Capítulo 15 - Talamaris e a Espada Esverdeada
THERMON AGOURO
Devo agradecer a Jouci por se abrir comigo. Isso possibilitou que eu fizesse o mesmo. Me senti leve ao acordar.
Eu ainda estava nos braços dela, mas não me afastei.
Percebendo minha movimentação, Jouci também despertou.
— Temos mais uma etapa de nossa viagem para cumprir, vamos lá? — Falei.
— Claro.
Como se tivéssemos tomado uma poção contra o “clima estranho”, que antes havia entre nós, não nos afastamos ou ficamos enrubescidos com o acontecido.
— Vamos dar uma olhada na prefeitura da cidade, pode ser? — Sugeri.
— É uma boa ideia… Será que servem café da manhã aqui?
— Não custa perguntar. Vou lá verificar, enquanto você se arruma.
Jouci olhou para baixo e viu seu estado. Cabelos embaraçados, uma das finas tiras de pano, que sustentavam sua camiseta sem mangas, estava caída e seu shorts mostrava muito de suas coxas. Com a surpresa ela puxou os lençóis para se cobrir.
— Tá, vai logo! — Dessa vez ela não conseguiu evitar ficar vermelha.
A taverna funcionava o tempo todo, visto que tinham diversas pessoas nas mesas, bebendo ou comendo naquele momento.
— Senhor, quais as opções de café da manhã? — Perguntei ao Bigodudo, que já estava acordado.
— Ovos com bacon ou pão mofado. Sugiro a primeira opção.
Depois que Jouci desceu, nos alimentamos, pagamos, e demos adeus ao estabelecimento.
— Eu vi um prédio grande subindo essa rua, lá parece o centro dessa cidade.
— É um bom lugar para começarmos.
Fizemos uma curva para subir a rua e vimos uma pequena aglomeração, com cerca de vinte pessoas, algumas gritavam palavras de ódio, outras pareciam apreensivas.
— O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI??? — Um grito de mulher foi ouvido por detrás da multidão. Logo depois ouvimos, o que pareceram dois sons de madeira acertando coco duro.
— Nossa, essa deve ter doído! — Comentou uma das pessoas que estavam assistindo o que quer que estivesse acontecendo ali.
— TODOS VOCÊS, SUMAM DAQUI! NÃO QUERO VER NINGUÉM SE AGLOMERANDO POR ESSE TIPO DE COISA!
Sem que a voz desse uma segunda ordem, as pessoas dispersaram.
Restaram apenas um humano e um Lizard caídos no chão, ambos com galos enormes na cabeça. Ao lado deles uma elfa segurava um pedaço de madeira no formato de espada. Ela usava roupas justas, mas que cobria todo o seu corpo, todas em tom bege e marrom. Seus cabelos dourados e ondulados eram bem longos, e estavam soltos atrás de suas costas.
Era uma visão cômica, de certa forma. Dois brutamontes caídos aos pés de uma elfa, de olhar inquisidor.
Percebendo que eu estava olhando demais para a cena, ela virou em nossa direção e falou:
— Vocês por acaso são surdos? Sumam daqui!
— Desculpe minha falta de modos. Somos elfos-de-gelo, viemos fazer umas compras e tamb-
— Pelo jeito são de fato surdos. E ainda por cima acham que eu sou cega? Sei que são elfos-de-gelo. Último aviso, deem o fora, antes que fiquem que nem esse dois aqui!
— Desculpe minha insistência, mas o que eles fizeram? Sou novo aqui e não entendo muito bem como as coisas funcionam…
A valentona segurava a espada de madeira com a mão direita, enquanto a esquerda apoiava na cintura. Ela apoiou a cabeça na mão esquerda e soltou ar pela boca como quem dizia “Tá, vou perder meu tempo explicando pra esses novatos!”.
— Aqui em Lires quase tudo é permitido, menos brigas entre espécies! É um tabu que criamos para garantir a paz. Esses dois idiotas quebraram nossa regra mais importante, discutindo feito crianças! — Ela cutucou o humano com a espada, ele nem se mexeu.
— Compreendo… Mais uma pergunta: poderia nos informar se aquele prédio à frente é a prefeitura? Queremos ter uma palavrinha com a pessoa que dirige a cidade. Parte da nossa missão é conseguir algumas informações. Acreditamos que lá seja o melhor lugar para isso.
