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    THERMON AGOURO

    Acordei com as duas pernas de Jouci por cima das minhas. Ambos estávamos bem cansados, devido a noite anterior. Ela roncava baixo ao meu lado. Percebi só agora o beicinho fofo, que ela fazia enquanto estava dormindo de lado.

    Fiz carinho em seu rosto delicadamente. O toque de sua pele era macio em meus dedos. Aquele momento foi tão terno e sublime que me senti culpado por estar fazendo parte dele. “Eu mereço tanto?”, me questionei.

    Ao sentir meu toque ela despertou. Jouci se espreguiçou sem pressa.

    — Bom dia, Thermon — revelou um sorriso preguiçoso.

    — Olá. Dormiu bem?

    — Nunca dormi tão bem na vida. Essa noite foi incrível! Feliz por finalmente você ter me aceitado…

    — Não seja boba. Eu quem deveria dizer isso. Eu já te amava há muito tempo, só não entendia muito bem.

    Ela olhou em meus olhos e me puxou para um beijo apaixonado.

    Nosso hálito matinal não era o melhor, mas, ainda assim, foi um beijo delicioso.

    — O que temos agora? Somos namorados? Amantes? Estranhos que se gostam? — Ela perguntou.

    — Hmm… Não sei ao certo. Não me importo com rótulos, desde que esteja com você!

    Ela deu uma breve risada e me abraçou com força.

    — Te amo, bobalhão!

    — Também te amo, senhorita “cabeça-dura”.

    Nos levantamos, vestimos nossas roupas e descemos até a parte de baixo da estalagem.

    Meu pai, Regi, e seus subordinados, Elear, Maso e An’u estavam sentados na mesma mesa em que nos banqueteamos na noite anterior, comendo algum tipo de pão de forma endurecido.

    Elear comentou:

    — Dormiram bem? Quero dizer, chegaram a dormir?

    Maso e Anu’u deram risadinhas.

    — Não sejam crianças. Evitem indelicadezas… Mas sim, devo concordar que todos ouviram a maior parte do que quer que tenham feito lá em cima — Regi acabou entrando na brincadeira dos rapazes. Ele sorriu brevemente, enquanto dava um gole em uma xícara de chá.

    — Pelos deuses, eu quero enfiar minha cabeça num buraco — Jouci escondeu seu rosto entre as mãos.

    — Ah, sobre isso… Bem, eu e Jouci estamos juntos agora. Sem brincadeiras, tudo bem? — Tentei parecer sério, para esconder minha vergonha, mas minha face avermelhada me entregou.

    Os quatro, que estavam sentados na mesa, tornaram a rir e se levantaram, para cumprimentar eu e Jouci, por nossa união.

    — Parabéns. Estamos muito felizes por vocês! — An’u comentou, enquanto me abraçava com força.

    Jouci não sabia onde enfiar a cara. Regi se aproximou dela e falou:

    — Sei que vai fazer meu filho muito feliz. Obrigado por ter aparecido em minha vida. Sem você e Talamaris, nada disso seria possível! — Ele a abraçou, enquanto seus olhos enchiam de lágrimas. — Você também, Thermon, faça ela muito feliz. Não tem ideia do que passamos para te resgatar. Se isso não foi prova de amor, não sei o que é!

    Corei novamente. Jouci, como antes, não sabia onde enfiar a cara.

    Depois de nos felicitarem, eles se sentaram novamente.

    — O que estão esperando? Comam um pouco de pão. Sobrou o guisado de ontem também! — O elfo, Maso, nos convidou para a mesa.

    Esta manhã foi agradável, estando ao redor deles. Todos pareciam muito contentes com o sucesso do meu resgate. Apenas, por agora, resolvemos ignorar os problemas que teríamos de enfrentar.

    Depois de terminarmos de comer, enquanto conversávamos sobre tudo, menos nosso dever em proteger o mundo contra Vanir, Talamaris entrou no restaurante. Ela usava roupas mais leves e limpas, se comparadas às que ela vestia no momento do meu resgate: camisa branca com manga curta, calças azuladas e um pouco folgadas. Seu cabelo estava preso em um rabo-de-cavalo alto. A espada esverdeada pendia em sua cintura.

    — Tala, dê os parabéns a Jouci e Thermon. Eles são um casal agora! — Maso brincou.

