Índice de Capítulo

    “398. 399. 400…”

    Já que não tinha nada para fazer, comecei a contar; os segundos, as horas, os dias, até que viessem nos libertar dessa prisão escura e assustadora.

    Não imaginei que as prisões reais fossem assim. Pelo menos, pelo que pude ver na série, os prisioneiros reais tinham acesso à mordomia e regalias, diferentemente dessa realidade.

    “Oof!”, suspirei.

    Já se passaram alguns minutos desde que fomos presos e ainda não vieram nos servir algo para comer. Minha barriga estava farta de tanto roncar.

    Suspirei, direcionando os meus olhos a Meredith que se remexia um pouco nas minhas coxas. Seus olhos semiabertos foram direcionados para mim.

    — Acordou?

    — Eu sinto muito.

    — Pelo quê?

    — Por minha culpa, você está aqui.

    — Mas eu já não tinha dito, Meredith? — Soltei um leve sorriso, fitando aqueles olhos azuis.

    — Hum?

    — A partir de agora, conte sempre comigo!

    — Mas o que uma mulher como eu fez para merecer isso? — Seus olhos azuis foram deixando escapar pequenas lágrimas que deslizaram pelas suas bochechas.

    Queria usar as minhas próprias palavras, mas iria soar embaraçoso e estranho se eu dissesse:

    “Você é a minha personagem favorita! Eu sou seu fã desde a sua primeira aparição, por isso já pode colocar um sorrisinho nesse seu rosto!”

    — Você tem o seu valor, Meredith.

    “As palavras do herói.”

    — Acho que você é o único que consegue enxergar isso.

    “É claro. Afinal, você é um livro aberto para mim. Literalmente.”

    — Ora! Ora! Ora!

    Direcionamos os nossos para aquela cobertura de grades que cercava a prisão.

    — Agora entendo as motivações que te levaram a assassinar o seu noivo.

    E lá estava uma mulher com um capuz azul-escuro que cobria suas madeixas douradas. Era ela, Istar Theodoria Hengracia, a segunda princesa na linha da sucessão do reino. Seus olhos escarlates nos observavam enquanto seus lábios eram escondidos por um leque carmesim com bordas florais.

    — Princesa Istar! — Meredith se levantou das minhas coxas, voltando os seus olhos para aquela mulher que sorria com malícia enquanto batia o seu leque.

    — Não imaginei que fosse descer tão baixo, Meredith.

    — N-n-não é o que pensa!

    — Tem razão. É o que eu vejo.

    — Eu juro que isso não passa de um mal-entendido.

    — Mal-entendido, você diz?

    Istar colocou o leque rente aos lábios.

    — Sim. A verdade é que eu peguei o Faisal me traindo com Graziela e, quando me dei conta, a mão na minha espada havia perfurado suas entranhas.

    “Desse jeito, você faz parecer que foi tudo culpa da espada, Meredith.”

    — Também, como ele não iria te trair? Reservada do jeito que é. Estavam noivados há um mês e não trocaram sequer um beijo, tudo isso por causa de um” vamos esperar até o casamento.”

    — Foi assim que o meu pai me ensinou. Os lábios de uma mulher não podem ser entregues a qualquer um que não esteja disposto a assumir um relacionamento sério.

    — Aquele velho idiota falou isso mesmo? É por isso que você virou uma frustrada assassina de noivo.

    — Controle a língua, Istar. — Os olhos da Meredith ficaram tão severos que davam medo. — Permito que fale mal de mim, mas que não manche a memória do meu pai com suas palavras sujas.

    — Falei alguma mentira?

    — Se o que veio fazer aqui é me provocar, suma daqui.

    — Calminha aí. — Ela balançou o leque, soprando um leve vento. — Eu quero te ajudar.

    “Essa cara não diz isso.”

    — É sério?

    — Sim. — Ela sorriu maliciosamente. — Afinal, você é a minha querida prima preciosa.

    “Ah, sei.”

    Embora eu não conhecesse Istar profundamente, agora dava para perceber que ela não era uma pessoa boa e sim, uma verdadeira vilã.

    E eu que achava ela bonitinha.

    — Então você poderia falar com o rei por mim, tentar explicar a situação por mim?

    — Sim, mas com apenas uma condição. — Ela fechou o leque.

    — O quê?

    — Se o que esse homem diz é verdade… — Ela apontou o leque para mim. — Quero que ele veja o meu futuro!

    — Você consegue? — Meredith olhou para mim.

    — Vai ser moleza! — Levantei o polegar.

    “Mas espera um pouco… Se eu disser que ela vai morrer durante a invasão, ela vai se irritar e não vai nos ajudar.”

    ” Isso não é bom. Tenho que inventar algo positivo para que ela fique feliz, já que não há como ninguém provar se é verdade ou mentira mesmo.”

    — Zik, apareça.

    Passos ressoaram, um homem de batina preta que lembrava muito os juízes do meu mundo apareceu diante dos meus olhos. Ele tinha um cabelo preto bem liso e uma barba por fazer que realçava a sua aparência como um verdadeiro homem da lei.

    Esse homem… Eu tinha visto ele em um lugar, mas por algum motivo, não me lembrava dele.

    “Ah, deve ser mais um figurante sem importância alguma.”

    — Esse aqui é o Zik, ele será o juiz responsável por julgá-lo pelos seus crimes cometidos.

    “Ah, por isso as vestes. Então ele é um juiz.”

    — Hum, tão já?

    — Istar, você… — Meredith fez uma expressão estranha, como se já previsse o que Istar pretendia fazer.

    — O Zik tem a magia da verdade. Ela avalia a veracidade das palavras que o arguido fala, ou seja, mentiras não funcionam contra ele.

    “O queeeee?”

    — Foi como a senhorita disse. Normalmente, eu deveria aguardar até o vosso julgamento, mas como foi um pedido pessoal da Srta. Istar, a quem tenho apreço, não pude recusar.

    “Só pode ser brincadeira.”

    — Dito isso, caso você seja uma farsa, Zik saberá. E a pena para quem comete mentira diante do julgamento de Zik é a guilhotina.

    Engoli em seco.

    — Pode vir o Zik ou qualquer um, que o Jarves é verdadeiro — ela falou com entusiasmo. — Sua habilidade de ver o futuro é tão real quanto a luz do sol!

    “Não, Meredith. Sinto muito desapontá-la, mas eu não tenho nenhuma habilidade de ver o futuro.”

    — Não é, Jarves?! — Meredith sorriu para mim e eu meneei a cabeça afirmativamente, dando um sorriso meio torto.

    — Quem não deve não teme. — Istar sorria maliciosamente. — Então, vamos começar?

    Engoli em seco novamente.

    — Espere, prima.

    Suspirei de alívio.

    “Espero que Meredith diga algo que me salve.”

    — Quero que prometa aqui diante do Zik, que irá falar com o seu pai sobre o meu alerta.

    ” Ah, era só isso?”

    Esperava que ela dissesse algo tipo: ele não precisa provar nada para você. Saia daqui!

    Acho que acabei pedindo demais.

    — Não será necessário. A magia do Zik será a prova suficiente da veracidade das palavras desse homem.

    — É como a senhorita disse.

    — Isso me deixa confortável.

    — Então, meu rapaz… — Ao levantar sua palma da mão, uma esfera que brilhava na cor branca emergiu. — Vamos começar?

    “É, parece que me dei mal.”

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