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Protótipo de capa Volume 1 – Ironia Divina
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Capítulo 40 - Treinamento
*Essa é uma prévia da reescrita! Ainda está crua, sem o polimento final, mas logo ganha forma. Se notar algo fora do lugar, toda ajuda é bem-vinda!
Uma luz branca invadiu sua visão como um hóspede inconveniente: sem bater, sem pedir licença, e decidido a incomodar. Não era forte o bastante para impedi-la de reagir, mas seu brilho era irritante no grau certo — o tipo de coisa que faria alguém menos paciente lançar um xingamento para o céu. Ana apenas estreitou os olhos.
“Preciso me acostumar a lutar contra manipuladores”, pensou, transferindo o foco para os ouvidos. O som veio rápido: o ar sendo rasgado em direção ao seu peito. Um ataque frontal. Mal calculado.
Seu pé esquerdo deslizou para trás, num movimento discreto e milimétrico, o bastante para sair da linha da lança. A ponta passou por ela com uma margem estreita, justo onde seu coração estaria — caso estivesse parada. O outro pé respondeu na sequência com um chute seco no cabo da arma, desviando-a para o lado de forma brusca. Antes que o agressor pudesse se recuperar, Ana atingiu sua espada — vulgo vareta de madeira na parte de trás das pernas dele. Um baque surdo e um palavrão abafado depois, Alex cambaleava como quem reconsiderava escolhas de vida.
— Ai! Você não precisa ser tão violenta! — reclamou, massageando as panturrilhas com mais indignação do que dor real.
Ana não respondeu de imediato. Observou a postura dele com a mesma expressão que usaria para avaliar uma estante torta. Em silêncio, andou dois passos ao redor, girou o graveto entre os dedos, e então falou com a calma dos irritados contidos.
— Mantenha os pés alinhados. Joelhos levemente dobrados. Já falei isso… o quê, umas cinco vezes? — O graveto tocou um dos joelhos de Alex, depois o outro, com um estalo seco, mas sem força real. — Centro de gravidade baixo. Senão, você vai cair no primeiro empurrão.
Outro estalo. Agora nos antebraços.
— Braços firmes. Segura como se sua vida dependesse disso, porque… bem, depende. Seus ataques precisam de precisão, não só força. Senão é só alguém grande balançando um pedaço de ferro.
— Mas que merd… — começou Alex, recuando por reflexo. Ainda assim, havia algo nos olhos dele — um brilho de entendimento, talvez. Mesmo reclamando, ele realinhou a postura, ajustando o centro do corpo, e percebeu de imediato a diferença. Menos instável. Mais presente.
Enquanto isso, do outro lado do campo improvisado, duas flechas foram disparadas quase em sequência, ambas visando suas pernas, rápidas o suficiente para surpreender quem estivesse distraído. Ana já girava o tronco para reagir quando um redemoinho suave e repentino alterou a trajetória das flechas, fazendo-as dançarem como serpentes.
Ela arqueou uma sobrancelha.
“Isso é realmente interessante.”
Não hesitou. O graveto em sua mão foi lançado como uma extensão do pensamento, voando em linha reta até acertar Marina bem no centro da testa.
A garota, que até então murmurava algum tipo de cantiga de concentração improvisada, foi ao chão com uma dignidade mínima. Não houve grito, nem reclamação. Apenas um suspiro resignado, como quem já esperava que algo assim acontecesse.
As flechas, agora órfãs da manipulação de mana, perderam o rumo e caíram na grama com a suavidade de promessas não cumpridas.
Ana mal teve tempo de recuperar o fôlego antes que outra ameaça surgisse entre os arbustos — Júlia já havia soltado o arco, optando agora por algo entre ataque furtivo e declaração de guerra.
A garota avançava com seu martelo grande demais para a situação, os músculos tensionados num misto de força e teimosia. O som do mato se abrindo anunciava sua chegada, e mesmo assim ela tentava surpreender.
Ana acompanhou o movimento com o olhar, calculando a distância, o peso da arma, a tensão nos ombros da oponente. Júlia ainda não tinha entendido que um martelo exigia mais do que raiva. Exigia sincronização. E controle.
Quando o golpe desceu, Ana já estava à frente dele. Segurou o cabo da arma com uma mão, na altura do centro, e parou o ataque no ar como se travasse uma engrenagem mal lubrificada.
O impacto não se espalhou. Ficou ali, suspenso, prisioneiro entre força e técnica. A garota ruiva arregalou os olhos, surpresa pela facilidade com que foi neutralizada. Ana apenas encarou de volta, sem sarcasmo, mas com algo que se aproximava de paciência pedagógica.
