Índice de Capítulo

    ❖ ❖ ❖


    Naquele momento, com a atenção dos outros da região voltadas para o estudante, que estava rodeado enquanto era chamado de salvador, a única coisa que Rei pensou era em como aquilo havia se tornado um sério problema.

    “Que confusão… eu não estava esperando receber todo esse tipo de reação. No final, eu acabei chamando mais atenção do que eu imaginava… espero que o Kazuki não fique bravo comigo por isso.”

    “Ah, tanto faz.”

    “Deixa eu pensar em uma forma de sair daqui de uma vez, não consigo nem me mover direito por causa dessa multidão de pessoas por perto. Eu fico feliz por tê-los ajudado e tals, mas não precisam agradecer tanto ao ponto de chorar. Isso está me deixando constrangido, não sei o que dizer nessas situações… droga.”

    “Vou apenas sorrir para eles, é o melhor que posso fazer nessa situação. Depois disso vou esperar um tempo e correr até o refúgio, espero que eles não me sigam.”

    “Aliás, faz um tempo em que a Tyrant saiu daqui. Se eu não estiver enganado, ela me disse que voltaria para o refúgio para descansar e conversar com Rina a respeito da situação. Mas ela não parecia muito bem mentalmente. Bem, talvez eu só esteja pensando demais…”

    Após planejar isso mentalmente, no momento em que encontrou uma brecha entre a multidão, o estudante correu rapidamente até os portões do refúgio e adentrou o local. Ele despistou as pessoas nos corredores e conseguiu finalmente empurrar a porta e entrar em seu cômodo depois de um tempo. 

    Por sorte, a porta do quarto não estava trancada. Então trancou rapidamente, para que ninguém pudesse entrar. 

    Assim que ele virou sua cabeça para frente, percebeu a presença de Kazuki ao lado da cama de casal. Onde antes parecia estar conversando com Mia e Takayo, mas foi interrompido pela sua chegada. Agora sua atenção está fixa sob a figura de Rei. 

    — Opa, eai. 

    — Rei?

    Kazuki perguntou com estranheza após notar o suor no rosto do estudante, e a maneira abrupta em como ele fechou a porta do quarto com força. 

    — Você está bem? 

    O homem-fera disse após aproximar-se suficientemente do estudante para colocar um pano que estava em cima da mesa em sua testa, para diminuir a quantidade de suor que escorria por sua pele. 

    No momento seguinte a isso, não demorou para o estudante então explicar o que tinha acontecido e como auxiliou o máximo possível de pessoas feridas que estavam em frente ao portão de Svishtar.  

    ❖ ❖ ❖


    Assim que terminou de contar, Rei ficou apreensivo em como Kazuki reagiria. O homem-fera havia dito para o estudante esconder os seus poderes de cura antes, com o intuito de não chamar atenção desproporcional, o que inevitavelmente atrairia a atenção de pessoas com más intenções. 

    Em contraste com os pensamentos do estudante, na realidade o comportamento do homem-fera foi completamente diferente. Ele somente sorriu para o estudante e o abraçou com força. 

    — Não precisa se preocupar. Está tudo bem agora, você por acaso está ferido em algum lugar? 

    Após escutá-lo, o estudante corou e tentou afastar-se de Kazuki, envergonhado também pelo olhar e risadas de Takayo e Mia que estavam observando os dois de perto. 

    — Claro que eu tô bem, relaxa, pô! Agora pode se afastar de mim, não sou uma criança, eu sei me cuidar muito bem.

    Com esse tipo de resposta de Rei, o homem-fera em seguida retornou a sua posição anterior na cama e mudou a expressão do rosto para sério.

    — Você então mostrou as suas habilidades, certo? Não acho que expor as suas habilidades de cura tenha sido uma boa ideia. As pessoas agora vão olhar você com outros olhos, e isso pode atrair atenção indesejada. 

    — Não são muitas as pessoas no continente que conseguem usar esse tipo de habilidade. Vai ser meio difícil esconder esse fato por muito tempo, Rei.

    Rei riu com esta resposta. Porque isso só significava que ele teria que ter o dobro de segurança ao utilizar essa habilidade de novo. Fora essa questão, a cabeça do estudante estava lotada de outras preocupações. 

