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    — Hum… Ah! — Estalei os dedos, enquanto dava um sorriso imbuído de nervosismo. — Eles queriam me assaltar! Sim, era isso!

    Ele ficou me reparando com um olhar desconfiado, mas logo, começou a rir enquanto batia no meu ombro direito com um bash-bash.

    — Não é que faz sentido?!

    — Não é?

    — Para eles querem te assaltar significa que a guilda de aventureiros não está pagando muito bem — disse Sr. Alexodoro, vagueando seus olhos por aqueles homens jogados contra aquele piso de madeira empoeirado.

    — Não é como se aquela guilda fosse durar muito tempo — disse Zernen. — Eles estão muito endividados para trocar gemas por moedas.

    “Agora tudo faz sentido. O mau pagamento do guarda… Ele deve estar muito desesperado.” Balancei a cabeça afirmativamente depois de chegar a esse entendimento genuíno.

    — Mas eles não têm o negócio do restaurante?

    — Ah, esse negócio? Tá muito fraco! As comidas já não tem a mesma qualidade que antes, desde que Lisha se foi.

    — Oh…

    — A comida dela era uma iguaria — acrescentou Sr. Alexodoro com um semblante nostálgico.

    Isso me lembrou da comida da minha mãe. Pensar que jamais voltarei a vê-la, me deixou um pouco triste, mas ela iria ficar bem. Uma boca a menos, menos despesas, menos trabalho, menos gritaria… Ah, acho que vou chorar.

    — Você está bem? — questionou Zernen.

    — Estou sim. — Limpei com indicador, algumas lágrimas, que haviam se formado ao redor dos olhos. — São problemas familiares apenas.

    — Nem me fale! — Zernen sorriu, lançando ambas mãos para trás da nuca. — Um dia desses, quando eu fui visitar os meus irmãos, a gente entrou numa pancadaria que fez nós todos ficamos internados!

    — Ah, entendo. — Soltei um sorriso torto.

    “Como esse moleque consegue falar disso tão naturalmente?”

    — Não fale com tanto orgulho, seu tolo! — Senhor Alexodoro bateu na cabeça do seu neto e ele gemeu de dor. — Sabe quanto custou a vossa recuperação, hein? A gente por pouco ia à falência!

    Sr. Alexodoro me lembrou demais o meu pai comigo. Passei as minhas preciosas duas horas ouvindo o sermão dele. Deu uma certa nostalgia ver aquilo.

    Olhei para janela que se encontrava rente a porta, constatando o céu num tom laranja. O entardecer havia começado e o meu tão aguardado encontro com o Faisal havia chegado.

    Nessa noite, eu diria adeus a pobreza e bom dia a uma vida de rico na minha própria mansão, assim como eu merecia. Se bem que isso só duraria dois meses, porque eu é que não vou querer ficar aqui quando a invasão chegar.

    Usaria a renda mensal que o Faisal me desse para comprar uma carruagem, mantimentos que durem dias, armas e poções mágicas.

    “Sabiá decisão, Jarves! É assim como se pensa!”

    Balancei a cabeça positivamente com um sorriso. No entanto, havia algo que ainda me incomodava… A personalidade do Faisal. No livro, ele não era alguém que deixava algo barato. Além disso, ele tentou me silenciar. Com toda certeza, essa noite ele tentaria algo. Terei que assegurar a minha vida antes de tudo e selar de uma vez o nosso acordo.

    E eu acabei de ter uma ideia agora mesmo.

    — Zernen… — chamei, atraindo seus olhos, aproveitando que o senhor Alexodoro estava amarrando o corpo daqueles capangas do Faisal.

    — Hã?

    — Você poderia me acompanhar a mansão dos Stein?

    — O que vai fazer lá?

    — Negócios.

    — Opa! Se tem dinheiro, estou dentro!

    — Ah… — suspirei. Não me lembrava dele ter sido tão ganancioso assim na série. — Não espere muito dinheiro.

    — De quanto falamos?

    “Você quer saber demais, moleque!”

    — Se não quiser, esquece. — Dei-lhe as costas, começando a caminhar em direção a porta. — Eu e minhas moedinhas de ouro ficaremos bem.

    — Espera aí, amigo. — Ele agarrou o meu ombro direito. — Não precisa falar mais nada, eu vou!

    “E é assim que se lida com gananciosos.”

    Dei um sorriso triunfante, mas depois o desfez, quando vi que o senhor Alexodoro batia as palmas depois de os ter amarrado fortemente.

    — O que vai acontecer com eles?

    — Não se preocupe — respondeu Sr. Alexodoro. — Assim que eu fechar a loja, eu irei levá-los a sua casa.

    — Sua casa?

    — A prisão é claro — Zernen riu. — Hahaha! O vovô tem um senso de humor muito irônico!

