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    JOUCI “NÃO-NOMEADA”

    Ao andar pelos túneis da base de Vanir, meu coração batia contra peito com violência. Atrás das ataduras que Geir me deu, estava mais difícil respirar que o usual. A ansiedade que a situação trazia só tornou as coisas piores. Minhas mãos suavam. Minha boca estava seca.

    O grupo que andava comigo era grande, mas isso não me trazia segurança. Estávamos rodeados de inimigos aqui. Se me lembro bem do encontro que tivemos com Primeiro, um dos arautos de Vanir, ele disse que estaria aqui, então teríamos mais um problema para lidar.

    Ao meu redor estavam Maso, An’u, Elear, Talamaris e Geir. Todos com rostos tensos.

    Como Geir é bem quisto dentro da Rosa-dos-Ventos, nenhum soldado nos seguia. Assim poderíamos conversar com mais privacidade.

    Maso perguntou quando fizemos uma curva para a direita:

    — Temos algum aliado aqui, Geir?

    — Não. Todos que consegui “converter” ao nosso lado estão em bases nos extremos do continente. Não teremos outros para nos ajudar nesta missão. Lembrem, nosso foco é descobrir onde Thermon está e libertá-lo. Após isso veremos nossas opções. Caso eu achar prudente, iremos contra Vanir ainda nesta investida.

    Talamaris arrumou a lança presa às costas, eu me empertiguei. Andávamos a passos largos, com bastante pressa. Algo me dizia que se um de nós fraquejasse, mesmo por um instante, nesta caminhada pelos túneis desta base, desistiríamos do plano.

    Éramos apenas seis contra uma organização inteira… Isso por si só era desesperador.

    O que motivava eu e Geir era salvar Thermon. O que motivava Talamaris era sua espada. O que motivava Maso, An’u e Elear era a vingança contra Vanir pelo o que ele fez com suas famílias originais. Todos sabíamos bem onde estávamos nos metendo, mas não queria dizer que isso deixava de ser assustador.

    Geir parou na frente de uma porta e a abriu. Fez sinal para que todos entrassem. A sala era um pequeno depósito de grãos ensacados e outros tipos de alimentos que demoravam a estragar. Eu e Geir desenrolamos as ataduras de nossos rostos. Ele mexeu em sua bolsa e tirou algo. Abriu sua mão. Eram seis pedrinhas esbranquiçadas de formato irregular, como se fossem dentes. Geir entregou uma das pedrinhas para cada um. Ele nos explicou:

    — Caso perceberem que serão derrotados, ou que serão presos por alguém durante esta missão, usem isso. É o veneno usado pela Rosa. Caso alguém vá em uma missão perigosa, precisa manter estas pílulas dentro da boca e usá-la assim que for pego. Com isso, Vanir evita que informações de dentro da organização vazem.

    — Por que alguém seria lunático a ponto de se matar por seu líder? — Perguntei, horrorizada com a pequena pílula cor de osso em minha mão.

    — Pense no seguinte cenário: Sua vida é ser um soldado desta organização e mais nada. Te enviam em uma missão importante, como atacar uma fazenda por suprimentos. Como não tem outras opções, você vai. Nesta missão algo dá errado, e o inimigo te prende. Você prefere ser torturada, até falar tudo o que sabe, e depois ser morta de todo o jeito, ou morrer quase instantaneamente, sem sentir dor? — Elear levantou esta hipótese.

    Fiquei em silêncio e assenti. Ficou óbvio para mim o quão útil este veneno era.

    — Os meninos aqui já sabem como funcionam essas pílulas, então as instruções são para vocês duas, Jouci e Talamaris: arrancaremos o último dente da boca de cada uma de vocês. Maso irá curá-las logo em seguida. No espaço em que ficar “vago” em suas bocas, encaixem os dentes falsos — Geir gesticulava enquanto explicava.  — Caso seja necessário usar o veneno, usem sua língua para desencaixar o dente da gengiva, e depois o morda. Esta pílula é oca, e o veneno está dentro. Podem engolir a pílula inteira também, mas o efeito demora alguns minutos a mais — ele deu as últimas instruções enquanto tirava um alicate de bolso.

    — Eu sabia que não ia ser uma missão simples. Mas me mutilar não é algo que eu achei que faria… — Tala falou em tom solene.

    — Não temos outra opção. Mesmo se falharmos, não podemos comprometer as pessoas que já consegui converter para o nosso lado na organização. Vanir não pode ter informação alguma sobre a rebelião! — Após uma breve pausa, Geir deu um longo suspiro antes de continuar. — Eu estou confiando em todos vocês. Confiem em mim mais um pouco!

