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    “Boa, Alecrim!” Eu pensei que eu fosse o homem mais azarado do mundo, mas, na verdade, descobri que sou o mais sortudo do mundo!

    Dei muita sorte de encontrar o Alecrim. Ele não só me ajudou a escapar, como me deu um golem de bônus.

    Aí, sim! Agora sim!

    O golem era tão rápido que criava um vento, que arrepiava os cabelinhos dos meus braços. A velocidade dos seus pés conseguiu alcançar o que eu provavelmente demoraria horas para alcançar: o fim do túnel. Sim, uma luz estava ali! Embora pequena, conseguia atravessar as brechas daquela rocha, que selava a passagem secreta construída há bastante tempo pelo fundador de Hengracia, cujo nome eu esqueci.

    O golem fechou seus punhos e cruzou os braços, derrubando aquela rocha com sua grande velocidade. Estilhaços caíram, levantando poeira. Assim que o golem abriu um dos seus punhos, uma luz branca ofuscou a minha visão.

    Pisquei os olhos, contemplando uma vasta e bela paisagem esverdeada, cercada de arbustos e pedregulhos. Em contrapartida, o golem continuava correndo por aqueles arbustos. Quando direcionei os meus olhos para cima, consegui avistar o castelo no topo de uma pequena colina.

    Havíamos chegado tão longe. Quanto mais nos afastávamos, eu me perguntava o que aconteceria com o Alecrim caso ele ganhasse ou perdesse aquela batalha.


    Por outro lado, a batalha entre Alecrim e Xavier estava cada vez mais intensa. Em questão de segundos, seus golpes haviam causado uma grande destruição naquele túnel. Uma densa poeira havia se formado, dificultando ligeiramente a visão de ambos.

    — Eu não gosto de lutar, Xavier. Quital um desafio de charadas?

    Os lábios de Xavier continuaram imóveis.

    — Se você me vencer, permito que tire a minha cabeça. O que acha?

    Xavier apenas respondia com golpes de espadas. O bobo da corte apenas se esquivava para direita e esquerda, contra-atacando em seguida com os seus dois punhos.

    — Você não tem graça — disse Alecrim, olhando para a fumaça que fluía dos seus punhos.

    Xavier recuou, reposicionando a espada enquanto estreitava os olhos.

    — É por isso que você perdeu a sua esposa! — Um sorriso largo se estendeu nos lábios daquele bobo da corte. Suas palavras ditas propositalmente, tiveram um efeito imediato.

    Uma densa aura, como a de um furacão impetuoso, se estendeu por aquele túnel. O chão soltou um estrondo, que balançou todo o local.

    Um tornado gigante se formou ao redor do Xavier, tão forte que arrebatava as pedras do chão e lançava rajadas contra as paredes laterais. Uma cratera repleta de rachaduras havia se formado ao redor dos pés do Xavier.

    Alecrim havia conseguido o que queria. Toda aquela irritação havia provocado um aumento de força descomunal no capitão Xavier.

    — Não ouse falar da minha esposa!!!

    Com um corte horizontal, Xavier lançou aquele imenso tornado contra seu adversário, que observava aquilo tudo com um sorriso no rosto.

    Alecrim agachou, colocando sua mão sobre a terra. No meio do caminho, um buraco enorme se abriu e engoliu o tornado giratório do capitão.

    Essa era a especialidade do Alecrim, sua magia de terra. Ele não se limitava apenas a manipular a terra como tal, mas a manejar sua composição ao seu bel-prazer.

    Não era algo de que ele pudesse se vangloriar, já que jamais gostou da magia que tinha.

    — Tudo seria mais fácil se fosse resolvido com charadas.

    Esse era o tipo de pessoa que Alecrim era, um preguiçoso viciado em charadas. Para ele, a vida seria mais interessante se tudo fosse resolvido com charadas e não com lutas desnecessárias.

    Bocejou, retirando a mão da terra.

