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    JOUCI “NÃO-NOMEADA”

    No mesmo instante em que Geir avançou contra Vanir, Talamaris segurou o cabo da espada, ainda na cintura de nosso oponente.

    Vanir só teve tempo de rolar para frente, sem sua espada, roubada por Talamaris, e com um corte profundo no lado esquerdo de seu pescoço. Sangue jorrou aos montes, mas logo o ferimentos começou a cicatrizar. Vanir ainda estava de costas para nós quando tudo isso aconteceu.

    Ele se virou e seu olhar era aterrorizante. Um frio em minha espinha me paralisou. Era sufocante estar neste túnel apertado com ele.

    — Então você se lembrou, Regi… — Sem aguardar qualquer tipo de resposta, a mana de nosso inimigo começou a afetar o ambiente. Do chão, paredes e teto começaram a surgir raízes secas e espinhentas. Algo me dizia que se fossemos arranhados por alguma dessas plantas, não sairíamos deste covil para contar história.

    — FIQUEM PERTO DE MIM! — Gritou Tala.

    Eu e Geir obedecemos.

    Uma torrente de galhos e espinhos nos atacou de todos os lados. Um metro antes de nos atingir, uma redoma de ar comprimido bloqueou o avanço das plantas. A espada de Tala nos salvou.

    Quando as raízes pararam de se retorcer, Talamaris falou:

    — Se abaixem!

    Novamente, fizemos o que ela pediu.

    Tala girou e cortou com sua espada, como se alguém tivesse tomado controle de seu corpo. Nem contra Thermon ela havia se movimentado tão rapidamente.

    Não sobrou raiz intacta.

    Vanir não estava tão longe, então pude ver sua expressão de raiva se tornado uma carranca de espanto.

    — A prefeita de Lires, aqui..? Como pude deixar isso passar?

    Tala não deu ouvidos e avançou contra Vanir.

    Antes que ela pudesse se aproximar o suficiente, ele fez com que novas raízes brotassem aos meus pés. Vanir estava focando ataques em mim e em Geir quando Talamaris não podia nos proteger. Não tínhamos para onde correr.

    Ela se deteve a menos de dois metros de distância de nosso oponente, preocupada com o que poderia acontecer se o próximo ataque nos atingisse. Foi o tempo que ele precisava para revidar.

    Vanir não focou seu ataque em nós, era uma finta. Havia pouquíssima mana nas raízes aos meus pés. Ele queria a espada de volta.

    Duas raízes, de espessura mais avantajada que as anteriores, emergiram de cada uma das paredes nos flancos de Tala.

    Como ela foi pega de surpresa, não pode reagir devidamente, e uma das raízes perfurou seu braço direito. Me espantou ela conseguir manter a espada em sua mão, mesmo depois desse ferimento.

    A prefeita de Lires segurou um grito de dor enquanto se desvencilhou da raíz que penetrou fundo em sua carne. Deu dois passos para trás e segurou a espada com a mão esquerda. Assim ela perdeu muito potencial de ataque, já que era destra.

    Sangue pingava de seu membro ferido. O braço pendia, como se estivesse anestesiado com o golpe.

    — Antes de continuarmos a nos matar, quero respostas… Uma elfa-de-gelo estar com Regi não me surpreende, mas como você acabou neste grupinho, senhorita Talamaris?

    “Por que ele estaria se importando com isso?”, pensei. A única coisa que vinha em minha mente era que Vanir queria ganhar tempo. Eu só não sabia para quê.

    — Não haja como se estivesse em vantagem, seu humano desprezível! A única resposta que terá de mim, é o fio da minha espada.

    Talamaris estava irada. Talvez pelo ferimento, talvez pelo ódio acumulado desta viagem massante. A única coisa que eu consegui pensar foi “Não quero ela como inimiga!”.

    — Me admira você andar com esse aí. Ele matou tanta gente… Quem sabe se não matou alguém importante para você. Não se lembra do que aconteceu com sua “amiga”. Como era o nome mesmo? Caliz..?

    — Não ouse usar essa boca suja para latir o nome dela! — Tala começou a tremer. Sua voz saiu quase rouca. — O que isso tem a ver com Geir?

    Talamaris olhou rapidamente em nossa direção. Geir estava imóvel e pálido, como se tivesse visto um fantasma.

    — Você não contou a ela, meu ex-pupilo?

