Capítulo 166 - Noite de bebedeira I, X.
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As brisas de fogo da lareira eram consumidas silenciosamente, enquanto o calor das chamas parecia aquecer todo o cômodo, deixando-o ainda mais confortável. Em frente a lareira, Kazuki e Rei estavam sentados observando as pequenas faíscas de calor que saíam. A reação entre a madeira sendo devorada pelas chamas era uma cena calma.
Ao mesmo tempo em que observavam, havia um pequeno copo de madeira com saquê nas mãos de Kazuki e Rei. Criadas alguns minutos atrás.
O primeiro que tomou uma iniciativa nesse momento foi o estudante, que despezou todo o líquido do copo em sua boca, virando-o por completo em uma única dose.
Ele fechou os olhos. A ardência que sentia na garganta era forte — forte o suficiente para ele mudar sua expressão para uma pequena careta.
Embora o gosto fosse amargo, no momento em que o líquido desceu pela garganta, uma sensação de calor se espalhou pelo seu peito. O sabor amargo e ao mesmo tempo adocicado do saquê era novo, então aos poucos uma sensação leve de formigamento em seus lábios e língua foram sentidos.
Vendo a animação de Rei, o homem-fera levou o copo à boca, inspirou profundamente antes de tomar o primeiro gole. Assim que a bebida entrou em contato com a língua, Kazuki notou uma ardência inicial, como se uma onda de calor estivesse percorrendo toda a sua boca.
Não era a primeira vez que Kazuki estava bebendo, mas diferente das outras vezes, aquela bebida criada por Rei parecia de certa maneira completamente diferente.
Talvez fosse o álcool que se misturou com o sabor adocicado, com notas cítricas de algo que parecia tequila. Seu paladar se aguçou, e antes que percebesse estava tomando outras doses.
Ele começou a notar uma leve tontura, a bebida finalmente estava fazendo efeito. Seu rosto corou, e ele sorriu de forma desajeitada, sem conseguir evitar a sensação de euforia que tomou conta dele.
Por outro lado, Rei também parecia alterado. Antes de se dar conta, o seu corpo e mente já tinham se acostumado com os efeitos da bebida.
— Ok. Essa virada valeu uns 10 pontos!
Brincou Rei, após ver a animação de Kazuki ao seu lado, enquanto pegava a garrafa de saquê para encher os copos.
— Vamos beber de novo! Agora é tudo ou nada.
Após escutá-lo, o homem-fera percebeu que estava agindo de maneira precipitada e decidiu abaixar o copo de saquê, colocando-o no tapete.
Em sua primeira experiência com álcool, Kazuki aprendeu que a bebida podia trazer sensações intensas, mas também era necessário responsabilidade e moderação.
— Melhor não! Anda logo e para com isso, ou vamos acabar ficando bêbados — respondeu ele, depois de notar que sua coordenação motora estava comprometida, com reações mais lentas do que o normal.
No entanto, o estudante fez uma careta.
— Vai se ferrar, Kazuki! Temos que aproveitar, essa é a minha primeira vez bebendo. Nem pensar que eu vou parar agora que a parte boa começou.
— Você leva isso a sério mesmo…
Kazuki encarou os olhos do estudante, ele parecia mais relaxado e extrovertido, falando mais do que o habitual e fazendo mais contato físico que normalmente faria.
— Eu só quero aproveitar enquanto posso, nunca tive essa oportunidade.
— Então só quer aproveitar… não é como se fosse estranho, mas por que se importa tanto com isso?
Após a indagação de Kazuki, Rei virou seu olhar para ele e mudou a expressão em seu rosto.
— É irritante, né?
— Huh?
— Não importava o que eu fizesse, desde sempre…
— … Era “Rei isso”, “Rei aquilo”.
De repente, o estudante mudou o assunto da conversa enquanto tomava algumas doses. Era como se estivesse relembrando de alguma memória antiga de sua infância.
— Falaram que eu era um peso, uma piada. Será que eles pensavam que eu não conseguia ouvi-los reclamando de mim? Quero dizer, não é como se eu me importasse, arrgh! Que irritante, foda-se.
Quando terminou de falar, ele caiu para trás e deitou-se no tapete, sem querer entrar com mais ênfase no assunto. Considerando a sua condição atual, ele não estava pensando direito.
Ele inclinou a cabeça para o lado, para olhar o rosto de Kazuki. Embora sua visão estivesse um pouco embaçada, ele notou que o rosto do homem-fera estava vermelho como um tomate devido às doses.
Rei abaixou seu olhar para baixo, após perceber um pontinho brilhando próximo ao peito de Kazuki. Havia um colar em seu pescoço, com um pequeno retrato estranho.
Rei parou de se mexer. Pensou que era efeito colateral do álcool, então aproximou-se suficientemente para colocar as mãos no colar.
Seu rosto ficou poucos centímetros afastado aos de Kazuki.
— Espera aí, Kazuki. Que colar ridículo é esse?
A figura que estava no retrato do colar era um desenho do seu rosto. Além disso, parecia muito bem desenhado, com padrões muito detalhados.
Não fazia sentido para o estudante.
— Ah, isso aqui?
— É o adorável colar especial do Rei. Pedi a uma elfa que fizesse ele. Fofinho, né?
O homem-fera respondeu envergonhado, colocando as mãos atrás da cabeça para coçar. Na realidade, Kazuki não esperava que o seu colar fosse revelado.
Normalmente, esse colar ficava escondido debaixo da camisa. Era provável que esse colar tivesse saído após ele inclinar-se para frente, após tomar as doses de saquê.
Em resposta, o rosto do estudante ficou mais vermelho que antes. Ele não sabia o que responder, então tentou esconder a sua vergonha atrás de palavras maliciosas:
— Você é nojento! Pode ir tirando esse lixo!
— Eh? Estou com ele desde manhã, pensei que tivesse gostado. Você não gostou?
Em reação, o homem-fera abaixou as orelhas e fez uma cara de choro, quase como um cachorro.
— Ei, espera! Qual é a dessa expressão?
Kazuki tinha acertado justamente no ponto fraco de Rei. Ainda que o garoto fosse uma pessoa explosiva e raramente demonstrasse algum sentimento, seu ponto fraco eram coisas fofas. E Kazuki não fugia à regra.
— Você… tá… argh! Tanto faz. É só um colar mesmo, pode usar.
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