Índice de Capítulo

    ALVO PRIMEIRO

    Tive tempo para descansar, já que minha próxima luta ocorreria no dia subsequente ao que enfrentei Ven’e.

    Assisti a cada uma das outras lutas com atenção redobrada.

    Os outros seis competidores não desistiram do torneio pois lutavam pelo segundo lugar, já que nenhum deles devia ter alguma esperança de me derrotar… Bem, Mendir continuou com o nariz empinado, dizendo que me venceria. Se ele viu minha luta contra o escolhido dos anões, deveria ter mudado de ideia, mas não foi isso o que aconteceu.

    Por falar em Mendir, a luta dele foi bem agitada. Ele enfrentou Pasfur, um ancião de Olilha. O ancião parecia usar artes marciais para lutar, como Mendir. Infelizmente para o velhote, a juventude prevaleceu neste combate.

    Gostaria de fazer uma pausa para falar sobre Olilha. O nome deste feudo sempre me intrigou, então perguntei a um dos meus instrutores o motivo do lugar se chamar assim. Ele falou:

    — O centro de Olilha reside em um morro, que forçou a bifurcação de um rio. Depois de alguns quilômetros este rio bifurcado volta a ser uma correnteza d’água. Visto de cima, as bifurcações, com o morro no centro, parecem formar um olho gigante. Como este morro é, tecnicamente, uma ilha, começaram a chamar o local de “Olho-ilha” ou Olilha.

    Achei muito difícil visualizar isso, mas quando passei pelo local, anos mais tarde, tudo fez sentido. O formato do olho era muito evidente, ainda mais visto de longe.

    Voltando aos acontecimentos do torneio:

    Cecena, uma prodigiosa maga do tipo energia, de Souto-Central, enfrentou Huto, um lutador de Ceno-Azul. Nunca estive em seus feudos, e não posso dizer muito sobre eles.

    Nesta batalha, Cecena levou a melhor. Em momento algum Huto teve chances. Ela brilhou a luta inteira, cegando o oponente. Huto arremessou água em todas as direções, mas nunca acertou sua oponente.

    Na última luta desta rodada tivemos Caleo contra Bivou. Caleo era um jovem lutador, que usava técnicas de combate a curta distância. Bivou lutou usando ataques a média distância, com chamas azuladas. O mago das chamas venceu. Seu oponente não conseguiu se aproximar.

    Assim, a terceira rodada acabou. Restavam mais duas rodadas para definirmos minha vitória… Digo, para descobrirmos quem venceria o torneio.

    Na manhã em que continuaríamos as lutas, o locutor anunciou mais uma vez o sorteio. Como sobraram apenas quatro lutadores, com dois nomes tirados do jarro teríamos as duas lutas definidas.

    Os competidores pareados para se enfrentar foram Cecena contra Bivou e eu contra Mendir. Assim que os nomes foram tirados do jarro, olhei diretamente para Mendir, que já estava me encarando, com um ar de superioridade, o qual eu geralmente exalo. Era vergonhoso ver isso… Acho que vou parar de me exibir tanto.

    Novamente estávamos no centro da arena durante o sorteio. Eu e Mendir nos retiramos de lá, para dar espaço para a outra dupla digladiar.

    A luta procedeu com muitos altos e baixos. Depois de um combate de resistência, entre a defesa energética de Cecena e os ataques de fogo de Bivou, Cecena venceu desmaiando seu oponente, assim que conseguiu se aproximar dele. Foi deveras intenso.

    Restava eu lutar contra meu companheiro de equipe no período da tarde.

    Almocei com meu desajustado grupo de amigos. Todos pareciam animados para esta próxima rodada.

    — Valen, Valen! Será que você consegue derrotar Mendir? Ele parece muito confiante! — Tobin perguntou entre uma mordida e outra em suas frutas suculentas. Seu rosto estava todo melecado.

