Capítulo 14 - Falha X
Rei, próximo ao comerciante, que não percebendo a sua aproximação súbita, empacota os pertences e os aloca na traseira da carroça de 4 eixos.
— Senhor? — pergunta Rei, ao surgir em sua frente, de modo a assustá-lo e o fazê-lo gritar.
— O…Olá? — responde imediatamente, apavorado, com os batimentos cardíacos acelerados, ajustando o chapéu de tecido em sua cabeça
— Você tem vaga na sua carroça? O meu amigo está machucado e tem 2 crianças também, uma que acabou de perder os pais e outra que não está bem.
O comerciante o observa de forma avaliadora, desvia o olhar, e se vira. Sem se importar com o fato. Mesmo ao demonstrar uma expressão de relutância, se mostra indiferente, apesar de ser pouco convincente.
O seu comportamento, apesar de insensível, há uma justificativa por trás. Pessoas desafortunadas como Rei, aparecem aos montes. Dessa forma, infelizmente, como mercador, não há benefícios em auxiliar e amparar tais vítimas, é a sua linha de pensamento recorrente.
De fato, uma visão egoísta e consuetudinária. E é desse modo que muitos dos mercadores agem. Visam o lucro acima da moral.
O garoto encara-o fixamente, enquanto espera uma resposta, mas não a recebe. Assim que percebe que o senhor não irá o ajudar, o garoto franze a testa, seus olhos se nublam de irritação e descrença.
‘’Bem… Já que ele não quer me ajudar, vou criar algumas moedas de ouro. Se eu me basear no peso atômico do ouro no meu mundo, poderei…’’
Ao pensar em todas as características e peso atômico do ouro, Rei tenta recriar o objeto que está imaginando.
[Criação]
[Falha ao criar objeto]
‘’Como assim falhou? Droga!’’
E logo, ao perceber que a sua habilidade de criação não funciona, nota que a única solução é tentar a persuasão ou coerção física.
O que compele o comerciante é: Rei se volta para a sua direção, olha diretamente em seus olhos, e diz claramente, de maneira calma e confiante.
— Então, sabe senhor… Eu sou um mago. Caso algum monstro apareça, posso de forma simples e rápida os eliminar, do mesmo jeito que meu amigo, espadachim — confessa, o que faz a atenção do homem ser assegurada.
Com o intuito de eliminar toda a incerteza potencial, o garoto ativa a sua habilidade como forma de precaução.
[Persuasão]
Usa sua lábia para tentar persuadir o alvo. Suas habilidades de argumentação e oratória são aumentadas drasticamente.
[Habilidade ativada]
O garoto tira proveito da situação, e aproxima-se do comerciante, e olha fixamente para ele, em seguida, declara firmemente e de forma entusiasmada.
— Então… Você… Irá abandonar eu e meus amigos?
— Você se considera humano?! Recusar algo tão simples, e preferir as suas riquezas, além de tentar ajudar o próximo?
— N-Não, vocês podem subir na parte de trás, tem muito espaço — responde, com uma expressão de alívio e compreensão.
— Fechado, senhor — acrescenta, ao se virar de costas, e desloca-se até a posição de Kazuki, enquanto ri da ocasião.
(…)
No percurso, o estudante começa a sentir uma forte tontura e fraqueza que reveste todo o seu corpo, e, por alguns segundos, seus feromônios se desestabilizam. Sua fragrância de ômega é liberada, mas se dissipa logo em seguida.
“Talvez tenha sido uma sobrecarga de mana. Preciso tomar cuidado…”
Pensa, ao deduzir que, talvez o mal ocorrido tenha sido pelo uso inexperiente de suas habilidades ao longo do tempo. E, pela primeira vez, houve um efeito colateral de suas habilidades.
De volta ao ponto inicial, Rei percebe que Kazuki, Mia e Takayo estão cabisbaixos e abalados com a situação.
O homem fera tenta acalmar as duas crianças, e transmite em suas palavras tom reconfortante e acolhedor. Abraçando-lhes fortemente, na tentativa de diminuir toda a pressão psicológica sofrida.
“Não deve ser fácil presenciar as pessoas que você conviveu durante 7 anos jogadas aos montes nas ruas e estradas, ou até mesmo ver os pais mortos em sua frente.”
“Nem consigo imaginar a dor que estão sentindo…”
“Será que meus pais ficaram assim depois do meu acidente…?”
Pensa deprimido, imerso em dúvida.
Em seguida, olha para a frente, e dirige sua voz para os três ali presentes.
—Vocês estão bem? Então… Consegui uma carona para sairmos desse inferno, bora lá — anuncia com tom alto e firme.
— Como? — indaga, Kazuki.
— Como conseguiu convencer o dono?
Rei começa a rir levemente, quando o responde de volta: — Bem… Hehe, segredo.
Sem entender o motivo de suas risadas, Kazuki se levanta, e caminha ao seu lado, juntamente com Mia e Takayo.
Ao subirem na traseira da carroça, o comerciante segue a estrada para a capital, dando impulso aos cavalos da frente.
Em meio ao percurso da estrada, a carroça em movimento é esbarrada em outras, de modo a danificar as suas estruturas laterais. É inevitável que isso ocorra, visto a gravidade da situação.
À medida que o transporte se locomove, pessoas na estrada suplicam miseravelmente por uma vaga, ou auxílio.
Infelizmente, da mesma forma que a estrada, a carroça também está superlotada. Apesar da maior parte da ocupação ser pelos pertences do comerciante. Priorizando suas mercadorias acima da vida de outras pessoas.
Isso não está certo, na realidade, tudo que está a acontecer não é justo, e, a vontade do garoto é simplesmente arremessar todas as caixas e tralhas que estão na carroça.
Ele até tenta, entretanto, Kazuki o impede, colocando as suas mãos sobre as caixas que estão prestes a serem jogadas pelo garoto.
O homem faz uma expressão de lástima e lança um olhar sobre Rei, que parece dizer: Não faça isso. Não irá adiantar.
O garoto, assim que percebe o olhar do homem, de forma hesitante, desiste da ideia, e coloca as caixas devidamente em seus lugares.
Como ele conseguiria alocar as pessoas da estrada, ao considerar a carroça em movimento? Onde ele arremessaria as mercadorias? Todos esses e outros detalhes não foram considerados pelo estudante.
Ele poderia até usar sua habilidade de ❧Telecinese☙, apesar de não saber controlar e usar de forma efetiva. Mas, desiste das pequenas soluções improvisadas e inconsequentes.
Por fim, o garoto senta-se próximo a Kazuki, na superfície da carroça. Imerso em pensamentos, franze a testa e olha para baixo, para as suas mãos.
Todos ficam em silêncio por um tempo. Um silêncio relativo, considerando as súplicas, gritos e sons de madeira emitidos pelas carroças em atrito uma contra as outras.
E, de longe, a visão da cidade em chamas é vista na carroça. Os dois, lado a lado, com as roupas enegrecidas pelo fogo, assistem tudo indo pelos ares.
A visão é até esplêndida… Considerando todo o caos, estruturas desabando e o fogo irrompendo furiosamente todos os arredores, enquanto tudo é consumido pelas chamas.
Mas, por alguma razão, apesar de trágico, aquela vista é extremamente magnífica.
(…)
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