— Não vão encontrar ninguém lá nesse momento.
— Está fora do período de funcionamento?
— Sim. Apareçam depois do almoço! Abrirei um espaço na minha agenda para atendê-los.
— Espera, você é a prefei-
— Até mais, primos azulados!
E ela saiu por entre os becos, arrastando os dois brutamontes desmaiados pelos pés.
— Bem, temos alguns ciclos até o almoço. Quer dar uma volta pela cidade?
— Vamos — aceitei a proposta de Jouci.
O tempo passou rápido enquanto andamos pelas barracas recém abertas. Não tínhamos visto nem a metade delas no dia anterior.
Para não parecermos desesperados pela reunião, esperamos cerca de um ciclo após almoçarmos para ir até a prefeitura.
O edifício não era muito complexo, tinha um formato circular, com dois andares, paredes em tons de vinho e telhado de madeira.
Ao chegarmos lá, antes de batermos, uma pelt-beast abriu a porta de correr e falou:
— Vocês devem ser os azulados que a mestra Tala informou. Por favor, sentem-se aqui e aguardem.
— Obrigado! — Jouci e eu falamos juntos.
A assistente que nos guiou até um sofá de pele de urso era uma tigresa humanóide, com uma cauda enorme. A sua pelagem era cinza. Mesmo com pelos por todo o corpo, ainda vestia roupas como as da sua chefe. Talvez fosse um uniforme.
Ninguém sabe dizer em que ponto da evolução dos pelt-beasts houve essa mistura de animal com humano, ou talvez nunca tivessem se misturado… O que sabíamos é que eles eram os mais fortes fisicamente, além de serem muito temperamentais.
Existe um ditado que até mesmo no polo sul usamos: “Irrite cem javalis, mas não irrite um pelt-beast!”. Espero continuar seguindo esse ensinamento.
A assistente entrou por uma porta e voltou depois de um curto período.
— A senhora Tala os aguarda.
Seguimos a tigresa para uma sala enorme, cheia de papéis empilhados em cima de vários móveis diferentes. A mesa em que a elfa estava tinha ainda mais papéis.
Além dos papéis, outra coisa era muito evidente naquele lugar. Uma espada linda, exposta atrás da prefeita. A lâmina, o cabo e os adornos da arma eram todos esverdeados. Nunca treinei a arte da espada, mas se fosse com aquela, eu adoraria aprender.
— Obrigada, Ouna. Eu cuido deles.
— Como quiser, senhora Tala! — A assistente se retirou.
Nos sentávamos em duas cadeiras à sua frente.
Ela não tirou os olhos dos papéis, que revisava. Esperamos até ela terminar, tentando não atrapalhá-la.
— Vão dizer o motivo de terem vindo aqui ou precisam de um convite?
— Ah, estávamos esperando que terminasse, pode ser importante…
— Esses papéis são importantes, por isso não tiro os olhos deles. Mas podem falar, estou ouvindo.
— Entendo… Acredito que não haja problema em dizer isso a você, mas sou o escolhido dos elfos-de-gelo. Minha missão aqui, além de conseguir algumas coisas para meu povo, é descobrir sobre os atentados terroristas de umas semanas atrás.
— Oras, um escolhido… E o que precisam de mim?
Agora ela tirou os olhos dos papéis.
— Na épocas dos atentados, nações diferentes nos enviaram mensagens, pedindo ajuda, pois, como deve saber, nas cenas dos crimes tinham papeis dizendo a mesma coisa-
— Que vocês, elfos-de-gelo, tinham interferido em alguma coisa como o fluxo do tempo, caos e blá blá blá. Sim, todos sabem disso. Vocês estão no centro das atenções ultimamente, meus amigos… Já que você é o escolhido do polo sul, devo assumir que tenha sido você a enfrentar o escolhido humano?
— Sim, fui eu… Embora não tenha sido exatamente uma luta.
— Você não faz ideia o quão longe essa história correu. Em todo o canto só falamos nisso… Sabe quando foi a última vez que dois escolhidos se enfrentaram? Isso mesmo, a tanto tempo que ninguém se lembra! HAHAHAHAHA! — Ela riu com gosto. Nossa anfitriã estava bem animada com essa parte da conversa.