    — Que tipo de pergunta é essa? Acha mesmo que existe alguma possibilidade dele conseguir me enfrentar? Esqueceu que já sabem que eu sou um escolhido? Eu posso simplesmente usar minha aura, e ele não conseguirá encostar em mim… E não precisa mais me chamar de Valen. Todo mundo já sabe quem eu sou.

    Estávamos sentados em uma mesa no refeitório da estalagem. Muitos transeuntes paravam para me ver, mas ninguém tentou se aproximar. Devo ter dado a entender que, se alguém tentasse me “tietar” fora de hora, teria a cabeça decepada. É, deve ter algo a ver com isso…

    Pírio continuou a conversa:

    — Não sei… Mendir sempre arruma um jeito de derrotar quem passa em sua frente. Para você garantir a vitória, você teria que manter sua aura ativa a luta inteira. Acha que consegue?

    — Conseguir eu consigo, mas assim eu não sentiria o sabor de vitória, não é mesmo?

    — Alvo, estamos falando de uma armadura de cristal. Vai mesmo arriscar contra um oponente habilidoso como ele? Não terá outra chance como essa! — A voz da razão, que mantém nosso grupo nos eixos, ataca novamente. Listro, como sempre, certa.

    — Tudo bem, eu vou levar esta luta a sério.

    — Acho bom mesmo. Não quero desculpas quando estiver recolhendo seus dentes caídos no chão — a voz do jovem Mendir surgiu atrás de mim.

    — Não pode me dar um descanso nem na hora do almoço, Mendir?

    Virei-me para o rapaz. Seus braços cruzados a frente do corpo. Ele falou:

    — Não é minha culpa. Eu também almoço aqui…

    — Nunca vimos você neste refeitório em todos esses dias. Que mentira deslavada é essa? — Pírio interveio.

    — Não lembro de ter pedido sua opinião, Pío. E não me viram pois normalmente venho comer mais tarde. Enfim, espero mesmo que lute seriamente, Alvo.

    — O rapaz se virou para procurar outra mesa e o chamei:

    — Mendir… Sente-se aqui. Não existe motivo para sermos tão “azedos” um contra o outro, correto? Qualquer diferença que tivermos, vamos resolver na arena.

    O local estava um pouco lotado, e Mendir provavelmente demoraria para conseguir uma mesa. A proposta não era descabida. Ele ponderou por uns instantes. Percebendo que a ideia fazia sentido, Mendir sentou-se na cadeira vaga em nossa mesa.

    Meus companheiros me olharam, como se quisessem dizer: “Tem certeza disso?”.

    Mendir fez seu pedido ao atendente e logo perguntei:

    — Como sabia? — Fiz uma pausa. — Como sabia quem eu era?

    Ele se recostou na cadeira, deu um suspiro, e começou:

    — No começo eu tinha minhas dúvidas. Para mim não fazia sentido o escolhido estar aqui. Mas, depois de alguns instantes te encarando, tinha certeza que era o grande Alvo em minha presença. Eu te reconheci pois te via diariamente, quando eu fazia parte das forças de proteção, em Porto-Norte. Claro, não espero que se lembre de mim. Eu era apenas um sargento, sem muito a oferecer.

    — Calma! Se você sabia que ” Valen” era Alvo o tempo todo, então sabia quem eu era também? — Perguntou Pírio.

    — Como eu saberia? — Mendir respondeu com olhar de incredulidade.

    — Ah… Não é nada… — Pírio murchou na cadeira

    Retornado ao assunto, Listro perguntou:

    — Sargento, tão novo?

    — Quantos verões acha que tenho, senhorita Listro?

    — Uns dezessete?

    — Ah, ela você conhece… — Pírio falou bem baixo.

    — Tenho vinte e seis verões — Mendir falou, enquanto cruzava os braços, ignorando Pírio.

    — Uau, isso me surpreendeu! — Listro pareceu espantada.

