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    THERMON AGOURO

    Durante a cerimônia de adeus, feita para Baru, estavam presentes centenas de habitantes. Ele era muito querido por toda a população. Isso era visível nos rostos tristes e chorosos, incrédulos com o acontecido.

    Estávamos ao lado de um gigantesco morro de gelo, feito de forma natural com o impacto de icebergs, há milhares de anos. Neste local sagrado para meu povo, cremamos todos os falecidos.

    As cerimônias de cremação eram feitas sempre no último ciclo do dia, em que os ventos constantes podiam levar as cinzas pelo mundo, retornando os corpos à natureza em forma de fumaça e fuligem.

    O corpo de Baru estava envolto em panos brancos limpos, trocados pelas Cinco-anciãs. Elas estavam em volta do corpo, formando um pentágono. Suas mãos levantadas aos céus, enquanto olhavam para cima.

    Cada uma das cinco idosas recitava uma prece diferente, todas falando ao mesmo tempo, abrangendo áreas da vida e da morte, solicitando proteção para a alma do meu amigo:

    – Que ele passe para a próxima fase com tranquilidade, usando o afeto dos presentes como guia…

    – Que os desejos de sua carne se tornem verdade para os seus entes que aqui ficaram…

    – Que a felicidade que ele trouxe nunca seja esquecida…

    – Que a tristeza por sua partida seja um degrau para o crescimento de todos…

    – Que o deus Branco o abrace em sua chegada…

    Olhei em volta mais uma vez e a maioria seguia as preces das anciãs, de olhos fechados. Cada pessoa presente, mesmo as que eu não conhecia bem, estavam em sintonia com minha dor.

    Jouci, que não chorava pela morte de seu pai há vários dias, tirou sua máscara de “pessoa que está bem e aceitou o que aconteceu” e se entregou às lágrimas, enquanto minha mãe a segurava em seus braços.

    Continuei fitando a pira, ainda sem chamas, em que meu amigo de infância estava deitado.

    Por um segundo esqueci onde estava, e o que tinha acontecido, e pensei: “Porque Baru está ali, enfaixado, com todos chorando, como se ele estivesse morto?”.

    Minha máscara também caiu.

    Sabe, quando se perde alguém querido, e você passa por todas as etapas do luto (negação, raiva, barganha, depressão e aceitação), ninguém te explica que essas etapas vão e vem como a maré. Mesmo estando ciente do ocorrido e de onde estava, comecei a entrar novamente em negação, e toda a dor que eu já havia experienciado voltou com força total.

    Minha mãe manteve o braço direito em volta de Jouci e passou o esquerdo por minha cintura, tentando consolar as duas pessoas mais afetadas por esta fatalidade.

    Senhor Tomoga saiu por entre os presentes com uma tocha na mão e pediu a atenção de todos:

    – SENHORES, BOA NOITE!

    – Boa noite, senhor Tomoga! – Todos os aptos a falar responderam nosso Líder em uníssono.

    – Nesta noite choramos pela morte de nosso irmão, Baru Arpão. Choramos e celebramos. Sua morte é triste e prematura, mas o motivo por ela ter ocorrido foi sublime! Sem sua ajuda, milhares teriam perecido devido a uma disputa idiota, e sem sentido, de outras raças – olhou em minha direção antes de continuar. – Falo por sua família, aqui presente, que ele deixará saudades sem fim. Por favor, aqueles que quiseram se despedir uma última vez, deem um passo à frente.

    Todos os presentes se organizaram para fazer uma fila ao lado do corpo.

    Passavam, diziam breves palavras de afeto, colocavam suas mãos esquerdas na testa do corpo, por menos de dois segundos, e seguiam em frente.

    Após a fila ter diminuído, chegou a vez da minha mãe, minha e da Jouci.

    – Vá em paz, garoto. Sentirei falta de sua companhia jovial e engraçada.

    – Vá em paz, meu irmão. Cuidarei de seu legado.

    – Vá em paz, meu pai. Eu e o bobalhão do Thermon seguiremos com as viagens. Pode ir tranquilo, tá? – Ela fungou, mas deu um sorriso choroso. – Olhe por nós de onde estiver!

    Retornamos aos nossos lugares.

    Tomoga fechou os olhos e acendeu a pira. O fogo crescia de forma espantosa, como se fosse aumentado por magia.

    Não demorou muito para o corpo virar cinzas e as chamas diminuírem de intensidade.

    O vento levou cada partícula queimada pelo céu noturno.

    No momento que a última brisa carregou meu amigo, senti um peso do tamanho do mundo sair do meu peito, como se o vento levasse os pensamentos ruins e deixasse apenas as boas recordações.

