Capítulo 47: Fome e Frustração
Roncccccc!
Minha barriga reclamava de fome. Estávamos andando há horas, sem nenhuma pausa e nenhum sinal do fim da daquele bosque, que levava à entrada clandestina da cidade de Ahrmanica.
A única coisa que eu não poderia reclamar era de nenhum animal feroz ter aparecido durante todo nosso percurso.
Mas até que não seria má ideia, ao menos teríamos algo para comer.
— Tá com fome, rapaz? Hahahah! Toma um álcool!
Ele me ofereceu aquela garrafa cheia de saliva ao redor da boca.
— É claro que eu não quero! E, além disso, álcool mata fome?
— Como acha que tenho sobrevivido?!
Apesar dele ser o meu favorito, ele era bastante estranho.
Tipo, quem sobrevive com álcool?
— Cada um com o seu organismo então.
— Mas tudo bem, vamos parar um pouco e procurar algo para comer.
— Será que vamos achar algo por aqui?
— Espera! Ah! — Ele estalou os dedos e, após beber mais um pouco, emitiu: — Lembrei de algo muito melhor que comida!
— Melhor que comida? Acho impossível.
— Se eu transferir a minha mana para o cavalo, podemos chegar muito mais rápido a Ahrmanica.
— E isso é possível?
Podia não parecer, mas animais normais como cavalos não possuíam mana em seus corpos, diferente dos animais anormais, que eram classificados como monstros, tipo o Golem e muitos outros, por isso eu achava impossível transferir mana para animais como cavalos.
Porque mana era uma energia e consequentemente, o corpo que a recebi deve estar preparado. É o mesmo princípio que quando carregamos a bateria do celular. Imagine se a gente aplicasse a voltagem de um poste de energia, evidentemente que o celular explodiria, porque ele não foi feito para suportar uma voltagem tão alta.
Assim acontecia com os cavalos e outros animais que não possuíam mana em seus corpos, quando recebiam mana.
— Para um aventureiro rank S sim. Entenda uma coisa, garoto, nós aventureiros nível S somos anormais e fazemos coisas que parecem impossíveis.
— Incrível!
Essa eu pagava para ver. Se por acaso ficássemos sem cavalo, ele seria o nosso cavalo substituto.
— Ei, mulher! Pare a caravana!
A caravana não parou.
— Acho que ela não quer conversa comigo.
Zestas suspirou com desânimo e voltou a ingerir mais do seu saquê.
Dei um sorriso torto e coloquei as duas mãos sobre a boca.
— Theresa, por favor, poderia parar a caravana?
A caravana parou imediatamente.
— Viu só? A única coisa que é impossível até mesmo para aventureiros rank S é domar o coração de uma mulher.
— Na verdade, acho que ela só queria que você pedisse com gentileza.
— Será? Mas enfim, vou mudar de lugar com ela para eu te mostrar o quão longe chegaremos com as minhas habilidades extraordinárias.
Ele abriu a porta e desceu da caravana.
— Espera! A gente não ia caçar comida?
— Aguente firme, prometo que já, já chegaremos! Se paramos para caçar, estaremos perdendo tempo. E você já sabe, não é? Tempo é o que…
— Não temos — completei.
— Hahahaha! Eu sabia, estamos alinhados.
Ele enfim saiu da minha vista enquanto bebia mais do seu saquê.
— Ei, mulher! Por que não me respondeu antes?
Ouvi um tapa bem-dado ressoar pelos meus ouvidos.
Se tinha uma coisa que o Zestas não sabia, era ser e estar.
— Poxa! Eu só queria saber qual foi o motivo, não precisava partir para agressão!
Logo depois dos lamentos de Zestas, vi Theresa na porta.
— E então, o que pretendem?
— Sobe aí que o Sr. Zestas vai assumir o comando!
— O que? Não! A gente vai morrer! Um bebado não pode dirigir!
— Opa, me lembrei de uma música que passava na tv! Se beber, não conduza… Nana, se beber, não conduza!