    — E enta—

    Alecrim mal pôde terminar sua fala. Deu um salto duplo, após quase ter sua cabeça decapitada pela espada do Xavier.

    — Essa foi por pouco — suspirou, aliviado. — Você ficou mais rápido ou é… — Mais uma vez, Alecrim foi interrompido, pelo ataque de múltiplas espadas de vento que Xavier desferia contra o ar.

    Essa era sua especialidade, magia de vento. Do mesmo jeito que Alecrim, Xavier dominava inteiramente a composição do vento, podendo usá-lo ao seu bel-prazer, incluindo endurecer o vento para criar objetos cortantes como fazia agora. Milhares de espadas de vento tentavam penetrar a grande muralha de terra que Alecrim havia criado.

    A magia nesse mundo era vasta. Nos seus primórdios, a humanidade possuía apenas o domínio dos quatro elementos e a cada um era concedido um único elemento dos quatro na hora do seu nascimento. Contudo, de tempos em tempos, quanto mais pessoas de magias elementais se juntassem, mais as magias dos quatro elementos se tornava raras.

    Poucos eram os que nasciam com magia dos quatro elementos e estes poucos passaram a ser descriminados pelos que possuíam magias derivadas das formações elementais. Contudo, os guerreiros que nasciam com um dos quatro elementos, provavam o seu valor ao longo de eras, desenvolvendo o que chamavam de especificação.

    Ou seja, sua magia poderia facilmente atingir diversos patamares, não se limitando a simplesmente manejar determinado elemento, mas a manipular sua composição, estrutura e até mesmo usar suas variações.

    A magia dos quatro-elementos fora temida novamente. Porém, só os que estavam dispostos a percorrer uma longa jornada pelo desenvolvimento e especificações de suas magias eram realmente reconhecidos.

    No entanto, aqueles que nasciam com dois ou mais elementos cruzavam linhas inimagináveis. Todavia, as variações formadas de tempos em tempos cruzavam novos patamares, porque os usuários destas magias, consideradas especiais, também poderiam se especializar e alcançar novos horizontes.

    Contudo, algo que perdurou mais que a descriminação contra os usuários de magias elementais era a descriminação contra quem não tivesse magia ou tivesse défice de mana.

    A injustiça começava na hora do nascimento, quando os usuários ou não nasciam com magia, ou nasciam com algo que era incompatível com sua personalidade e necessidade. Apenas a genética ditava tudo.

    — Que chato. Como esse mundo é desigual, eu queria ao menos ter nascido com uma magia que me permitisse manipular as palavras. — Alecrim se afastou, sua parede fora derrubada.

    A sua frente pôde contemplar a espada do capitão Xavier vindo contra o seu rosto.

    Terra devoradora!

    O chão começou a engolir o capitão Xavier, que tentava sair, mas não conseguia.

    — Acabou para você, Xavier. Você deveria se aposentar de uma vez por todas.


    Depois de tanta correria, finalmente conseguimos chegar ao distrito de Hellen. Notei que, durante o nosso percurso, os passos do golem foram se tornando cada vez mais lentos. Talvez ele estivesse perdendo toda sua força, afinal de contas, ele já havia corrido bastante. Não o culpo.

    — Pare, golem.

    Ele parou.

    Pelo menos essa coisa obedecia à minha ordem.

    Ele havia parado exatamente perto da farmácia da Theresa. Ele nos colocou no chão e manteve uma expressão estática com os braços contra o corpo.

    — Fique aí.

    Ele era grande demais e já chamava a atenção na rua, mas acredito que ninguém seria tolo o suficiente para roubá-lo. Mas, apenas por precaução, dei ordens para que ele atacasse qualquer um que tentasse levá-lo e ele assentiu com a cabeça.

    Fui em direção à porta e a bati com força, dúzia de vezes, para que Theresa viesse logo atender.

    Uma mulher de jaleco abriu a porta, colocando as mãos contra a cintura enquanto fazia uma expressão de repressão.