— Pois é…
— Por que essa cara de lobo perdido da matilha, escolhido? Devemos celebrar! Você está vivo após enfrentar aquele brutamontes! Tá vendo esse papel aqui? É a descrição do que aconteceu na sua batalha contra Alvo.
— Como isso é possível? — Peguei o papel da mão de Tala e comecei a ler.
— Os elfos presentes descreveram a luta para alguém, que transcreveu. Depois algum espertinho espalhou pelo mundo. Acredito que a pessoa que divulgou não seja um elfo, porque o texto desmoraliza demais minha raça… Não que eu me importe.
— Olhe isso, Jou. Nem eu conseguiria descrever tão bem o que aconteceu… Está tudo certo!
— Nossa, você lutou tão bem assim, Thermon? — Jouci caçoou após ler um pouco da descrição da luta.
— Não enche.
— O que importa é que você está vivo, mas muita gente está passando fome por causa disso — Tala comentou.
— Só queríamos saber quem orquestrou os ataques… Será que foi coisa de uma organização só?
— Você falou que queria informações, então tenho uma para vocês: Um grupo desses mesmos terroristas foi preso enquanto tentava fugir. Todos vestiam roupas vermelhas e falavam sobre libertação do mundo… Se mataram engolindo algum tipo de pílula de veneno, escondida dentro de suas bocas.
— Não sei como isso pode nos ajudar… — Falei, com pouca esperança na voz.
— Eles foram capturados ateando fogo em plantações, ao norte. Cerca de dois dias a pé de distância daqui. Não lembro dos detalhes, mas um deles, antes de morrer, disse o nome da pessoa que os contratou. Se forem até lá podem descobrir esse nome, pelo menos.
— Já temos onde começar. Tala, correto? Obrigado pela informação.
— Talamaris Afiada, mas todos me chamam de Tala. Ao seu dispor!
— Thermon Agouro — falei meu nome completo.
— Jouci — Jouci fez o mesmo.
— Oh, a mocinha não foi nomeada?
— Ainda não… Minha cerimônia de nomeação está marcada para o final deste ano.
— Trate de sugerir um bom segundo nome para sua irmãzinha, Thermon.
— Ela não é minha irmã, é minha companheira de viagem. Mas vejo ela como parte da minha família, então você não errou por muito.
Jouci ficou quieta depois do meu comentário. Continuei falando com Talamaris, tentando conseguir mais informações.
— Tala, posso fazer mais uma pergunta?
— Enquanto for de graça, sim.
— Como se tornou prefeita de Lires?
— A história é meio chata, não quero ocupar vocês com lenga-lenga.
— Venho aqui há anos e não sei muito sobre esse lugar. Seria muito instrutivo conhecer mais sobre a senhora — insistiu Jouci.
— Está bem, vou tentar resumir… Eu vivia com os elfos na floresta “Galho-Perpétuo”, onde você lutou, Thermon. Sou filha de um figurão de lá. Ele era muito amigo da corte. Minha família produzia algum tipo de planta rara, não sei bem explicar, nunca me interessei… Quando fui nomeada, com vinte primaveras, meu pai iria me forçar a casar com o filho de outro figurão. Obviamente eu não iria aceitar.
— E por que seria óbvio? — Jouci parecia bastante interessada em sua história.
— Ah, claro, ainda não me conhecem. Como eu posso falar isso sem ferir os ouvidos de uma jovem, e bela, donzela como você..? Eu gosto de mulheres, e só delas! Sei que hoje os humanos lidam bem com esse tipo de coisa, mas os elfos são bem puritanos. Pelo menos eles não são tão rígidos a ponto de matar homossexuais, como os humanos fizeram no passado…
— Quando seu pai descobriu, o que ele fez? — Jouci perguntou.
— Nunca falei nada para ele. Descobri, por sorte, que eu teria que casar com um bobalhão qualquer, e dei no pé! Fugi sem nada, além dessa espada — apontou com o polegar direito para a arma exposta atrás dela. — Meu pai deve estar furioso até hoje, porque é uma herança de família.
— É uma arma impressionante, de fato. Se importaria se eu a tocasse? — Perguntei, esperançoso.
— Eu não me importo, mas você se importaria. Essa espada retém um tipo de magia, ou maldição, chame como quiser… Só integrantes da minha família podem empunhá-la. Apenas meu sangue! Se você tentar tocá-la será repelido por algum tipo de magia elemental de vento. É um presente do deus Aéreo para minha raça.