— Um martelo não é um argumento — disse, calma. — É uma sentença. Mas pra isso, precisa acertar.
— Muito ameaçador. Mas e agora, o que você faz?
— É… eu… fujo? — arriscou Júlia, afrouxando o aperto na arma com a hesitação visível de quem sabia que qualquer resposta estava errada.
— Não. Você morre. — A frase veio seca, acompanhada por um suspiro de tédio bem medido. Num giro de pés quase preguiçoso, Ana quebrou o equilíbrio da ex -caçadora ruiva. Júlia foi ao chão com a graciosidade de um saco de farinha, o corpo batendo contra a grama com um som opaco. O martelo caiu a centímetros da sua cabeça, o suficiente para que seus olhos se arregalassem de forma sutilmente amedrontada.
Ana sentou-se ao lado dela, cruzando as pernas como quem tira uma pausa para avaliar os escombros. Ao redor, os outros membros do grupo pareciam versões humanas de pontos de exclamação: exaustos, espalhados, e um pouco humilhados.
Felipe observava de longe. Ainda em recuperação, não participara do treino, o que era sensato — seus movimentos ainda tinham a fluidez de alguém que aprendia a andar com um novo corpo, ou com ausência de parte dele. Mesmo assim, sua atenção era constante, olhos seguindo cada erro com frieza, tomando notas mentais para corrigir depois.
— O trabalho em equipe não tá ruim — Ana comentou, puxando uma folha de grama e girando-a entre os dedos, distraída. — Mas vocês são lentos. E não falo só da velocidade. Faltam leitura e ritmo. É como ouvir música sem saber a letra — vocês batem no tempo errado e fingem que foi de propósito.
— Você é injusta! Uma rainha criticando aventureiros rank F… — Júlia resmungou, ainda no chão, como se aquilo lhe desse vantagem argumentativa.
Ana virou o rosto em sua direção, um sorriso ligeiramente torto se formando.
— Você não acha vergonhoso usar essa desculpa depois de perder pra alguém que nem tem mana? — A provocação veio com o peso de uma verdade inconveniente. Ela sabia que estava pegando pesado, mas às vezes, orgulho ferido era o solo fértil onde nasciam os melhores guerreiros. E, claro, também era divertido.
— Isso… tá… — Júlia começou, mas deixou a frase morrer ali mesmo. Não havia muito o que responder.
Ana se levantou sem pressa, pegando de volta sua fiel vareta, que já parecia mais uma extensão da própria vontade do que um objeto comum. Passou os olhos pelo grupo. Todos ainda respiravam, o que era um bom começo. Os olhares, no entanto, tinham aquele brilho trêmulo de quem tentava decidir se o que sentia era frustração ou determinação.
Com passos firmes, ela caminhou até a frente deles, firmando a base e elevando o bastão com precisão. Um golpe. Depois outro. A sequência que seguiu não era apenas técnica — havia clareza nos gestos. A madeira cortava o ar com um som sutil e afiado, e os pés se deslocavam com uma leveza disciplinada. Nada era exagerado. Tudo era exato.
— Cada movimento deve contar uma história — explicou. A voz era baixa, mas cada sílaba parecia cair em terreno fértil. — Uma história de intenção, de decisão. Não se trata de golpear porque pode. Mas de golpear porque é necessário. Mostrem ao mundo que vocês vieram para vencer, não para sobreviver por acidente.
Todos se arrumaram. Sem alarde.
— Com mana e treino suficiente, é só uma questão de tempo até me superarem — Ana deu de ombros, voltando à posição inicial. — E francamente, espero que façam isso. Mas por enquanto, acabou o descanso. Vamos de novo.
A luz do sol atravessava o jardim com uma paciência que só o fim da tarde conhece. Era um calor discreto, o tipo que aquece a pele sem exigir suor. O vento, que soprava com moderação, levantava folhas secas e poeira em pequenos redemoinhos preguiçosos, como se o próprio cenário estivesse interessado em assistir o treino.
Júlia, ainda com a testa suada e o orgulho levemente machucado, observou Ana. Pela primeira vez desde que haviam começado, ela não pensava em reclamar. O jeito como Ana falava, como se movia… aquilo não era apenas pose. Ela realmente acreditava que todos ali podiam evoluir. Que aquele grupo desajeitado podia, com tempo e esforço, se tornar algo maior.
Por mais improvável que parecesse, algo tinha mudado. Havia ali o início de alguma coisa. Um senso de possibilidade. Um contorno ainda indefinido do que, com sorte e teimosia, talvez virasse lenda.