    — CALADO! Não fale mais nada, seu monstro! — O berro de Geir saiu como um estrondo. Dessa vez ele quem avançou contra Vanir.

    Duas lâminas de gelo nasceram de cada braço, enquanto ele corria em direção de Vanir. Eu não conseguia ver, mas parecia que Geir chorava.

    Quando o elfo-de-gelo iria passar do lado de Talamaris, ela colocou a espada em seu caminho. Geir parou com o susto. Talamaris o atacou. Espada e gelo se chocaram.

    — O que ele falou é verdade, Geir? Você quem matou Caliz?

    A voz dela saiu fria como o gelo da minha terra natal. Seu olhar, morto como o deserto. Um medo muito forte tomou conta de mim.

    — Qualquer desavença que tenha comigo, resolvemos depois. Poderá até me matar se quiser. Agora foque em atacar Vani-

    Ela não deu ouvidos. Usou sua espada, que ainda estava em contato com as lâminas de gelo, para empurrar nosso guia para trás. Um corte lateral, Geir deu um pulo para trás. Mais um corte, dessa vez de cima para baixo, Geir desviou a espada esverdeada com dificuldade.

    Alguns metros atrás de Tala, Vanir assistia tudo com um olhar sínico no rosto, como se estivesse aproveitando animais em uma rinha, se matando.

    — Você nem tenta desmentir… Por que a matou? Por que ela, dentre todas as pessoas? — A voz de Tala ainda era sem emoção. O ar ficou pesado.

    Mais um golpe da espada divina, dessa vez com mais mana na lâmina, fez com que o gelo de Geir fosse esmigalhado como vidro. Ele se ajoelhou, ofegante. Tala apoiou a ponta da espada na base da garganta de seu novo oponente.

    — Se for você a acabar comigo não terei arrependimentos. Apenas garanta que a cabeça de Vanir vai cair depois da minha.

    Talamaris hesitou. Eu corri até eles, enquanto moldava o gelo que revestia minha pele para torná-lo líquido.

    Comprimi cada gota d’água que eu tinha à minha disposição em uma pequena esfera. Nunca havia feito algo parecido, mas eu precisava tentar. Era isso ou Tala mataria Geir.

    Talamaris não se importou com a minha aproximação, sua expressão dizia: “Nada que fizer agora vai mudar o destino de Geir. Ninguém pode salvá-lo da minha ira!”.

    “Por que as coisas têm que ser tão complicadas?”, pensei.

    Fiz com que a pequena esfera de líquido comprimido ficasse entre Geir e Tala. Quando ela percebeu, já era tarde. Liberei a água de seu enclausuramento. Uma explosão de água e vapor empurrou Geir para trás. Tala nem se mexeu. Sua aura passiva de tornado a protegeu.

    Com Geir mais perto de mim do que de Tala, consegui ficar entre os dois. Sustentei o olhar opressor de minha amiga… Ou talvez de minha inimiga… Eu já não sabia mais.

    — Hunf… Fique protegendo este assassino enquanto pode. Vou lidar com Vanir por enquanto — Tala se virou, e, como eu, se assustou com o que viu.

    Algo muito parecido com um espantalho de galhos estava no lugar de Vanir. Ele fugiu.

    — COVARDE! — Gritou Tala.

    Sem ter um alvo para aplacar sua raiva, Tala se voltou para mim, que ainda estava de pé na frente de Geir. Por sua vez, ele estava no chão, desnorteado pelo golpe irresponsável que usei para separá-lo de Tala.

    — Vai continuar defendendo ele até quando, garota? — A palavra “garota” saiu dos lábios de minha antiga companheira de viagem como um xingamento.

    — Não haja com o coração, Tala. Respire fundo e pense um pouco. Mesmo que Geir tenha feito algo com sua amiga, foi a mando de Vanir!

    — Minha “Amiga”? Ela foi quem me manteve sã desde que saí da floresta. Ela me ajudou a fazer de Lires a cidade que é hoje. Sem ela eu não sou nada… Não tenho sido nada! — A voz de Tala começou a falhar enquanto as lágrimas escorriam sem pausa de seus olhos. — Já fazem dois anos que ela se foi… Nesta época o seu “sogro” aí já havia recobrado as memórias… Mesmo assim ele a matou! Eu achava que tinha sido um ladrão que havia assassinado ela por umas míseras moedas, mas não… Eu andei todo esse tempo ao lado de quem matou uma parte de mim. Não tem como eu aceitar que ele continue vivo, garota.