    Esse é um dos efeitos desta cerimônia, nos dada pelo deus Branco. O processo todo ajudava os desesperados a aceitar a perda, e agradecer pela vida que ainda temos.

    – Mãe, Jouci. Vamos.

    Os presentes se dispersaram com o fim da cerimônia.


    – Mensagem para Thermon Agouro e Jouci. Eles estão?

    – THERMON, TEM UM RAPAZ AQUI NA FRENTE QUERENDO FALAR COM VOCÊ E COM A JOUCI! – Gritou minha mãe,  Chandici, do portão.

    – JÁ TÔ INDO! Jou, vamos lá.

    Saí de casa e encontrei minha mãe no portão. O jovem rapaz me entregou um pequeno envelope, fez uma reverência e foi embora.

    – O que está escrito, bobalhão?

    – Deixa eu ler antes para depois me perguntar.

    Às vezes eu e Jouci agíamos como crianças, o que de certa forma era engraçado.

    No papel estava escrito: “Thermon, Jouci, tudo bem? A assembleia foi marcada para o primeiro ciclo da tarde de amanhã, no anfiteatro. Por favor, estejam lá. Tomoga Prudente”

    – Prudente? Esse é o nome que deram para ele? – Jouci falou.

    – Não lembro dos detalhes. Tem a ver com ele, mesmo muito novo, apartando várias brigas entre pessoas mais velhas. Ele sempre foi mais maduro que os elfos da sua idade… – Minha mãe, que estava parada ao lado do portão, comentou.

    – Amanhã… Algo me diz que essa assembleia vai ser mais importante que o normal.

    – Branquinho, não tente fugir! – Jouci fechou o portão antes que uma das raposas de minha mãe saísse. – Floco, pare de brigar com o seu pai! Nevezinha, por que está tão triste?

    Os nomes das raposas de minha mãe não eram muito originais…

    Jouci se mostrou completamente apegada aos animais, e eles a ela. Nem comigo, que os via com bastante frequência, havia tanto carinho. Talvez ela tenha mais jeito com animais.

    – Mãe, a senhora parou de doar as raposas mais novas? Toda vez que eu olho tem mais delas por aqui.

    – Não seja idiota, menino! Se eu não as doasse, a casa estaria com o chão apinhado delas. Não daria nem para andar por aqui.

    – Uma espécie selvagem como essa, convivendo tão bem sem liberdade… Como consegue, Chandi? – Jouci perguntou enquanto coçava a parte de trás das orelhas de uma das raposas. Tenho que admitir que não fazia ideia do nome do animal que ela acariciava.

    – Minhas fofinhas não estão completamente presas aqui. Eu às solto uma vez por semana. Elas sempre voltam depois de um ou dois dias. São muito espertas!

    – Se elas ficarem longe do meu quarto, já está de bom tamanho.

    – Olha como fala com a sua mãe, moleque! Te coloquei no mundo e posso tirar!

    – Mas eu sou um escolhid-

    E minha mãe me deu um cascudo. Jouci segurou o riso.


    A noite que se seguiu comemos ensopado de peixes, feitos em um caldeirão enorme. As raposas ficavam em volta, salivando enquanto esperavam por sobras.

    Quando todos terminaram de comer, nos sentamos na sala, em sofás feitos com peles de ursos. As raposas foram para suas tocas, do lado de fora.

    – Bobalhão, agora que me dei conta, você nunca comentou sobre seu pai. Ele faleceu também? – Jouci pareceu interessada em meu passado.

    Suspirei e comecei:

    – A verdade é que não sabemos… Ele desapareceu há trinta anos atrás, quando saiu para caçar a leste daqui. Fizemos diversas buscas, mas encontramos apenas este pingente, que ele usava no braço – tirei de dentro da camiseta um colar com um pingente prateado na ponta. Tinha o formato de um peixe pulando da água. – Estava caído no chão, perto de um desfiladeiro que dava para o mar.

    Falei de maneira automática, já que era um discurso pronto, que eu recitava a todos que perguntavam sobre este assunto.

    – Lá no fundo do meu coração acredito que meu Regi está vivo, mas o resto de mim entende que ele se foi… – Minha mãe comentou. – Sabe o que é pior que a notícia da morte de alguém amado? A incerteza… Sem saber se ele está bem, ou não, me corrói por dentro.

    – Mil desculpas por tocar nesse assunto, eu não sabia…

    – Tudo bem, minha querida. Você é parte da família agora, precisa saber dessas coisas.

