora.
O portão gigantesco, de mais de dez metros de largura, feito de pedras e ferro, estava derretido como lava. Onde antes era o centro do portão havia uma cratera imensa. Labaredas, de dezenas de metros de altura, dançavam ferozmente.
Ativei minha aura protetora de luz e dei mais um salto, dessa vez em direção ao outro lado do portão, atravessando as chamas. Senti que estava passando por uma brisa suave, e não fogo forte o suficiente para derreter até metal.
Duas figuras, com quantidade muito alta de mana fluindo de seus corpos, estavam paradas no começo da ponte de pedra,que leva à entrada da cidade. Era óbvio que me esperavam. Identifiquei, com certo alívio, que ambos eram apenas pessoas poderosas, mas não Escolhidos. Em todo o caso, eu não poderia me segurar nessa batalha ou poderia acabar me machucando.
— Antes de começarmos, querem se apresentar ou preferem morrer sem nome? — Falei enquanto alongava os braços e acendia ainda mais minha aura, como um farol na escuridão.
— Me chame de Elfo!
Falou o elfo adulto, que segurava uma varinha, como uma batuta de maestro. Ele vestia um conjunto azul marinho que eu consideraria de gala, se não fosse a situação. Provavelmente tinha a minha altura.
— E quanto a minha pessoa, você pode chamar de Humana!
Completou uma humana, de olhar feroz, cabelos muito cacheados na altura dos ombros, uma cabeça mais baixa que o elfo. Sua armadura era pequena e protegia apenas as partes vitais de seu corpo, provavelmente para tirar proveito máximo de sua mobilidade.
— Valas sem nome então. Inteligente! Se tivessem se identificado, após terminar com vocês, eu iria atrás de cada familiar ou amigo de vocês.
Sem avisos, avancei em direção a dupla com meus punhos cerrados, usando uma arrancada igual aos saltos que dei para chegar ali. A humana tirou duas adagas longas de bainhas em sua lombar e foi ao meu encontro. “Garota suicida”, pensei.
Mirei um soco diretamente nas duas adagas que ela usou para se defender. Imaginei que as armas se quebrariam como galhos secos, mas nada aconteceu. Incrivelmente ela conseguiu interceptar meu golpe.
Eu avancei apenas metade da distância até o Elfo quando ela conseguiu me parar.
A garota ter interceptado meu golpe não foi o que mais me impressionou, pois magos com magia do tipo Força poderiam rivalizar meus ataques. O que não consegui compreender foi como as adagas se mantiveram intactas depois de meu golpe, com minha aura dando apoio.
“Devem ser alguma criação dos Anões, provavelmente algum metal que dissipa magia. Preciso tomar cuidado!”, pensei.
Percebi que mana ambiente convergia em direção ao Elfo com a varinha, enquanto ele estava com os olhos fechados, apontando sua “arma” em nossa direção. Não quis esperar para ver o que aconteceria. Chutei a humana com a perna esquerda e fui até o elfo.
Demorei demais. Ele já havia preparado um ataque gigantesco. Sem demora, ele direcionou toda a torrente d’água em minha direção. O ataque parecia uma broca giratória, com o dobro do meu tamanho. Recebi o golpe completo no peito e fui empurrado alguns poucos metros para trás. O restante do ataque foi dissipado pela minha armadura de luz, que fortaleci após o impacto. O calor evaporou o golpe aquático e criou uma névoa enorme em toda a área. A visão de todos estava bloqueada.
Aproveitei a oportunidade e desativei minha aura para não entregar minha posição. Retraí minha mana para perto de mim e passei a sentir as flutuações da mana ambiente. Neste momento percebi que a humana estava a alguns metros atrás de mim, se aproximando rapidamente.
Meio segundo antes do impacto, reativei minha aura e surpreendi a humana. Ela não conseguiu desviar quando usei minha mão esquerda, em formato de lança, para arrancar seu braço esquerdo bem na base do ombro. O corte foi tão limpo que ela nem teve tempo de sentir dor, só espanto.