    Aproveitei a pausa no discurso de Talamaris para falar:

    — Então faça o que quiser, mas não fique no meu caminho! Thermon sairá daqui comigo e com Geir. Se quiser atrapalhar, terá que acabar comigo também… Se eu não significar nada para você, nos mate de uma vez!

    Ela vacilou um instante. Queria me retrucar, mas com qual argumento? Ela me mataria para vingar sua “amiga”? A razão tinha que prevalecer!

    Ainda chorosa, Tala limpou o nariz com a manga da camisa, usando o braço que ainda estava bom. O braço machucado ainda pingava sangue, mas ela não parecia se importar.

    — Seu braço, Tala, deixa eu estancar esse ferimento antes que piore.

    Com essa minha fala, Tala nitidamente quebrou. Como ela poderia machucar a mim, alguém que mesmo num momento como esse, se importava com seu bem estar?

    Ela correu até mim, soltou a espada no chão, e me abraçou com o único braço disponível.

    — Eu não posso perdoá-lo, Jouci. Eu sei que você entende… Mas não posso machucar você. Jamais faria algo que pudesse te ferir — enquanto ela falava eu sentia a umidade das lágrimas dela descendo pelo meu ombro.

    — Quando isso tudo acabar, você poderá fazer o que quiser comigo, Senhorita Talamaris Afiada. Juro pelo gelo eterno do sul — Geir esperou o momento certo para dizer algo. Ele ainda estava um pouco tonto devido ao meu ataque e se levantou devagar.

    Depois de pensar um pouco, ainda bastante abalada, ela respondeu:

    — Combinado. Quando tudo acabar, terei uma longa conversa com você — Tala deu uma longa fungada e respirou fundo. Pegou a espada do chão com um pouco de dificuldade. O machucado no braço direito era mais sério do que imaginava.

    Tirei da minha bolsa um punhado de ervas medicinais que sempre carrego. Encharquei um punhado delas com um pouco de água que controlei. Fiz um emplastro simples para estancar o sangramento. Deixei a água mais gelada, para facilitar o processo.

    — Obrigado, Jou. Prometo não te chamar de “garota” de novo.

    — Prometo não chamar Caliz de “sua amiga”. Quero ouvir a história dela depois. Agora, precisamos correr. Vanir não vai facilitar para nós.

    — Que ele venha. Com esta espada derroto ele e Primeiro juntos.

    Geir já estava diante da porta trancada. Eu e Tala logo o alcançamos.

    — Jouci, antes de entrarmos… Não sabemos o que pode ter acontecido ali dentro. Quero que se prepare para o pior — Geir encarava a porta fixamente enquanto falava.

    — Não temos tempo para isso… Consegue abrir?

    — Sim.

    Ele apoiou as mãos perto das dobradiças, controlou um punhado d’água e congelou estes pontos. Depois, congelou toda a área da maçaneta. Foi como se ele tivesse feito isso centenas de vezes. Rápido, clínico e silencioso.

    Geir segurou na parte de cima da porta e falou:

    — Deem alguns passos para trás, vocês duas.

    Com extrema facilidade, a porta sucumbiu ao ser puxada pela parte de cima.

    A primeira coisa que percebemos foi o cheiro. Era um fedor que nunca senti antes. Como tivessem feito uma sopa de excremento humano com carne podre. Estava escuro, então não tínhamos como saber a origem.

    Tala tossiu algumas vezes. Meus olhos marejaram. Geir entrou, como se estivesse acostumado com coisas assim.

    A escuridão tornava tudo pior. Não aguentei a angústia, e chamei:

    — THERMON? VOCÊ ESTÁ AQUI?

    Não houve resposta.

    Um eco bastante evidente nos informou que o lugar era muito espaçoso.

    Geir pegou um dos cristais brilhantes na parte de fora da sala e assumiu a frente do grupo. Eu e Tala o seguimos de perto.

    O lugar era um breu sem fim. Andamos alguns metros até conseguimos vislumbrar uma mesa de madeira velha, com alguns itens de metal que não consegui identificar, e papéis rabiscados com uma letra de difícil compreensão. As peças metalicas não pareciam instrumentos de tortura, estava mais para engrenagens de algum tipo de maquina complexa. Não me interessei muito.