    Depois de notar a expressão no rosto do estudante, Kazuki sorriu para ele e declarou brevemente:

    — Você fez bem. 

    Rei olhou para o homem-fera novamente, mas agora com uma expressão de contentamento após receber este apoio que não esperava. A princípio, ele pensou que Kazuki apenas iria criticá-lo por utilizar sua habilidade. 

    — Se você não tivesse intervindo, muitos dos que você salvou hoje teriam morrido! Independente de quais fossem as consequências, você deveria sentir orgulho. 

    — Cof, Cof… É claro… Você deve sempre pensar na sua segurança primeiro — acrescentou Kazuki em seguida, depois que percebeu como o seu comentário anterior soou vergonhoso. 

    Momentos depois, Takayo e Mia, que estavam somente ouvindo a conversa de longe, entraram na discussão. 

    — Sim, isso mesmo. Você fez bem, irmão! — Mia comentou, com um tom brincalhão na voz, batendo palmas. 

    — Por que se preocupar com essas coisas? Você deveria olhar para você agora, um herói. — Takayo comemorou em seguida, batendo palmas enquanto sorria. 

    Após escutar todos esses comentários, o estudante sorriu e começou a rir da maneira como eles estavam comemorando. Rei não pôde acreditar que alguns minutos atrás, a situação no geral estava tão caótica que ele sequer conseguia respirar. 

    Mas agora, ele estava rindo da forma como Kazuki, Takayo e Mia pareciam elevar o seu astral. Ele olhou para o rosto do homem-fera por um longo tempo, seus olhos âmbares pareciam vidrados, brilhando magicamente. 

    Kazuki parecia também não querer desviar seu olhar dos olhos de Rei, de certa maneira ele sentiu como se estivesse se conectando com aquele olhar cada vez mais. Era uma sensação muito boa, mas ele não conseguia explicar em palavras. 

    Toc, Toc! 

    Nessa hora, a porta bateu. 

    Foram cinco toques leves. 

    Kazuki então levantou-se da cama e abriu a porta. Quem estava do lado de fora do cômodo era Tyrant e Rina. As duas entraram no quarto com uma expressão no rosto não muito agradável.

    — Está tudo bem com vocês?! — indagou o homem-fera, após notar a expressão rígida no rosto das duas. 

    — Aconteceram muitas coisas, mas estamos bem. Vamos conversar primeiro.

    Rina respondeu momentos depois de sentar na beirada de uma das camas de solteiro que havia no quarto. Em seguida, Tyrant seguiu o mesmo exemplo e sentou-se próximo dela na outra cama. 

    Rina então começou a explicar calmamente a situação, sem deixar de fora qualquer detalhe ou ocorrência. 

    — Vocês devem saber que estamos sendo atacados pelos demônios, porém nesse momento a situação ao todo está sendo controlada pelos elfos. Tirando a parte de dentro do refúgio, a região do lado de fora está uma catástrofe. 

    — Pelo que eu ouvi dos boatos, os arredores de Svishtar nunca foram atacados antes. Tudo estava sob controle até agora por causa da barreira sagrada que revestia toda a região. Então ninguém sabe como os monstros do exército demoníaco chegaram aqui.

    — Mas não é hora de pensar sobre isso! Vou direto ao assunto. 

    — Talvez vocês não saibam, mas o acampamento do lado de fora foi o primeiro a ser emboscado pelos demônios. Fiquei sabendo também que muitos morreram, e se o líder deles não tivesse chegado a tempo, as coisas poderiam piorar pra valer. 

    — Vocês acham que ainda é uma boa ideia ficar aqui? Caso alguma coisa aconteça e sejamos atacados, estamos literalmente dentro de uma montanha, só podemos sair pela porta da frente. 

    Com essa simples sentença, a atmosfera no cômodo mudou rapidamente. Rei e Kazuki olharam para Rina sem saber o que responder naquele momento. 

    Takayo e Mia ficaram em silêncio. Eles não sabiam de muitas coisas e não tinham poder para decidir, então eles mantiveram-se no canto da cama de casal somente ouvindo a conversa. 

    Embora Tyrant sempre se mantivesse com um semblante calmo e pacífico no rosto, ela parecia não conseguir esconder a ansiedade e apreensão em sua expressão desta vez. Talvez os últimos acontecimentos tenham-na abalado, presenciar aquele cenário marcado de sangue e pessoas gritando — o que mais parecia uma ala de hospital de emergência. 

