Capítulo 59 - Plano improvisado

Madrugada.

Naquela noite, pouco antes de Rei cair no chão e perder a consciência completamente, ele é levado às pressas pelos desconhecidos que o agrediram para uma direção afastada. E, embora a súbita pancada não tenha o acertado com força, aquilo ainda foi o suficiente para fazê-lo cair e apenas recobrar seus sentidos minutos depois. 

Por conta da resistência normal de Rei, causado pelo seu crescente aumento no atributo de força, que influenciava todas as questões relativas ao seu estado físico, a habilidade de Super Regeneração também havia sido ativada desde o momento em que ele caiu no chão, ajudando-o a recobrar a consciência mais rápido do que o previsto.

Com os olhos fechados, a consciência do estudante então começa a retornar gradativamente, com o pensamento em mente do que tinha realmente acontecido e de onde ele estava naquele momento. A única coisa que ele consegue sentir nessa hora é uma sensação de queimação no rosto, como se algo estivesse escorrendo de sua cabeça.

Nesse instante, uma mão de repente o sacode de maneira rude, antes de afastar-se e caminhar para outra direção contrária a dele.

—  Tsk… 

—  Você sabe que não podemos… Então… Deveríamos fazer… — comenta em sussurros um dos homens, com a voz irritada e baixa, sem que o estudante conseguisse ouvi-lo com clareza. 

— Você sabe que já chegamos tão longe… Não vamos parar agora, eu acho melhor… —  responde brevemente o outro, mas com uma voz sobrepujada em extrema frieza e raiva. 

‘’Huh? O quê?’’

O coração do estudante então bate rapidamente, após perceber que ambos parecem falar sobre ele e outros planos envolvendo a sua pessoa. Nada do que estava acontecendo fazia sentido, mas mesmo confuso com toda a situação, Rei tenta focar a sua atenção ao máximo na conversa dos sequestradores. 

— Droga… Eu te disse para não bater tão forte. Mas parece que ele ainda não acordou — declara preocupado uma das vozes, logo em seguida olha na direção de Rei, sentado no chão com as duas mãos amarradas.

Na visão dos homens, o estudante parece atordoado no chão, ainda sem conseguir recobrar os seus sentidos. Mas na realidade, Rei somente está fingindo dormir enquanto escuta toda a conversa atentamente, ao passo em que procura em pensamentos o que havia acontecido e quem são aquelas pessoas de fato.

Não demorou muito para o garoto reconhecer por fim quem eram os sequestradores. As mesmas pessoas que estavam no corredor da manhã e que o assediaram, proferindo-lhe comentários rudes e com segundas intenções em suas palavras maldosas.

‘’Esses caras… então foram vocês, seus fodidos.’’

‘’É sério que depois da surra que levaram vocês ainda estão tentando fazer algo? Poha…’’

‘’Essa não é a primeira vez que isso aconteceu. Acho que acabei subestimando como esse tipo de pessoa pensa, mas me sequestrar passou dos limites. Onde eles conseguiram arranjar coragem para isso? Pensei que eles eram apenas um bando de covardes.’’

‘’… Droga, isso realmente doeu.’’

Com a cabeça lotada de pensamentos sobre o ocorrido, o estudante abre os olhos e fixa sua visão para os dois homens à frente, que estão distraídos com a conversa que parece não ter fim.  Ele força seu corpo a se mover, mesmo com o enorme ferimento na cabeça e a camisa rasgada.

‘’Não notaram que eu acordei? Que bando de idiotas.’’

‘’Merda, acho que estou debaixo de uma árvore. Eles não devem ter me levado para muito longe do refúgio, e olhando para o arredor, parece que não estou muito tempo inconsciente… talvez 30 ou 40 minutos, no máximo.” 

‘’Preciso sair daqui, mas não consigo me soltar da corda. Ela está muito apertada, sem chances de eu conseguir tirá-la. Como infernos eles fizeram algo assim? Ah, fodase. Eu só preciso sair daqui, alguma habilidade deve funcionar de qualquer forma…”

Após pensar nisso, ele acaba focando a sua atenção em alguma solução imediata enquanto observa seus status e habilidades no sistema. É então que seu olhar centraliza em um poder que ele havia recebido no começo, mas que nunca usou por não saber como funcionava.

‘’Hemomancia…? Certo, isso deve funcionar. Vamos testar. Caso não venha a funcionar, ainda tenho a minha habilidade de Telecinese. Vocês pegaram a pessoa errada, bastardados.’’

Um momento depois, com um plano improvisado em mente, o estudante acaba erguendo a sua cabeça e levanta o tom de sua voz na direção dos sequestradores. 

— Ei, seus filhos da puta. Tomaram coragem agora, é? — Imediatamente após dizer isso, os olhos dos dois são voltados para o garoto. Eles não esperavam que Rei recuperasse os sentidos rapidamente, então acabou sendo um susto repentino.

— É o melhor que vocês conseguem fazer? Só atacando pelas costas para conseguirem mesmo, covardes do caralho — comenta em ironia, com o tom de voz extremamente irritado. 

Eles começam a rir quando escutam os comentários. 

— Ora ora, a bela adormecida finalmente acordou — responde o primeiro homem, ao agachar e falar diretamente na mesma altura do rosto do estudante. 

Logo em seguida, após dizer isso, o segundo homem comenta com o tom de voz alterado, com a expressão do seu rosto distorcendo a medida em que tenta explicar a sua situação.  

— Você… você vai pagar pelo que fez comigo, seu desgraçado. Olha só o que você fez comigo, meu rosto está totalmente deformado!

— Pfhahaha! Você parece um monstro — comenta Rei, não conseguindo aguentar e rir do rosto desfigurado do homem. 

— Ficou exatamente igual a sua personalidade, bem-merecido. — Ao finalizar dizendo isso, o estudante aproveita também para cuspir na cara dele. 

Assim que sente a saliva no rosto, a paciência dele se esgota e ele avança na direção de Rei, mas é rapidamente impedido por seu companheiro ao lado. 

— Acho que você ainda não entendeu a posição em que está — declara calmamente, depois de acalmar o companheiro do lado e colocar a mão no ombro do garoto. 

— É melhor você fazer tudo que a gente quiser, caso ainda queira viver. 

Continua…