Índice de Capítulo

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    O local era apertado, mas isso não impediu os dois de conseguirem se encaixar no cômodo. Em comparação a altura do estudante, a cabeça de Kazuki parecia quase bater no teto do compartimento. 

    Enquanto o cheiro de morango suave da fragrância de Rei começou a alastrar-se, deixando o homem-fera próximo corado e ligeiramente atordoado, o garoto, por sua vez, colocou uma das mãos na parede, cercando Kazuki. 

    Em seguida, com um olhar agressivo, e o rosto sendo superficialmente iluminado pela tocha no fundo, Rei declarou apressadamente. 

    — Ei, o que você pensa que está fazendo? Cara, você está realmente pensando em ficar preso e atrelado ao passado?!

    Assim que percebeu a seriedade no tom de voz do estudante, o homem-fera soltou um pequeno suspiro antes de começar a contar o que pensava daquela ideia de Rei. 

    — Veja bem, Rei… não é que eu esteja preso ao passado, mas tenho medo das consequências que possam acontecer caso eu seja descoberto, se formos para a capital. 

    — Além do mais, não quero admitir isso, mas me falta força. Não sou forte o suficiente, e tenho medo que algo possa acontecer com a Mia. 

    — Sei que estou sendo patético, não precisa me dizer isso. Depois de anos, eu ainda me lembro de todas as coisas que um dia quis esquecer. 

    No momento em que terminou de falar, uma expressão de desânimo tornou-se visível no rosto de Kazuki, mas ele tentou esconder com um rápido sorriso, para não preocupar o estudante que o ouvia atentamente. 

    Entretanto, após ouvir aquele relato, o garoto franziu a testa e aproximou-se ainda mais de Kazuki. Ele moveu o rosto para frente e agarrou com força o colarinho da camisa do homem. 

    — Está falando sério? Fraco e patético? Você é a única pessoa que pensa dessa forma. Você diz nas consequências de ser descoberto, mas isso é apenas o seu medo e insegurança falando mais alto!

    — Está me zoando… Você não está comigo? Sou forte o suficiente para proteger todos nós, sou seu companheiro, não? Então dependa de mim. Tenho certeza que posso acabar com a cara de qualquer pessoa que aparecer no nosso caminho — acrescentou, com uma voz firme e motivadora, largando o colarinho do homem momentos depois. 

    Escutando aquelas palavras, o coração de Kazuki começou a bater mais rápido. Certamente, aquilo não era algo que ele pensou que ouviria de Rei, mas não era impossível de ser dito pelo garoto. 

    Kazuki então sorriu suavemente enquanto o olhava com compaixão, em seguida com um tom de voz tranquilo, declarou com certa vergonha:

    — E-está tudo bem… Você não precisa fazer isso por mim, não quero sobrecarregar você com os meus problemas. Estou feliz com a sua companhia — respondeu com calma, mas, sem dar-se conta que a tensão fluia cada vez mais em seu corpo.

    Com um sorriso de escanteio, o garoto respondeu com palavras afiadas, sem querer perder o diálogo. Seu único objetivo era persuadir Kazuki, mudando seu ponto de vista, de modo a desvencilhar-se do passado.

    — Relaxa! É só confiar em mim, não me importo com os seus problemas, eles não vão me sobrecarregar. Você precisa ser forte. Voltar para a capital não significa que você vai ser descoberto, e mesmo que em alguma hipótese você seja, eu vou estar lá para te defender — admitiu Rei, tentando persuadi-lo com persistência. 

    Notando o semblante confiante de Rei, Kazuki soltou um pequeno suspiro: Parecia impossível argumentar com o garoto, então ele decidiu aceitar o plano, assentindo com a cabeça em concordância. 

    — Certo, certo. Vou confiar em você dessa vez, mas eu preciso te corrigir em algo. Eu posso me defender sozinho também, sou um espadachim do reino, um dos melhores. Mesmo que você seja forte, não pode fazer tudo sozinho.

    — Eu ainda não estou confiante, tenho medo do que possa acontecer quando estivermos na capital. Mas não seja arrogante. Sei que você é forte, mas não superestime a força do seu adversário — avisou Kazuki, com a voz ainda envergonhada. 

    Olhando para ele, Rei percebeu que Kazuki parecia querer falar algo a mais, mas se continha em apenas algumas palavras. 

    “Ele realmente deve estar incomodado, a capital deve ser como um trauma. Eu consigo entendê-lo de certa forma, mas enfrentar esse medo é a melhor opção. Você não pode deixar isso de lado para sempre.”

    “Ir para a capital também significa progredir nos meus objetivos, e é provável que lá eu encontre alguém para me ensinar magia, ao menos os princípios básicos. Fora que é um local perfeito para conseguir entender mais sobre tudo.”

    Quando terminou com os pensamentos, o garoto percebeu então que o rosto de Kazuki estava vermelho e ele estava com o olhar voltado para o outro lado. Até aquele momento, Rei não havia percebido aquilo. Estava tão focado com a ideia de persuadir Kazuki, que não notou as circunstâncias. 

    “Bem, isso não é tão ruim. ” 

    O estudante nem se impediu de comemorar em pensamento, antes de colocar a sua outra mão contra a parede, deixando o homem-fera encurralado. 

    — Agora que você concordou em ir para a capital, por que não fechamos o acordo com um beijo, como uma promessa? — provocou Rei, levado pelo momento. 

    Em resposta, o homem-fera começou a gaguejar e a vergonha estampada no seu rosto tornou-se cada vez mais evidente, o que fez o garoto saborear aquela expressão de nervosismo. 

    — Ergh… C-Como uma p-promessa? — perguntou Kazuki, sem nem ao menos conseguir formar a frase direito. 

    Ele então se aproximou dos ouvidos do homem-fera, e sussurrou baixinho, com o tom de voz morno e provocativo: — Sim, não foi você que disse que conseguia se defender sozinho? Então, façamos o seguinte: Você só precisa se defender, sem conseguir um único machucado em batalha. 

    — O quê? Eu não posso me ferir?

    — Nem sequer um único arranhão — respondeu o garoto. 

    — Ehh? Bom, eu… eu vou fazer isso — comentou Kazuki, aceitando a oferta imediatamente. 

    Apesar da vergonha, Kazuki não conseguia esconder o fato de que havia gostado dos termos da promessa. Ele era uma pessoa forte, o máximo que teria que fazer era prestar atenção no confronto: Não seria difícil não se machucar, a questão era a concentração que teria que ter.

    E foi nesse momento, com um silêncio constrangedor que o garoto inclinou-se um pouco para trás, perto da nuca de Kazuki. 

    Continua… 

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