Entendendo que a minha oponente estava incapaz de me causar problemas, fui atrás do Elfo. Ele entregou sua posição, ao lançar vários ataques precisos e poderosos em minha direção, como dezenas de jatos comprimidos de água. Garanto que poderiam facilmente cortar membros.
Esquivei dos golpes mesmo com minha aura ativa. Não fiz isso por medo, pois sabia que não seria machucado se fosse acertado, mas sim porque eu seria empurrado para trás pela pressão da água, o que poderia dar chances deles prepararem algum tipo de contra ataque. Eu não pretendia facilitar para inimigos como eles!
Entre esquivas, rolamentos e pulos, segui avançando. Logo o Elfo ficou dentro do meu alcance. Ele não demonstrou medo quando eu estava prestes a arrancar sua cabeça com minha mão direita. Na hora que desferi o golpe, fui interceptado pela humana, agora usando apenas o braço direito. Ela estava muito ofegante, mas viva. Com a perna direita chutei o ombro onde estava a ferida aberta, tirando-a do meu caminho novamente.
Ao voltar minha atenção ao Elfo, fui surpreendido por mais uma magia de água, que me arrastou para trás e depois para cima. Demorei uns dois segundos para perceber que era uma serpente de água, com mais de cinquenta metros de comprimento. Um poder muito grande para eu evitar ser arrastado.
A serpente de água continuou me levando para cima e percebi que não poderia evitar de ficar sério nesta luta. Ativei o que chamo de “segunda forma da aura protetora“, tornando minha aura mais densa e próxima ao meu corpo. Minhas habilidades físicas são elevadas ao extremo e meus olhos começam a brilhar, como dois sóis. Quando entrei nesta forma, a serpente de água não suportou, e, outra fez, a magia do elfo desintegrou. A diferença, dessa vez, é que houve uma explosão instantânea e poderosa.
Após a serpente ser vaporizada, percebi que estava em torno de duzentos metros acima do chão, em queda livre. O impacto com a ponte foi seco, mas não causou nem um arranhão em mim. Levantei como se tivesse acabado de pular um muro baixo, batendo a poeira que acumulou na calça branca da minha farda de gala. Ambos os meus inimigos estavam no ponto que eu havia os encontrado. Bastante ofegantes, me olhavam incrédulos.
— Não à toa o chamam ele de “monstro”, você viu a altura que ele caiu? — Falou a humana, horrorizada.
— Foco, Humana! Estamos em muita desvantagem aqui!
— Vou dar uma única chance para vocês. Sobre o que se trata este ataque à capital humana? — Não diminuí o poder da minha aura um segundo sequer. Sei que nesta forma é difícil manter os olhos em mim, por conta do brilho extremo, mas isso ajudava com a intimidação.
— Não se preocupe com isso. São apenas negócios! — Falou a humana.
— Se não querem falar, tudo bem… Teremos todo o tempo do mundo quando eu capturar um de vocês!
Fui em direção a eles, com outra arrancada, só que dessa vez nem mesmo a humana conseguiu reagir. Antes que ela pudesse virar a cabeça, e ver onde eu estava, meu braço direito atravessou o peito do Elfo, que não morreu imediatamente, pois a ferida cauterizou instantaneamente.
— Vocês lutaram bem, me ajudaram a desestressar. A garota será torturada até sabermos o motivo do ataque. Apenas descanse, elfo. Sua morte chegará logo.
— Se soubesse… — Enquanto falava, o Elfo vomitou sangue. — Quantas pessoas te amaldiçoaram… — Mais sangue saiu de sua boca. — Você jamais dormiria sem ter pesadelos.
Então o elfo soltou sua varinha e apoiou ambas as mãos na parte de cima do meu braço, mesmo com minha aura ativa. Percebi que ele tinha criado uma camada de gelo nas mãos. Estava tentando me segurar.
Então, ele falou algumas palavras em uma língua que não entendi, e seus olhos perderam a vida. No mesmo instante, uma caixa de gelo, muito apertada, nos envolveu. Ele queria ganhar tempo… Talvez para a “humana” escapar. Eu não seria piedoso a ponto de deixá-la ir.
