Capítulo 180 - Um cheiro estranho, X.
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— Rina, já disse para você parar com isso.
Através daquela minúscula janela, a menina estava olhando o desenrolar daquela cena. Mia e Takayo não estavam entendendo nada, mas também observavam atentamente tudo que estava acontecendo.
Do ângulo em que eles estavam vendo os dois homens discutindo, eles mais pareciam estar se beijando — embora esse não fosse o caso, devido a tensão do momento.
— Qual é, não está vendo? Que incrível. Uhahahahahaha! Kyaa! Maravilha! Isso aí! Ai sim, poha.
— Chega dessa loucura, o universo está te olhando! Tenha modos, Rina. — Apesar de dizer isso, a vidente utilizou-se da violência para desferir um pequeno soco na cabeça de Rina.
— Só mais um pouco… quero mais.
Comentou a menina caindo no chão da carruagem, com algumas lágrimas falsas escorrendo do seu rosto.
Quando os olhos de Kazuki e Matsuno pararam de chamejar, o homem-fera estendeu a mão para o cavalheiro e disse repentinamente:
— Então, até que nosso objetivo esteja completa, acho que teremos que nos dar bem, mesmo que odiando o outro. Vamos dar nosso melhor. Não como estranhos, mas como companheiros.
Ele disse com honestidade e seriedade, mas suas palavras davam uma impressão totalmente contrária. Vendo essa atitude, Matsuno abriu um sorriso no rosto e apertou a mão do homem-fera.
— Claro.
Eles sorriram após um apertar na mão do outro, no entanto, um momento depois eles afastaram as mãos simultaneamente — quase como se tivessem encostado em um inseto extremamente asqueroso.
— Bem… — Começou a falar Kazuki, com um rosto de desgosto. — Por favor, siga seu caminho, companheiro Matsuno. Nos vemos na carruagem.
— Certo, até daqui a pouco, companheiro “Kazuki”.
Respondeu o cavaleiro, enfatizando o nome daquele sujeito que estava bem a sua frente. No momento seguinte, eles caminharam com passos largos até o local onde Rei estava.
O único pensamento que Kazuki teve enquanto caminhava até o estudante foi: “Desagradável.”
Por outro lado, o pensamento que Matsuno teve enquanto caminhava era o mesmo: “Desagradável.”
Quando os dois alcançaram Rei, ele ficou sem entender o porquê da expressão de Kazuki e Matsuno ser extremamente apática em comparação com alguns minutos atrás.
Entretanto, preferiu não perguntar diretamente. Ele ainda estava envergonhado pelo que tinha ocorrido, justamente por causa da resposta de Matsuno.
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A carruagem de Matsuno era diferente das demais. O espaço em seu interior era suficiente para abrigar de 6 a 7 pessoas adultas no local. Chegava a ser ridícula a ideia de comparar aquele espaço enorme com outras carruagens.
Haviam duas janelas dentro daquele pequeno cômodo, cada uma posicionada em um canto distinto. Nas laterais, pedras mágicas estavam alocadas para oferecer mais iluminação e claridade para o ambiente, tornando a atmosfera mais suave e auspiciosa.
Rei, Kazuki e Matsuno estavam sentados nos assentos enquanto olhavam para o lado de fora das janelas. A única coisa que podiam observar enquanto a carruagem era movida pelas estradas, eram os relevos das florestas rarefeitas e o céu alaranjado que destoava para uma coloração mais escura à medida que o tempo passava.
Alguns minutos antes, alguns dos oficiais e soldados do exército de Matsuno começaram a seguir os planos estabelecidos pelo seu líder. Eles retiraram os acampamentos da região e colocaram todos os refugiados nas carruagens de madeira, posicionando-os na linha do meio, onde seriam protegidos.
A essa altura, toda a posição estratégica estava preparada para o percurso inicial até a capital.
1°— A linha de frente.
2° — A linha do meio.
3° — A linha de trás.
Embora tudo estivesse sendo organizado com maestria, Matsuno optou em permanecer dentro da carruagem com Rei e Kazuki, que olharam-no com certa desconfiança.
— Você não precisa auxiliar os seus soldados?
Rei foi o primeiro a perguntar, pois estava curioso após notar como aquele homem parecia não se importar com esses detalhes. A expressão de Matsuno exalava confiança até nestes pequenos momentos descontraídos. Apesar de seu comportamento não se encaixar como o de um comandante.
— Está preocupado que algo possa dar errado? Relaxa. Ainda que eu seja o líder, todos os soldados e oficiais do reino humano são capazes. Eles são os melhores em todos os requisitos, tanto em organização, estratégia, ordem, educação, eficiência e outros aspectos.
— Estamos seguindo o caminho até a capital. Discutimos mais cedo sobre o plano antecipadamente, eu não preciso me preocupar com esses caras. Caso contrário, eu teria que agir como uma babá o tempo inteiro. Esse não é o caso.
Matsuno respondeu com confiança, sua voz era suave e firme, trazendo um conforto inexplicável em suas palavras. Este comportamento deixou Rei e Kazuki surpresos, embora a opinião dos dois divergisem.
Rei pensou que Matsuno tinha completa confiança em suas habilidades, não estava sendo arrogante ou pretensioso em seu comportamento, mas possuía um nível de certeza absoluto.
Enquanto Kazuki apenas pensou que aquele cara estava querendo aparecer. Pretendendo ser o centro das atenções, assim roubando todos os holofotes, com o único intuito de se aproximar do estudante.
Após receber aquela resposta, o garoto sentiu-se livre para fazer outros tipos de pergunta. Afinal, o percurso até a capital iria durar pelo menos alguns dias, se todos ficassem em silêncio, a viagem com certeza seria entediante.
Haviam muitas dúvidas, porém o estudante ponderou sobre o que perguntar para Matsuno, pois temia a possibilidade de ser intrusivo em sua vida privada.
— Círdan… ele disse que te conhece. Vocês eram conhecidos antes?
Houve um pequeno silêncio antes que Matsuno pudesse responder. O homem soltou um suspiro e voltou sua visão para a direção de Rei.
— Isso virou um interrogatório? Não precisa perguntar com tanta seriedade no rosto. Círdan, o elfo, certo? Olha, resumindo, conheci ele quando eu ainda era pequeno. Não devia ter mais do que 6 ou 7 anos de idade naquela época.
Ele respondeu brevemente, e não contou mais nada sobre o assunto. Somente algumas explicações vagas, que deixou a curiosidade bater à solta.
— Ah, sim… entendi. Então você o conhecia desde pequeno, mas que… Porra, que fedor.
O estudante fez uma careta, a região que estavam passando exalou um forte odor — o que definitivamente afetou a moral de outras pessoas.
Continua…
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