    Talamaris nos olhos como quem iria dizer: “Mas já não eram um casal?”, por mais que ela soubesse que até aquele momento não éramos.

    — Mas já não eram um casal? — Ela externou seu olhar em palavras. Às vezes eu leio as pessoas bem de mais…

    — Ahem — forcei uma tosse — Seremos o centro das atenções até quando?

    Todos reprimiram risadinhas.

    — Tudo bem, chega de piadas. Prontos para discutir quais serão nossos próximos passos daqui em diante? — Tala sentou-se na ponta da mesa, como se fosse nossa líder. Não me importava com isso. Se tinha alguém aqui, apto a nos liderar, era Tala.

    — Temia que dissesse isso… Queria aproveitar mais esses momentos de calmaria, mas muita gente depende de nós — falei, em tom solene.

    — Teremos tempo para descansar depois que a cabeça de Vanir cair — Regi comentou, enquanto cruzava os braços.

    — Já que descansou devidamente, Thermon, pode nos contar mais detalhes do que ouviu Vanir comentar, enquanto interagia com você? — Tala iniciou um interrogatório.

    — Ah, noite passada ele não descansou! — Elear cochichou no ouvido de Maso, mas todos ouviram. Jouci e eu nos encolhemos de vergonha.

    Regi olhou irritado para os três garotos. Eles, que estavam prestes a começar a rir, também encolheram em seus lugares, e se calaram.

    — Desculpe, sem mais gracinhas. Podem continuar — o rapaz se desculpou.

    Tala deu um suspiro e olhou de novo para mim.

    — Tem alguma informação que possa ser útil à nossa causa? Qualquer coisa que tenha deixado de lado?

    Ponderei um pouco.

    — O tempo durante meu cárcere passava de maneira inconstante. Haviam dias, se é que posso chamar assim, onde eu ficava desperto, por dezenas de ciclos, sozinho, na escuridão da caverna. Nesses dias o tempo parecia não andar. Haviam outros momentos, em que eu estava entorpecido demais para entender se estava acordado ou dormindo… Poucas vezes Vanir falou diretamente comigo.

    — Acha que consegue relembrar das suas interações com ele? — Tala pediu.

    — Lembro mais de nosso primeiro encontro. Ele falou sobre como me capturou e que faltavam quatro escolhidos para capturar. Dias depois, nosso outro amigo escolhido, Olhos-de-Fenda, foi trazido. Quando Vanir não estava nos torturando, ficávamos sozinhos, conversando… Deixe-me pensar se ele vacilou em algum momento — fechei os olhos e me concentrei. — Tenho a sensação que sei de mais algo, mas não sei o que.

    Todos me olhavam com atenção e ansiedade.

    — Espera, perto de me libertarem, provavelmente uns seis dias atrás, Vanir entrou na caverna, dizendo: “O gêmeo acha que pode fazer o que ele bem entende…”. Ele parecia bem irritado. Foi neste dia que ele me torturou e descobriu sobre o polo sul e nossas reservas de mana — foquei meu olhar no chão, não conseguindo sustentar o olhar de Jouci. — Eu me sinto bastante culpado por não aguentar a tortura, e dar informações a Vanir, mas, na hora, não julguei a informação como sendo importante. Por isso falei, sem pensar muito.

    Sentia bastante vergonha. 

    Uma possível guerra, entre Vanir e minha terra natal, poderia acontecer e o motivo seria minha língua frouxa.

    — Ninguém aqui está te culpando. O maldito do Vanir teria tirado esta informação de qualquer um — Jouci falou, enquanto apoiava uma mão em meu ombro direito.

    — Ela tem razão, Thermon. A única coisa que mudou é que a luta contra Vanir apenas ocorrerá mais cedo que o esperado. Iríamos atrás dele, e de sua organização, mesmo se não estivéssemos sem esta urgência em proteger o polo sul — Regi falou e me lançou um olhar que demonstrava simpatia. Era algo que ele fazia bastante quando eu era mais jovem.

    — E nessa frase de Vanir… “O Gêmeo”? Onde ouvi isso antes? — Maso comentou, enquanto esfregava as têmporas.

