Índice de Capítulo

    Depois daquele todo papo sobre provas e revolução, fomos nos recolher. Zernen dormiu no sofá, assim que pousou sua cabeça, logo pegou no sono. Ele roncava tão alto que era impossível dormir, mas esse não era o principal motivo pelo qual eu não conseguia dormir.

    A verdade era que eu estava ansioso pelo dia de amanhã, e muitos pensamentos negativos passavam pela minha mente.

    — Não consegue dormir? — A voz do Sr. Alexadoro ressoou pelos meus ouvidos. Levantei do sofá e olhei para sua silhueta, ele estava encostado em uma das paredes.

    — Eu acho que não sou o único.

    — Eu sempre durmo tarde por passar a maior parte do tempo me exercitando. Só passei por aqui para conferir se estava tudo bem.

    Ah, sim. Isso é bom demais.

    — Já que está acordado, por que não aproveita para me contar mais detalhes sobre essa visão que você visualizou através desse poder?

    — Mas é claro. E, em troca, posso pedir um favor ao senhor?

    — O que seria?

    — Eu estava tentando reunir palavras para dizer isso, mas eu peço humildemente que me treine! — Encurvei a cabeça. — Agora eu até posso ter um golem do meu lado, mas eu não quero ser um peso morto! Ainda que me falte magia, eu quero poder lutar e proteger aqueles que eu amo!

    Sr. Alexodoro começou a rir.

    — O que foi? Sou tão engraçado assim, mesmo falando sério?

    — Não, você só me lembrou de alguém muito especial para mim.

    “De quem ele estava falando?”

    — Tudo bem, vamos. Siga-me. — Ele desencostou-se da parede e começou a caminhar, entrando em um dos corredores da casa. — Irei deixá-lo forte o suficiente para que não se sinta mais um peso morto.

    Wow! Que incrível!

    Não perdi tempo e segui o Sr. Alexodoro até um dos compartimentos da casa. Um espaço quase vazio, que continha um cesto com roupas e armas brancas; como espadas, lanças e foices, nas extremidades das paredes.

    Ele caminhou até o cesto, pegou um quimono branco e atirou para mim. Segurei aquela farda branca contra o peito e olhei para o Sr. Alexadoro.

    — Vista isso.

    Comecei a vestir imediatamente.

    Ele também vestiu um e acendeu algumas velas que deram luminosidade para aquela sala sem nenhuma janela.

    — Antes de começarmos com o treinamento… Gostaria de fazê-lo uma pergunta.

    — Se eu puder responder, pode fazer sim.

    — Você está preparado para morrer?

    “Hããããã?!”

    “Que raios de pergunta é essa?”

    — C-Como assim? O treinamento vai ser tão pesado assim?

    — Se não puder responder, paremos por aqui.

    A resposta que eu deveria dar deveria ser sim, pelo menos era o que eu achava que ele tanto queria ouvir, contudo, decidi ser sincero comigo mesmo.

    — Não, eu não estou preparado para morrer…

    — Bem, acabamos aqui então…

    — Mas, a morte chega para todo mundo, não é? Seria tolice dizer que estou preparado para morrer, quando ela chega assim tão de repente. Contudo, se eu for morrer, terá que ser com honra ou de forma natural! Não me permitirei ter uma morte covarde e tola!!!

    Hahahaha!

    Estranhamente, ele começou a rir.

    — Certo, vou te treinar!

    — Hã? Me explica o porquê da risada!

    — Algo bem nostálgico passou pela minha cabeça.

    Espera… Agora que ele falou nisso, lembrei que um dos discípulos do Sr. Alexadoro havia dito umas palavras semelhantes às minhas, então era por isso que ele riu, e deve ser por isso que ele me aceitou.

    Parece que dei sorte em ter recitado as mesmas palavras que ele, caso não, Sr. Alexadoro não teria me aceitado como discípulo devido ao passado traiçoeiro que tivera.

    — Sente-se, vamos começar o treinamento.

    Sentei na famosa pose de lótus e concentrei os meus olhos no Sr. Alexodoro.

    — O que você sabe sobre a magia?

    “Que pergunta!”

    — A magia é… — Ops, parece que deu um bug no meu cérebro. O que era a magia mesmo? Magia era magia! Mas se eu dissesse isso, não serviria. Era como dizer que água era água.

    — Não sei.

    — Gostei da sinceridade. Da última vez, tive que dar um cascudo no meu neto por ele me responder que magia é magia.

    Que medo! Deu até um arrepio.

    — Magia nada mais é que uma manifestação de poder, cujo objetivo é interagir com o nosso mundo.

    Não vi nada de tão surpreendente nessa definição.

    — A magia sempre esteve presente em nosso mundo, aguardando quem a possuísse. E é aí que entram os humanos que passaram a manipular o que chamamos dos quatro elementos da magia. Fogo — ele levantou um dedo — Água — e continuou levantando os restantes dedos. — Ar e terra. Coincidente, os elementos que compõem o nosso mundo, não é fascinante?

    Eu balancei a cabeça positivamente, enquanto ele gesticulava as mãos.

    — Mas depois, tempos se passaram e a magia foi sofrendo alterações até chegar ao que temos hoje. Sua magia é o exemplo bem claro disso, a magia que vê o futuro.

    “Ah, sim, a minha suposta magia.”

    — O problema é que sua magia não é adequada para combate, ela se enquadra no ramo das magias complexas. A propósito, algo que eu deveria ter perguntado há bastante tempo: você sabe como controlar esse poder?

    — Não, senhor.

