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    Akemi entrava em casa com cautela. A luz vinda das grandes janelas à esquerda revelava a sala de estar, onde, na poltrona de couro desgastado, estava Isao.

    — Vovô?

    O idoso encheu os olhos de emoção, saiu da poltrona e atravessou a sala. — Akemi! — exclamou ele, envolvendo o jovem em um abraço apertado.

    Akemi sentia a fragilidade e calor do corpo do avô. — Vovô, eu…

    Mas, antes que pudesse falar, Isao se afastou do abraço, preocupado. — Como você está?!

    Akemi entendeu a situação e optou pela sinceridade. — Eu estou bem. Confesso que vivi momentos assustadores, mas já passou.

    O semblante de Isao se iluminou momentaneamente, mas a satisfação logo deu lugar às sombras de preocupação. — Ainda bem, mas o que quer dizer com momentos assustadores? O que aconteceu lá?

    — Bom… como posso explicar? Meio que eu… eu consegui!

    — Conseguiu?

    — Deu tudo certo, vovô! Eu serei um integrante da Academia Shihai de Asahi!

    — Você… — Isao arregalou os olhos com a notícia.

    A reação do avô fez Akemi querer passar confiança. — Vovô, eu vi tudo com meus próprios olhos e agora entendo do que o senhor estava tentando me proteger. Mas, durante essa jornada, conheci pessoas incríveis que estão dispostas a me ajudar. Pela primeira vez na vida, eu não me senti sozinho…

    Isao desviou o olhar, como se aquela revelação fosse o suficiente para desencadear memórias dolorosas. — É muita ingenuidade… Você não entende, Akemi. A vida de um militar… ela é… — O sofrimento inocultável não o deixou terminar.

    — O que há de errado? Por que você sempre foi contra os meus objetivos?

    As palavras que Isao desejava dizer pareciam contidas na garganta; porém, mesmo assim ele suspirou e conduziu Akemi até o sofá. — … Olha, precisamos conversar melhor sobre isso. Vamos nos sentar ali.

    — Certo.

    “Ele está tão tenso e confuso…”

    O avô sentou-se ao lado do neto no sofá. — Akemi, existem coisas que você ainda não sabe. Você não passou por momentos de guerra, mas eu, por ser mais velho, sei bem o que ela causa. Vi cidades devastadas, amigos se perdendo, famílias sendo destruídas. Apesar de estarmos em paz agora, o exército de Asahi é uma ameaça que pode desencadear novos conflitos intermináveis. Não quero que você tenha que passar por tudo isso.

    — É óbvio que a guerra é terrível, e por isso farei tudo ao meu alcance para evitar novos embates. Mesmo que eu seja vulnerável e tenha muitas coisas a melhorar, sei que não estarei sozinho nessa.

    Uma nostalgia invadiu Isao. — Você fala exatamente como ela… esse brilho nos olhos junto dessa teimosia…

    — Se refere à minha mãe?

    — Não. Esqueça isso. Quero que me diga como foi esse teste que você fez na ASA.

    O olhar afiado do avô buscava respostas, não apenas nas palavras, mas nos recessos da alma do neto.

    — Eh… Olha… Eu imaginei que seria um teste como uma prova escrita, porém… era um combate.

    A reação de Isao era apenas um rosto confuso. — Um combate?

    Akemi esperava um choque, mas seu avô apenas parecia refletir sobre algo. — Foi em uma arena. Era tipo um coliseu enorme com uma redoma transparente que protegia os espectadores. Eu mal podia acreditar que estava lá.

    Redoma transparente? — sussurrou o idoso — você entrou nesse campo de batalha sabendo que faria uma luta real?

    A resposta contava com a maior confiança. — Sim, vovô. Mas meio que eu não sabia dos riscos. Entretanto, não adiantava fugir, eu tinha que seguir em frente!

    Isao balançou a cabeça lentamente, lamentando algo.

    Akemi explicou sobre a função do shihai temporal, trazendo um pouco mais de tranquilidade ao avô.

    — Contra quem você lutou?

    Akemi detalhou a magnitude de sua surpresa quando descobriu quem seria o seu oponente. O sobrenome do adversário parecia pesar na sala.

    Miyazaki… — murmurou Isao, a pronúncia saiu como uma maldição.

    — Era um garoto insolente e valente, mas era rápido e poderoso. Pra falar a verdade, eu sempre soube que não teria a menor chance — o rapaz coçou a nuca — até porque eu estava passando por alguns problemas para controlar a minha aura.

    — O que ele fez com você?

    — Eu não sei como explicar. As chamas dele… elas não me afetavam.

    — … Como assim?

    — Ele tentou me atacar com fogo, mas eu não sofri dano algum. Só que… antes que eu pudesse perceber, ele partiu pra cima de mim…

    Akemi relatou como sua aura reagia para protegê-lo, deixando ferimentos graves em um Miyazaki. Todavia, ele não fugiu de dizer o que aconteceu quando sua defesa foi quebrada, lembrando da sensação de derrota iminente ao ser superado nos estágios finais da batalha. — … Mas então, tudo ao redor parou. Foi o shihai do tempo.