    — É, acontece bastante… Enfim, eu não me via sendo mais do que um “comandado” nas forças de proteção, então decidi sair de lá para viajar pela nação humana. Eu precisava encontrar um propósito para minha vida. O que me deu uma direção foi treinar para me tornar mais forte. Infelizmente eu não sou um mago muito poderoso-

    — Não é poderoso? E o que me diz das surras que deu em todos neste torneio? Sem ofensas — Tobin falou animadamente, interrompendo a história de Mendir.

    — E-eu não me importo… — Claramente Pírio se importava.

    — Olha, fico feliz que pense assim, garoto, mas a verdade é que meu controle de mana é muito básico. Eu até achava que era um humano comum quando criança. Foi na minha adolescência que descobri que podia controlar minérios.

    — Ficar mais forte para você foi aprender artes marciais? — Fiquei bastante interessado no tópico.

    — Sim. Basicamente era isso ou lutar com espadas. Infelizmente nunca fui um esgrimista habilidoso.

    — Ouvindo sua história consigo te entender melhor, Mendir. Só não entendo o motivo por ser tão obcecado em me derrotar.

    — Porque será o auge de meu desenvolvimento. Se eu derrotar o grande escolhido, provarei a mim mesmo do que sou capaz. E também nunca fui com a sua cara quando vivíamos no mesmo batalhão… Seria como acertar as contas por todos os soldados que você menosprezou.

    — Espera, nunca menosprezei ninguém! Talvez você tenha uma visão errada do que é ser um escolhido, ou um general… Me desculpe se alguma vez fui rude com você, ou qualquer outro soldado. Eu tenho tentado melhorar desde que saí das forças de proteção.

    — SAIU!? COMO ASSIM? — Mendir gritou enquanto se levantava da mesa. Os pratos quase foram arremessados longe. — ACHEI QUE ESTIVESSE EM UMA MISSÃO PARA A FUTURA REI!

    Como de costume, o pessoal da minha mesa fazendo algo que todos ao redor param para olhar.

    — Já não basta eu ser o centro das atenções por aqui, vem Medir e começa a gritar… Sim, eu saí. Hoje sou um civil, como você. Agora, por favor, sente-se.

    — Como assim, “civil”? Você não pode! E quem protegerá Porto-Norte? — Ele ainda estava de pé.

    — Por que se importa. Você mesmo seguiu seus objetivos egoístas, por que não posso fazer o mesmo?

    — Mas você é o escolhido. É o seu dever!

    — Primeiro: você não sabe meus motivos. Segundo: espero que evite a hipocrisia daqui em diante. Seu dever também era defender Porto-norte, mas decidiu brincar de “lutinha” por aí.

    — É, não vamos nos acertar mesmo. Vou comer em outro lugar. Aqui, o pagamento pela comida que pedi e não ainda não entregaram. Estou de saída — Mendir deixou um punhado de moedas de prata na mesa e saiu sem olhar para trás.


    — COMECEM! — O Narrador iniciou nossa luta.

    Mendir não saiu do lugar. Fiz o mesmo. As lutas que meu oponente venceu foram no contra-atacando. Seus adversários atacaram sem nenhum tipo de plano, e foram pegos de surpresa. Eu não faria o mesmo.

    O desafio de Mendir era me derrotar. Ele teria que fazer o primeiro movimento.

    A espera do público para que algum de nós atacasse fez com que algumas pessoas começassem a vaiar.

    — BUUUUUU, por quê não estão lutando? Não é pra ter pena dele, mesmo se forem do mesmo time! — Um rapaz gritou da arquibancada.

    — Alvo, acaba logo com ele! — Pareceu uma senhorinha gritando atrás de mim. Algumas pessoas riram ao redor dela.

    Eu e Mendir não usávamos as máscaras, características de nosso time. Já não fazia sentido.

    Minha atenção estava toda nele. Olhamos fixamente um para o outro por mais um tempo. Ninguém fez menção em se mexer.

