Índice de Capítulo


    ❖ ❖ ❖

    Enquanto Matsuno se posicionava diante dos portões do palácio imperial, e Kazuki saía às pressas para encontrar um velho conhecido, Rei permanecia em seu quarto, deitado na ampla e confortável cama de casal do cômodo.

    Ele percebeu que o clima lá fora estava absurdamente frio, o tipo de frio que cortava a pele e podia até mesmo se infiltrar nos ossos. 

    Mesmo no quarto, ele começou a sentir frio.

    Para se proteger, ele havia usado sua habilidade de [Criação] para conjurar um cobertor espesso, travesseiros extras e até mesmo alguns ursos de pelúcia.

    Virado de lado, com o olhar perdido na janela, Rei usava um dos ursos maiores como apoio para a cabeça, enquanto abraçava o outro, menor, com firmeza. 

    O toque macio do tecido e seda, e a sensação de conforto o fizeram se desligar completamente do que estava a acontecer nos andares inferiores da mansão.

    Ele nem mesmo percebeu quando Matsuno e Kazuki haviam saído. 

    Sua mente, ao menos por agora, estava relaxada. 

    A visão do céu com inúmeras nuvens se movendo de um lado para o outro, estava fazendo a sua atenção se dissipar, e ele bocejava algumas vezes, sentindo ao mesmo tempo o peso da exaustão acumulada. 

    Quinze dias de viagem até a capital…

    Seu corpo ainda não havia se recuperado completamente.

    Ninguém desejaria andar por horas durante 15 dias! 

    Nunca tivera feito tanto exercício em sua vida. 

    — O que eu faço?

    O pensamento surgiu de forma preguiçosa. Seu objetivo principal sempre foi chegar à capital e conhecer mais sobre o mundo que tinha transmigrado.

    Ele nunca havia feito planos detalhados além de, — exceto, pela necessidade de aprofundar seus conhecimentos em magia, e ajudar Kazuki.

    — Ah, é verdade…

    Ele murmurou, lembrando-se do que Kazuki havia dito. Se o homem-fera realmente pretendia se tornar imperador, então sua vida tranquila estava prestes a desaparecer.

    — Isso vai dar um trabalhão.

    Suspirou, encarando o céu. 

    No momento, porém, não queria pensar nisso. 

    Apenas fechou os olhos e deixou o sono levá-lo, sem se preocupar com o que viria depois.

    Algumas horas se passaram antes de ele acordar. 

    Seu corpo estava mole, ainda pesado pelo descanso, mas, aos poucos, ele se espreguiçou e bocejou longamente.

    A sonolência ainda estava lá, mas então se lembrou de algo importante: o remédio que Tyrant havia preparado.

    Com um leve resmungo, ele se levantou e foi até sua mochila de couro, apoiada ao lado da mesa. Lá dentro, um pequeno frasco continha o inibidor, — algo essencial para evitar que entrasse no Cio repentinamente e causasse problemas.

    Ele franziu a testa ao abrir o frasco e tomar o líquido de uma só vez.

    — Urgh! Isso tem um gosto horrível!

    Rei estremeceu, sua expressão de nojo enquanto fazia caretas.

    Sem pensar duas vezes, ativou [Criação] e fez surgir uma latinha de refrigerante, bebendo grandes goles para se livrar do gosto amargo que invadiu sua boca.

    Depois de engolir a bebida gelada, olhou ao redor do quarto e percebeu algo.

    — Kazuki…?

    Nenhum sinal dele.

    Ele havia pensado que o homem-fera estaria ali depois de acordar, e então ambos poderiam comer alguma coisa diferente, assim como a rotina que tiveram como nos outros dias.

    — Ele realmente saiu, que saco. 

    Ele passou a mão pelo rosto, refletindo sobre o que fazer. 

    Não gostava da ideia de ficar ali sem fazer nada durante o dia inteiro, e a única alternativa viável era explorar a cidade por conta própria, até encontrar a relíquia sagrada de Loki, ou ao menos saber onde ela estava aproximadamente.

    Ele bochecho um segundo antes de ativar novamente a habilidade de [Criação], desta vez materializando um conjunto de roupas casuais que combinavam com o estilo dos homens-feras nobres da capital.