    — Isso também não me é estranho — Elear levantou, e começou a andar pelo restaurante quase vazio, bastante pensativo. — An’u, lembra quando estávamos naquela base do deserto, onde conhecemos Jouci e Talamaris? Ouvimos algo sobre isso, um cochicho, entre os soldados da base…

    Como se algo tivesse estalado dentro da cabeça de An’u, ele disse:

    — Verdade! Era um rumor que julgávamos irrelevante, por parecer loucura demais… O pessoal que está a mais tempo da Rosa-dos-ventos sempre comentava sobre esse “Gêmeo”, como se ele fosse alguém tão importante quanto Vanir na organização. Eu nunca dei muita atenção, pois pareciam devaneios de soldados sem muito o que fazer.

    Eu, Jouci e Talamaris nos entreolhamos. Regi parecia tentar encontrar algo em sua memória falha.

    — Nunca ouvi nada sobre isso. Talvez por participar pouco das atribuições gerais da Rosa, nada do tipo passou por mim — Regi concluiu.

    — Maso, Elear, lembram de mais algo, além desses rumores? — Pedi.

    — Algo sobre Aurora… Pelo o que me recordo, comentaram que um tal “Gêmeo” fica em Aurora, no outro continente — Maso se lembrou desse fragmento de informação.

    — Bem, se pensarmos de forma lógica, é interessante para nosso inimigo ter alguém que cuide dos assuntos da Rosa-dos-ventos no outro continente, enquanto Vanir controla a organização nesse lado do planeta — Talamaris falou.

    — Mas por que chamá-lo de “Gêmeo”? — Regi parecia preocupado com esta nova descoberta, feita por nosso grupo.

    — Estamos de mãos atadas no momento. Não temos mais informações sobre a rosa, além das que nossos amigos aqui já sabem. Precisamos de mais… — Jouci parecia aflita.

    — Sobre isso, eu, Maso e Elear conversamos, e chegamos a uma conclusão — An’u fez uma pausa antes de continuar. — Achamos interessantes que nós três voltássemos para a rosa, para angariar mais informações.

    — Como espiões — Elear falou.

    — Como agentes duplos! — Maso completou.

    — Não é muito perigoso, tentar voltar a rosa agora? — Regi parecia preocupado com os garotos.

    — Além de Primeiro, que me viu ao lado do senhor Geir, quando ele se encontrou conosco, naquela base do deserto, ninguém relevante sabe que somos rebeldes. Podemos nos espalhar por outras bases, procurando os outros que querem se voltar contra a rosa.

    — É verdade. Por mais que sejam poucos, consegui converter uma centena de soldados para nossa causa. Precisamos mesmo de um meio de contatá-los. Por favor, se cuidem. Ninguém aqui quer que se arrisquem de mais… — O olhar fraternal no rosto de Regi mostrou como ele se importava com os garotos.

    — Obrigado pelas palavras, chefe — An’u se levantou, animado. — Não se preocupem, conhecemos a rosa há muito tempo, daremos um jeito de contatar todos os outros rebeldes, que estiverem aqui no Sáfaro — ele bateu no peito, como quem diz “Deixa com a gente!”.

    — Ótimo. Se descobrirem algo sobre os próximos planos de Vanir, enviem um pombo-correio aqui para Lires. Vamos definir alguns códigos para incluírem nas cartas, para tornar as mensagens encriptadas — Talamaris deu a ideia.

    — Perfeito. Por agora, temos mais algum assunto a tratar? — Perguntei.

    — Sim… — Regi se levantou, e olhou Talamaris nos olhos. — Senhora Talamaris. Creio que precisamos conversar. Apenas nós dois.

    Ela parecia ter entendido a deixa, e assentiu. Eu não entendia aquilo.

    Os dois se levantaram e subiram até o primeiro andar da estalagem, provavelmente querendo um pouco mais de privacidade para tratarem qualquer que fosse o assunto.

    Assim que eles saíram, Jouci informou:

    — Seu pai, Regi, era o líder dos assassinos de Vanir. Mesmo após ele recobrar parte das suas memórias, cinco anos atrás, continuou matando por ele, pois precisava continuar na rosa-dos-ventos, para acabar com ela de dentro… Infelizmente, um dos inocentes, que Regi matou a mando de Vanir, era a mulher de Talamaris. Seu nome era Cáliz.

    Fiquei sem reação. Mesmo com memórias alteradas, quando ele se lembrou de quem era, ainda continuou matando. Senti um desespero momentâneo, um aperto ruim do coração, que não sentia a muito tempo.