    – F-fa-família? E-e-e… Eu não…

    – Ela está certa, Jou. Você é uma de nós agora. Se quiser, depois vamos até sua casa e pegamos suas coisas. Temos um quarto vago aqui.

    – Isso está acontecendo rápido demais. Aceitei sua companhia nas viagens, já que você consegue se cuidar, e sua presença já não me é estranha. Sem contar que com você o barco vai bem mais rápido que o costu-

    – Você é filha de seu pai, mesmo! Na sua cerimônia de nomeação vou recomendar “Cabeça-dura”. “Jouci Cabeça-dura”! O que acha, mãe?

    – Sim, sim. Faz jus a ela.

    – Como assi-

    – Você já é uma de nós, querida. As raposas te amam, eu te amo… Acredito que o mesmo vale para meu filho querido.

    Como se minha pele e a de Jouci nunca tivessem sido azuladas, nossas faces enrubescem completamente. Não conseguimos olhar nos olhos um do outro.

    – C-claro. Ela é como uma sobrinha para mim! Já que Baru era meu irmão de consideração.

    Minha mãe, muito irritada, falou:

    – Ah, tenham dó, vocês dois! Thermon, você está velho demais para fazer esse tipo de “ceninha”. Jouci até entendo, mas você? Sem contar que preciso de um neto logo. Já estou muito velha e preciso de alguém pra mimar. Se quiserem eu cuido da criança, só quero um netinho!

    Eu não sabia onde enfiar a cara. Preferi me manter em silêncio. Jouci fez o mesmo.

    – Estou na presença de duas crianças… Tá, não vou pressionar vocês! Terão todo o tempo do mundo para entender o que eu disse quando estiverem viajando juntos. Agora vou me retirar. Tenham uma boa noite. Fiquem com o deus Branco.

    Minha mãe saiu e deixou eu e Jouci num clima completamente desconfortável.

    – A Chandi é muito enérgica, hahaha… Sempre foi assim?

    – Sempre! Claro que diminuiu bastante desde que meu pai desapareceu. Mas ela nunca perdeu esse jeito brincalhão. Nem sei como sou tão sério, tendo sido criado por ela…

    – Você, uma pessoa séria? Hahahahahaha. Até parece!

    – Não entendi qual a graça.

    – Digamos que você é um boboca, que nem meu pai era.

    Era bom ver a Jouci falando sobre lembranças boas de seu pai. Ela não reagia com amargura ao assunto desde a cerimônia de adeus para Baru.

    Eu fiquei muito feliz com isso.

    – Hahahaha… Deu por hoje. Amanhã continuaremos a nos xingar. Boa noite Jou! – Me levantei do sofá que ficava em frente ao que a garota se sentava.

    – Thermon… Posso te perguntar algo?

    Sentei novamente, com o cenho franzido.

    – Claro, pode falar.

    – Sabe, não ligo que me chame de Jou, afinal ainda é meu nome, mas, às vezes, quando me chama assim, parece que não está falando comigo, e sim com a minha mãe… É coisa da minha cabeça ou eu entendi certo?

    Assim como minha mãe, Chandici, Jouci era um nome de “filha”. A sílaba “Ci”, no final de nomes femininos dos elfos, significa que a menina é “filha de”. Então Jouci significa “Filha de Jou” e Chandici “Filha de Chandi”.

    Pensei por alguns instantes antes de responder, enquanto olhava para a lareira feita de blocos de gelo azul.

    – Não sei.

    – Como assim?

    – A realidade é que vejo muito dela em você, não só o nome… Vocês duas são muito parecidas. Suas alturas, tom de voz, inteligência, beleza… Di-digo… – Não sabia o que falar depois desse deslize.

    Mais uma sessão de faces avermelhadas começou.

    – Lembro que ela era linda… Você me acha tão bonita assim? – A curiosidade em seus olhos era nítida. Sua cabeça pendeu levemente para a esquerda durante essa pergunta.

    Não respondi. O silêncio falou por mim. Após o que pareceram eras, levantei do sofá novamente:

    – Está ficando tarde, Jouci. Amanhã conversamos mais.

    Saí da sala a passos largos. Quem visse a cena de longe pensaria que eu estava fugindo de um animal peçonhento.

    Pelos deuses, eu sou um escolhido, porque estava com medo de encará-la?


    No anfiteatro, sentado com Jouci à minha esquerda, comecei a ficar nervoso com a espera. Todos os anciãos estavam em seus lugares, mas o Senhor Tomoga não havia dado as caras.

    – Será que ele está passando mal? Faz quase um ciclo que estamos aqui! – Uma anciã atrás de mim comentou com seu assistente. Ela parecia mais preocupada que irritada.