    Olhei para Talamaris, que deu de ombros.

    — É só um dente… Não vai fazer falta — assim ela aceitou a mutilação proposta por Geir. — Vamos logo com isso. Quanto antes acabar, mais rápido passará a dor.

    — Tudo bem. Sente-se neste barril e abra bem a boca. An’u, aqui está. Irei iluminar com este cristal para você.

    Talamaris congelou no lugar, com a boca entreaberta. Em seu rosto havia espanto.

    — Espere, não vai ser você quem vai arrancar meu dente, e sim esse baixinho? Se for assim eu não faço!

    — Tala, pare de fazer birra! Achei que já tinha superado essa rixa boba… Alguma vez algum anão te fez mal? — Tentei iluminar a mente de minha amiga com a luz da razão.

    — Não, mas…

    — Sem “mas”. Pare de agir feito uma criança e abra essa boca.

    — Precisa ser ele a fazer isso, Geir?

    Maso interveio:

    — An’u é o melhor arrancador de molares da organização. Ele arrancou o meu e o de centenas de outros soldados. Nenhum deles reclamou do procedimento. Confie nele!

    — Se quiser que eu arranque, eu arranco, mas garanto que vai sangrar e doer o dobro — Geir brincou.

    Sem dizer mais nada, Talamaris fechou os olhos e abriu bem a boca. Antes que eu percebesse um dente enorme, e ensanguentado, saiu da boca de minha amiga. Ela mal gemeu de dor. A elfa era mesmo durona.

    No mesmo instante que An’u removeu o dente, Maso iniciou o processo para curar Tala. Tudo aconteceu muito rápido.

    — Agora é só encaixar assim… Isso. Pronto — Maso ajudou Tala com o encaixe final do dente falso.

    — Bem, é minha vez. Vamos lá — falei

    A dor foi tão aguda que perdi o ar. Não tive tempo nem de gritar. Logo Maso começou a me curar. A dor não durou muito. O que estava incomodando era o gosto forte de sangue na minha boca.

    — Sugiro que cuspa — Elear falou de trás de Maso.

    Virei para o lado e cuspi todo o conteúdo em minha boca. An’u me ofereceu um pano para me limpar. Agora só faltava encaixar o dente falso. Maso me ajudou também.

    Me acostumar com o dente falso foi bem mais fácil do que imaginei. Parecia que nada havia acontecido comigo.

    Coloquem os seus também, rapazes — instruiu Geir, enquanto ele enfiava sua mão na boca.

    Como Maso contou, todos já tinham um molar faltando, e só precisavam encaixar os dentes falsos.

    — Vamos continuar. Pelo horário acredito que Vanir estará no salão principal, cuidando de algum tipo de situação da organização. Tudo o que é importante passa por ele. É lá que preciso ir primeiro. — Contou Geir.

    — Por quê vamos direto nele? — Elear perguntou.

    — Como Primeiro me viu saindo da última base, acredito que ele tenha comentado com Vanir que eu viria aqui. E como os guardas já nos viram, é possível que Vanir já saiba da minha chegada. Preciso me apresentar para ele antes que ele comece a suspeitar de algo.

    — Certo. Precisaremos ir junto com o senhor? — Elear perguntou.

    — Todos não. É comum que eu sempre tenha dois discípulos comigo, então os outros fiquem circulando pela base e tentem descobrir algo. Como Talamaris e Jouci não conhecem o lugar, virão comigo. Me encontrem nos aposentos dos soldados em um ciclo.

    — Sim senhor! — Elear, An’u e Maso falaram em uníssono.

    Às vezes eu esquecia que eles vinham da mesma organização, e já tinham regras e hierarquias pré-estabelecidas.

    Eu e Geir nos enrolamos novamente com as ataduras escuras.

    Saímos calmamente do depósito, nos dividimos em dois grupos. O meu grupo, com Geir e Talamaris, seguiu pelo túnel principal. Os rapazes viraram na primeira bifurcação à esquerda, sem olhar para trás.

    Estava acontecendo. Nosso plano de salvamento começou.


    Prestes a entrar no salão principal, senti um arrepio na espinha. Estava mais frio ali. Para mim o frio é como o ar, uma necessidade. Mas ser pega de surpresa por essa repentina mudança na temperatura fez todos os meus sentidos despertarem. 

    Era como se eu estivesse dormindo desde o momento que saí de casa, e acordasse agora.

    — É culpa de Primeiro. Ele gosta de um clima mais gelado. Como Vanir não se importa, deixa que seu arauto favorito faça como quiser com o ambiente da sala. Vai ficar bem, Tala? — Geir perguntou para minha amiga.