    Ele queria não chamar muito a atenção, mas também não queria parecer um plebeu qualquer em meio à alta sociedade da capital, ainda mais pela região que estava hospedado — praticamente ao centro.

    Se era para sair sozinho, ele pelo menos deveria se misturar entre os locais para não parecer um completo estranho. Rei criou uma camisa branca de linho fino, de corte reto e confortável, com botões discretos de prata. Sobre ela, um colete de tecido azul-escuro, ajustado ao corpo, com sutis detalhes bordados em fios prateados nas bordas.

    As calças eram de um tecido escuro e resistente, bem cortadas e ajustadas, proporcionando conforto sem parecer desleixadas. Nos pés, botas de couro preto, polidas, mas sem adornos chamativos.

    Simplificando, era um conjunto de vestimentas que mais se assemelhavam a um terninho, evidenciando a camiseta branca por baixo. 

    Depois de se arrumar adequadamente para a ocasião, ele decidiu bater na porta onde Tyrant e Rina estavam hospedadas — deu alguns toques na madeira, até que uma das duas meninas que estavam dentro do cômodo abrissem a porta. 

    Assim que cruzou com Rina, a garota logo ergueu uma sobrancelha, analisando-o de cima a baixo. A roupa alinhada, o cabelo arrumado para trás… Era mesmo o Rei? Do jeito que estava bem vestido, parecia até outra pessoa.

    — O que é isso, Rei? Alguma coisa aconteceu pra tu tá desse jeito, até parece outra pessoa.

    A desconfiança era inevitável, ainda mais porque nem Kazuki nem Matsuno estavam por perto para que ele se vestisse tão bem daquela forma.

    — Opa, Rina. Tyrant, também.

    Rei acenou de longe para Tyrant, que estava encostada na janela. Ela respondeu com um aceno preguiçoso e calmo, sem tirar os olhos dele.

    — Fala logo.

    Rina cruzou os braços, sem entender o que estava acontecendo. 

    — Tô querendo dar uma volta, explorar os arredores e ver se acho alguma pista do objeto sagrado. Como o Kazuki já foi embora, pensei em chamar vocês. Eu não conheço direito essa área…

    Ele explicou, mesmo sabendo que tanto Rina quanto Tyrant estavam na mesma situação. A região era cheia de gente rica, um lugar onde até pra respirar devia ter protocolo. Lembrava aqueles bairros chiques da Terra, onde até pra passar na calçada os seguranças já te olhavam torto.

    No entanto, era um lugar agradável. Era bom que até mesmo a atmosfera era comodativa e o ar de certa forma respirável, diferente das densas neblinas e ar rarefeito em determinadas trilhas que tinha da estrada do refúgio para a capital.

    Inclusive, isso entrava a parte das camas macias e o clima agradável dentro dos cômodos e pisos pavimentados abaixo dos pés.

    Era realmente satisfatório pisar em algo que não fosse terra e grama, ou ser mordido todas as noites por mosquitos e insetos nojentos.

    — Bem, eu não posso ir, tenho que terminar as poções de Kazuki e de Mia no momento. Peço desculpas por isso, mas caso voc…

    Tyrant respondeu ele nessa hora, mas antes que pudesse terminar com as palavras, fora interrompida por Rina, que apenas comentou em cima das palavras da menina:

    — Sim, eu quero! Vamos agora, eu quero saber como é a região também, parece muito interessante, quero ver mais prédios e lugares.

    Ela disse animadamente, e por conta desse comportamento, Tyrant apenas colocou a mão no rosto, vendo como Rei estava também com o mesmo semblante no rosto, embora não quisesse realmente admitir.

    Após ouvi-la, o garoto somente sorriu de volta, e disse:

    — Vamos então.

    Antes que Rina pudesse sair, ela sentiu a mão de Tyrant segurando-a no pulso. A menina estava com um olhar descontente no rosto, como se estivesse falando apenas pelos olhos: “Caso você cause alguma confusão, você verá.”

    Era quase como se fosse uma mãe brigando com a filha ou uma criança mal criada, e de certa maneira era engraçado.

    — Você não irá sair desse jeito.

    Tyrant comentou nesse momento, e então olhou para Rei de repente, afastando-o até a saída do cômodo.

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