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    A nossa frente estava um dos soldados mais fortes de todo o reino, possuindo o nível mais alto de todo mundo, o rank S. E este mesmo ser poderoso apontava aquela espada afiada para nós.

    — Xavier, peço que me escute… — Princesa Alexandra avançou. — Eu posso explicar! Eu sei que podemos nos entender.

    — Não há o que explicar, as leis são claras quanto ao que devo fazer diante dessa situação.

    Não era que o capitão de Hengracia não fosse uma boa pessoa, mas o maior problema dele estava em colocar as leis e as regras desse reino acima de tudo e de todos. Talvez este fosse um dos seus maiores erros já cometidos, já que ele perdeu a sua tão amada esposa por conta disso.

    — Sendo assim, não posso permitir que você passe daqui. — Princesa Alexandra abriu seus braços.  — Terá que ceifar a minha vida primeiro.

    — As leis desse reino a protegem, mas ainda assim, há formas melhores de tirá-la de ação. — Eu nem vi nada. Tudo aconteceu em um instante. Alexandra estava deitada ao meu lado e Zernen havia bloqueado o braço do capitão, que iria atingir a cabeça da princesa.

    — Você é a primeira pessoa desde muito tempo que consegue reagir à minha velocidade. — Xavier olhava para Zernen, que travava a sua mão com os seus dois braços cruzados.

    — Quando eu era criança e via você marchando no desfile real, eu dizia em minha mente: “Nossa! Como eu quero ser como ele”, mas atualmente, eu só quero te derrotar!

    — Você é um rapaz um tanto quanto ambicioso, sabia disso?

    — Você não é a primeira pessoa que diz isso.

    — Mas se eu não tivesse segurado a minha força, não garanto que ainda estaria de pé. — Do nada, Zernen foi arremessado pelo braço do capitão. Suas costas colidiram contra a parede e sua boca havia se aberto, cuspindo gotículas de saliva.

    — Zernen! — Eu e Alexandra clamamos em uníssono.

    — Pare com isso, Xavier! — disse Alexandra, reunindo os seus joelhos enquanto fitava o capitão, com uma expressão que mesclava seriedade e tristeza.

    — Estou cumprindo a lei apenas. Esse é o meu dever como cidadão desse reino, cumprir a lei.

    “É por isso que você não é feliz, homem.”

    — Você tem razão, Xavier. — Alexandra levantou-se. Dava para ver alguns arranhões em sua pele. — Cumprir a lei é o seu dever, mas você erra na hora de executar a lei.

    — Hã?

    “Essa nem eu entendi. Mas ok, vamos ver no que isso vai dar.”

    — A lei é boa e agradável, dela temos um guia de como nos posicionar perante a sociedade. No entanto, como seres humanos falhos, vamos sempre tropeçar nem que seja um tiquinho na lei e, por sua vez, seremos culpados pela transgressão de toda ela.

    — E o que isso tem a ver com a minha execução da lei?

    — Eu acredito que o amor seja o cumprimento de toda lei. Porque nisso se resume a lei, para proteger o ser humano de outro ser humano. — Colocou a mão contra o peito, continuando: — E o que você está prestes a fazer, fere o princípio fundamental da lei, o amor. Visto que somos todos falhos, carecemos todos de uma misericórdia. Maior alegria há em corrigir do que matar.

    Apesar de manter uma postura e expressão severa diante das palavras proferidas por Alexandra, inegavelmente, aquilo havia mexido consigo. Por leves instantes, seus traços se remexeram.

    — Sinto muito, mas suas palavras, apesar de lindas e filosóficas, não irão mudar os meus preceitos. Isto é, como capitão deste reino, seguirei cumprindo e executando a lei até o fim da minha vida.

    — Por que você não vira um juiz logo? — sugeri.

    — Não sou bom nisso. Zik me provou que há muita escadaria por percorrer para isso.

    Eu estava brincando, não pensei que ele realmente cogitasse virar juiz algum dia. Mas fazer o que, não é? Sonho é sonho.

    — Entendi.

    — Mas… Em consideração às palavras da princesa Alexandra, irei oferecer misericórdia a vocês se se renderem.

    ” Parece que até você tem coração, não é, capitão?”

    Ouvir aquelas palavras realmente aliviaram o meu coração. Não havia chance de o vencer, então pelo menos teríamos as nossas vidas poupadas.

    — Eu sabia que minhas palavras tinham atingido você de alguma forma! — Alexandra deu um sorriso genuíno.

    — Mas… — Zernen levantou-se e suspirou. — Não podemos recuar, chegamos tão longe!

    Ele tinha razão, mas infelizmente não poderíamos mais prosseguir. É como aqueles jogos que eu e os meus amigos jogávamos no meu mundo, onde encontrávamos o boss final no fim da dungeon com um nível ainda acima do que poderíamos enfrentar.

