Capítulo 148 - Escravidão, nananão. X
❖ ❖ ❖
Após ouvir a explicação do elfo, o garoto olhou para ele ainda de costas, então perguntou em seguida:
— Eles estão pensando em exterminar todos os demônios da estrada até a capital?
Pouco depois de ouvir tal indagação, Círdan aproximou-se da mesa e depois colocou três xícaras em cima.
— Certamente, eles estavam determinados em fazer isso. Decidiram até mesmo ajudar o máximo de refugiados, pedindo que seguissem na parte traseira da estrada à medida que subjugam os demônios e monstros até chegarem à capital.
Dito isso, ele encheu as xícaras com o chá e sentou-se em seu assento novamente, prosseguindo com a sua linha de pensamento.
— Eu realmente não sei as intenções por trás desse gesto, mas não acredito que estejam fazendo isso meramente por empatia — complementou, ao colocar a boca em sua xícara e tomar um pouco do chá. Sua expressão, que antes era desconcertante, relaxou ao sentir o sabor doce e sutil do líquido.
Por outro lado, Terqueo, que prestava atenção em todas as palavras do amigo, interveio na discussão, deixando o seu ponto de vista.
— Isso é um fato, Círdan! Os humanos nunca viriam aqui com o propósito de apenas ajudar, eles querem tirar vantagem dos homem-fera, principalmente dos seus recursos naturais! — declarou o homem com barba curta, sendo possível observar uma expressão de impaciência e confusão em seu rosto.
— Seus recursos naturais? — indagou Rei.
— Sim! Talvez você não saiba, mas grande parte da matéria prima que os humanos utilizam é do território dos homem-fera.
Após tais palavras, o homem continuou e começou a explicar toda a situação do reino de uma maneira bem resumida.
— Através da comercialização e acordos entre as duas raças, ambos conseguem benefícios como via de troca mútua, como um tipo de contrato.
— Entretanto, com a atual situação, acredito que os humanos pediram mais recursos por um preço abaixo do estipulado, podendo até mesmo exigir o controle de uma zona ou região, afinal, não seria algo estranho de se acontecer, devido ao tamanho das tropas que eles disponibilizaram — acrescentou, dando fim ao assunto.
Com a breve aula, o garoto conseguiu compreender um pouco a situação política entre os dois reinos, — era bem fácil, para falar a verdade.
“Humm, a relação entre os humanos e os homem-fera é como um contrato, apenas um contrato comercial mútuo entre dois reinos.”
“Ok, consegui entender mais ou menos a situação. Entretanto, pensando agora, os homem-fera pareciam insatisfeitos quando viram as bandeiras dos humanos na entrada do refúgio.”
“Será que… talvez haja algum ressentimento entre eles?”
Com aquela dúvida, ele colocou o dedo indicador no queixo, então resolveu perguntar diretamente para o homem ao lado.
— Valeu pela explicação, Terqueo. Agora, você pode me responder uma coisa? Os homem-fera, eles tem algum problema com os humanos? Tipo, eu notei que eles não pareciam felizes quando os cavaleiros chegaram no refúgio ontem.
Em resposta, uma voz fria e curta saiu dos lábios daquele elfo.
— Escravidão — comentou Círdan, sem dizer mais do que isso.
Com a única palavra dita pelo elfo, o garoto entendeu do assunto sem grandes dificuldades. Mesmo que o elfo tivesse falado de forma fria e curta, essa frieza parecia estar ligada ao assunto, não à pergunta em si.
“Eu… eu não esperava por isso, quer dizer que os homem-fera foram escravos? Não, se você for realmente pensar, talvez alguns deles ainda possam ser escravos…”
“Droga! Não é como se eu esperasse algo da minha própria raça, mas ao menos pensei que pudessem agir com o mínimo de humanidade possível… Bando de filhos da puta arrogantes.”
“Eu não deveria pensar muito nisso, talvez eu só esteja exagerando. Nem todos os humanos são assim.”
— Ah, sim… — respondeu o garoto, sem saber o que dizer.
— Este assunto, ele é um pouco delicado. Talvez você não saiba, mais foi considerado um crime de sentença máxima, dependendo, o culpado poderia ser sentenciado a pena de morte de acordo com os seus delitos cometidos — explicou Terqueo.
— De qualquer forma, você não deveria pensar nisso, tudo está no passado. Os casos de escravidão são raros, mas a memória do passado ainda permanece nos corações dos homem-fera — complementou por fim, em seguida tomou um gole do chá novamente.
Dito isso, Círdan também declarou em seguida: — Sim, preciso concordar com o que Terqueo disse! Você não deveria pensar profundamente sobre o assunto. Apenas lembre-se que a relação entre as duas raças é como um pequeno fio de seda em constante movimento, podendo-se rasgar a qualquer momento, com o menor toque possível.
“Uau… como eu não iria me preocupar? Com você explicando as coisas dessa forma…”
— Beleza, entendi.
Após a resposta, o garoto então colocou a mão na xícara de chá que Círdan havia preparado, e começou a beber. Um sabor cítrico, aroma adocicado e uma coloração forte, assemelhando-se muito com o sabor do limão e uma mistura de laranja.
— Certo, o que vai fazer agora? — indagou o elfo, voltando suas palavras para o estudante.
— Erh, hein?
— Sobre os cavaleiros, não irá acompanhá-los até a capital?
— Sendo honesto, ainda não sei o que fazer, preciso conversar com o meu companheiro primeiro — respondeu com calma.
Nesse momento, o garoto começou a sentir o seu corpo esquentar — Talvez tenha sido o chá, pensa ele por um momento enquanto usa sua mão para abanar o seu rosto.
Quando Círdan e Terqueo olharam para ele, notaram algo que antes não havia: A sua vestimenta parecia mostrar parte do peito, deixando a pele à mostra.
Sem perceber, o rosto dos dois tornou-se vermelho com aquela visão, e imaginaram como seria o formato dos músculos firmes do garoto sem aquela camisa por cima.
Porém, eles desviaram o olhar no momento em que o estudante terminou de se abanar.
— Bem, se não tiverem mais nada para falar, estou indo. Valeu por me avisar de antemão sobre os cavaleiros e sobre a relação entre os dois reinos — comentou Rei, pouco antes de se levantar e despedir-se de ambos.
— Ah, outra coisa. Caso eu vá realmente para a capital, vou avisar vocês sobre isso — acrescentou por fim, saindo do cômodo e indo até o corredor de mármore.
Continua…
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.