— Um artefato divino? Nunca tinha chegado perto um! Espere… Perdoe minha indelicadeza, mas acredito que, como você não gosta de homens, também não terá filhos, certo? O que acontecerá com a espada se você morrer? — Eu estava cheio de dúvidas a respeito da arma.
— Pretendo devolvê-la aos elfos perto do fim de minha vida. Até lá vou usá-la para manter essa cidade no rumo certo. Eu ainda tenho alguns primos e primas na floresta que podem usá-la no futuro.
— Sei que estou sendo muito mais invasivo do que deveria, mas um artefato desses não seria descoberto facilmente pelos elfos, fazendo com que eles viessem aqui, tentar pegá-lo de volta?
— Eles tentam. Toda incursão que enviaram até agora falhou. Com essa espada eu sou quase imbatível! Acredito que nem mesmo um escolhido me derrotaria.
Ar saiu do meu nariz, em tom de deboche. Não fiz de propósito, foi mais como um reflexo.
— Você não acredita, Thermon Agourado? — A prefeita entrelaçou os dedos das mãos enquanto colocava os cotovelos apoiados na mesa.
— É Agouro… Desculpe, não quis ofendê-la, é que a experiência que tenho com os escolhidos mostra que é necessário mais que um artefato para vencê-los.
Jouci olhou em meus olhos, com cenho franzido, e disse:
— Mas você só conhece um escolhido, como pode dizer isso?
— Eu me conheço também, não? Já que os elfos não tem um escolhido há séculos, significa que eu conheço a força de quarenta por cento dos escolhidos do planeta, já que existem cinco atualmente…
— Você só está sendo idiota! — A expressão de Jouci dizia: “Apenas cale a boca, seu boboca!”.
— Se acredita tanto nisso, porque não testamos sua força contra a minha espada? — O olhar de superioridade de Tala me deu um calafrio.
— Sem mortes, decapitações ou danos irreversíveis!
— Claro, Agourento! Agora podemos começar, ou está difícil?
— Estou falando isso pelo seu bem, Senhorita Tala.
— Senhorita? Quantas primaveras acha que eu tenho?
— Não mais que cem, acredito…
— Que lisonjeiro de sua parte, mas isso não vai diminuir a força do aço de minha espada!
— NÃO MATE ELE, POR FAVOR! SEM A AJUDA DO THERMON FICA DIFÍCIL VOLTAR AO POLO SUL! — Jouci gritou a mais ou menos oitenta metros de distância de nós. Estava afastada para evitar se machucar.
— É BOM SABER QUE ESTÁ TORCENDO POR MIM, JOU, MINHA COMPANHEIRA QUERIDA!
— DISPONHA!
Tala riu de nossa interação, levantou e apontou a espada para mim, usando apenas o braço direito e falou:
— Não se preocupe, usarei a traseira da lâmina, essa parte aqui não tem fio. — Ela passou a mão esquerda pelo metal.
Percebi que o clima mais seco de Sáfaro seria uma desvantagem para mim, mas não me inutilizaria. Mesmo o ar sendo menos úmido, ainda continha água suficiente para eu lidar com minha oponente.
“Vou apenas imobilizá-la. Assim acabo logo com isso!”, pensei.
Tala, que estava a mais ou menos dez metros de distância, tomou a iniciativa. Sua arrancada me lembrou muito a de Alvo. Como se sua força fosse muitas vezes maior que a da maioria das pessoas.
A espada em sua mão começou a chiar. Pelo movimento da poeira em volta da minha oponente, deu para perceber um grande fluxo de ar rodopiando em volta dela.
Ordenei que toda a água em um raio de duzentos metros se aproximasse de mim. O pouco da umidade que eu já havia trazido comigo da cidade foi o suficiente para criar um pilar fino de gelo que me levantou alguns metros acima do chão, bem no momento em que minha oponente desferiu um golpe com a parte de trás de sua espada.
A umidade que convoquei estava se aproximando. Como anões, usarei “segundos” como medidas de tempo, para resumir os acontecimentos. Em dez segundos eu já teria água suficiente para conter minha adversária. Eu só precisava manter distância.