    A gente dava meia volta e procurava treinar mais para poder vencer o boss, mas tinha sempre um que procurava enfrentar o boss e acabava morto. A gente ria dele.

    E eu não queria que isso de modo algum acontecesse com Zernen.

    — Não lute mais, Zernen! Você de agora não pode derrotá-lo nem que se esforce mil vezes!

    — Ah, é? É assim que eu gosto! — Como um relâmpago, Zernen havia passado bem do meu lado, trazendo um vento que soprou todo meu corpo, arrepiando os pelos da minha pele.

    — Certo. — Seus punhos direitos colidiram, criando uma onda de vento que nos arrastou um pouco mais para trás. — Serei justo com você e lutarei com as mãos.

    Eu caí contra o chão com Meredith contra o meu colo. Alexandra também estava deitada ao meu lado.

    Me levantei um pouco, coçando a minha cabeça. Alexandra ergueu-se, reunindo os seus joelhos. Seus olhos, ao lado dos meus, observavam aquele embate fervoroso travado por aqueles dois.

    — Como isso é possível? — O capitão arregalou os olhos. Ele não esperava que Zernen aguentasse aquela troca de socos. Eram socos que eu mal conseguia ver, mas que certamente tinham um grande impacto. Ondas de vento eram produzidas, provocando pequenas rachas nas laterais das paredes.

    — Espera, já entendi.

    Zernen recuou através de um salto duplo.  Quando seus pés pousaram no chão, juntou suas mãos, dando um sorriso triunfante:

    — Tarde demais! Explosão de mana!

    Um clarão tomou conta dos nossos olhos, um boom que balançou todo aquele corredor ressoou. Uma densa poeira que se dissipava cobriu lentamente a nossa visão.

    — Em tempos eu conheci alguém que lutava assim, do mesmo jeito que você.

    — Você ainda não morreu?

    Passos se ouviram, revelando o capitão em meio à poeira.

    Ele estalou os dedos, fazendo com que toda aquela poeira que estava ali fosse embora para outros corredores.

    — Absorção de ataque, não é? Está explicado como resistiu aos meus golpes.

    Zernen preparou os seus punhos para uma próxima investida.

    — Aquele seu amigo é muito forte — elogiou Alexandra, enquanto olhava para mim. — Pensei que apenas guerreiros de nível S pudessem confrontar o Xavier. Ou será que…

    — Ele ainda não é um nível S. A habilidade dele é que o coloca em vantagem.

    — Entendi… De qualquer forma, acho que ele pode ganhar…

    Um estrondo interrompeu Alexandra. Nossos olhos foram direcionados para aquela pequena nuvem de poeira atrás, que omitia o Zernen parcialmente.

    — Mas há um limite para tudo. E você, garoto, excedeu o seu limite.

    — Zernen!

    Gritei, mas parece que dessa vez ele havia sido derrubado de verdade. Sangue jorrava de sua testa, seus olhos estavam completamente fechados.

    — Como recusaram a minha misericórdia, terei que executar a lei para vocês rebeldes.

    O capitão sacou sua espada, começando a caminhar em direção a nós.

    “Droga, o que eu faço?”

    “Desistir não é opção.”

    — Eu não permitirei! — Alexandra levantou-se e juntou suas duas mãos, criando múltiplas ilusões dela. No entanto, apenas um corte horizontal da espada do Xavier eliminou todas elas. — Não pode ser…

    “Ilusão! É claro!”

    Eu subitamente tive uma ideia.

    — Alexandra, consegue usar sua magia para projetar uma ilusão tão realista quanto a realidade? — questionei, atraindo os seus belos olhos verdes.

    — Fala de clone?

    — Consegue um clone?

    — Sim. Apenas um e ele suga muito da minha mana, além de durar muito pouco tempo.

    — Perfeito! Por favor, faça um da… — Fiz sinal com a mão para que ela se chegasse a mim. Ela agachou próxima a mim e eu sussurrei no seu ouvido: —… Da esposa do Xavier. Consegue?

    — Mas o Xavier vai eliminá-la facilmente. A sua mulher nunca foi perita em luta.

    — É mais pelos sentimentos.

    — Ah, entendi. Mas isso seria muito errado.

    — É a única opção.

    — Certo. — Ela assentiu, apontando os braços para frente.

    — Ainda planeja resistir? — Com a espada em mão, Xavier começou a caminhar. — Vou colocá-la para dormir agora mesmo.

    Uma luz de repente raiou a sua atrás, seus olhos viraram-se.

    — O que é isso? — Colocou o braço próximo aos seus olhos diante daquele resplendor. Quando aquela luz branca desapareceu, uma mulher apareceu.

    Ela vestia um vestido e um manto carmesim que combinavam com os seus olhos vermelhos. Seus cabelos azul-escuro, que percorriam a sua face repleta de sardas, pousavam sobre os seus ombros.

    — Há quanto tempo, Xavier?

    — Yulca… — Xavier arregalou os olhos, estático.

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