Índice de Capítulo

    Ponto de Vista de Elena:

    Ao ver minha aprendiz ainda mais forte que o nosso último encontro há dois anos, meu coração se aliviou por um momento. Eu segui meu caminho para a Torre Central de Shryne com um gosto doce na boca, que logo iria se desfazer ao me encontrar com minha velha amiga.

    — O que foi? — fui direto ao assunto.

    — Awn… — Melissa gemeu desapontada — por que você é sempre assim?

    — Se me chamou aqui só pra bater papo, então já vou indo — virando-me de costas.

    — Tá bom, tá bom… vou ser breve, então.

    — Estou ouvindo.

    — Vou te mandar para a Ilha de Magma.

    — O quê? — perguntei chocada — explica direito.

    — Você quer que eu vá direto ao assunto ou não? Você tem que decidir!

    — NÃO ENCHE, PIRRALHA!

    Antes que pudéssemos continuar, Melissa e eu nos sentamos ao redor de sua mesa.

    — Do início.

    — Vá para Ilha de Magma e fortaleça seu núcleo de mana. Não estou pedindo para voltar com a Amaterasu, caso não queira, mas as coisas estão começando a esquentar e precisamos de todo o poder que tivermos.

    — Eu não sou idiota, se isso era tudo que tinha para me dizer, não teria me chamado até aqui.

    — Tem razão.

    — Então vai, desembucha — ansiosamente batendo meu pé no chão.

    — Recebi uma carta.

    — …

    — De Hibéria.

    — HIBÉRIA? ISSO É IMPOSSÍVEL!

    — Foi o que pensei — jogando a carta em cima da mesa — “A alma pelo mal corrompida, para Mortalia caminha. Logo em sua morte viu, o que no coração sentiu. Pelo bem do conhecimento e da justiça, não os deixe a deriva” — recitou.

    — Desde quando sabe ler em Hiberiano?

    — Desde que recebi a carta e não temos ninguém que conheça o idioma.

    — Só você mesmo… — resmunguei.

    — Isso foi um elogio?

    — Vai sonhando — deixando as trivialidades de lado, perguntei diretamente — Mortalha não está escrito errado?

    — Ah… — deu com um suspirado exausto — não me faça lembrar da dor de cabeça que ganhei com isso.

    — Do que está falando?

    — Isso foi escrito de propósito — jogando imediatamente vários papéis na mesa — Isso foi tudo que consegui achar. Pelo contexto, acredito que mortalha esteja se referindo ao pano, 1 mas também pode ser um amontoado de cadáveres. A questão é que “Mortalia” não existe.

    — Não existe uma grande chance de ser “apenas” um erro?

    — Vou te poupar dos detalhes, o tempo está curto, mas resumindo, “Mortalia” está escrito com um caractere muito específico. Isso faz com que a forma correta de se lê seja “Mort – Alia”.

    — Conheço esse nome. Já o vi em meios as pesquisas de Galliard.

    — Mort Alia é uma magia poderosa, capaz de causar terror na mente do alvo. Ela também restringe seu bem mais precioso e te força a liberar mana até que não consiga mais se manter de pé.

    — Entendi… — em um suspiro aborrecido, sabendo que não poderia rejeitar sua ordem, me levantei — Então sobrou pra mim encontrar o pergaminho onde essa magia foi selada e trazer pra cá, não é? — andando até a porta.

    — É isso mes- — Melissa se calou surpresa — espera aí! Não quer saber como eu descobri tu- 

    — Não — interrompi — Isso não faz diferença pra mim. Vou imediatamente para Ilha de Magma.

    — Humph! — sorriu por um instante — Não vai se despedir dos outros? Eles acabaram de chegar!

    — Não precisa! — parei rapidamente ao me lembrar de algo importante — Aliás, sobre aquele caso em Nebuloria… mande-os para lá. Não se sobrecarregue tanto.