    Isao estava imerso na história. — Em seguida?

    — Fui puxado para um tipo de corrente temporal. Foi a sensação mais estranha da minha vida, e quando retornei, tudo estava como antes. Eu estava ileso e com as roupas intactas.

    A informação do shihai do tempo tirou uma levantada de sobrancelhas no idoso, que claramente revelou uma leve perplexidade pelo fato. — E como isso terminou?

    O rapaz ficou um pouco triste. — Como esperado, fui declarado perdedor… A plateia reagiu de várias maneiras com o fim da luta, mas Nihara estava furioso por eu não lutar como ele queria e tentou me atacar após o fim do combate. Pra minha sorte, um shihai o impediu.

    Hm… que situação deplorável — sussurrou Isao — bom, imaginar você ganhando um combate é realmente impossível. Mas o que você fez depois?

    — Questionei ao público a necessidade dessas lutas. Falei sobre a futilidade de confrontos mortais e a necessidade de buscar a paz. Não sei se deveria ter falado isso, mas senti que precisava.

    — É bem a sua cara fazer uma coisa dessas… Entretanto, se perdeu o combate, como entrou para a ASA?

    — Eu… conheci uma garota da família Miyazaki… — Akemi comentou sobre como Miya foi amigável. — … Ela enxergou algo em mim e disse que precisava da minha presença para realizar seus sonhos de paz. Mesmo com algumas desavenças, ela usou o sobrenome para me indicar.

    — Só ela não é o suficiente para uma indicação.

    Akemi olhava para frente, relembrando o momento crucial de sua vida. — Nós também sentimos isso, mas foi aí que o Marechal Jin Ichikawa apareceu.

    — Ji- — sem repetir o nome por completo, Isao paralisou com um rosto assustado.

    Sem notar a paralisia do avô, o rapaz continuava: — Nós já tínhamos nos encontrado antes da minha luta. Não sei como, mas ele descobriu sobre o meu caso e colocou muita esperança na minha aura elétrica… Só que, algum tempo depois, quando aquela garota me indicou, ele apareceu do meio do vento, como se fosse do próprio nada! Você devia ter visto!

    Uma quietude estranha surgiu entre os dois, Akemi a percebeu e olhou para o lado, a reação inerte do avô o assustou. — Vovô?!

    Isao saiu da paralisia, contato visual evitado. — Você… não precisa me dizer mais nada…

    — Não?

    O olhar do avô encontrou o do neto, e por um momento, Akemi viu uma faísca de compreensão no rosto de Isao.

    — Está entrando em um mundo perigoso, rapaz. Só espero que, no final, encontre o que busca. Você é um adulto, e te manter longe do perigo já se tornou difícil. Saiba que está avisado.

    — Confie em mim, vovô. Sinto-me inspirado agora. Não quero mais ser aquele garoto sozinho e estranho. Serei alguém melhor!

    Mesmo aceitando momentaneamente a situação, Isao preocupava-se com as incertezas do futuro de seu neto e adotou uma postura mais séria. — Entendo, mas agora, deixe-me contar algo sobre os Miyazaki.

    — Claro, pode dizer — respondeu Akemi, atento.

    — Os Miyazaki são extremamente poderosos, imponentes e ricos, porém rudes e gananciosos, infestados de pessoas com feitos sujos e maléficos. Entretanto, conseguiram apagar esses casos com a chegada de certos integrantes que alavancaram o nome da família. Então, tome cuidado, orgulhosos destroem coisas cegamente.

    — Tá tudo bem, consigo perceber a índole dos outros. A garota que conheci é totalmente diferente do que você está dizendo. Eu confio plenamente nela.

    — Seja como for, só peço para que preste atenção nela. Diferente de você, eu nunca acreditaria nessa classe alta… Enfim, como vai se preparar para a ASA? Nem roupas para lá você tem.

    Com base nas informações do contrato que outrora assinara, Akemi repassava: — Parece que elas serão enviadas em encomenda até a nossa casa, juntamente de várias outras coisas. Não sei quando irão chegar, mas estou ansioso para ver!

    — Compreendo. Bem, como não terá mais tempo para trabalhar, darei fim ao seu estágio na usina. Espero que seja feliz com sua nova rotina daqui para frente.

    — Você aceitou tudo isso… numa boa?

    — Como eu disse, não tenho mais forças para te segurar. Preciso descansar a cabeça — Isao levantou-se e ajeitou as calças.

    — Onde vai?

    — Vou ao meu quarto escutar um pouco de rádio. Essas tecnologias de hoje em dia me encantam. Fique à vontade para fazer o que queira — Isao caminhou até o corredor à direita da casa.

    “Nossa, achei que ele iria espernear, trancar a porta da casa e jogar a chave fora comigo aqui dentro, mas foi tudo tão tranquilo… Enfim, queria aprender mais sobre a ASA, mas não tenho nada que possa ajudar… Acho que vou apenas esperar a encomenda.”

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