Fortaleci minha aura expandindo seus efeitos para dois metros mais longe da minha pele. O corpo do elfo virou menos que cinzas. O caixão de gelo, depois de resistir por um segundo, desintegrou.
Expandi minha percepção, tentando encontrar a direção que a humana havia fugido, mas ela estava ali, do meu lado. Ela segurava, com a mão direita, onde antes era seu ombro esquerdo. Ela parecia prestes a morrer pela perda de sangue.
— Garanto que ele não sentiu dor. Ao contrário do que vai acontecer com você! Nem adianta tentar se matar mordendo a própria língua, temos meios para evitar esse tipo de morte.
A humana cambaleou para o lado e caiu desmaiada.
Fui até ela, dei um chute em seu estômago. Ela acordou tossindo forte, claramente assustada. Coloquei minha mão onde antes estava o braço esquerdo da humana, ativei minha aura novamente, cauterizando a ferida aberta. Ela gritou muito alto e desmaiou novamente, dessa vez pela dor intensa.
Neste momento, uma segunda explosão aconteceu. Mais forte que a primeira, só que dentro da cidade. Eu não tinha tempo para pensar. Desativei minha aura e coloquei a humana desmaiada em meu ombro.
Pulei entre os prédios até conseguir ver onde ocorreu a segunda explosão. Percebi que aconteceu na direção do meu batalhão.
— Pelos deuses, que não tenha sido lá… — Implorei.
Avancei o mais rápido que pude, pulando pelos topos dos prédios, criando crateras nas construções que usava de apoio. Quanto mais perto chegava do foco da explosão, mais certeza eu tinha. Três saltos depois, não havia mais dúvidas. O epicentro da explosão foi o meu batalhão.
Quando cheguei, vi dezenas de magos ao redor, soldados e civis, tentando diminuir os focos de incêndio usando magias elementais, como água, vácuos criados por magia de vento e até abafando o fogo com magia de terra. Todos desesperados para evitar que o fogo se alastrasse.
O prédio imponente, que antes ficava ali, outrora minha residência, foi desintegrado até a base. O nível dessa explosão foi muito maior que o anterior. Eu precisava encontrar o culpado, a qualquer custo.
Deixei a humana que eu carregava com alguns soldados que não conseguiam ajudar com o fogo, e disse:
— Ela é uma das culpadas por este ataque, tratem de acorrentá-la devidamente! Quero ela viva para mais tarde! Ela usa Magia de Força, tenham cuidado!
Enquanto eu estava perdido em pensamentos sobre o que poderia fazer a seguir, ouvi o sistema de comunicação da cidade, que usa cristais de mana e alto falantes para passar informações para a população. O sistema de comunicação informava: “Atenção, isso é uma emergência! Favor evacuar a cidade!”, em loop.
Quando tive uma ideia.
Eu sabia onde ficava uma das cabines de transmissão. Cheguei lá em apenas dois saltos. A moça que estava dando as informações se assustou com a minha chegada, mas percebeu quem eu era rapidamente.
— Preciso fazer um comunicado urgente, esta cabine se comunica com toda a cidade, certo?
— Sim senhor! — Ela prontamente respondeu.
— Por favor, me entregue o dispositivo.
Ela me deu uma vareta que estava ligada a um painel metálico por fios. Eu sabia que precisava falar pela “vareta” para ser ouvido.
— Está tudo certo, pode falar! — A moça me disse.
— População de Porto-Norte, quem fala é o General Alvo. Peço a ajuda de todos para que eu possa encontrar o culpado por estas explosões. Por apenas dez segundos, todos os magos da cidade, retenham sua mana o mais próximo que puderem de seus corpos. Preciso de apenas um instante para encontrá-lo!
Confirmando que meu pedido havia sido ouvido, senti o uso de mana despencar tremendamente à minha volta. Fechei os olhos e me concentrei. Eu nunca tentei encontrar alguém com minha técnica de sentir mana a uma distância maior que cinquenta metros, mas como não teriam pessoas usando magia por perto, as chances de dar certo aumentam.