    — Ei, aqui não é a casa da mãe Joana para bater desse… — Seus olhos desceram sobre alguns aranhões no meu corpo e alcançaram aqueles dois estatelados no chão. — Tudo bem, entre! — Do nada, os seus olhos brilharam.

    Foi só depois que percebi que ela via aquela oportunidade para lucrar.

    Ela me ajudou a trazer os dois para dentro da sua farmácia. Colocamo-los sobre as camas de um quarto nos fundos da farmácia.

    — Se bem me lembro, você esteve aqui antes, não esteve? — Theresa cruzava os braços. Ela estava rente à cama onde Meredith estava repousando e eu contra uma espécie de armário de madeira.

    — Você deve estar me confundindo.

    Era melhor fingir que era a primeira vez que nos víamos para evitar muitas perguntas desnecessárias.

    — Minha memória não falha. Mas enfim, desde que me pague pelo tratamento, não vou nem querer saber se estão envolvidos em um esquema ilícito.

    — Obrigado.

    Droga! Agora que lembrei, não tinha dinheiro algum!

    — Os ferimentos não são graves. Para a moça, uma ótima sopa de vegetais curativa basta. Para o jovem ali, apenas algumas poções de cura para suas feridas externas devem bastar. — Depois olhou para mim. — E para você, só precisa comer e descansar.

    — Certo.

    Meu corpo estava dolorido.

    — E, ah! Você não tem nenhum remédio contra dor de corpo e pesadelos?

    — Tenho sim. Vou preparar tudo e já trago para começarmos com a medicação.

    — Obrigado.

    — Mas antes… — Ela esticou sua mão.

    — É…

    Se eu dissesse que não tinha dinheiro, ela com certeza me chutaria da farmácia, e se eu dissesse que pagaria depois do tratamento, ela não aceitaria e me chutaria na mesma. Eu estava sem opções.

    — Eu não tenho dinheiro no momento. Então… — Caí de joelhos e juntei as mãos em oração. — Eu suplico que me ajude!

    — Sinto muito, mas não presto serviço de graça — disse, mantendo contato visual comigo. — E, além disso, esses ferimentos não são mortais. Acho que podem se virar sozinhos. Se fossem, seria outra história.

    — Naquele dia, eu acabei te ajudando ao comprar aquelas poções. Não acha injusto não me ajudar depois daquilo?

    — Você não disse que eu estava te confundindo?

    — Desculpa.

    Ah, sinceramente… — Colocou a mão sobre a testa e suspirou. — Tudo bem, eu ajudo.

    Nossos olhos se encontraram e um sorriso preencheu os meus lábios.

    — Sério?!

    — Mas vou querer saber de todos os detalhes. Caso eu perceba que há omissão de fatos, eu chamo os soldados e digo que vocês estão envolvidos em um esquema ilícito.

    — Não é para tanto. — Dei um sorriso torto, enquanto me levantava.

    Depois disso, fui sentar numa cadeira que separava a cama daqueles dois. Theresa tinha ido para a sala principal buscar suas poções e folhas de cura para medicar esses dois e eu, que sofria de pesadelo e dores no corpo.

    As minhas pálpebras pesaram contra os meus olhos. Eu estava prestes a dormir, mas não podia. Enfim, apaguei contra minha vontade.


    Quando Theresa entrou no quarto com uma cesta contendo plantas medicinais e frascos que continham líquidos em diferentes tonalidades de cores, seus olhos observaram aquele rapaz que outrora trouxera seus companheiros a sua farmácia.

    Ele movia sua cabeça de um lado para outro enquanto murmurava: “Não… Socorro. Por favor, alguém me ajude.” Theresa deixou uma leve risada escapar quando viu a careta que ele fazia. Estava claro que ele estava tendo um pesadelo, como havia lhe informado.

    Theresa, então, seguiu caminhando à cama do garoto deitado à direita do Jarves. Ele era o que, na verdade, apresentava ferimentos mais graves em comparação aos outros. O sangue seco era visível em seu corpo.