E dessa vez, não como figurantes.
— Alex, dessa vez eu vou te atacar. Firme os pés.
A frase soou como uma proposta informal, mas o tom não abria espaço para negociação. Ana empurrou a lança em sua direção, e o grandalhão a agarrou com a atenção de quem sabia, por experiência recente, que qualquer deslize seria devidamente punido com mais dor do que antes e, muito provavelmente, um comentário sarcástico.
Seus músculos se contraíram no instante em que fixou os pés no chão, obedecendo à postura corrigida na rodada anterior. Ainda mantinha um leve receio no olhar, mas havia determinação ali — ou teimosia. Com Alex, às vezes era difícil separar uma coisa da outra.
— Júlia — chamou Ana, com um breve movimento de cabeça. — Só observa, por enquanto. Vou usar seu martelo. Quero que absorva cada detalhe. Você será a próxima.
A jovem ruiva franziu o cenho, mas não contestou. O martelo, até então ancorado ao seu lado como uma extensão da própria identidade, foi passado para as mãos de sua chefe. E ali, ela viu algo estranho.
A forma como Ana ergueu a arma — um gesto limpo, fluido, sem esforço aparente — não combinava com o peso bruto do objeto. A leveza do movimento não vinha de força física, mas de um entendimento técnico, quase íntimo.
Um arrepio não declarado subiu pelas suas costas. Não era medo. Era expectativa.
— Marina — disse por fim a tutora, sem tirar os olhos de Alex. — Sua compreensão da mana é boa. Pelo pouco que entendo, acima da média, até. Mas você está usando como se fosse um balde d’água — joga pra lá, empurra pra cá.
Ana girou o pulso e apoiou o martelo contra o ombro.
— Condense o ar, faça escudos. Altere a refração da luz — ilusões, camuflagem, o que der. Crie distrações mais elaboradas, invente. Você tem material para fazer qualquer coisa, mas fica reciclando o mesmo truque sem parar.
Marina ouvia tudo em silêncio, a expressão cuidadosamente neutra. Mas os olhos, sempre mais honestos que a boca, começaram a brilhar. Ela nunca gostou de parecer animada demais — era tímida até na empolgação. Mesmo assim, o sorriso nasceu ali, pequeno, genuíno, quase clandestino. Ana não era uma manipuladora, e talvez isso a estivesse entristecido no começo por não receber tantas dicas, mas… ela a enxergava. E isso era melhor.
— Felipe — chamou, por fim. — Dorme um pouco. Assim que eu terminar aqui, vamos bater um papo sobre sua prótese.
Ele piscou, surpreso. Ana não explicou. Só lhe lançou um olhar rápido, e seguiu. Felipe respondeu com um pequeno aceno, discreto, como quem entende sem precisar de palavras.
Então Ana avançou.
Nada de floreios. O movimento foi direto, sem anúncio, e a nova onda de golpes começou.
Alex respondeu com um giro defensivo da lança. O impacto veio menos intenso do que ele esperava — Ana não estava ali para quebrar ossos. Pelo menos, não naquele instante. Ela queria testar. Medir. Forçar.
E nos dois dias anteriores, vinha fazendo exatamente isso: explorando as limitações de cada um, acertando suas falhas, esculpindo algum tipo de sincronia naquele grupo improvisado.
“Dois dias…“
Repetições. Análises. Pequenos ajustes. Horas gastas observando pés mal posicionados, mãos inseguras, olhos que se desviavam um segundo antes do ataque. E com cada erro corrigido, uma engrenagem a mais encaixava. Nada vistoso. Nada épico. Mas funcional.
Começava a ver estrutura ali. A arquitetura invisível de um grupo que podia, com um pouco mais de trabalho e um empurrão na direção certa, se tornar algo… sólido.
O problema era o tempo.
Pareciam suficientes quando começou. Mas agora o calendário olhava para ela como quem avisa que a festa está acabando, e ninguém limpou a cozinha ainda.
“Só espero que seja o suficiente…”
Pensamento indesejado. Mas real. E, como todos os pensamentos indesejados, ele se fazia presente mesmo quando não era bem-vindo — encostado num canto da mente, braços cruzados, julgando silenciosamente cada escolha.
De qualquer forma, estava cheia de expectativas. Não no sentido romântico — não havia espaço para isso. Era uma expectativa prática, científica. Queria ver o que aconteceria se pressionasse mais um pouco. Se desse um passo além. Se chamasse aquilo de “equipe” com todas as letras.
Bom, não podia mais voltar atrás.
Felizmente, não queria.
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