    — Eu aguento frio se não demorarmos demais. Estou bem.

    Paramos a menos de cinco metros da porta do salão. Dois guardas protegiam a entrada. Ambos reconheceram Geir liderando nosso pequeno grupo. Após o susto, corrigiram suas posturas. Eles vestiam o mesmo uniforme dos demais soldados, além das habituais lanças que sempre víamos os guardas usando.

    — Senhor Geir, está aqui para ver o Senhor Vanir? — Perguntou um dos guardas.

    — O que mais eu estaria fazendo aqui, garoto?

    — Mil perdões, Senhor-

    — Chega de perder tempo. Abra logo essa porta!

    — Imediatamente, senhor!

    Já estava acostumada com o modo como Geir tratava seus subordinados que não faziam parte da rebelião. Provavelmente ele precisava manter uma postura de pessoa carrancuda, para não perder o respeito que tem na organização. Era tudo um teatro, afinal de contas.

    A porta se escancarou e o frio atravessou as ataduras em meu rosto e senti uma felicidade breve com a temperatura amena. Quase me senti culpada por isso.

    O recinto era amplo e atarracado com livros em estantes altas. Escadas pequenas estavam espalhadas pelo lugar, para facilitar que os objetos fossem pegos. Percebi que na parte de trás da sala tinham duas outras portas menores, uma oposta à outra. Infelizmente não tinha como eu saber onde elas levavam.

    No centro da sala estava um humano de cabelos grisalhos, apoiado com ambas as mãos numa mesa enorme. Nesta mesa haviam centenas de mapas, livros abertos e garrafas de vinho vazias.

    De costas para nós, a cerca de cinco metros de distância da mesa, estava um Lizard enorme, com roupas com detalhes avermelhados e algumas tiras de couro para segurar os panos no lugar. A última pessoa na sala era Primeiro. Ele estava a três passos de distância do humano, como se fosse um mordomo de nariz empinado.

    Ao entrarmos, quando alcançamos a metade da distância entre a porta e a mesa, Geir se ajoelhou e abaixou sua cabeça. Eu e Tala fizemos o mesmo.

    — Pai, a quanto tempo não nos vemos? Queria falar com o senhor.

    Não houve resposta imediata.

    Como eu estava com a cabeça abaixada, não conseguia ver o que acontecia no salão. Comecei a tremer pela ansiedade. Eu precisava me segurar, para não estragar o plano.

    Um instante depois ouvi o som de papel sendo revirado, como se alguém folheasse um livro atrás de alguma passagem específica.

    — Não está aqui! Que droga! — A voz, que imaginei ser do humano, falou.

    — Pai? Geir também está aqui para vê-lo — Primeiro tirou o homem de seu estupor.

    — Geir? O que faz aqui? Pensei ter enviado uma missão a você por Cecirin. Já cumpriu sua missão? — Novamente o humano falou. Ainda não ousamos nos levantar.

    — Sim, pai. O prefeito de Solgos, Penur, está morto!

    Congelei na hora. Penur era o prefeito de cidade que eu, Thermon e Talamaris salvamos das Vespas. Geir falar que ele morreu, como se tivesse apenas tirado fezes de cachorro debaixo dos pés, me deu um nojo indescritível. Quando saíssemos dessa sala, eu precisaria tirar esta história sobre Penur a limpo.

    — Ótimo… Podem se levantar — eu, Tala e Geir ficamos de pé. — Porquê está aqui então? Não lembro de ter dado instruções para vir.

    — Preciso fazer um pedido ao senhor.

    — Ouvirei posteriormente. Faísca está aqui para fazer o relatório sobre sua última missão. Já falo com vocês.

    Agora eu pude dar uma boa olhada em Vanir. Ele era um pouco mais baixo que Primeiro e Geir. Parecia um humano normal, com pouco mais de cinquenta verões. Não usava roupas espalhafatosas ou armaduras. Apenas uma camisa bege e uma calça escura e folgada. Seus cabelos acinzentados estavam penteados para trás, como os de Primeiro, porém mais curtos. Em sua cintura estava descansando uma espada esverdeada, que identifiquei como sendo o artefato divino de Talamaris. Ela não tirava os olhos dele.

    Enquanto eu tentava guardar o máximo de informações sobre Vanir que podia, ouvi alguns sons estranhos, como chiados e estalos de língua. O Lizard estava falando.

    — Faísca, não falamos sua língua. Se esforce para falar como nós, por favor — Primeiro o repreendeu, sem olhar diretamente para ele.

