Capítulo 85: Meu tesouro roubado
Região do Bosque
— Como assim, você não sabe cantar? Você não é um usuário de magia de canto?
Era o que Theresa estava tentando compreender naquela situação delicada em que se encontravam, diante daqueles animais nada inofensivos, que obedeciam à melodia tocada pela flauta daquela mulher assentada no trono de raízes.
Senhora da música deu uma leve risada, enquanto encostava um dos punhos nos seus lábios, seu rosto ainda alumiado pelo verde dos pirilampos.
— Vejo que estão em maus lençóis.
— Eh, como vê… — Theresa deu uma leve risada nervosa e levantou seu dedo indicador. — Será que não podemos resolver isso de outra forma, né?
— Não.
— Não, né? Eh… — Theresa ficava cada vez mais tensa, lançando seus olhos ao Sond, que por algum motivo havia ficado depressivo na hora errada, encurvando sua cabeça. Então voltou seus olhos suplicantes àquela mulher, enquanto entrelaçava as mãos em oração.
— Será que você poderia ao menos nos dar um tempo para pensarmos como poderemos resolver isso?
— Estão pretendendo fugir?
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— Não… — Theresa balançou a cabeça negativamente e pensou consigo: “Sim”
— Tudo bem.
Aquela resposta acendeu a chama da esperança no coração de Theresa.
— Muito obrigada, vossa majestade da música!
Ela agradeceu com tamanha bajulação para que seu humor não azedasse, porém…
— Dez segundos.
— Dez?!
— Isso.
— Mas por que dez?
Como resposta, senhora da música levantou seus dez dedos das mãos.
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— Sigo a lei da natureza.
— Tá, então… — Theresa apontou para os pés dela, enquanto dava um sorriso triunfante. — Vinte?
— Muito esperta. Mas bem, não vai fazer nenhuma diferença…
Enquanto falava, Theresa começou a correr ao lado do seu companheiro, deixando a senhora da música de boca aberta, mas logo depois um sorriso manhoso formou-se em seus lábios.
— Saiu antes que eu começasse a contar para ganhar tempo, isso vai ser interessante… Dez…
Aconteceu o que Theresa não havia previsto, de que assim que saísse, ela começaria contando a partir de dez, tomando em conta o tempo em que ela havia começado a sair. Assim que finalizou, ordenou que os animais fossem atrás deles e Theresa ainda nem havia se distanciado tanto daquela árvore, estava a alguns metros.
— O quê? Mas, pelos meus cálculos, ela deveria estar no dez!
Sua conta mental falhou no momento em que senhora da música usou seus próprios critérios para contar.
Avistando o enxame, os pirilampos e entre muitos outros animais, Theresa e Sond apressaram ainda mais os seus passos, mas à medida que se afastavam, mais animais como ursos apareciam para atacá-los. Eles tiveram que desviar caminhos até encontrar um buraco entre ramos, que dava acesso a um labirinto cheio de água, parecendo mais um esgoto, só que, diferentemente do normal, o cheiro não era tão nauseabundo assim.
No momento em que eles escolheram atravessar para fugir dos animais, escorregaram na superfície íngreme e lamacenta e caíram naquelas águas escuras, tal como o espaço.
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No entanto… O maior dos problemas apenas estava começando, a água começou a apresentar ondulações rítmicas, que causavam agitação.
— Essa não…
Os pirilampos, que haviam conseguido adentrar, iluminaram a criatura que se levantou nas águas. Era um monstro bípede, com a fisionomia de um crocodilo e o resto de corpo era semelhante ao dos ursos pardos, que corriam atrás deles, com adição de escamas nas costas e grandes garras que poderiam rasgar qualquer um em instantes.
— E agora?
Quando lançou seus olhos para cima, onde estava sua fuga, avistou a cabeça de ursos rugindo de lado de fora e abelhas que giravam ao redor, aguardando o momento certo para entrar.
— Sond… — Com os olhos arregalados, Theresa apertava seu braço fortemente na farda dele. — Nunca te pedi nada na vida, mas por favor canta.
— Eu não sei cantar…
— Por favor, solta qualquer coisa. Pode ser ruim, mas solta. Se não… A gente vai ter que desistir… — Theresa emitiu a última parte com desânimo. Não estava pronta para deixar essa luta ainda e agora, a decisão dependia puramente do Sond, que até então permanecia em silêncio.
— Por que você não sabe cantar?
“ É mesmo… Por que eu não sei cantar?”
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Com esses pensamentos, Sond mergulhou de cabeça na sua mente, guiando-se as suas lembranças.
Há anos
O sol da manhã chegou atravessando a janela do quarto de uma criança, que dormia com aconchego, envolvida por um cobertor de lã, enquanto tinha o dedo polegar contra os lábios. Sua mãe, que estava do seu lado, afagava seus longos cabelos negros enquanto cantava uma música de ninar contra os ouvidos do menino.
— Meu tesouro… — Era a palavra mais repetida da sua canção. O menino, que tinha por nome Sond, acordou e bocejou, logo abraçando sua mãe, que lhe depositou um beijo na testa.
— Mamãe…
— Bom dia, meu tesouro. E também feliz aniversário.
Sond acabara de completar seus cinco anos, e assim como sua mãe lhe cantava, ele também cantava, acompanhando a voz da sua mãe.
Assim que saíram da cama, Sond ajudou sua mãe na limpeza, polindo os utensílios, enquanto sua mãe passava a vassoura na casa. Depois disso, de um trabalho bem feito, a mãe pôs-se a cozinhar uma sopa de ervilha com os ingredientes de uma horta que ela havia feito no seu pequeno terreno, uma casa que ficava no campo assim como muitas outras.