    – Acalmem seus ânimos, ele chegou! – Disse um ancião que estava em pé, na parte mais alta do anfiteatro.

    Tomoga apareceu no topo da estrutura, seguido por cinco integrantes dos Magos Gelados. Suas feições estavam horríveis, parecia que nosso líder não dormia há dias.

    Ele passou ao meu lado enquanto descia pelas escadas, mas não olhou em minha direção. Estava perdido em pensamentos, com as mãos atrás de seu corpo.

    Ao chegar no centro palanque, Tomoga apoiou ambas as mãos no púlpito prateado que lá ficava, deu uma bufada longa e cansada. Os Magos Gelados, que o seguiam, subiram no palanque a ficaram três passos atrás do Líder.

    – Senhores, os tópicos dessa reunião são extremamente delicados. Todos sabem dos resultados da viagem de Thermon, então serei breve. Thermon e Jouci, o trabalho que vocês executaram foi, de longe, um sucesso! Infelizmente perdemos um amigo querido – todos estavam em silêncio. – Agora trago repercussões dessa missão.

    Os presentes se entreolharam. Tomoga continuou:

    – Algo incomum aconteceu. Mensagens de fora de nossas fronteiras vieram até nós, com pedidos de socorro. Parece que a notícia da luta do Thermon, contra o escolhido dos humanos, se espalhou mundo afora.

    – Pedidos de socorro? Quem pediu socorro? – Um ancião levantou a voz à minha esquerda.

    – É mais fácil dizer quem não pediu socorro… Temos mensagens de Anões, Elfos, por mais que tenhamos acabado de ajudá-los, e dos Lizards. Só Humanos e Pelt-Beasts que não nos contataram.

    – Esses pedidos são para ajudar contra o que? – O mesmo ancião perguntou.

    – Mesmo as mensagens tendo chegado com vários dias de diferença, o assunto era sempre o mesmo: Ataques terroristas, sem motivo aparente, em diversos pontos das nações de cada raça! O padrão que identificamos é que os ataques focam nos estoques de alimento. Gado morto com veneno, armazéns pegando fogo… Em dois casos até houveram ataques diretos a grandes grupos de civis, durante aglomerações em festivais. Tudo foi muito bem orquestrado, pois atacaram pontos em que um escolhido não estivesse por perto. Não pode ter sido coincidência!

    – E o que eles querem que façamos? Que protejamos eles, como se fossemos suas babás? – A mesma anciã que comentou sobre o atraso de Tomoga falou, mas dessa vez com um tom ríspido e irritado. – Eles precisam de ajuda para limpar as bundas também?

    Grande parte do público deu risadas.

    – Ela está certa. Como eles acham que podemos lidar com tudo isso? Mesmo um pedido de ajuda já é ultrajante, quem dirá vários! – Mais um ancião se levantou e falou.

    – Por favor, acalmem-se! As informações não acabaram… Outro ponto das mensagens era parecido: eles nos culpavam pelos ataques!

    – Que petulância!

    – Como poderíamos ter algo a ver com isso?

    – Que bando de macacos idiotas!

    – O que ganharíamos com isso?

    Não vi nem um ancião quieto durante esse falatório, todos estavam completamente irritados!

    – Esperem, eles dão um motivo! – Todos se calaram, esperando Tomoga continuar. – Nossa intervenção no caso dos humanos e elfos. Parece que os terroristas deixaram esse recado em todos os lugares que atacaram. Aqui diz: “Graças aos esforços dos pacíficos elfos-de-gelo, o equilíbrio do fluxo do tempo foi comprometido. Para balancear os erros causados pelos elfos-azuis, estamos tomando medidas que garantam o caos! Assinado: V”

    – “V”? O que isso tudo quer dizer? – Falei.

    – Estou há dias tentando criar uma hipótese. A teoria mais plausível que pensei foi que essa pessoa, “V”, ou alguém perto dele, tem a mesma habilidade que eu, e pode ver o futuro.

    – Faz sentido, se levar ao pé da letra o que está escrito… Mas então, o que faremos sobre os pedidos de ajuda?

    – No momento não temos escolha, a não ser ignorar…

    – Muitos morreram, e os que ficaram vivos vão passar fome por causa destes terroristas, e eles nos culpam por ajudar? Que ridículo! – Novamente a anciã atrás de mim interagiu.

    – Estão todos de acordo com ignorar os pedidos de auxílio, por enquanto?

    Todas as pessoas aptas a votar levantaram as mãos, votando a favor. Tomoga também levantou sua mão direita.

    – Ótimo. Coletaremos mais informações com o tempo e faremos novas assembleias a respeito – assim Tomoga encerrou o assunto.