    — Mas, mas… Ele me contou que foi um assassino, mas eu não sabia que continuou matando, mesmo depois de recobrar parte de suas memórias…

    — É, eu sei, também demorei engolir essa informação… Infelizmente ele matou outra pessoa que conhecemos, além de Cáliz. Lembra de Penur, prefeito de Solgos, a cidade que salvamos das vespas-da-noite?

    — Não me diga, que…

    — Sim, Penur foi a última vítima do temido assassino Geir.


    Aguardamos Talamaris e Regi voltarem, todos aflitos. Mal trocamos palavras durante a espera.

    O primeiro a aparecer foi meu pai. O lado esquerdo de sua face estava avermelhado, com marcas claras de dedos. Ele levou um tapa, muito forte, de Talamaris.

    Tala o seguia de perto. Curiosamente sua expressão era leve, como quando algo cansativo e trabalhoso tivesse sido feito. Ela parecia feliz.

    — Não quero comentários sobre meu rosto inchado e machucado, entenderam?

    Todos os presentes se entreolharam.

    — É, ela acabou com a sua raça! — Brinquei.

    O assunto era, de certa forma, delicado. Assassinatos de inocentes, mortes de entes queridos… Mas todos ali estavam do mesmo lado, e iriam lutar pela mesma coisa. O passado deveria ficar para trás. Entendi isso quando vi a expressão relaxada de Talamaris.

    Tirando Regi, todos começaram a gargalhar. A calmaria, antes da tempestade que estava por vir, era bem-vinda e necessária. Todos sabíamos que estávamos seguindo um rumo sem volta. Qualquer alívio que pudéssemos nos proporcionar, antes da inevitável batalha que estava por vir, deveria ser apreciado.

    Regi se rendeu às nossas gargalhadas, e riu também. Mas menos, sua face estava sem machucada, evitando expressões muito extremas de seu rosto sem causar incômodos.

    — Eu só coloquei tudo na balança. O “malvado Geir” tirou a vida de minha amada, mas o bondoso Regi salvou a minha. O tapa foi a cobrança dos juros, por ter assassinado inocentes, como Penur… Sei que isso não muda nada, e que não verei Cáliz novamente, mas posso dizer agora, de cabeça fria: te perdoo, Regi!

    As palavras de Tala me tocaram. Um arrepio de felicidade, misturada com amargura, percorreu meu corpo. Antes que pudesse reagir, meu pai caiu de joelhos, aos prantos.

    — Você não faz ideia como eu precisava ouvir isso, Talamaris — ele chorava e chorava. Um choro quase contido, e silencioso, mas as lágrimas não paravam de escorrer.

    — Não foi você quem a matou… Geir foi a “lâmina”, mas Vanir foi o assassino!

    O momento, tocante e quase íntimo, protagonizado pelos dois, me deu esperanças.

    Esperanças de que o futuro poderia ser bom para nós.

    Esperanças de que conseguiríamos lidar com este inimigo.

    Esperanças de que, em algum momento, este mundo conheceria a verdadeira paz entre as raças.


    — Caso algo dê errado, não hesitem em nos enviar pombos, pedindo ajuda! Lembram do código que devem usar? — Talamaris falou com os três garotos, subordinados a Regi.

    Eles estavam preparados para se espalhar pelo continente, com a missão de se infiltrar em várias bases de Vanir. Um trabalho perigoso, fadado ao fracasso, mas que precisava ser feito. Algo nesses rapazes me dava a certeza de que conseguiriam dar conta do recado. Regi parecia confiar neles, então fiz o mesmo.

    — Sim, senhora Talamaris. Devemos começar cada frase ou parágrafo das cartas com as sílabas da nossa real mensagem, todas em sequência. Deixe com a gente! — An’u falou pelos três.

    Estávamos nas bordas de Lires, longe dos olhares de transeuntes. Cada um dos rapazes levando consigo uma mochila cheia de mantimentos.

    — Vão mesmo partir durante o anoitecer? Não é mais prudente partirem amanhã cedo? — Jouci perguntou. Algo em seu olhar demonstrava não querer dizer adeus aos meninos. O tempo que passaram juntos, quando se uniram para me resgatar, os uniu bastante. Era fofo, de certa forma.

    — Estamos lutando contra o tempo, senhorita Jouci. Devemos nos apressar. Mas não se preocupe. Isso não é um adeus, é um até logo… Prometemos vê-los novamente! — Maso falou com os olhos úmidos.