    Avançamos mais um pouco quando sentimos o chão tremer, como um pequeno terremoto.

    — O que é isso? — Perguntei.

    — Parece longe daqui — Geir comentou.

    — Devem ser as minhocas. O plano está dando certo! — Tala percebeu.

    — O que significa que precisamos ser mais rápidos aqui!

    Mais alguns passos e gritei de novo:

    — THERMON?

    Senti um puxão de ansiedade subindo pelo meu abdômen quando a luz do cristal iluminou algo muito parecido com uma jaula.

    A estrutura era em formato de cruz. Não era mais alta que a minha cintura, e parecia complexa demais para um lugar tão rústico como esta caverna entalhada em pedra.

    Nos aproximando mais, foi possível ver alguém no meio das ferragens. No centro desse emaranhado de metal e cristais de mana, estava a pessoa que eu buscava.

    Deitado de bruços com os braços abertos, em meio a essa jaula compacta, estava Thermon. Enquanto mais eu me aproximava, mais meu desespero aumentava. Me ajoelhei perto de seu rosto e tentei falar com ele:

    — Thermon! Você está bem? Você está gelado… Mais do que o normal. Me responda!

    Meus companheiros se aproximaram enquanto eu tentava sacudir meu amado, mas a jaula prendia cada músculo dele no lugar.

    Com alguns espasmos, houve resposta de Thermon:

    — O que quer dessa vez, seu verme maldito? Agora apelou para alucinações para arrancar ainda mais as esperanças de mim? O QUE MAIS VOCÊ QUER?

    O ódio no grito de Thermon me congelou no lugar. Que tipo de torturas ele passou para agir assim ao me ver? Ele deveria estar aliviado, não horrorizado!

    — Thermon, sou eu, Jouci! Talamaris está comigo. Viemos te salvar!

    — Saia daqui, criatura nefasta!

    Ele tentou virar o rosto para o outro lado, mas a estrutura o manteve no lugar. Então ele fechou os olhos, pois não acreditava no que via.

    — Sei que a situação é delicada, mas precisamos nos apressar. Vamos tirá-lo daí antes de qualquer coisa — Geir falou.

    — Se afastem!

    Tala levantou sua espada e acertou pontos específicos da estrutura, em partes que pareciam junções e ligamentos mais frágeis.

    Cinco golpes e as partes móveis da estrutura estavam soltas.

    Eu e Geir levantamos a parte de cima da estrutura como uma tampa, que saiu inteira. Dentro deste emaranhado Thermon ainda estava preso por correntes. Vários cristais de mana tocavam a sua pele. Ele estava seminu, para facilitar o toque de sua pele ao material mágico.

    — Saia daqui, Vanir, seu monstro! Nos deixe em paz!

    “Nos deixe em paz!”, Por que ele falou isso no plural?

    — Seus planos nunca darão certo, seu (Estalo com a língua e dois barulhos que pareciam com engasgos — uma voz rouca e esganiçada falou mais ao fundo da sala.

    — Tem mais alguém aqui! — Falei.

    — Deixem Thermon em paz! — A voz esganiçada falou novamente.

    Enquanto eu e Talamaris continuamos a tentar libertar Thermon, Geir se aproximou em direção a voz que ouvimos ao fundo.

    A luz pálida, projetada pelo cristal que Geir carregava, iluminou outra estrutura, parecida com a que mantinha Thermon preso.

    — Tem mais um aqui! É um Lizard!

    — Quem são vocês? Não parecem ser da “gangue” de Vanir! — Comentou o Lizard. A voz rouca e reptiliana era, de certa forma, assustadora.

    — Estamos aqui para ajudar. Thermon é nosso amigo! — Falei sem pensar muito.

    — Ajudar? Pelo “verdadeiro” deus Roxo (Alguns sons que não compreendi e dois chiados), nunca pensei que alguém viria ao nosso resgate!

    “Verdadeiro deus Roxo? O que ele quer dizer com isso?”, pensei.

    — Senhor, qual o seu nome? — Perguntei ao Lizard.

    — Em sua língua meu nome é “Olhos-de-Fenda”, mas Podem me chamar de Fenda — ele fez uma pausa, pois parecia estar pensando quais palavras usar. — Agora, se não se importam, poderiam me libertar também? — Mais uma breve pausa. — Vão precisar de ajuda, se quiserem sair vivos daqui.