    “Não vi muita graça, mas ok. Vamos rir só para não ficar estranho.”

    — Hahahaha!

    — Olha, senhor Alexodoro, eu poderia levar o Zernen comigo?

    — Ah, vão para a mansão Stein?

    — Ah… — Dei um sorriso tenso.

    — Divirtam-se e nada de consumir álcool.

    “Parece até a minha mãe.”

    — Pode deixar, vovô!

    E assim, saíamos da oficina de ferramentas em direção à mansão do Faisal, a minha nova fonte de renda nesse mundo.

    As estrelas começavam a aparecer naquele céu quase noturno, a rua agora estava mais movimentada do que nunca. Zernen disse que eram pessoas que estavam voltando dos seus trabalhos, agora era hora da ponta. Muitas das lojas lucravam mais nesta altura do dia.

    Caminhávamos entre aquele pessoal, passando por muitas pessoas estranhas. Alguns dos figurantes deu para reconhecer seus rostos, e eu apenas conseguia imaginá-los a gritar por socorro enquanto eram perseguidos por monstros. Que traumatizante.

    Umas andanças aqui e acolá, e finalmente havíamos chegado à mansão Stein, embora tivesse sido rápido se tivéssemos pegado uma carruagem. Agora, estava em suores enquanto agarrava os joelhos, suspirando ofegante.

    Em contrapartida, o Zernen estava sem nenhuma gota de suor.

    Realmente, ele era o neto de um aventureiro rank S.

    Era um casarão que lembrava a casa Branca do meu mundo. Nunca imaginei contemplar isso aqui ao vivo e a cores. Show de luzes iluminando os arbustos em formatos diferentes, as estátuas nas fontes que jorravam água, tudo era fascinante!

    Agora os únicos obstáculos eram esses guardas posicionados rente ao portão feito de grades na companhia da muralha feita de grades, que se estendia por aquela rua repleta de casas nobres. Segundo os guardas, eles não nos deixariam entrar por ser tarde demais para visitas. Tentei argumentar que vinha a negócio, mas eles alegavam que o seu senhorio não havia lhes avisado de que havia algum pendente.

    “Maldito, Faisal! Como ele pôde… Será que ele fez isso de propósito?” Cerrei os dentes de indignação.

    “Espera… ” Impus minha mão na testa, numa postura pensativa. “Se bem que, provavelmente ele achou que os seus capangas haviam me aniquilado. ”

    — Vejo que não tem jeito.

    No instante em que Zernen moveu seus punhos, vi aqueles homens caírem de joelhos enquanto seguravam seu abdômen, uma pequena espuma fluindo da boca acompanhando sua queda.

    — V-Você não deveria ter feito isso…

    — O que foi? Eles não queriam nos deixar entrar. Eu só fiz um favor e mandei eles para cama. — Agachou e tirou a chave do bolso de um dos guardas, começando a rir. — Você ouviu? Eu mandei eles para cama!

    “Que piada mais sem graça.”

    — Nós vamos ser presos, idiota!

    — Não se preocupe. — Ele abriu e empurrou o portão. — Nesse reino não há justiça, muitos crimes são encobertos. Principalmente se forem protagonizados pelos nobres!

    — Não use isso como desculpa!

    Ele riu, me deixando cada vez mais nervoso.

    Enfim, já estava feito, já havia acontecido… Não tinha mais jeito, era tudo culpa do Faisal que não informou os seus guardas da nossa vinda.

    Vagamos pelo casarão, nos encontrando com mais guardas que guardavam a mansão. Só que estes foram simpáticos e nos levaram para a sala de visitas — pelo menos era assim que eu queria que fosse.

    Na verdade, tive que pagar uma moeda de ouro para que guardassem o seu silêncio e nos levassem até a sala de visitas.

    Francamente, esse reino estava falido mesmo… Ou seria somente os Stein, porque céus, os cidadãos estavam aderindo à corrupção e ao roubo apenas para conseguir uma moedinha básica. Deprimente, tinha que ter uma conversa com o rei desse reino que, por coincidência, era o tio da Meredith.

    Os guardas nos deixaram numa sala luxuosa, que continha apenas retratos de Faisal em suas diversas aventuras. Enquanto eles fechavam a porta, alegando que iam informar o Faisal da nossa presença, nos dirigimos à luz do lustre, que incendiava o pavimento prateado e as paredes brancas com bordas douradas, a um espaço reservado com dois sofás e uma mesa no centro.

    Agora, sentados, enquanto batiamos os pés e entrelaçavamos as mãos, ficamos

    esperando por longos minutos pela chegada do Faisal, que parecia estar fazendo isso propositalmente.

    “Ah, nobres… Sinceramente.”