    — Obrigado por tudo, senhor Geir! Digo, Senhor Regi! Agradeço por abrir nossos olhos. Faremos o possível para sermos úteis na batalha que está por vir — o menino Elear ficou em posição de sentido, ao falar com Regi.

    — Não sou mais o chefe de vocês, rapazes. Nunca fui. Apenas nos prometam que vão ter cuidado e que não farão nada muito arriscado. Prefiro não vê-los novamente se isso significar que estão bem!

    Os três reagiram à fala de seu antigo comandante de imediato. Seus olhos encheram de lágrimas, e eles não se contiveram. Todos deram um longo e forte abraço em Regi, que enrubesceu instantaneamente.

    — Obrigado por cuidar da gente! — Novamente An’u falou pelos três.

    Eles terminaram de se despedir de mim, Talamaris e Jouci com apertos de mãos e sorrisos animados. Devo parabenizá-los pela coragem.

    Deram meia volta, partindo em direção ao norte.

    O pôr do sol pintava o céu de laranja e rosa. As poucas nuvens, espalhadas pela paisagem, tornavam a visão daquilo uma pintura linda, porém amarga de ser ver. Mesmo eu, que não tive tanto contato com os garotos, estava emotivo com a cena.

    Percebi que nesses últimos dias eu chorei bastante. Não é algo ruim, só estava constando este fato comigo mesmo. Jouci fungava ao meu lado. Talamaris estava de braços cruzados, mas com um sorriso animado no rosto. Regi mal piscava, olhando em direção aos garotos. Era como se ele esperasse que, o ato de olhar para eles, desejando que ficassem bem, pudesse ajudar a protegê-los do que estivesse por vir.

    Antes do grupo dos garotos se distanciar muito, percebemos uma movimentação no céu. Três aves voavam em nossa direção, em alta velocidade. Quando aterrissaram perto dos garotos, muita poeira foi levantada, mas era óbvio quem eram.

    — Krane? Ela e seus irmãos, de novo? — Jouci comentou, correndo em direção aos animais. Nós a seguimos, apressando nosso passo.

    Quando estávamos perto o suficiente para que os rapazes pudessem nos ouvir, Jouci perguntou:

    — Maso, o que Krane te disse? Por que ele e seus irmãos estão aqui?

    O rapaz parecia em transe, tentando compreender o que a maior das aves lhe contava.

    — Elas sabiam que nós precisávamos nos apressar para cumprir nossa missão. Vão nos ajudar em nossa viagem. Ela quer que cada um de nós se separe, para que nossa missão seja concluída a tempo.

    Maso piscava seus olhos com força, como se aquela carga de informações, transmitida pela ave, fosse muito para sua mente receber de uma vez.

    — Isso é assustador, e muito conveniente… O que estamos esperando. Vamos subir! — Elear disse, animadamente.

    — Droga, estava feliz, achando que nunca mais precisasse voar… Já disse antes, anões não foram feitos para o céu! — An’u reclamou, mas foi em direção a ave mais à esquerda.

    — Parece que algo, ou alguém, está nos ajudando, afinal de contas. Façam um bom voo, meninos. Nos vemos em menos de um ano? — Perguntei.

    — Combinado! — Maso respondeu, enquanto subia em Krane.

    Jouci se aproximou da ave e acariciou seu longo bico.

    — Leve eles com cuidado, tá bom? Obrigado por nos ajudar tanto!

    A ave grasnou animadamente e bateu asas sem sair do lugar. Ela parecia bastante animada por encontrar Jouci, mesmo que tivesse se passado menos de um dia desde a despedida anterior.

    As aves, cada uma com seu “cavaleiro”, deram meia volta, e alçaram voo. Elas se dispersaram, voando em direções diferentes.

    An’u voou para oeste, provavelmente em direção a base das vespas-da-noite. Elear foi em direção leste. Maso seguiu reto para o norte.

    — Seja quem estiver nos ajudando, deus ou mortal, isso é bem maneiro! — Talamaris comentou.


    “Disciplina é o que mantém a rosa funcionando. Meninos como vocês devem se tornar homens se quiserem ser úteis a Vanir! Não aceitamos fracos ou desajeitados! Apenas os melhores podem fazer parte do que está por vir!”

    Primeiro, arauto de Vanir

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