    Antes de libertarmos mais alguém sem sabermos sobre sua índole, achei melhor confirmar com Thermon sobre esta outra “Pessoa”, mas ele não parecia apto a responder qualquer pergunta. Ele havia parado de falar, e ainda estava de olhos fechados.

    — Thermon, ouça minha voz. Sou eu, Jouci. Lembra quando chegamos em Lires, e dividimos uma garrafa de uma bebida estranha? Você disse que eu tinha ficado bêbada, mas eu nem lembro disso…

    Sem resposta.

    — Lembra, neste mesmo dia, durante a noite..? Eu me abri com você e você se abriu comigo. Foi uma das noites mais felizes que tive. Isso não é prova suficiente de que não sou uma ilusão criada por Vanir?

    Mesmo no escuro deu para perceber ele abrindo os olhos. Ele fez um pausa antes de falar:

    — Jouci..? Jouci! Como? Como você chegou aqui?

    — Longa história, contamos depois que escaparmos!

    Tala conseguiu quebrar o último cadeado que prendia Thermon. Levantamos a última camada da estrutura que o prendia. Agora seu corpo estava livre, mas ele não se mexia…

    — Consegue se levantar, Thermon?

    Ele tremia um pouco e parecia muito sujo.

    — Na parede (Estalar de língua), perto da porta. Tem uma espécie de botão. Aperte e a sala se iluminará — falou o Lizard.

    Geir correu até a entrada e logo encontrou o botão. Assim que o ativou, vários cristais iluminaram o recinto. Ainda estava um pouco escuro, mas agora podíamos identificar o que o recinto continha.

    Thermon pôde me ver e começou a chorar. O abracei por reflexo.

    — Não fique assim, Thermon. Tudo vai ficar bem. Agora vamos sair daqui.

    Eu queria acompanhar ele em seu choro, mas minha preocupação sobre se conseguiríamos ou não sair dali me impediram.

    — Thermon, fala pra eles me soltarem também (Grunhido). Pode ser?

    — P-pessoal, soltem ele, por favor. Fenda é um escolhido, assim como eu — estava difícil para ele formar frases longas.

    — O QUÊ??? — Geir, Tala e eu levamos um susto com a informação.

    — É, ele foi o segundo a ser capturado por Vanir.

    — Ele teve sorte, aquele (Mais barulhos estranhos e irritados, que não consegui compreender). Me pegou desprevenido!

    Tala não perdeu mais tempo e focou em soltar Olhos-de-Fenda.

    Geir e eu ficamos junto de Thermon, enquanto ele tentava recobrar as forças. Ele tentou ficar de pé sozinho, mas sem sucesso.

    — Não consigo mexer minhas pernas. Ficar tanto tempo na mesma posição me enfraqueceu muito.

    Vendo Thermon melhor, devido a iluminação, era nítido o quão magro ele ficou após este mês enclausurado.

    — Respire fundo, garoto. Deixe a mana invadir seu corpo. Logo logo você recobrará suas forças — Geir orientou.

    Thermon não havia prestado atenção em nosso guia, que enfaixou seu rosto novamente, antes que pudesse ser reconhecido.

    Com sons secos de metal se batendo, percebemos que Tala libertou Fenda de sua gaiola.

    — Eu não estou a tanto tempo aqui, então consigo andar sozinho. Obrigado, garota-elfo.

    — Garota? Tenho certeza que sou mais velha que você, lagartão! — Tala caçoou do escolhido.

    — Tala, seu braço está melhor? — Perguntei, ao ver seu braço direito ainda pendendo ao lado do corpo.

    — Parou de doer, mas perdi muito sangue. Estou um pouco fraca ainda.

    — Estenda o braço, pequena — Fenda pediu para Tala.

    A elfa olhou com estranheza para o lagarto gigante que acabara de libertar e estendeu o braço machucado.

    Ele segurou o braço de Talamaris, removeu o emplasto que fiz e começou a lamber o ferimento.

    Com o espanto, Tala só conseguiu gritar:

    — QUE NOJO!

    Não demorou muito e Fenda soltou ela.

    — Pronto, isso deve bastar — ele estalou a língua antes de continuar. — Já já estará usando esse braço de novo!

    — É… A dor passou, mas não sei se estou feliz de ter baba de lagarto por todo o meu braço.

