Capítulo 22 - Carne X

Kazuki, terminado de cortar a carne em fatias, a posiciona sobre a bancada de cozinha, e alerta Rei, que está sentado junto com Mia e Takayo. 

Apressadamente, o garoto levanta de sua posição e caminha até chegar próximo, e realoca as carnes de uma bancada até a outra, de modo a facilitar e não precisar locomover-se entre uma e outra. 

Assim que termina a realocação, acende a lenha da churrasqueira com ajuda de Kazuki. 

Momentos depois, com o sal e alho em mãos, tempera as fatias de carne, de modo a ficarem iguais às que fazia em seu mundo. 

“E pensar que eu cozinhava todos os finais de semana quando meus familiares chegavam em casa… Se não fosse a minha irmã, que sempre estava lá para me ajudar com os molhos, e o preparo da carne, eu estaria ferrado. Espero que a condição dela tenha melhorado.”

Solta um suspiro, desanimado. 

“Bem, não adianta pensar sobre isso agora! Com ou sem sua ajuda, vou conseguir fazer isso, vai ser moleza.” 

Após descartar a ideia de que sua irmã talvez não esteja bem, Rei começa a aplicar o sal sobre a carne mais uma vez. 

Em seguida, realoca as fatias de carne temperadas com alho e sal na grelha da churrasqueira, e espera assar. 

Enquanto a carne é grelhada gradualmente, o garoto prepara alguns temperos, ervas e cogumelos que havia pegado no caminho da volta.

Os cogumelos Hiratake, que tem um sabor acentuado e ligeiramente adocicado, são cortados em rodelas e seu cacho é retirado. 

Após isso, são limpos na beira da cachoeira próxima, para que suas sujidades sejam dispersas e seus caules separados. 

Com o alho cortado em fatias pequenas, os cogumelos Hiratake são colocados em conjunto, para que o sabor dos dois possa se complementar.

“É cara, vou ter que criar uma forma para assar isso, não tem como comer cru, o sabor do cogumelo e do alho só iriam amargar.” 

Os cogumelos Hiratake com alho são postos na superfície da forma. 

Por fim, na outra metade da forma, é colocado os cogumelos Shimeji com cebolinha e alho, que posteriormente foram lavados, cortados e fatiados em rodelas. 

(…) 

A medida que o tempo passa, Rei vira as fatias de carne e adiciona um pouco mais de sal, para que o cloreto de sódio presente no sal de cozinha libere íons de cloro (Cl-) e sódio (Na+), que penetram nas moléculas de proteínas. 

“Os íons de cloro acumuladas nas proteínas provocam um tipo de expansão nas fibras musculares da carne, o que acarreta em uma expansão das fibras musculares, abrindo espaço para o acúmulo de água.” 

“Portanto… quanto mais profundamente a salga penetrar na carne, mais suculenta ela ficará.” 

Pensa Rei, se gabando pelo conhecimento que aprendera com sua irmã, que fazia parte de uma turma de gastronomia japonesa tradicional local de seu bairro.  

Após longos 15 minutos, a coloração da carne torna-se vivida, em seu ponto mais que ideal. 

Por fim, o estudante alerta todos, com um sorriso animado e tom de voz elevado. 

— O jantar está pronto, bora comer galera! Lavem suas mãos na cachoeira e depois peguem os pratos sobre a mesa.

Sem demora, todos que estão sentados na fogueira levantam-se, lavam as mãos, e caminham até a bancada.

— Obridado, Rei — agradece calmamente Kazuki, fazendo contato visual. 

— De nada. Espero que aproveite o jantar! — responde. 

Com os pratos em mãos, o garoto serve as fatias de carne e cogumelos em suas combucas. 

Após isso, todos voltam para o entorno da fogueira, e sentam em sua volta. 

Momentos depois, o garoto com o prato pronto, também senta-se com eles. 

(…) 

Antes de comer, Kazuki nota que a textura da carne e os cogumelos são de tirar o fôlego, completamente diferente das carnes que está acostumado a comer, que só serviam para forrar seu estômago. 

A primeira coisa que prova é a carne. 

Seu aspecto e seu cheiro parecem divinos, ela claramente foi preparada por um chef habilidoso, na verdade, só a sua cor o deixa com fome ao ponto de fazê-lo sorrir sem perceber. 

“Está… uma delícia.” 

É tão saboroso que o faz sentir-se no céu. Seu sorriso não consegue desaparecer. No momento em que morde a carne, o seu líquido salgado preenche sua boca. 

Não só Kazuki, mas todos em volta começam a elogiar a comida. 

— Está… espetacular, muito obrigado jovem! — agradece o comerciante, com algumas lágrimas a escorrer de seu rosto. 

— Sim. Está incrível, Rei! Muito obrigado — diz em seguida Kazuki. 

Mia e Takayo que estão comendo, apenas olham para Rei com extremo entusiasmo e satisfação. 

Ao ouvir seu chamado, franze a testa e tapa a boca com a mão. Rei não gosta daquela atmosfera embaraçosa e tentando esconder o sentimento de vergonha, fala com a boca cheia: — Obrixgado, Ixtá delixiocho, não?

Rei, nunca se importou em ter qualquer tipo de etiqueta, nem mesmo em frente aos seus familiares.

Ninguém se importava com o que ele dizia ou fazia. E, contando que pudesse fazer as coisas da forma que quer, nada mais importava. 

Como esperado, ninguém ali críticou a sua falta de educação. Na verdade, todos parecem rir e achar graça. 

— Sim. Tudo aqui tem um gosto maravilhoso — responde Kazuki.

Após a resposta, o homem fera dá uma garfada nos cogumelos: assim que sente seu gosto, sorri novamente.

— Jovem… você é forte, bonito e sabe cozinhar. Quem se casar com você vai ser uma pessoa de sorte… — diz o comerciante, de maneira brincalhona. 

Apesar da fala inesperada e inconveniente, que tanto surpreende Kazuki, quanto Rei, o garoto entra na brincadeira também. 

— Quem se casar comigo, né…? 

— Hehehe. 

Com um sorriso suave no rosto enquanto seu dedo indicador é posicionado sobre a boca, o garoto olha para o lado rapidamente, de relance. Seu olhar cruza com os de Kazuki momentaneamente, mas logo sua visão é dirigida para o prato novamente. 

— (…) 

“Calma, o que acabou de acontecer?” 

Antes que Kazuki pudesse pensar a fundo sobre o comentário de Rei, em meio ao crepúsculo incessante da noite, sons de pegadas são ouvidas de longe. 

— (…) 

Continua…