    Logo depois, chegou uma serva com o uniforme de empregada, que entrou e fechou a porta. Ela carregava uma bandeja que continha uma garrafa de vinho e duas taças douradas.

    — Sirvam-se, senhores — disse, pousando a bandeja naquela mesinha enquanto eu e o Zernen apreciávamos sua beleza. Suas madeixas negras que caiam sobre os seus ombros, deixavam escapar aquele mesmo cheiro de cereja que senti na loja de roupas.

    — Certo. — Estiquei a mão, pegando a garrafa de vinho enquanto a empregada nos observava com aquele sorriso bonitinho.

    — Desculpa, vovô. Mas é inevitável. — Zernen pegou sua taça e eu derramei o vinho nela, que transbordou por ela.

    “É, eu não tenho jeito para servir mesmo.”

    Em seguida, derramei na minha enquanto o Zernen tomava aquele vinho todo animado da vida. Contudo, de repente, sua expressão mudou para uma de desgosto.

    — O que foi? — questionei, elevando a taça aos lábios.

    — Tem veneno nesse vinho.

    — O que???

    Deixei cair a taça de vinho no mesmo instante. Ela quebrou-se, transformando-se em cacos que deixavam vinho carmesim transbordar enquanto a empregada arregalava os olhos, impondo suas duas mãos contra seus lábios.

    — Faisal jogou sujo dessa vez! Ele ia mesmo me envenenar? — Soltei minha indignação, lançando meus olhos para a empregada que gaguejava, recuando com um semblante estupefato.

    — C-como…

    Bem que a minha mamãe vivia dizendo para mim, que as aparências traziam consigo enganos.

    — Eu sou resistente ao veneno. — Zernen continuou tomando o vinho na maior paz. — Uma coisa dessas não pode me matar.

    — Eu exijo falar com o Faisal! Agora!

    Franzi o cenho.

    — Já que isso não resultou, não tenho escolha! — De repente, aqueles olhos azuis viraram olhos violetas. E eu senti a minha cabeça ficar tonta, minha visão dobrando em duas delas, como se estivesse perdendo a consciência.

    — Hipnose?

    — C-como você… — Duas delas estavam boquiabertas com o que Zernen havia dito.

    — Muito fraca! — Ele esticou sua mão para frente. Uma força invisível socou a barriga da empregada, que foi arremessada contra a parede lateral perto da porta. — Tente outra vez! — Ele riu em seguida, observando a empregada desacordada, com a cabeça encurvada e as mãos à deriva. — Ops!

    Aos poucos, a minha lucidez voltava.

    “Eu sabia que esse garoto era forte, mas vendo de perto… Não consigo nem acreditar.”

    Eu sabia, eu fiz a melhor escolha em levá-lo como escolta.

    — Ainda bem que você veio comigo, Zernen!

    — Se não você estaria em maus lençóis, não é? — Ele sorriu, esticando o seu braço para porta que, logo em seguida, caiu perante aquela força invisível.

    E adivinha quem estava por trás da porta? O Faisal.

    Ele havia caído junto com a porta, mas logo levantou-se enquanto coçava a sua cabeça.

    — Eu já sabia que você era covarde, mas você realmente superou as minhas expectativas, Faisal.

    — Maldito! C-como sobreviveu as minhas tentativas de assassinatos? Enviei capangas, enviei uma das minhas melhores servas com poderes de hipnose e mestra em venenos e mesmo assim… Você segue se mantendo vivo!

    Ele rangia os dentes e franzia os punhos, suspirando ofegante como um touro indignado com sua presa.

    “Hum, isso tá parecendo a clássica cena do vilão clichê.”

    “Gostei!”

    — Zernen, você pode acabar com ele?

    — Tem certeza? — ele perguntou e eu balancei a cabeça positivamente. — Ah, lá se vai a minha fonte de renda.

    “Minha, você quis dizer.”

    — Maldito! Acha mesmo que pode acabar com um nobre tão poderoso quanto eu?!

    Uma bola de fogo surgiu em uma de suas mãos.

    — Hum, vamos ver o quanto você vale…

    Faisal arremessou a bola de fogo, mas ela foi imediatamente apagada pelo ataque de força invisível usado pelo Zernen.

    — O-O que?

    — Agora chegou a minha vez… — Assim que Zernen disse isso enquanto planejava movimentar seu punho, uma voz ressoou atrás do Faisal, que voltou seus arregalados para a mulher ataviada de um vestido azul escuro de renda bem a sua frente.

    — Posso saber o que está acontecendo aqui?

    Faisal retrocedeu alguns passos enquanto tremia as mãos ao contemplar minha heroína. Sério, isso estava ficando mais interessante do que a história original. Meredith não havia encontrado a melhor hora para aparecer.

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