    Mais tempo passou, e nada.

    Decidi provocar.

    — Não era você quem dizia que iria acabar comigo? Estou aqui, pronto para ser derrotado. Vai ficar esperando até quando?

    — Até ter uma brecha. Como você acha que os mais fracos lutam, Alvo? Com a mente… Ah, esqueci que não sabe do que estou falando, já que o grande Alvo é só um amontoado de músculos e mana, nunca precisou pensar por si só a vida inteira!

    Se o objetivo era me irritar, ele conseguiu. Mesmo assim não caí em sua armadilha. Continuei firme. Ele teria que tomar a iniciativa se quisesse lutar comigo.

    Apertei o maxilar, respirei fundo, e respondi:

    — Um soldadinho raso como você nunca vai saber qual o real peso que nós, os comandantes, carregam nas costas, Mendir! Agora chega de lenga-lenga. Sei que vence suas lutas em contra-ataques. Não vou dar início neste embate. Venha quando quiser acabar logo com isso.

    Ele começou a rodear a arena, mantendo a mesma distância. Seus olhos não saíram de mim em momento algum.

    — Se estivesse enfrentando um mago comum, usaria um contra-ataque, como mencionou, mas isso não funcionaria com você. Nem em sonhos… Estou falando a verdade. Preciso de apenas uma brecha — ele continuava a circular pela arena.

    — É uma brecha que precisa para vencer? Entendo… Então não darei chances! — Ativei minha aura, sufocando a todos em um raio de cinquenta metros. A pressão da mana vibrava o ar e cegava quem não estivesse atento.

    Mendir parou onde estava. Deu um sorriso meio debochado e levantou sua guarda. O sorriso significava: “Terei que lidar com algo problemático.”, como se minha aura intransponível fosse apenas mais um obstáculo em seu caminho.

    Ele bateu o pé direito no chão e pedras de diversos tamanhos subiram ao seu redor. Ele juntou os braços e os pedregulhos voaram em sua direção, formando uma camada de pedras sobre sua pele. Apenas os olhos e boca estavam expostos. Ele falou:

    — Vamos testar seus reflexos, escolhido!

    Seu avanço foi impulsionado por um pequeno pilar de terra, que o arremessou em minha direção. Seus braços estavam esticados para trás, com as mãos em formato de lança. Na ponta de suas mãos as pedras formavam pontas de dardos.

    Eu conseguia acompanhar os rápidos movimentos, então não me desesperei com o avanço repentino. Um metro antes de me alcançar, sua mão direita preparou um golpe em direção ao meu rosto. Me abaixei no instante do ataque, pronto para acertar um soco em seu estômago protegido por pedras.

    Quando meu punho iria acertá-lo, como se outra força pudesse controlar a direção em que Mendir avançava, seu corpo girou para o lado e para cima, saindo do meu raio de ação. Meu oponente aproveitou o momento de seu giro, e desferiu um chute com o calcanhar esquerdo em meu queixo. Desviei no último instante.

    Tomando controle de si novamente, Mendir aterrissou a cinco metros de distância de mim. Nesse momento, senti algo no rosto. Era um arranhão. Passei a mão e uma fração minúscula de sangue saia do ferimento.

    As pessoas com boa visão na plateia perceberam o ocorrido e ficaram assustadas. “Como Alvo, aquele que lutou praticamente sozinho contra mil e quinhentos elfos sem se machucar, havia sido arranhado por um reles lutador anônimo?”, eles pensavam.

    Mendir endireitou sua postura novamente, e avançou da mesma maneira. Dessa vez eu ativei minha aura com mais força, mas mantive os braços levantados, deixando minha guarda alta.

    Meu oponente criou pequenos pilares de terra em lugares aleatórios ao meu redor. Os usou para mudar de direção no instante em que entrava em meu alcance. Como se chutasse a terra e ela o impulsionasse ao mesmo tempo.