    — Vamos esperar. 

    Kazuki foi o primeiro a dizer algo nessa situação. Rei então concordou com a declaração e balançou a cabeça.

    — Não sei por que essas coisas começaram a acontecer justamente agora, mas devemos esperar. Embora eu não concorde com isso, os soldados do reino humano disseram que nos levariam até a capital, certo? Então vamos esperar até lá — explicou Kazuki. 

    — Sim, eu também acho que a melhor alternativa é esperar. Além do mais, a situação está sendo mantida sob controle pelos elfos e pelo acampamento do reino humano do lado de fora — disse Rei, em concordância com a opinião do companheiro. 

    — …  

    Houve um pequeno silêncio após isso, mas Rina e Tyrant compartilharam da mesma visão que os dois. 

    — Certo, vamos fazer de acordo como vocês disseram. Acredito que essa seja a melhor solução, e se não for… simplesmente não foi. Não vamos chorar pelo leite derramado.

    Rina declarou com o tom de voz irônico, como sempre. Em seguida ela saiu de cima da cama e foi para a porta junto com Tyrant. 

    — Vamos ficar nos nossos quartos por enquanto, amanhã de manhã voltamos para cá. Espero que vocês fiquem bem — comentou Rina, com uma expressão séria no rosto. 

    Antes que ambas pudessem sair, Rei caminhou até elas e impediu que as meninas saíssem do quarto. 

    — Espera aí.

    Quando a atenção das duas foi voltado para a sua figura, o estudante então ativou sua habilidade de 『Criação』para conjurar alguns alimentos para as duas meninas. Foram duas barras grandes de chocolate, duas caixinhas de suco e uma enorme torta de frango. 

    Anteriormente, quando Rei alcançou o nível.2 de sua habilidade de 『Criação』, houve uma diminuição no tempo de processamento na conjuração dos itens criados. Além da redução do desgaste mental que cada criação demandava para a sua conjuração. Devido a isso, era muito mais fácil utilizar essa habilidade com extrema propriedade. 

    Itens que antes não poderiam ser conjurados por causa de suas características distintas e complexas, agora poderiam facilmente ser gerados com um simples pensamento e mínimo desgaste mental. Claro que esse fator dependia, estando diretamente ligado à; quanto maior as características ou o tamanho do objeto criado, logo maior seriam os custos e tempo para sua criação.

    Com base nessa regra, até mesmo uma enorme casa poderia ser criada, mas tudo dependeria da maneira como ela foi projetada mentalmente e acima de tudo, da paciência requerida durante o processo. 

    — Obrigada, eu acho? 

    Mesmo confusa em receber aquele tipo de comida, Rina agradeceu e levou os alimentos consigo. Ela não sabia ao certo o que eram aquelas coisas, pois estavam empacotadas e suas figuras eram estranhas.

    “Essa caixinha de plástico tem bebida dentro dela? O que diabos é essa barra com um desenho de chocolate em sua superfície? Não faço ideia do que sejam essas coisas.”

    Seu olhar parecia confuso, mas ela conteve a dúvida e apenas saiu com Tyrant, que a seguia atrás. 

    No momento em que foram embora, o estudante virou-se para Kazuki, Takayo e Mia e deu um pequeno sorriso. Ele estava sentindo-se confortável após usar sua habilidade de criação, pois diferente das últimas ocasiões, dessa vez ele não sentiu um forte desgaste mental ao criar exatamente o que pensava.

    “Não podemos ir para o refeitório essa noite, aquele lugar deve estar lotado de refugiados. Vai ser uma confusão se todos ficarem com fome nesse momento, então vou pensar em algo para comermos até de amanhã.”

    Assim que pensou isso, o estudante olhou para os três à sua frente e indagou: 

    — Vocês estão com fome?

    Takayo e Mia balançaram a cabeça rapidamente — quase em uníssono com seus estômagos que pareciam roncar. Eles pareciam influenciados após verem os alimentos que Rei criou para Rina e Tyrant. 

    — Ah, beleza. Deixa eu pensar em algo para comermos. 

    Em um instante, uma ideia surgiu em sua cabeça. 

    — Acho que criar isso vai ser daora, hehe. 

    Continua…

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