    — Isso foi um conselho de amiga?

    — Veja como quiser — respondi fechando a porta de seu escritório.

    Ponto de Vista de Saki:

    Noelle e seu mentor enfim descansaram. Após um longo tempo discutindo as infinitas possibilidades do universo, eles cessaram brevemente e se sentaram ansiosos.

    — Não é querendo atrapalhar esse momento de vocês, mas me responde uma coisa — interrompi olhando para Galliard — O que são todos esses policiais nas ruas? E por quê não tem quase ninguém andando por aí?

    — Ah, bem… er… — ele respondia entre gaguejos suspeitos — Não é nada de mais, é apenas um toque de recolher por conta de alguns assassinatos recentes… só isso.

    — Toque de recolher? O sol nem se pôs ainda — apontando para a janela, dando ênfase no sol brilhante no céu.

    — É que foram muitos assassinatos…— seu suor frio escorria pelo rosto.

    — Hmm… — eu olhava no fundo dos seus olhos, esperando a verdade.

    — É sério! — com um sorriso desconfortável.

    — … — penetrando sua alma apenas com minha força de vontade.

    — Tá legal, eu conto! — ele enfim cedeu.

    — Você é um péssimo mentiroso, Sr. Galliard — comentou Noelle.

    — Eu sei, não é meu forte.

    — Então vai, desembucha! — o apressei.

    — Céus, você está ficando igual a ela! — disse com uma voz trêmula.

    Com uma breve explicação, Galliard contou a situação que Shryne se encontrava. Nos últimos anos, as tropas de Lilith começaram a se mover, trazendo o caos para todo o mundo. Algumas cidades e distritos já foram tomadas e existem suspeitas de que humanos e demônios estão cooperando entre si. As notícias se espalharam rapidamente por todos os continentes, o pânico fez com que os civis se trancassem em suas casas e os países tiveram que agir para tranquilizá-los.

    — Entendi… — em um instante, acontecimentos passados transpassaram pela minha mente — Será que era disso que eles estavam falando?

    — Está falando da mensageira? — concluiu Noelle — É possível, mas… todo esse caos por uma pessoa…

    — É, ainda não me convence — um silêncio reinou na discussão, sendo possível apenas ouvir o ronco de Akira largado no canto — Falando em caos, Elena disse para perguntar sobre essa tal “Manipulação do Caos” — mudando completamente de assunto como se não fosse nada.

    Galliard ainda vagava em sua própria mente, divagando sobre a quantidade de coisas que estavam acontecendo simultaneamente.

    — Ah! Sim! A “manipulação do Caos”

    “Ele tá perdidinho” pensei ao ver sua reação atrasada.

    — Fico feliz por já ter abandonado o antigo nome, aquilo, além de errado, era horrível.

    — Errado?

    — Sim. Caos seria o nome correto para o seu caso, você já vai entender — ele andava apressado em direção a um quadro branco próximo à janela.

    — Caos… — Noelle sussurrava sozinha — acho que já vi esse nome antes…

    — Acho difícil, o “Caos” é um conceito recém descoberto. Nenhum escrito antigo possui informações sobre ele e- 

    — “Há algo que conecta nós humanos a mana, não sei ao certo como funciona ou o que é de fato, mas se assemelha há uma fusão caótica dos elementos. É possível sentir um misto de sensações em fontes mágicas ou Bosques Místicos.” — interrompeu com um caderno em suas mãos.

    Diferentemente de mim, Galliard ficou estupefato com a informação que Noelle nos trouxe.

    — C-Como você sabe disso? — perguntou boquiaberto

    — Está tudo no caderno que minha mãe deixou para mim — estendendo o caderno para seu mestre.

    — Esse caderno… — parecia que um flash de memórias passou diante de seus olhos — a Viollet anotava tudo nele…

    — Sim, é como se fosse sua forma de se desculpar por não estar aqui…

    — Então, além de tudo que fez, ainda fez um manual? — brincou sorrindo — E ainda estava estudando algo como isso…

    — De certa forma. Mas algumas coisas não são tão claras, como no caso atual.