Agora na mesa posta, com ambos assentados, dois pratos de sopas quentinhos, que deixam seu vapor fluir pelo ar, mãe e filho trocaram olhares logo após agradecer pela refeição.
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— Hoje é um dia especial para você, meu filho, sabe por quê? — indagou com um sorriso genuíno, agora ataviada de um vestido azul da noite com um decote em forma de V, amarrado por cadarços, e por fim, um cinto fino com desenhos floridos a dourado que cercava a cintura.
— Hum…
Com uma túnica rubro elegante que trazia consigo um laço negro na cintura, enquanto segurava sua colheira, a criança assentiu com a cabeça.
— Hoje é o meu aniversário, não é? Hoje tem bolo, não é?
A animosidade não era para menos, afinal, Sond só tinha o privilégio de comer bolo nas datas de seu aniversário quando sua mãe reunia dinheiro suficiente para encomendá-lo.
— Por isso também.
— Hum? Tem mais? — Ele moveu a cabeça ligeiramente, analisando curiosamente o semblante da mãe.
— Hoje é o dia em que vamos saber qual é a sua magia!
Sim, a magia tinha idade para se manifestar no corpo de um ser humano e quem passasse dessa idade sem manifestar sua magia podia já começar a perder sua esperança, porque esse era o padrão de idade identificado pelos especialistas, que raramente falhava.
Como muitas das magias eram de dificilmente identificadas ou de difícil usabilidade, os especialistas haviam construído um artefato detector de magia para indivíduos que queriam saber de suas magias e, como o miúdo Sond não havia mostrado sinais de sua magia, ele precisava ser submetido a esse exame.
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Era também uma maneira de identificar magias que pudessem ser perigosas para os próprios usuários e tratá-las. Essa máquina já havia salvado vidas por conta disso, por isso mesmo quem despertava magia ia para confirmar, porque também podia se dar o caso de ter uma segunda magia não identificada.
Após comer, quando se preparavam para sair à cidade vizinha, que ficava há algumas horas, um homem encapuzado derrubou a porta, como se fosse um lobo em busca de sua presa. Tanto o miúdo e a mulher ficaram espantados, mas quando o homem desceu o capuz púrpuro, a mulher pareceu reconhecê-lo, ficando boquiaberta.
— Você…
Era o seu primeiro amor. Aquele que a havia engravidado e não havia assumido a criança.
— O que você está fazendo aqui?
— Vim reclamar o meu filho!
— Como assim reclamar seu filho? Ficou louco, homem? — A mulher abraçou seu filho. A criança, na sua inocência, deu um pequeno sorriso caloroso, emitindo: — Pai? Aquele é o meu pai?
— Não, seu pai está morto.
— O quê?! Como ousa dizer isso na minha frente, desgraçada?!
O homem cerrou as sobrancelhas, franzindo os punhos.
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— Não me venha com essa… — Lágrimas acumularam-se ao redor dos seus olhos. — Eu cuidei dessa criança sozinha esse tempo todo e agora, justo quando ele vai despertar magia, é que você aparece.
— E o que tem? Essa é a minha semente!
— Por que decidiu vir logo agora? Você tem interesses maliciosos, não é? Como quando, na minha inocência, me seduziu e roubou de mim minha castidade, fazendo com que eu fosse expulsa de casa dos meus pais, não é?!
— Eu posso dar a ele uma vida melhor, não essa… — Seus olhos vagaram por aquela casa, cujas madeiras caiam aos pedaços, algumas delas pela qualidade e outras devastadas por cupim. — Essa coisa deplorável…
— De qualquer forma, é meu. Consegui com tanto esforço, pelo labor das minhas mãos.
— Que labor que quê? Dependendo da magia que esse miúdo tiver, podemos nos tornar ricos, mulher!
— Então era isso… — A mulher franziu seus lábios e semicerrou os olhos, agarrando aquela criança com a mente confusa, tentando processar o que se passava ali. — Pois, não! Meu filho não é objeto de lucro. Trouxe essa criança ao mundo para que recebesse meu amor e não para que ela sirva ao interesse de ninguém.
— Meu filho, minhas regras… — O homem estalou os dedos três vezes, fazendo os braços da mulher se desfazerem, largando obrigatoriamente a criança. Seus olhos arregalaram enquanto via seu bebê cair, mas foi amparado pelas mãos ásperas daquele indivíduo.
Essa era a sua magia, quando estalava os dedos, conseguia controlar somente os braços de quem escutava o som. Ele deu um sorriso malicioso enquanto lhe dava costas, acenando a mão em despedida, levando a criança chorona contra a vontade da mãe.
— Vê se cala…
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— Eu… Não vou permitir. — Retomando o controle dos seus braços, a mulher abriu sua boca, lançando um grito sônico, que derrubou o marido junto da criança, que chorou ainda mais. O som estridente e a queda haviam o afetado.
— Maldita… — O homem estalou os dedos novamente, fazendo a mulher encher sua cara de tapas enquanto ele se levantava. Estalando outros dedos, fez com que ela se desse um soco, caindo contra alguns vasos de água, que despejaram o líquido,
encharcando suas vestes. — Não mexe comigo.
— Mamãe… Mamãe… — A criança murmurou com lágrimas, vendo sua mãe estatelada. Tentou acudi-la, mas foi imediatamente carregada por aquele homem que saiu dali apressadamente, ignorando os gritos misturados com choro daquela mulher que esticava seu braço ao limite, clamando: “Não leva o meu filho!”
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