Dito e feito, onde antes ficava o batalhão, em torno de cento e cinquenta metros acima do chão, senti a presença de um mago, voando. Se ele não fosse poderoso eu não o teria sentido dessa distância.
— Obrigado a todos, eu o encontrei. Acredito ser o último!
Imediatamente fui até a base de onde ficava o batalhão.
Os soldados que não foram pegos na explosão não estavam no batalhão pois era o seu dia de folga, ou por estarem fazendo rondas em pela cidade.
Pulei no meio de um pequeno grupo de soldados que estavam aglomerados e disse:
— Quem de vocês é o melhor usuário de magia elemental de vento?
Todos ficaram em posição de sentido ao me ver. Após minha pergunta, todos ali apontaram ao mesmo tempo para um de seus colegas. O mais baixo e magro deles, que estava a menos de cinco metros de distância, tentando ajudar com o fogo. Fui até ele.
— Qual o seu nome, garoto?
— Amon, senhor! — Pego de surpresa, Amon se virou para mim, desconcertado. Seus cabelos loiros estavam marcados de fuligem e sujeira.
— Amon, você consegue mudar sua trajetória se for jogado no ar?
— Em condições ideais eu consigo até voar, senhor!
— Parabéns, você vai me ajudar a salvar a cidade!
Falando isso eu o agarrei pela cintura e pulei, como não havia pulado a noite toda. Amon gritou com o susto. Sem auxílios eu chegaria facilmente a cem metros de altura com este pulo. No meio do caminho eu falei para Amon:
— Quero que controle as correntes de vento e nos impulsione para cima, eu direciono o trajeto.
— Sim senho! — Ele estava claramente com medo, mas não hesitou. Merece uma medalha e uma promoção depois que tudo acabar.
Neste mesmo instante, Amon ativou sua magia de vento aumentando o poder de meu pulo. Quando chegamos na marca dos cem metros de altura, vi um ponto avermelhado no céu. Lá estava o culpado.
— Continue assim, Amon, já estou vendo o inimigo.
Um piscar de olhos depois já estava bem próximo do meu alvo. Ele só percebeu que alguém se aproximava quando já estávamos a menos de vinte metros de distância.
Era um Lizard enorme, com asas, algo que eu não sabia que esta espécie poderia ter. Ele não conseguiu manobrar a tempo. Com um corte limpo e preciso, da minha mão direita, arranquei suas asas. O Lizard despencou, sem controle. Mudei a direção que Amon empurrava o vento para agora cairmos e salvarmos a vida do Lizard. Assim poderíamos interrogá-lo.
Quando alcancei o Lagarto em queda, acertei um golpe em cheio no topo de sua cabeça e o desmaiei faltando cinquenta metros para chegarmos no chão. Alguns metros antes do impacto, joguei Amon e o Lizard desmaiado para cima. Caí no chão de pé, flexionando os joelhos para amortecer a queda e saltei de novo, pegando os dois no ar. Agora, como estava bem mais baixo, e mais devagar, poderíamos aterrissar sem que eles morressem.
Já no chão, soltei Amon. Ele falou:
— Isso foi um tanto radical… — Ele estava claramente tonto, pois cambaleava como um bêbado.
— Soldados, tragam correntes, preciso garantir que este inimigo seja contido o quanto antes — ordenei para alguns soldados que estavam próximos.
Eu só tinha visto Lizards por ilustrações, mas nunca poderia imaginar que seriam tão grandes. Eles eram quadrúpedes, com as cabeças parecendo de lagartixas gigantes. Todos tinham caudas tão compridas quanto seus corpos. Este tinha mais de quatro metros de comprimento total. Imagine enfrentar um exército de seres como este… Não gostei nem de imaginar.
A cidade estava toda em alerta, enquanto dois pontos estratégicos da cidade ardiam em chamas.
Durante essa noite perdi meu local de trabalho, minha moradia e subordinados. O que poderia ser pior que isso?
“Minerar? Tenho cara de toupeira por um acaso?”
Deus Vermelho
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