    — Desssculpe, pai — ele fez uma pausa, como se estivesse se esforçando para lembrar qual era a palavra que precisava usar. — Quase não saí com vida depois que Alvo me atacou — mais uma pausa antes dele continuar. — Infelizmente ele matou Firoin em combate e torturou Rabel, que morreu sem dar informações importantes para Alvo — outra pausa. — Obviamente passei a informação que o senhor pediu, sobre o Rei dos elfos nos contratar. Consegui explodir dois pontos da cidade, antes de ter minhas asas arrancadas por Alvo.

    — Sim, essa parte do plano ocorreu como eu esperava. Fico triste em ouvir que ambos morreram. Eles estavam preparados para se sacrificar por nossos planos, e isso é algo que devemos admirar!

    — Sim, o senhor tem toda razão — mais uma pausa feita por Faísca antes de falar. — Ainda não acredito que o senhor me salvou com aquele teatrinho de “Príncipe dos Lizards”. O Rei dos humanos ficou com medo de iniciar outra guerra e me libertou — o lagarto pensou um pouco e falou. — Eles devem estar até agora esperando os mil escravos que o senhor, digo, que o “reino dos Lizards” prometeu.

    Primeiro deu uma gargalhada contida. Vanir deu um sorriso que não alcançou seus olhos.

    — Não posso perder meus arautos, Faísca. Vocês são um investimento caro demais para serem descartados sem motivos. E eu sabia que você sairia vivo. Nossas fontes descreveram muito bem como Alvo é… Agora, por favor. Volte a Aurora, Cecirin te passará as próximas coordenadas em algumas semanas.

    O Lizard se curvou, deu meia volta e nos encarou enquanto vinha em nossa direção.

    — Geir — falou o Lizard

    — Faísca — respondeu Geir.

    Nenhum dos dois se olhou nos olhos ou fez mais que falar o nome um do outro. Com isso o Lizard saiu do salão.

    — Pois bem, Geir. O que quer pedir para mim, que precisou vir pessoalmente? Devo lembrá-lo que sua utilidade é em campo, não perdendo tempo atravessando o continente.

    — Gostaria de pedir ao senhor para participar mais ativamente das missões principais de nossa organização. Assim como Faísca, gostaria de ter um papel mais ativo, e mais útil, em seus planos.

    Geir nos contou sobre essa etapa do plano. Ele iria falar isso para Vanir, pois não deixava de ser uma verdade. Geir, mesmo sendo um dos arautos de Vanir, não tinha tantas informações sobre a Rosa-dos-Ventos e seus planos principais.

    — Hmmm… Interessante. Gosto de sua proatividade, meu filho. Mas não preciso da sua ajuda em outra coisa, além do que já lhe é incumbido… — O Humano saiu de trás da mesa e continuou. — Veja, você trabalha pelas sombras, e isso me dá um poder de barganha muito maior do que imagina. Indiretamente você torna a Rosa mais estável. Manter sua posição é muito mais vantajoso para todos. Então, não. Não posso aceitar o seu pedido.

    Geir ponderou uns instantes, limpou a garganta com duas tosses, e falou:

    — Entendo tudo melhor agora que o senhor explicou, Pai. Continuarei com o meu trabalho. O senhor não se arrependerá de mim — fez uma breve reverência e continuou. — Estou me retirando agora. Ficarei em minha base ao sul, aguardando Cecirin enviar mais missões.

    — Faça isso meu filho. Está dispensado!

    Geir deu meia volta e falou:

    — Vamos!

    Eu e Tala também fizemos uma reverência, e seguimos nosso líder pela saída.

    — Geir, você acha mesmo que vou acreditar que sua visita aqui foi apenas por isso? Desembuche. O que mais você quer? — Primeiro não comprou a história de Geir. Ele se aproximou de nosso grupo enquanto falava.

    — Infelizmente nem todos os arautos têm o mesmo tratamento que você, Primeiro. Gostaria apenas de mais reconhecimento de nosso pai… Mas, como ele mesmo disse, minha contribuição é indireta. Como nunca falhei em minhas missões, acredito que sou de grande valia para ele, e isso é o suficiente para mim.

    O discurso saiu tão fluido e perfeito, que deu para perceber que mesmo que não fosse verdade agora, em algum momento Geir pensou dessa maneira. Como se tivesse inveja de Primeiro.

    Tentamos continuar nosso caminho para a saída até que fomos chamados novamente por Primeiro:

    — Geir, espere! E essas duas que estão com você, quem são? Sou comandante do recrutamento e nunca as vi antes. Ainda mais essa com o rosto coberto.

    — Ah, essas? São novos recrutas da base oeste. As recrutei para minha “raiz” de operações quando passei por lá. Creio que não se importe, já que tem tantos soldados ao seu dispor…

    — E o que elas fizeram para chamar sua atenção? — O elfo parecia ainda mais interessado em nós duas.