    A estratégia era simples: ele avançava, eu fortalecia minha aura no instante em que Mendir entrasse em meu alcance. Depois, ele evitaria o meu contra-ataque. Aos olhos dele, em algum momento, eu enfraqueceria minha aura, e ele poderia dar mais um golpe rápido, assim como fez com o primeiro chute que me arranhou.

    Esse plano seria perfeito se eu continuasse no mesmo lugar, como havia feito durante toda a luta. Percebendo isso, dei um salto de dez metros para trás. Quando aterrissei, Medir continuou em meu encalço. Ele estava muito atrevido para alguém que apenas me arranhou.

    Não via motivos para continuar na defensiva. Avancei também.

    No instante que íamos nos chocar, Mendir foi puxado, novamente, por uma força invisível para a esquerda, e meu soco acertou o nada. Prevendo um padrão nisso, saltei para meu lado direito. Mendir tentou outro soco mirando meu pescoço, mas errou quando desviei.

    — Isso está ficando irritante, Mendir. Você desvia de um jeito estranho… Como faz?

    — Se desistir eu te conto!

    Mais um avanço em minha direção. Devo admitir, o rapaz tinha culhões.

    Aumentei a intensidade da minha aura. Já estava brilhando mais que o sol. Pessoa alguma conseguiria olhar em minha direção sem que sua retina fosse queimada. Isso pegou Mendir de surpresa, e ele parou em seu avanço, bloqueando a luz com ambos os braços.

    Peguei uma pedra do tamanho de um punho que estava ao meu lado, e arremessei em direção a perna esquerda do meu oponente. Mesmo sem ver direito, Mendir desviou no instante exato em que seria acertado. Diminuí o brilho da minha aura para poder perguntar ao rapaz:

    — Você consegue sentir mana, não é? Até mesmo mana residual em uma pedra vindo em sua direção… Isso é impressionante para alguém que não se considera um mago poderoso.

    — Então você percebeu..? De todo o modo, ainda não descobriu como me acertar, não é mesmo?

    — Não preciso. Você vai perder para si. Agora, me responda: O que faz um escolhido tão especial?

    A frase parece ter surtido efeito no rapaz. Ele ponderou um pouco e falou:

    — A quantidade absurda de mana?

    — Bingo!

    Avancei contra ele, que saltou para o lado, evitando o golpe direto. Sem tempo para ele pensar, continuei avançando. A cada avanço meu, Mendir dava um salto para o lado. Mas os saltos não eram normais. Seu corpo se movia com mais agilidade que seria possível com suas habilidades físicas. A chave estava nas pedras ao redor de seu corpo.

    Ele controlava os minérios ao redor de seu corpo, fazendo com que ele fosse empurrado pelas pedras, como se um ser invisível evitasse que ele fosse acertado. Aliando isso à sua habilidade de sentir mana, seria praticamente impossível algum golpe com mana machucá-lo, mesmo no ar. Mas tudo tem um preço. Controlar minérios é uma habilidade penosa. Mudar a forma de tantas pedras exige concentração e mana, muita mana.

    A luta estava em minhas mãos quando percebi isso. Eu só precisaria forçá-lo a usar o máximo de suas habilidades. Como ele mesmo disse, Mendir tem um controle básico de mana. O cansaço logo chegaria.

    Ele tentou se afastar de mim. Avancei. Desferi um chute giratório mirando suas pernas. Ele pulou. Enquanto ele estava no ar, tentei arremessar outro pedregulho em sua direção. Seu corpo foi empurrado para a direita, como se uma corrente de ar o jogasse para o lado. Peguei mais pedras e continuei arremessando. Mais desvios, ainda no ar.

    Lancei dezenas de pedras. Ele ficou suspenso no ar, para facilitar as esquivas. Se ele voltasse ao chão, eu estaria lá para finalizá-lo. Infelizmente, suspender tantas pedras, e seu próprio corpo, em uma situação como essa, cansou meu oponente. Como ele, eu também consigo sentir mana, então era perceptível que ele não aguentaria mais que um minuto desviando de meus ataques. Logo suas reservas de energia se esgotariam.