    Pegou uma toalha da sua cesta e despejou sobre ela uma poção que tinha a cor azul. Logo, começou a passar sobre a sua pele e aqueles aranhões foram desaparecendo aos poucos.

    Depois disso, levantou sua cabeça ligeiramente, entornando um líquido verde sobre sua boca. O rapaz tossiu um pouco, movendo os seus traços em uma sensação de gosto amargo, mas logo sua expressão foi amenizada.

    Com o paciente mais grave tratado, Theresa deu meia volta àquela cama e foi ao encontro do Jarves. Neste momento, ele roncava, o que facilitou muito a sua vida. Theresa apenas despejou um líquido vermelho sobre sua boca, depois disso o verde.

    O vermelho era uma poção desenvolvida para combater problemas relacionados ao sono, como pesadelo e insônias. Já o verde era uma poção usada para aumentar a imunidade e facilitar a cura tanto de feridas externas, assim como dores no corpo. Enquanto o azul era mais para feridas externas e sua taxa de eficiência era mais alta em relação ao verde, que tinha funções variadas.

    Jarves engoliu a poção sem dificuldade, formando uma expressão mais descansada em seu rosto.

    Agora, restava cuidar da última paciente.

    Quando Theresa se aproximou desta, seus olhos abriram.

    — Onde eu estou?

    — Esses olhos azuis, então você é mesmo a princesa Meredith.

    — Quem é você? Espera… — Meredith se ergueu da cama, se sentando de maneira retilínea. — Aqui não parece ser o castelo. — Seus olhos rodearam aquele quarto tingido de uma pintura branca e encontraram rostos familiares.

    — Eu sou Theresa. Este rapaz… — Apontou para o Jarves assentado na cadeira. — Foi ele que trouxe você aqui.

    — O que está acontecendo aqui? — Meredith elevou a mão à testa, descrente. Muitas perguntas passavam pela sua mente a respeito de como Jarves havia feito para retirá-la do castelo e, o principal, o que o Zernen estava fazendo aqui.

    — Eu também queria saber.

    — Onde estamos?

    — No distrito de Hellen. Farmácia Zerth.

    — Entendi. Então estamos bem longe do castelo, menos mal.

    O distrito Hellen ficava no meio, entre o distrito Garcia e o distrito Gallen, região onde Meredith morava com sua família.

    — Se importa se eu fizer algumas perguntas.

    Ah, que falta de educação da minha parte! Saí perguntando e nem me apresentei!

    — Tudo bem, eu já te conhecia mesmo. Conhece o Ellion?

    — Ellion… Ah, Ellion! Lembrei! Eu e ele iniciamos no mesmo ano como aventureiros rank E. Como poderia me esquecer de um dos meus parceiros de aventura?

    — Vejo que ainda lembra dele — Theresa riu levemente. — Ele nunca parava de falar de você.

    — Ah, entendo. O que aconteceu com ele?

    — Quando soube que você iria se casar com um nobre chamado Faisal, ele decidiu partir em uma jornada para o reino de Zelvag.

    — Entendo. Mesmo quando saímos em nossa primeira aventura, dava para ver as faíscas entre ele e o… — Meredith cobriu sua boca como se quisesse vomitar. Algumas lembranças daquela horrível cena haviam passado da sua mente como um flash.

    — O que foi? Está se sentindo mal?

    — Não, não é nada. — Meredith deu um sorriso forçado. — Não se preocupe. Onde estávamos mesmo?

    — Bem, eu sou a irmã dele. Prazer.

    — Prazer, Theresa.

    — Então, mudando de assunto, o que aconteceu exatamente?

    — Bom… — Meredith foi contando sobre o que havia acontecido durante os três dias, incluindo a parte mais dolorosa que lhe tocava profundamente. Theresa ficava boquiaberta, manifestando em seu semblante diversas expressões complexas.

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