    – Ahem! – Efab, que estava quieto desde o início da reunião, pigarreou alto, chamando a atenção do senhor Tomoga.

    – O que nos leva ao próximo tópico… Senhores, acredito que conheçam o senhor Efab Puro, o líder dos magos gelados.

    Todos assentiram. Alguns com certo desgosto no olhar, outros mais entusiasmados.

    – A mais ou menos dois meses, pouco antes de Thermon partir para salvar os Elfos, nossos amigos, os Magos Gelados, fizeram uma descoberta que pode mudar tudo o que entendemos sobre a mana.

    Ninguém pareceu querer atrapalhar o discurso. Um silêncio estranho tomou conta da reunião. Tomoga continuou:

    – Ao que parece somos abençoados, não só pela natureza de nossa espécie, mas também pelo local em que residimos… O polo em que vivemos é o centro da convergência de enormes descargas de energia natural. Essa informação era algo que sabíamos, mas ainda não podíamos usar a nosso favor. Até agora… Efab, poderia explicar a extensão de suas descobertas?

    – Com prazer!

    Tomoga saiu do púlpito. Efab logo tomou seu lugar.

    Sem demora ele continuou:

    – Em resumo: Existe um tipo de energia que converge para o centro da terra e é focalizada aqui. Precisamente na parte mais ao sul do planeta, muito próximo de onde a base da minha organização fica. Conseguimos criar um instrumento que consegue medir, direcionar ou até mesmo “filtrar” essa energia, para algo mais palpável, como mana ambiente.

    – Sem termos técnicos, velhote, seja direto sobre sua descoberta! – O ancião mais velho de nossa comunidade falou. Seus olhos eram tão negros que pareciam uma noite sem luar.

    O que estou tentando dizer é que encontramos, em termos práticos, uma fonte de mana infinita.

    – Mas a mana nos cerca, já é infinita, não? – Dessa vez quem perguntou foi eu.

    – Não exatamente… Existe muita mana na atmosfera, isso é verdade, mas não quer dizer que seja infinita. Sem contar que para haver muita mana em um só lugar, isso precisa ser feito com a interferência de magos, muitos deles. É algo que apenas um escolhido consegue fazer sem ajuda.

    – Ok, entendi, temos muita mana, mas o que podemos fazer com isso? – A anciã sentada atrás de mim foi a próxima a falar.

    – Ainda precisamos testar mais para termos certeza. Por enquanto apenas conseguimos ter acesso a mana bruta, não usá-la diretamente. Espero ter mais resultados em minha pesquisa nos próximos meses.

    – Então você não tem nada… Entendi! – Esta senhora estava excepcionalmente ranzinza hoje.

    – O que queremos é garantir que descobertas importantes como essa sejam divididas com todos… Sem contar que precisamos de mais membros para nos ajudar nas pesquisas. Há muito a ser feito!

    – Ah, é sobre isso. Você precisa de recrutas! Vamos espalhar as novas notícias aos nossos habitantes e informaremos sobre sua procura por novos assistentes. Está bem com isso, garoto Efab?

    – Sim, isso será muito bem-vindo! Avisem que os interessados precisam se apresentar em até cinco dias, no escritório do senhor Tomoga. Trenós para nossas instalações sairão levando os novos “recrutas”, como a senhora os chamou.

    Tomoga foi a frente do palanque novamente.

    – Encerramos esta reunião por aqui. Conto com a ajuda de todos para reunirmos mais ajudantes para as pesquisas do senhor Efab.

    Os chefes de aldeia se levantaram e começaram a sair. Como da última vez, alguns foram até o senhor Tomoga para tirar dúvidas, ou informar algo que julgassem importante.

    Esperei que todos dispersassem. Apenas eu, Jouci, Tomoga e os magos gelados restaram.

    – Devo admitir, sua descoberta é realmente incrível, senhor Efa-

    Ele começou a abrir a boca, como quem iria dizer “Já que mencionou, por que não se junta nós nas pesquisas?”, mas parei ele levantando minha mão e continuando:

    – E não, não vou me juntar a vocês. Tenho uma promessa a cumprir com Baru.

    – Thermon, chegará o momento em que você não terá escolha, pois será tarde demais… Se juntará aos magos gelados a contragosto!

    Dessa vez quem falou foi o senhor Tomoga. Seus olhos estavam vidrados, enquanto ele olhava para o nada. Todos os presentes sabiam o que aquilo significava: nosso Líder teve mais uma visão!


    “A luta pela sobrevivência é parte do que nos tornou inteligentes. Nunca parem de lutar!”

    Deus Bestial

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