Capítulo 39 - Cereais X
Antes que pudessem adentrar o cômodo, o elfo despede-se com uma pequena reverência e afasta-se da região.
— Obrigado por toda a ajuda, senhor Hert — agradece Kazuki, pouco antes de abrir a porta de madeira.
No momento em que Rei, Mia, Takayo e Kazuki finalmente entram no quarto, sentem que até mesmo a atmosfera local torna-se aconchegante.
O cômodo inteiro é revestido de madeira em conjunto com um tipo de pedra azulada, parecida com cinza, do chão ao teto.
Três camas estão posicionadas no pequeno espaço, sendo duas de solteiro e uma de casal. Uma fronha branca às preenche, enquanto dois travesseiros e uma coberta grossa marrom ficam à vista sob a superfície.
A única coisa que Rei pensa na hora é como deve ser confortável finalmente conseguir dormir em uma cama, diferente de antes, quando teve que descansar em uma barraca.
No entanto, algo que causa estranheza ao estudante é quando percebe que não há janelas no quarto, somente um enorme tapete de urso que cobre parte do chão, próximo de uma lareira que parece aquecer e dar iluminação ao ambiente.
Mosaicos pendurados pelas paredes de pequenas pinturas e quadros estão espalhados por todo o cômodo. Eles são primorosos, uma série de objetos antigos esquecidos, pintados com um profundo detalhamento que mais parecem fotografias.
Além das pinturas, o resto do lugar é quente, limpo e organizado.
『…』
Pouco depois de se acomodarem, Kazuki e Rei começam a arrumar seus pertences, alocando-os em uma humilde estante de madeira.
É nesse momento que Mia e Takayo deitam em camas separadas para descansarem, escolhendo as de solteiro.
Por sua vez, o estudante quando acaba de colocar as suas roupas e pertences na estante, senta na cama de casal e examina as crianças de perto.
Logo, percebe que ambas estão ansiosas.
“Provavelmente elas ainda guardam memórias do incidente no vilarejo, apesar de não demostrar ou comentar nada sobre o assunto, devem pensar sempre sobre isso, principalmente Takayo.”
“Além disso, devem estar assustadas com tudo que aconteceu, estamos em um lugar praticamente desconhecido.”
Em seguida, dirige seu olhar para o lado, em direção a Kazuki, que termina de colocar seus pertences na estante.
“Por outro lado, esse carinha não parece demonstrar muito bem o que está sentindo. Sempre mantendo uma expressão de calma no rosto, como se nada de ruim tivesse acontecido. Me pergunto se ele é o tipo de pessoa que guarda tudo para si.”
“Bem, eu não deveria pensar nisso agora. A minha cabeça esta explodindo, preciso tomar algum ar para acalmar a minha mente.”
Afirma em pensamento, após um tempinho observando Kazuki.
— Estou me sentindo um pouco inquieto, vou sair para tomar um ar. Quer vir comigo, Kazuki? — O estudante calmamente chama o seu nome, ao levantar da cama e caminhar até a porta.
O homem-fera logo vira seu olhar para o garoto, que ainda o observa.
— Pode ir sozinho, eu ainda preciso conversar com as crianças.
— Ok.
O estudante então abre a porta do quarto e começa a caminhar pelos corredores.
Caminhando pelos corredores de Svishtar, o garoto percebe que apesar da noite já ter caido, ainda há muitos elfos por todo a região. Eles auxiliam alguns refugiados que estão sentados no chão do corredor, enquanto outros indivíduos são mobilizados para outra região pelos elfos, devido a sua frágil condição física.
A medida que caminha, nota o péssimo estado físico de algumas pessoas, com múltiplos ferimentos provenientes de queimaduras, cortes e lutas com monstros e demônios.
Alguns indivíduos, como o caso de uma mulher com as costas com inúmeros ferimentos profundos, deixando-a inchada, purulenta e atraindo insetos e vermes pelas feridas, deixam o estudante extremamente agoniado.
Ferimentos antigos que visivelmente não receberam tratamento algum, e novas que ainda sangram. Elas estão em todas as regiões, em diversos homem-fera do local.
“A guerra é realmente algo tenebroso. Eu nunca pensei que teria que presenciar esse tipo de coisa, tanto a atmosfera quanto a expressão das pessoas por perto, elas parecem mortas e sem vida.”
“Ainda não sei o motivo pelo qual os elfos estarem ajudando, mas isso é algo realmente legal de se ver.”
“Mesmo que não seja muito, ainda quero tentar ajudar com o pouco das habilidades que eu tenho. E, assim como Takayo, devem haver pessoas aqui que perderam tudo e não tiveram algum suporte emocional.”
“Acredito que isso seja o certo a ser feito. Não sou um tipo de santo, mas não posso ficar de braços cruzados sem fazer nada.”
“Pensando agora, é muito admirável como os elfos estão auxiliando todos. Hert havia dito algo sobre uma ideologia de unificação das raças, talvez seja por isso que muitos dos elfos estão ajudando ao máximo? Bem, de qualquer forma, não vou pensar nisso agora.”
Durante o tempo em que pensa, o estudante logo afasta-se e caminha até chegar a um lugar isolado, onde pôde pensar em uma alternativa para ajudar outras pessoas.
Usa sua habilidade de『Criação』para criar uma pequena bolsa de couro, em seguida ativa ela novamente para criar pequenas barras de cereais.
Coloca-as na bolsa de couro e volta para o corredor principal, onde começa a distribui-las entre todos que encontra.
“As barras de cereais são as únicas coisas que consigo pensar no momento, espero que isso ao menos aliviei a fome das pessoas.”
“A princípio, pensei em usar a minha habilidade de cura, mas depois de saber pelo Kazuki que apenas uma pessoa no continente consegue usá-la, acabei mudando de ideia. Isso só chamaria atenção desnecessária.”
“Na pior das hipóteses, os elfos poderiam me prender ou me interrogar… poha, não tô afim de passar por isso.”
Enquanto distribui as barras pelas pessoas que encontra no caminho, o garoto tenta conversar com elas, caso precisassem de alguém para ouvir os seus relatos, ao menos no intuito em que pudessem desabafar.
Continua…
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