— Tv? Música? É, estou rodeada de loucos.
Theresa colocou a mão na testa enquanto lamentava.
É, parece que deixei minha nostalgia extravasar.
— Esquece o que eu disse e entra aí!
— Se a gente morrer, a culpa é sua. — Theresa entrou, fechou a porta com uma expressão enfurecida e sentou no chão com as pernas cruzadas.
— Todos apostos?!
— Simmm!
Fui o único que gritei com ânimo enquanto levantava o punho.
— Então avante!
No momento em que ele disse isso, senti meu corpo sendo movido abruptamente contra parede frontal da caravana. Meu rosto e o de Theresa embateram na parede da caravana, e pelo que pude ver da janela fechada, cores verdes e azuis passavam tão rápido como flash.
Se eu descrevesse isso em poucas palavras, diria que estávamos viajando na velocidade de luz.
Os corpos de Meredith e Zernen saíram do lugar e embateram nas paredes.
— Eu disse! Eu disse! Esse cara vai nos matar!
Infelizmente, eu tinha que concordar com Theresa.
— Zestas, pare isso, por favor!
Gritei enquanto tinha o rosto contra a parede. A caravana balançava e balançava de um lado para outro. Quando ele executava um desvio, os nossos corpos se movimentam contra as paredes. Galos até haviam se formado enquanto eu ouvia os gritos da Theresa, que reclamava sua razão.
Aquilo perdurou por um bom tempo, até que a caravana parou subitamente, dando um fim no nosso sofrimento.
Theresa suspirou freneticamente enquanto pressionava a mão no peito.
Me surpreendi por aqueles dois não terem acordado com tudo aquilo, ou talvez o embate dos seus corpos os tenha feito desmaiar mesmo inconscientes.
Após suspirar, Theresa abriu a porta e foi tirar satisfações com o Zestas.
Enquanto isso, Meredith e Zernen abriam os olhos quase que ao mesmo tempo.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou Meredith, se levantando enquanto colocava a mão na testa, confusa.
Já o Zernen acordou todo em pânico.
— Onde está ele? Ah, droga! De novo não!
Ele cerrou o punho e bateu no chão de madeira, provavelmente constrangido por não ver o Xavier por aqui.
Por outro lado, eu ouvia Theresa do lado de fora, dando um belo sermão ao Zestas, que não parava de pedir desculpas e mais desculpas.
— Salvaram a minha pele de novo… Que frustrante…
— Não pude fazer nada, que decepcionante.
Zernen e Meredith ficaram depressivos, voltando seus rostos contra o chão.
— Calmem, pessoal, também salvaram a minha pele. Dessa vez, eu não fiz nada.
— Quem nos salvou do Xavier?— indagou Meredith.
— Ele foi derrotado? Se sim, me diga quem foi!
Zernen levantou os dois punhos, ansioso.
— Foi só o senhor Alexodoro, pessoal. Ele apareceu no último instante e agora se encontra batalhando contra o Xavier.
— Eu preciso voltar para lá! Não posso deixar o vovô lidar com os meus problemas!
— De fato, a gente impôs um grande fardo nas costas do senhor Alexodoro!
— Não é? Precisamos voltar!
Zernen olhou para Meredith com um sorriso.
— Mas vocês estão com parafusos fora da cabeça? O senhor Alexodoro se sacrificou por nós e vocês ainda querem voltar para o perigo?!
— Não foi o que eu disse — emitiu Meredith.
— Podem ir ao norte vocês, eu vou ajudar o vovô! — Zernen avançou.
Até tentei parar ele com os braços esticados, mas levei um soco na barriga.
Segurei minha barriga enquanto caia de joelhos, ouvindo os passos apressados de Zernen, que saltaram para fora da caravana.
Deitado, olhei para ela.
— Meredith… Não vai impedi-lo?
— Eu não tenho mais mana, sinto muito.
— Ah… — Fechei os olhos e desmaiei, ouvindo por último um grito da Meredith.
— Jarves!!!
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