Quando o aço da espada de Tala tocou meu pilar, precisei de toda minha compostura para não ficar envergonhado com o susto que tomei. A base de gelo explodiu devido a um corte poderoso feito com ar comprimido, gerado pelo artefato mágico.
Comecei a cair.
Tala estava pronta para me finalizar, antes mesmo que eu tocasse o chão.
Com o mínimo movimento das mãos transformei os gelo ao meu redor em um fluxo de água, que me manteve no ar, longe de Tala.
Mais oito segundos para a água se reunir ao meu redor.
Tentando evitar que ela tivesse mais chances, usei a parte de baixo do meu pilar, que estava ao redor dela, para arremessar pequenas pedras de gelo em sua direção.
Ela pareceu pressentir isso, segurou a espada com ambas as mãos, em postura defensiva. O redemoinho ao redor dela aumentou a velocidade. Quando as pedras de gelo iam tocá-la, o redemoinho poderoso as repeliu, com extrema facilidade.
Mais seis segundos e estaria tudo acabado.
Eu ainda estava no alto, apenas caindo devagar. Mantinha um fluxo contínuo de pedras de gelo sendo arremessadas em direção de Tala, para mantê-la ocupada enquanto eu descia, mas ela pareceu ignorar as pedras e veio em minha direção novamente.
Quatro segundos restantes.
Tudo acontecia muito rápido, então eu precisava agir com a mesma urgência. Congelei o chão aos pés dela, tentando criar uma superfície escorregadia, atrasando-a. Não foi o suficiente. O redemoinho que a protegia quebrava o solo gelado antes que ela o tocasse.
“Uma espada que dá um escudo passivo de vento? Que artefato poderoso!”, pensei.
Um instante depois eu estava dentro de seu alcance. Ela girou a espada na mão, deixando a parte cega da lâmina à mostra, e direcionou um golpe na altura do meu tronco.
Tarde demais. A água que eu ordenei se reunir havia chegado no instante que a espada ia me acertar. Fiz com que toda água criasse uma onde gigante, partindo dos meus pés. Nem a armadura de vento conseguiu evitar que ela fosse arremessada para trás pelo fluxo imenso de água.
A envolvi numa gigantesca redoma de água, com dezenas de metros de diâmetro.
Em momento algum ela pareceu assustada. Na verdade, durante essa curta luta, a vi sorrir pelo menos duas vezes.
A torrente de milhares de litros d’água estava prestes a envolvê-la completamente, quando ela executou um movimento. Era um golpe limpo, como cortar de baixo para cima.
A bolha de água explodiu, de dentro para fora, pela força dos ventos que ela havia comprimido antes de liberar seu ataque.
Mantive a água flutuando ao redor dela. Esperando o próximo movimento.
— Estou atacando com a parte cega e você não está parecendo querer me atacar pra valer… Desse jeito nunca vamos terminar essa luta!
— Não ataco quem eu não quero machucar… Se preferir, podemos dizer que foi um empate.
— Só se conseguir defender disso aqui!
Ela apontou a espada para o céu, segurando o cabo com ambas as mãos. Tentei, novamente, envolvê-la com água.
Fui muito lento.
Era visível um redemoinho poderoso nascendo da lâmina. Ela apontou a espada em minha direção. Percebi que precisava me proteger, e não tentar prendê-la.
— Furação comprimido! — Falou Tala, em tom solene.
Uma poderosa onda de choque me acertou no peito, antes mesmo dos ventos me tocarem.
Enquanto eu era arremessado pelo ar, ordenei que toda a água me envolvesse, evitando danos no impacto contra as rochas atrás de mim.
Quando percebi que a força que me arremessou acabou, eu ainda estava tonto, dentro da minha esfera d’água. Desfiz minhas defesas e olhei em volta.
Quatrocentos metros.
Fui arremessado quatrocentos metros para trás!
Se eu não tivesse um corpo relativamente mais resistente, devido a quantidade exorbitante de mana que eu possuía, meus membros poderiam ter sido despedaçados.
Jouci e Tala vieram correndo em minha direção, enquanto eu olhava em volta, tentando entender o que aconteceu.
— Você sobreviveu a um impacto direto… Empate? — Tala sugeriu.
Bufei em desaprovação, enquanto coçava a parte de trás da cabeça. Então falei:
— Empate.
“Reinei como nenhum elfo jamais reinou! Morrerei como ninguém jamais morreu!”
Deus Aéreo
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