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    Antes da escuridão tornar-se predominante no céu alaranjado da atmosfera, o estudante e seu companheiro conseguem finalmente chegar no vilarejo.

    Ao longo do caminho, as nuvens espessas que surgiram desde a manhã ficam ainda mais escuras, até que por fim algumas gotas de água começam a cair. O vento está gélido, como se tivesse picando a pele de Rei, deixando-a arrepiada por um longo tempo.

    Quando Rei adentra os portões, a única coisa que ele percebe é a similaridade entre este vilarejo e o antigo em que Kazuki morava. As mesmas casas de madeira e tijolos ao redor das ruas, com um tipo de estrutura tão frágil que poderia ser demolida sem grandes esforços. 

    Neste lugar, talvez a única diferença fosse a forma como as pessoas se comportam — com uma expressão no rosto com tamanha indiferença. Não havendo sequer uma única pessoa sorrindo ou com um semblante natural, até mesmo as crianças que brincam não parecem exceção a essa regra. 

    E é nesse momento que Rei nota a presença de alguns estranhos que não parecem ser do vilarejo, próximos das casas de alguns aldeões. 

    Esses homens vestindo uniformes vermelhos, possuem um tipo de capa preta atrás de suas costas que vão até a parte da frente e cobrem parcialmente os seus rostos, apenas sendo visível seus olhos e uma parte de suas bocas.

    Cada um deles possuindo um colar de marfim idêntico, com nele desenhado a figura de uma mulher com as mãos juntas e fechadas em sinal de oração. Em sua cabeça, está uma coroa de pétalas e um grande pássaro pousado em seu ombro.

    “Esses caras devem ser os fanáticos que aquela moça tinha comentado. Não consigo ver com muitos detalhes por ainda estar longe, mas aquela mulher desenhada no colar deles parece ser a deusa que adoram.”

    “Se eles estão apenas seguindo essa religião, então essa deusa é uma verdadeira puta! Assim como esses caras, suponho que essa deusa deva ser farinha do mesmo saco, com todos esses tipos de ideais distorcidos e discriminatórios.”

    Enquanto o estudante olha de longe toda a situação, os fanáticos param de andar e voltam as suas atenções para alguns dos aldeões próximos, que estão sentados em alguns bancos de madeira em frente a uma casa. 

    De repente, um dos fanáticos começa a gritar com uma das mulheres por perto, antes da sua expressão fechar sombriamente e ele pegá-la pelos cabelos com força, arrastando-a contra a sua vontade para outro local — possivelmente a mesma região onde estão aprisionadas Tyrant e as outras bruxas. 

    Nesse momento, quase em simultâneo, outro dos fanáticos altera o seu tom de voz para ameaçar o comerciante que está sentado e tenta implorar por seu perdão miseravelmente.

    Ao observar aquela cena ridícula em silêncio, o punho da mão de Kazuki se fecha com força, força o suficiente para quase sair sangue. O homem-fera até tenta avançar e impedir o que está acontecendo, mas logo é interrompido por Rei, que não esperava esse tipo de atitude do seu companheiro, que sempre agia com cautela e calma na maiorias das vezes. 

    — Não, não aqui — intervém ele, com a mão na barriga de Kazuki. — Tem muita gente por perto, se formos agora só iremos atrair mais atenção. Vamos esperar um pouco, acabamos de chegar e não sabemos da situação direito — sussurra baixinho. 

    Escutar o comentário de Rei faz o homem-fera apenas concordar com esse plano, mesmo que tivesse que reprimir seus sentimentos lotados de certa hesitação e inquietação em seu coração. 

    “Parece que aquela moça não estava exagerando quando nos contou tudo que estava acontecendo por aqui. Esses fanáticos então deduzem se a pessoa é uma bruxa por puro achismo? Que lixos humanos.” 

    “O mais impressionante disso tudo é que ninguém fez nada, por isso tive que impedir o Kazuki. Ele deve estar com muita raiva por isso, mas não era algo que podíamos interferir, ao menos, não agora.”

    — Ei, cara! Você viu isso o que acabou de acontecer agora, né? Precisamos encontrar algumas informações primeiro e depois bolar um plano. 

    — Por que você me impediu, Rei? — pergunta, com o timbre de voz nervoso.

    — O que você acha? Tudo bem se esses caras fossem apenas alguns ladrões ou bandidos, mas aqueles fanáticos estão no vilarejo inteiro! Se você atacasse um deles, todos iriam vir pra cima da gente.

    — Você aguentaria lutar contra uns trinta ou quarenta ao mesmo tempo? Pela sua expressão, parece que não! Sei que sou explosivo e tals, mas vamos pensar com calma agora. Estou realmente puto pelo que aconteceu, mas agir sem pensar não vai nos ajudar. 

    Com a explicação do garoto, Kazuki percebe como havia sido impulsivo. E, antes de responder alguma coisa, a expressão em seu rosto relaxa e ele tira a mão de Rei que está em sua barriga, pegando-a com as mãos. 

    — Você tem razão, peço desculpas por isso meu amigo. Não imaginei que eu fosse agir dessa forma… — Abaixa as orelhas, acariciando a mão do menor em um ato genuíno. 

    Receber aquele pedido de desculpas faz o estudante abaixar a cabeça, para esconder o vermelho em seu rosto, após notar a expressão transbordando de emoção que o homem-fera faz. 

    — Eu, é…  é-é sim. Está tudo bem, não precisa se preocupar com i-isso — comenta ao puxar a mão rapidamente, olhando para outro lado. 

    — Só fica perto de mim, beleza? Vamos coletar algumas informações antes. 

    Dito isso, o estudante caminha imediatamente para outro canto sem olhar para frente, incapaz de desacelerar os batimentos rápidos do coração. 

    Continua… 


     

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