    — Se desistir, deixo você voltar ao chão sem decepar sua cabeça, Mendir! — Arremessei mais duas pedras em sua direção. Ele precisou desviar novamente.

    Rangendo os dentes de raiva, meu oponente percebeu que não tinha como continuar assim. Ele precisou usar sua última carta na manga.

    Senti mana aglutinar abaixo de mim. Por instinto dei um salto para trás. Alguns espetos de pedra nasceram onde eu estava um momento antes. Provavelmente não me causariam dano, pois eram finos demais. Contra Mendir, era preferível prevenir, então desviar foi a melhor escolha.

    Com essa janela de oportunidade, Mendir voltou ao chão. Ele ofegava bastante, mas não parecia disposto a se render.

    — Só saio daqui morto ou depois de te derrotar, Alvo. Tenha isso em mente!

    Ele desfez sua armadura de pedra e fez um movimento meio floreado em direção ao chão, e a terra ao seu redor afundou alguns centímetros. Logo depois, com os punhos fechados, ele fez um movimento de baixo para cima com a mão direita, e um bastão de pedra saltou para sua mão. Ele girou a arma em redor de seu corpo, e segurou a peça como uma lança. A ponta era brilhante, o que não significava algo bom para mim.

    Percebi que sua reserva de mana estava esgotada, mas, em troca, ele tinha uma arma que poderia me derrotar. A lança tinha uma ponta de diamante do tamanho de um dedo, feita das pedras prensadas da própria arena. O formato era perfeito para perfurar minha aura. Mesmo usando o segundo estágio da aura protetora, eu não conseguiria evitar que isso me acertasse.

    — Arma impressionante, garoto. Deveria ter feito isso no começo da luta. Teria mais chances de vencer. Em sua posição atual, eu só preciso evitar um ataque de sua lança, e tudo estará acabado!

    Ele não respondeu. Avançou em minha direção, correndo com a lança em punho. Seus olhos, cheios de raiva. Mendir era lento sem as pedras ao redor de seu corpo o impulsionando. Deu um pouco de pena.

    Quando meu adversário alcançou a metade da distância entre nós, ele cambaleou para o lado e parou. Todos da arena ficaram em silêncio. Eu mesmo não movi um músculo.

    De repente um jato de vômito saiu de Mendir. Ele tossia e engasgava com sua bile.

    A cena, além de nojenta, era intrigante. O vômito era arroxeado, como se ele tivesse tomado algum tipo de vinho estragado antes da luta. Algo me dizia que esse não era o motivo para ele estar mal…

    Se recuperando da gafe momentânea, Mendir voltou a avançar em minha direção.

    Vendo esta cena, quase patética, desativei minha aura, aguardando a chegada de meu oponente.

    Quando a lança entrou em meu alcance, com um movimento de minha mão esquerda, subindo de baixo para cima, acertei o centro da arma, que se esmigalhou em mil pedaços.

    Mendir estava dentro de meu raio de ação. Dei um tapa com a parte de trás de minha mão direita em seu rosto. Ele foi arremessado quase dez metros para trás, girando.

    No chão ele caiu, e lá ficou. Como meu adversário não se mexeu depois de alguns instantes, o narrador informou:

    — POR NOCAUTE, O VENCEDOR É ALVO, O ESCOLHIDO DOS HUMANOS!

    A plateia deu pulos e gritos com a minha vitória.


    “Foi egoísmo sair de Porto-Norte, eu sei… Deixei minha idosa mãe sozinha com meus irmãos para me descobrir. Felizmente minha família não é pobre, então conseguem se manter sem minha assistência. Peço que me treine, Mestre! Serei seu melhor discípulo!”

    Mendir Gaziel

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