    — Oras, elas são um colírio para os meus olhos. Qual motivo além desse eu precisaria? Minhas missões eu executo quase sempre sem ajuda, de qualquer forma…

    Ouvir isso me deixou enojada. Eu sabia que era tudo teatro, tudo uma mentira deslavada. Mas, ainda assim, odiava pensar que isso pudesse ser verdade.

    — Entendo… Mas como pode dizer que a recruta à sua esquerda é um “colírio para os olhos” se está toda enfaixada? Poderia tirar essas ataduras do rosto, querida? — Primeiro ainda estava interessado em nós, não importava o que Geir falasse.

    — Claro que pode. Jou, tire essas ataduras para que Primeiro possa apreciá-la também — a voz de Geir saiu em um tom que apenas eu entendi. Ele queria dizer “Apenas faça o que estou pedindo, que isso acabará logo”.

    Retirei minhas ataduras sem pressa.

    Para que a história de Geir fizesse um pouco mais de sentido, tentei fazer uma expressão como se gostasse da situação, de estar me despindo na frente de homens. Mesmo que neste momento fosse apenas me despindo das ataduras no rosto. Eu precisava parecer uma meretriz.

    O resultado saiu melhor do que esperava. Geir e Tala arregalaram os olhos com a minha expressão. Primeiro levantou uma sobrancelha.

    — Ah, agora tudo faz sentido. Você escolheu uma do seu tipo, Geir? Pelo jeito mulheres de espécies muito diferentes não te interessam…

    — Precisamente… Agora, se me dão licença, estou com um pouco de pressa. Não consegui descansar muito bem nesta viagem. Até a próxima, irmão. Pai.

    Vanir não prestou atenção em nada disso. Seus olhos não desgrudaram da mesa depois que dispensou Geir.

    Saímos e a porta fechou as nossas costas. Os guardas estavam no mesmo lugar que os deixamos.

    Andamos uma centena de metros e Tamaris perguntou antes de mim:

    — Penur, você realmente o matou?

    — Sim… Você o conhecia?

    Talamaris avançou contra Geir, e deu um soco muito bem colocado em seu queixo. O Homem caiu no chão no mesmo instante. Ele não se defendeu ou revidou.

    — Seu desgraçado! E eu confiando em você… Onde fui me meter..? Que se dane a espada da minha família. Eu quero que você, Vanir, e essa merda de organização vão todos se foder!

    — Tala, calma. Eu entendo que está irritada, mas vamos nos acalmar. Deixe Geir se explicar — segurei Talamaris pelos braços, enquanto ela tentava bater mais em nosso guia.

    — Tala está certa, Jouci. Ela não deveria confiar em mim. Sou apenas um assassino de merda…

    — Geir, você não está ajudando! Pelo menos explique por quê continuou matando, mesmo sendo contra a organização — supliquei.

    — Que outra escolha eu tenho? Preciso continuar dentro da Rosa para acabar com ela. Infelizmente meu trabalho como assassino precisou continuar até agora. Mas eu não quero mais isso. Já decidi que não continuarei matando. Libertar Thermon é tudo o que importa para mim.

    — E se o plano der errado, vai continuar matando inocentes e pessoas boas, por que o merda do seu chefe manda? — Talamaris estava irada.

    — Não existe “e se o plano der errado”. Ou o plano dá certo, ou eu morro. Não tem outra opção para mim. Claro, não estou em uma missão suicida. Sem contar que me importo com vocês duas e com os rapazes. Farei o possível para que tudo continue dando certo.

    Talamaris se desvencilhou de mim e cruzou os braços. Virou para o lado oposto que Geir estava. Ela não conseguia olhar para ele neste momento.

    Geir se levantou, limpou a poeira de suas vestes e continuou andando.

    — Vamos. Os rapazes devem estar nos esperando — a determinação dele era inabalável.

    Continuamos andando em silêncio. Tinha muita coisa se passando em nossas cabeças para podermos manter uma conversa, então o melhor era ficar em silêncio.

    Algumas bifurcações depois, entramos em outra sala ampla, de teto mais baixo que o salão principal, lotada de beliches. Era aqui que os soldados dormiam. Felizmente o lugar estava vazio se não contássemos An’u, Maso e Elear, que vieram animadamente em nossa direção.

    Maso falou, quase cochichando:

    — Boas notícias, chefe. Descobrimos onde estão mantendo Thermon!


    “O que prefere: lutar por sua vida, ou lutar por mim?”

    Deus Roxo (Lavanda)

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