    Tentei forçar uma risada, mas a situação ainda era tensa, então logo voltei ao meu semblante sério.

    Thermon forçou suas pernas mais uma vez, mas, dessa vez, conseguiu ficar de pé. Ele se distanciou da estrutura o mais rápido que pôde e se apoiou na parede logo a sua frente.

    — Consegue correr? — Geir perguntou.

    — Não como um leopardo-cinzento, mas sim, consigo!

    — Fenda, quais habilidades você tem? Quero saber se você será útil em batalha — Talamaris indagou o Lizard.

    Ele não precisou dizer. O ar esquentou no instante em que chamas irromperam de sua pele. As chamas eram quase invisíveis e muito pequenas, mas a temperatura estava tão alta, que eu sabia que poderiam derreter rocha ao toque.

    — Outro escolhido com mana do tipo de sua raça… Espero que seja nosso aliado depois que isso acabar, senhor Fenda! — Comentei.

    — Não se preocupem, se Fenda fizer alguma gracinha, boto ele pra correr! — Thermon tentou brincar, mas sua carranca frágil não nos dava muita segurança em sua fala.

    — Vamos deixar a conversa para depois. Me sigam!

    Geir avançou pela porta arrombada do calabouço. Os quatro restantes no recinto o seguiram de perto. Percebi que ele não estava correndo o máximo que podia. Segurava o ritmo pelo seu filho debilitado, na parte de trás do comboio.

    Fiquei o tempo todo ao lado de Thermon, cuidando para que ele não tropeçasse no caminho.

    Enrubeci quando percebi que ele estava apenas com uma pequena tanga, cobrindo pouco de suas partes baixas.

    Talamaris olhou para trás e, mesmo no escuro, percebeu minha face avermelhada

    — Esperem. Thermon, cubra-se ou Jouci vai acabar tornando a cor azulada dela em vermelho-sangue — ao ouvir isso, Geir jogou um pedaço de pano escuro, que trazia em sua bolsa para seu filho.

    Não podia deixar de ficar incomodada com isso. Geir não se revelou para Thermon ainda… Eu gostaria que eles pudessem se reencontrar em circunstâncias melhores, mas não podemos controlar essas coisas.

    Thermon envolveu sua cintura com o pano, tapando o que faltava tapar. Fiquei um pouco desanimada com isso, não vou mentir…

    Continuamos correndo pelo corredor, até nos aproximarmos do salão principal.

    — (Um chiado baixo seguido de um estalar de língua) Fiquem atrás de mim — Fenda avançou na nossa frente e entrou no salão sozinho.

    Thermon não ficou parado. Ele já parecia bem melhor agora que mana circulou por seu corpo com liberdade. Ele seguiu Fenda e entrou no salão pouco iluminado.

    Não havia ninguém lá.

    — Estranho, achei que teríamos uma “recepção calorosa”, já que Vanir fugiu, provavelmente indo atrás de reforços — Tala olhou em volta, com sua espada em punho. O braço direito ainda pendendo ao lado de seu corpo.

    — Se eu fosse Vanir, teria fugido. Nosso grupo tem dois escolhidos e um artefato divino. Ele não teria muita chance contra nós — Geir comentou. — Vamos continuar avançando então. An’u nos espera no túnel que ele criou!

    Thermon e Fenda seguiram à frente de nosso grupo, Talamaris atrás.

    Viramos cada curva com medo de sermos emboscados, mas nenhum guarda estava a vista.

    Não muito tempo depois, encontramos o viveiro de lagartos, que usaram para atrair a calamidade. Não parecia ter ninguém lá dentro.

    — An’u! — Chamei. — Estamos aqui. Conseguimos libertar Thermon!

    Um pedregulho explodiu no fundo do viveiro, e de lá saiu o anão barbudo e simpático que chamei.

    Antes que pudéssemos falar algo, ele gritou:

    — VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR! VANIR, OS GUARDAS E PRIMEIRO… TODOS FUGIRAM DA BASE!


    “Entre mana do tipo energia e combustão, qual é a mais forte? Em poder bruto, energia. Em utilidade, combustão. Claro, em uma luta contra magos com estas habilidades, o que tiver o melhor controle de mana tende a vencer. Fogo pode ser muito intenso se controlado devidamente.”

    Olhos-de-Fenda — Falado em língua lizard

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