    — Isso é um empecilho. Quando um usuário de magia não sabe controlar sua magia, ela se torna inútil e, se tratando do seu caso, ela é extremamente inútil por ser uma magia mental e complexa.

    — É, eu sei disso.

    — Então considere-se como se não tivesse magia por enquanto. Quando conseguir dominar essa magia, poderá usá-la em combate. Vale lembrar que não sou a pessoa indicada para treinar seu tipo de magia, para isso existe uma escola avançada no reino de Zelvag.

    — Acho que depois que eu sair dessa situação, irei para lá.

    Cruzei os dois dedos. Nem morto eu iria para lá. Além de que era uma escola com uma alta ditadura, havia muitos loucos que facilmente poderiam tirar sua vida! E, por último e não menos importante, eu não tinha nenhuma magia para me candidatar.

    — Depois te passo uma carta de recomendação para que você não precise passar por um exame de admissão, já que os exames de lá são extremamente difíceis.

    — Nem me fale em exames!

    Tinha lembranças traumáticas disso.

    — Você já fez algum exame?

    — Nem quero! Hahahaha!

    Hahahaha! Vou confessar que também não gosto disso.

    Depois de uma boa risada, voltamos aos trilhos.

    — Bem, continuando com a teoria sobre a magia. A magia é dívida em quatro ramos. A básica, elementar, especiais e a complexa. Só que vamos ignorar as elementais, especiais e complexas por não serem o nosso foco de aprendizagem.

    — Certo.

    Não sabia o porquê, mas eu estava gostando dessa aula, apesar de já saber de quase tudo que ele iria explicar.

    — A magia básica antigamente não era considerada magia, mas sempre existiu. Ela é o núcleo e o princípio de todas as magias.

    Contudo, com o tempo foram surgindo pessoas (como eu) que não tinham magia alguma, pessoas sonhadoras que queriam contribuir com algo na sociedade. Algo que enaltecesse seu nome em meio a um mundo onde magia era tudo. Essas pessoas, como eu, não ficaram paradas; ainda que a magia lhes tivesse rejeitado, eles descobriram uma forma de extrair o que tinham dentro de si; a mana. Eles treinaram tanto sua mana que acabaram descobrindo a magia básica. Essa magia tinha como objetivo manipular mana e usá-la para lançar ataques simples.

    — Conheço dois idiotas que deram nome a ataques formados pela magia básica.

    — Seria o soco e o tapa invisível do Zernen?

    — Isso mesmo. Não há necessidade de dar nome à magia básica, já que ela faz parte de todos. No entanto, para as pessoas que só têm magia básica como fonte de poder, transformam-na como se fosse sua magia especial.

    — Espera… Mas o Zernen tem outra magia, ou estou errado?

    — Ele tem, mas, pelo apreço que ele tem por uma pessoa especial, ele decidiu usar magia básica como sua principal fonte de poder.

    Oh… Entendi.

    Ele com certeza estava falando do pai do Zernen, que, assim como eu, não tinha magia.

    — Inclusive, foi até bom ele usar magia básica. Ele ficou tão bom em ambas, que deixou sua magia principal mais forte. A magia que tudo absorve e tudo devolve em forma de explosão.

    — Então isso quer dizer que já tendo uma magia especial, é possível deixá-la forte com magia básica? Que roubado.

    Hahahaha! É verdade que esse mundo é injusto, mas é assim como funciona. Você só tem que se adaptar e sobreviver com as facas que tem em mãos, entendeu?

    — Faz sentido.

    — Bem, com toda a bagagem teórica sobre magias que transferi para você, podemos agora iniciar um treinamento. Tudo que você precisa saber sobre magia básica é que você precisa treinar seu corpo e aprender a manipular sua mana, e isso é algo que se consegue na prática, com bastante treinamento.

    — Só espero que os meus ossos não quebrem no processo!

    — O processo é difícil, mas recompensador.

    ” Sei…”

    Começamos com os treinamentos. Eram treinamentos bem normais, como abdominais, flexões e agachamento. Sr. Alexodoro disse para mim que esse era o princípio para dominar a magia básica, que ela tinha mais a ver com o corpo físico.

    Fizemos isso durante um longo tempo até que eu me cansasse e caísse como morto sobre o chão.

    — Vamos, levante-se! — sua voz continuou ressoando pelos meus ouvidos a cada vez que eu teimasse em continuar no chão. Era um treinamento bem intenso, meu corpo todo estava transbordando de suor.

    Levantei e caí milhares de vezes, até que ele disse…

    — Agora, fique em pose de lótus e sinta a mana percorrer seu corpo.

    Sentei na pose de lótus e fechei os olhos, me concentrando para sentir a mana fluir sobre o meu corpo. Ao que parece, eu teria que fazer aquilo por um bom tempo. Bem, pelo menos era melhor que fazer exercícios.

    Enquanto eu meditava, Sr. Alexadoro continuou sua explicação. Ele disse que a magia básica e a adrenalina andavam de mãos dadas, a junção entre eles liberava aquilo que chamávamos de partículas de mana. Essas partículas conseguiam viajar pelo ar e atacar o alvo, assim como Zernen fazia.

    Depois daquele treinamento, comecei a sentir um formigamento preencher o meu corpo. Ao que parece, isso indica a circulação dessas partículas pelo meu corpo, o que poderia causar leve irritação no começo, mas com o tempo passava, depois que o corpo se habituasse.

    Depois de uma longa explicação e alguns treinos para exercitar toda a bagagem teórica que Sr. Alexadoro havia passado para mim, acabei adormecendo sem me aperceber.

    — Descanse, porque a partir de agora você deixou de ser um fardo.

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