    — O que quer dizer?

    — Minha hipótese inicial era de que o corpo da Saki era como um feitiço, onde dentro dele altera as propriedades da mana.

    — Entendo… faz sentido, por mais que esteja incorreto.

    — Antes eu não havia ligado o “Caos” a este fenômeno, agora tudo faz mais sentido…

    — Er… com licença! — fui obrigada a interrompê-los — podem falar em português, por favor?

    — Ah, sim! Claro! Deixe me continuar — Galliard voltou para o quadro — Viollet estava correta ao afirmar a semelhança do Caos com “A Fusão Caótica dos Elementos”, afinal, essa é a definição perfeita para o Caos.

    — Isso significa que eu consigo utilizar todos os elementos? — perguntei.

    — Sim e não. Para simplificar, você é capaz de interagir com os elementos, mas não conjurar ou manipulá-los.

    — Se é assim, o que é toda aquela força e velocidade que eu ganho quando envolvo meu corpo com ele?

    — Infelizmente ainda não consigo responder, como já disse, é uma descoberta recente que fiz ao coletar as análises do seu treinamento e de suas lutas em Raven.

    — Bom, pelo menos já temos alguma coisa, contanto que eu ainda consiga socar a cara de alguns cretinos, tá tudo certo.

    — Hehe! Você é bem peculiar ein! — gargalhando — Mas antes de saírem por aí novamente, gostaria de fazer alguns testes, tudo bem?

    — Por mim de boa.

    Após acordar Akira com um belo sacode, enfim começamos os testes. Coletando diferentes análises de diferentes reações que meu corpo teve com vários elementos, até o anoitecer.

    “BIP. BIP. BIP. BIP” um toque agudo e sistemático tocou.

    Galliard! Está aí? — uma voz familiar.

    — Melissa? — Galliard deixou todos os seus equipamentos e foi até uma bancada presa na parede, logo abaixo de alguns armários — Estou aqui, o que houve?

    As crianças ainda estão com você?

    — Sim, sim. Estamos fazendo alguns experimentos.

    Ótimo! Assim que acabarem aí, mande os para cá, tenho uma tarefa para eles.

    — Você não perde uma oportunidade, não é mesmo?

    Na verdade, foi um pedido da Elena.

    — Da Elena, é? Tá certo! Eles irão assim que possível!

    Antes mesmo que pudesse virar para nós, o perguntei imediatamente.

    — Uma tarefa? — chocando meus punhos ansiosos por uma luta.

    — Até que enfim — disse Akira se espreguiçando — já tava cansado de dormir!

    — Você permaneceu em estado de sono durante toda a viagem… — Noelle rebateu com certo deboche.

    — Hahahaha! — gargalhou — Os jovens são realmente cheios de energia. Já terminamos por aqui, podem ir!

    Assim que Galliard nos liberou, corremos rapidamente para encontrar com a rainha. Infelizmente, tivemos que passar por toda aquela burocracia exaustiva de sempre, nos deixando ainda mais ansiosos.

    — Rainha Melissa! — gritei arrombando sua porta, gentilmente, é claro.

    Akira se curvou com respeito, mostrando lealdade.

    A rainha estava virada para seu grande painel de vidro, observando a cidade vazia brilhando sob o luar.

    — Nossa! Vocês vieram rápido — se voltando para nós.

    Nosso amigo permanecia de cabeça baixa, enquanto isso, nós tentávamos segurar o riso o máximo que podíamos.

    — Mas não precisam se curvar nem nada — com seus belos olhos gentis em esmeralda, afirmou — Não ligo pra essas coisas.

    Assim que a mesma revelou, Noelle e eu ficamos sem ar de tanto rir.

