Capítulo 168 - Ciúmes, X.
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Enquanto passavam pelos corredores de Svishtar, Rei foi incapaz de dizer alguma coisa que estava pensando no momento. Eventualmente, ele abaixou a cabeça e caminhou com certa relutância, sua mente parecia enevoada pelas pessoas que esbarrava no percurso.
A atmosfera pesada impossibilitava também que o estudante pudesse conversar com as duas meninas ao seu lado. Era difícil até mesmo respirar, pois muitas pessoas que estavam nos corredores do refúgio tinham cicatrizes e hematomas em suas peles e rostos, sendo possível notar marcas de sangue antigas.
Embora algumas dessas pessoas estivessem felizes ao verem Rei caminhar, chamando-o de santo e o agradecendo pelos cuidados da última noite, ainda parecia bem lamentável como tudo estava comparado a antes.
Antigamente, apesar da confusão da chegada de novos refugiados em Svishtar, e os corredores e refeitórios lotados de pessoas, a atmosfera não era significativamente tensa. Entretanto, essa mesma realidade parecia distante do que estava acontecendo agora.
No entanto, a mente de Rei estava completamente ocupada com outra preocupação; onde Kazuki e as crianças poderiam estar nesse momento. Além do mais, como a condição física do homem-fera poderia estar agora, sendo que na noite anterior ele acabou bebendo a mesma quantidade ou até mais álcool do que o próprio Rei.
Nesse hora, Rina curvou ligeiramente a cabeça e disse:
— Quando acordei, não pensei que a situação estivesse tão ruim quanto ontem. Tipo, em comparação com antes, as coisas estão melhores agora, mas ainda chega a ser zoado como tantas pessoas conseguiram se machucar.
— Me sinto um pouco triste com toda essa situação. Mas Rina, você também não fez nada para ajudar. Ficou deitada e dormiu até tarde, se não fosse por mim, você ainda estaria desacordada na cama — respondeu casualmente Tyrant.
Após ouvi-la, o rosto de Rina tornou-se vermelho como uma pedra escarlate. Ela virou sua cabeça para o lado, e reclamou envergonhada:
— Deixa de ser chata, Tyrant! Vai me provocar até quando? Eu só comentei como a situação estava ruim, nada mais do que isso. Por acaso, eu tenho a obrigação de ajudá-los? Não consigo nem cuidar de mim mesma, como irei auxiliar outras pessoas?
— Céus Rina, como pôde falar esse tipo de coisa. Você me chamou de Tyrant? Acho que você deveria me chamar de outra coisa, se eu não estiver enganada.
Rina congelou com o comentário da vidente.
Demorou um pouco para ela encontrar coragem para responder, nesse momento ela abaixou a cabeça para baixo e comentou somente com o canto da sua boca com certa relutância:
— … É…
— … M-Mestre…
A vidente não conseguiu conter a emoção e deu uma pequena risada, e um sorriso de arrogância pôde ser visto em seu rosto. Nessa hora, até mesmo as pessoas que estavam nos corredores puderam sentir um frio na espinha após verem aquela cena, o rosto malicioso de uma menina que mais parecia ao de um demônio.
— Oh, pela deusa… não tenho culpa, Rina…
— Lembra da sua promessa? Você disse que seguiria os caminhos das constelações caso fosse salva no vilarejo. Então, fico feliz que você manteve a sua promessa, ohoho.
Os ombros de Rina estremeceram, junto com o resto do seu corpo. Mesmo assim, embora com as provocações de Tyrant, ela seguiu o caminho com passos hesitantes.
— Sério? — murmurou ela baixinho, sem conseguir virar seu rosto para a companheira.
A menina pensou como foi impulsiva no passado. De acordo com a sua linha de pensamento, sob nenhuma circunstância um juramento deveria ser feito levianamente.
Enquanto as duas conversavam, o estudante apenas deu uma risada dessa situação. Cada vez que Rina respondia as provocações de Tyrant, o seu corpo tremia de vergonha.
Nesse momento, Rei avistou de longe Kazuki e as crianças próximas de uma elfa. Eles estavam localizados no final de um corredor, no qual havia inúmeras portas por perto.
À medida que avançava, ele notava de longe como a aparência aquela elfa parecia diferente dos demais elfos do refúgio — era impossível não notar.
Rei pontuou cada característica dela enquanto se aproximava. A coloração de seus olhos eram azuis, com cabelos longos prateados e uma roupa adornada, completamente diferente das vestimentas padrões que os elfos usavam.
Na realidade, a roupa que aquela elfa estava usando parecia bem mais vulgar que o normal, mostrando partes de sua pele e um decote profundo que revelava as laterais dos seios.
Sob tais circunstâncias, no momento em que chegou e acenou para o homem-fera, a expressão no rosto de Rei não estava muito boa.
Quando notou a presença do estudante por perto, Kazuki levantou seu olhar surpreso para perguntar:
— Rei? O que está fazendo aqui?
Após ouvi-lo, o garoto se esforçou em dar um sorriso para mostrar que estava realmente bem. Os músculos ao redor da sua boca endureceram um pouco enquanto tentava fazer um sorriso em seu rosto que não sorria.
— Não entendi a sua pergunta. Eu não deveria estar aqui? — respondeu o estudante com outra pergunta.
— Não, não é isso que eu quis dizer…
Nessa hora, a elfa que estava próxima das crianças deu um passo para frente e entrou na conversa.
— Então você é o Rei? Kazuki me contou muito sobre você. — Ela sorriu, não houve hesitação em seus movimentos, seu comentário carregava uma gigantesca impressão.
— Quem é você?
A elfa conseguiu responder com um pouco de atrevimento, ajeitando os óculos em seu rosto.
— Eu sou Alania. Prazer em conhecê-lo finalmente. Uau, você é realmente mais bonito do que eu esperava!
— É, sim? — respondeu ele um pouco confuso.
— Caso não saiba, eu sou a psicóloga desse lugar. Estou ajudando as crianças e adultos, caso eles precisem. Sou uma excelente profissional, não acha? — perguntou ela, após virar seu rosto na direção de Kazuki.
— Ah, sim. Isso mesmo. — O homem-fera confirmou, um pouco envergonhado.
Nessa hora, o estudante ficou surpreso com aquele comando, mas ele tentou não deixar tal sentimento visível e levantou a cabeça, deixando a sua postura mais reta.
— Você não parece interessada em ajudar. Parece estar ocupada com outra coisa.
— O que disse?!
— Me refiro a ele. Você continuou o encarando.
— Como?
Continua…
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