    — O QUÊ? VOCÊ DISSE QUE ELA ERA EXIGENTE E TIRANA!

    — Oh! Então foi isso? — Melissa sorriu.

    — Você tem que parar de ir na onda dessa garota! — resmungou olhando para Noelle.

    — Hahaha! Tinha tempo que não vinham pessoas tão bem humoradas aqui!

    — Por favor… — suspirou em uma súplica — não da corda pra ela…

    — Certo, certo — respondeu em um tom leviano — então vamos ao motivo pelo qual os chamei aqui.

    — Tem uma missão para nós, não é? — perguntei.

    — Precisamente — ela deu a volta em sua mesa, rapidamente abrindo uma gaveta logo abaixo.

    Melissa vasculhou por alguns breves segundos, em seguida, sem aviso, lançou um pequeno objeto no formato de um losango. O objeto pousou suavemente em minha mão como se fosse uma folha de papel.

    — O que é isso? — perguntei confusa.

    — Um pedido de ajuda — de repente, um ponto azul brilhou em uma das vértices do losango.

    Projetando uma tela, um texto começou a ser transcrito bem na nossa frente.

    “A-Alô?”  uma voz ofegante e assustada saiu de dentro do dispositivo, acompanhando o texto  “Se alguém estiver ouvindo isso, por favor, mande ajuda! Nebuloria está em perigo!”

    — Nebuloria… — Noelle demonstrou um leve interesse no caso.

    — Ele parecia apavorado… — comentei — quem era?

    — O remetente não se identificou, mas a mensagem veio de um vilarejo perto de Nebuloria. Também existem boatos de que o Governante de lá está cooperando com demônios, provavelmente para revelar a localização do Etheris.

    — Etheris?

    — Sim, um dos 4 livros selados ao redor do mundo. 

    — Já ouvi falar disso… acho que consigo imaginar porque nos chamou aqui.

    — Existe a possibilidade de ser apenas as lamentações de um cidadão comum, mas não podemos arriscar.

    — Ei, ei, ei! Espera aí! — interrompeu Akira — Tá dizendo que vai deixar algo desse tamanho nas nossas mãos?

    — Shryne está em um momento complicado agora. Não temos como nos mobilizar assim tão descuidadamente — com um olhar intimidador, o verde em seus olhos se escureceu, atingindo diretamente o nosso orgulho — Por acaso isso seria de mais para vocês?

    Cada um de nós sentiu o desafio proposto por Melissa, até mesmo o covarde do meu amigo.

    — Há! De jeito nenhum — esbravejei prontamente — Pode deixar com a gente.

    — Que ótimo! — sua face gentil voltou a tona — Sabia que vocês aceitariam.

    Saindo de trás da mesa, andou até nós carregando uma maleta em suas mãos.

    — Aqui está! — colocando-a em minhas mãos — Vão precisar disso! Vocês foram treinados pelos melhores magos de Shryne, aqueles puseram os demônios para correr no meio da guerra. Vão se sair bem — nos incentivou olhando no fundo dos nossos olhos.

    Agora, com uma grande responsabilidade em nossos ombros, partimos para Nebuloria no dia seguinte. Para facilitar a viagem, Galliard abriu uma fenda no espaço, nos levando para o destino em segundos.

    — Sabia que ele podia fazer isso? — perguntei para sua aprendiz.

    — Sabia — respondeu sem muita surpresa.

    — Tsc — Akira bufou — Esperava pelo menos ter tempo pra conversar com o meu mestre.

    — Nem esquenta! Mais cedo ou mais tarde você o encontra. Mas agora temos mais o que fazer!

    Olhando de longe, avistei a grande capital, brilhante e cintilante mesmo durante o dia, tal qual Las Vegas. Meus olhos logo brilharam, empolgada para me divertir um pouco no lar dos demi-humanos.

    1. Mortalha é um paninho que envolve o defunto[]

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota