Capítulo 4
O brilho calmo, sereno e amarelado cintilava das pupilas do guarda-costas enquanto seus olhos castanhos estavam fixados em seu adversário. Seus movimentos manuais eram replicados com perfeição pela mão translúcida, como se esta fosse uma extensão de seu próprio corpo.
Williams, com os olhos arregalados, se encontrava sem palavras, paralisado por ver tão de perto o sobrenatural se desenrolando bem a sua frente.
— Um aprimorado de stigma gamma… uma surpresa mais que agradável não acha? — um sorriso se formou no rosto de Koji e ele entrelaçou os braços com claro interesse. — Eu sempre quis ver você em uma situação mais adversa, hoje talvez seja realmente meu dia de sorte.
— Escuta, você não tem nada a ver com isso. — Sombra ignorou completamente Koji e se focou no guarda-costas. — Te garanto que sua vida vale mais que isso.
— Tá se achando demais para alguém que usa um palito de dente como arma. — o guarda-costas agarrou Williams pelo colarinho com sua mão livre e o empurrou para trás, fechando firmemente o punho. — Crees que tem alguma chance?
— Sombra. — Koji disse chamando a atenção do homem empunhando a katana, com um sorriso torto em seu rosto. — Sem testemunhas…
Sombra apenas observou com seus olhos, fazendo uma micro-expressão de negação com a cabeça enquanto contorcia os lábios.
Williams caiu de costas no chão, fechando os olhos em resposta instintiva ao impacto. Lentamente suas pálpebras se abriram e ele percebeu que outra enorme figura translúcida se formava, agora se formando bem em frente aos seus olhos, mas desta vez em formato de punho fechado.
— Você não entendeu… — o guarda-costas demonstrou seus dentes enquanto abria o sorriso. — Eu estou no controle!
Sombra conseguiu notar o punho translúcido através da enorme mão que parava sua lâmina, porém quando tentou recuar, a palma translúcida à sua frente se fechou, mantendo sua lâmina presa.
— Te peguei! — o guarda-costas esboçou um sorriso de satisfação, cada vez mais franzindo a testa preparando um golpe com sua mão direita.
Sombra percebeu rapidamente que sua lâmina estava totalmente, então o guarda-costas desferiu um golpe com o punho direito — atrás dele, o enorme punho translúcido mimetizou o movimento em um golpe lateral que avançou em alta velocidade.
Sombra reagiu no mesmo instante, desistindo de remover sua katana e usando-a como apoio para o seu pé, realizando um salto sobre o golpe desferido.
O ar abaixo de Sombra cortou como se um carro em alta velocidade tivesse passado, ele virou as costas e encolheu as pernas enquanto estava no ar, apenas mostrando a figura de seu sobretudo.
— ¡A la mierda boludo! — o guarda-costas abriu a mão esquerda, e a mão translúcida que segurava a catana imitou o movimento.
Então ele ergueu a mão com veracidade, e rapidamente a mão translúcida seguiu o movimento, atingindo a figura do sobretudo e a espremendo contra o teto até criar rachaduras.
Koji se demonstrou surpreso, arregalando os olhos e os mantendo atentos ao combate adiante enquanto apoiava o queixo em sua mão e retomava lentamente o sorriso.
As veias apareciam no braço esquerdo do guarda-costas e seu rosto demonstrava esforço, mas também satisfação. Os brilhos em suas pupilas desapareceram assim como as formas translúcidas.
— É só isso? — o guarda-costas disse com um sorriso torto ao encarar Koji.
Koji manteve o silêncio, observando que o guarda-costas agora virou em sua direção.
— Hah… — Williams voltou finalmente a respirar com alívio, olhando para suas mãos cheias de poeira e em seguida a figura do seu contratado. — Puta merda, então você é um aprimorado… por isso mandaram só você… caralho! Ha ha ha!
— Ahora boludo, vou fazer com você exatamente o que fiz com aquele cara. — o guarda-costas disse apontando para o teto.
— Não! Espera! — Williams se levantou e se pôs atrás de seu contratado, retomando seu tom arrogante, apesar do tremor ainda estar presente em seus lábios. — Escuta Koji, você ainda pode sair daqui com vida: você só tem que dizer para…
O guarda-costas olhou para o teto e semicerrou os olhos lentamente, tentando perceber melhor até que finalmente notou que apenas um sobretudo negro preso ao teto.
Seus olhos se arregalaram e rapidamente o brilho em suas pupilas surgiu quando ele notou a poeira se salientando no chão em sua direção. Ele gesticulou com as mãos abertas, trazendo-as para si em frente ao seu pescoço, com isso, uma barreira em formato oval e translúcida iniciou sua formação em sua frente, iniciando dos pés e de cima da cabeça, formando-se até se encontrar em frente a seu peito.
— ¡Carajo! — o guarda-costas se pôs em frente ao Williams rapidamente.
Porém, antes da barreira se formar completamente, o guarda-costas sentiu algo perfurando seu peito, inicialmente a perfuração iria atingir o centro de seu peito, mas a barreira conseguiu empurrar o suficiente para atingir seu ombro. Formando um corte e uma perfuração profunda.
— Hijo de puta! — o guarda-costas gritou ao fazer um rápido movimento de empurrão com a mão esquerda enquanto cerrava os dentes.
A barreira se deslocou para frente em alta velocidade, se estendendo até virar um quadrado enorme que atingiu uma torre de luz e a parede, atravessando-a e espalhando poeira naquela direção. O guarda-costas então olhou para o chão, percebendo que seu golpe agitou toda poeira em sua frente.
— ¡Lucha como un hombre! — o guarda-costas gritou.
Então ele se projetou para trás, o brilho em suas pupilas intensificou-se, e ele fechou ambos os punhos à sua frente. Em seguida, abriu as mãos e os braços com força — diante dele, formou-se uma enorme bolha translúcida que, com a mesma velocidade que surgiu, estourou, criando um som áspero e dissonante, como o de fricção. Tudo em um raio de cerca de quatro metros à sua frente foi arremessado com grande força, levantando uma nuvem de poeira que se espalhou até a parede próxima.
Williams colocou os braços em frente ao rosto no intuito de se proteger, mas lentamente os abaixou para olhar na direção que o seu contratado encarava.
— O que aconteceu? — Williams olhou em direção de seu contratado.
Este que retirou uma pequena lâmina de seu ombro e arremessou no chão e encarou a poeira que lentamente baixava e revelava Sombra que estava de pé com uma mão sobre uma costela, retirando os óculos danificados de seu rosto e revelando seus olhos castanhos que contavam com brilhos em suas pupilas que cintilavam em vermelho e lentamente se extinguiam.
— Carajo, então você é o fantasma de ojos rojos. — o guarda-costas colocou uma mão sobre o ferimento em seu ombro, claramente demonstrando dor em seu semblante. — Parece que hoje em dia esse tipo de boato não é mais apenas fantasia.
O sangue escorria, manchando sua camisa enquanto Sombra o observava, adotando novamente a postura de combate — equipando-se com outras lâminas curtas, uma em cada mão. Assim, o olhar de ambos se encontrou novamente.
— Espetacular! Gostei bastante da coreografia, principalmente as piruetas. — Koji bateu leves palmas com um sorriso bem aberto. — Porém, vocês podem ser mais breves? Não quero ter que pegar pipoca para continuar acompanhando…
O guarda-costas tornou sua atenção para ele e, ao perceber seu despreparo, apenas apontou a mão esquerda em sua direção rapidamente.
— ¿Queres comer eh? Engole isso, hijo de puta! — o guarda-costas exclamou ao cortar a fala de Koji, em seguida, fixando dois dedos em direção dele.
As pupilas do guarda-costas novamente cintilavam, e da ponta desses dedos, um projétil translúcido semelhante à ponta de uma flecha foi rapidamente formado.
— Saí da frente! — Sombra exclamou para Koji ao arremessar uma lâmina em direção do braço erguido do guarda-costas.
Tudo ocorreu em segundos: o braço do guarda-costas foi atingido pela lâmina e o projétil foi disparado em instantes, criando um leve som do ar sendo cortado que pôde ser ouvido devido à velocidade do projétil.
Koji tentou colocar a mão em frente ao rosto e abaixou a cabeça; o projétil passou por ele, atingindo a outra torre de luz que ficou suja de sangue na proteção das lâmpadas, e as danificando, fazendo-as piscar ao invés de manter uma luz constante.
Koji sentiu o sangue quente escorrendo suavemente por sua pele alva e macia. Seus lábios se abriam e gotas de seu sangue caiam sobre a poeira do chão.
— Não… — Koji passava o dedo e notava o corte que por pouco não acertou precisamente sua face, porém criou um corte que partia de seu lábio superior até a extremidade de sua bochecha direita. — Você não fez isso…
O guarda-costas retirou a pequena lâmina do seu antebraço e a arremessou no chão, o seu sangue agora também passou a sujar o chão empoeirado, mas ele rapidamente olhou em direção de Sombra, porém ele não estava mais lá.
— ¡Carajo! — o guarda-costas olhou ao redor com uma mão em seu ombro, encarando principalmente o chão, em busca de alguma movimentação na poeira. — Cadê você, hijo de puta!?
— Koji… — Williams quase não conseguiu formular sua frase, ele parecia tentar recuar, porém, estava paralisado. — Você também é um aprimorado…?
— ¿¡Que!? — o guarda-costas olhou em direção de Koji com os olhos arregalados.
As pupilas daqueles olhos negros também cintilaram com aquele brilho sobrenatural, porém na cor amarelo-claro. Ele estava com a mão direita estendida; da extremidade dela, que vibrava devido à luva, foi possível observar uma rápida deformação no ar enquanto a luz piscava detrás dele.
As vibrações emitidas distorciam o ambiente, criando ondas quase invisíveis que flutuavam à sua frente e soavam como os graves de um som potente. Essas ondas pareciam afastar tudo na direção oposta com bastante força, fazendo a poeira dançar ao seu redor.
— Seu mexicano… — Koji se exaltou, e sua voz ecoou por toda a vastidão do andar. — Filho de uma puta!
Seus olhos arregalados exaltavam ódio, o sangue escorria por sua face e seus dentes que agora estavam fechados como os de um animal raivoso. As vibrações se formaram à sua frente, criando um ataque que se moldou em uma forma ondulante, semelhante à parte superior de uma água-viva.
— Eu vou espalhar suas tripas por todo esse maldito chão! — Koji gritou, liberando uma enorme onda de vibração que passou devastando tudo em seu caminho.
— Corre! — o guarda-costas gritou ao empurrar Williams em direção a uma porta em direção ao interior do prédio.
Williams correu com as mãos tampando os ouvidos daquele som grave que se aproximava rapidamente, como se a distância que eles estavam percorrendo fosse ínfima.
O guarda-costas cerrou os dentes, e percebendo o tremor da destruição ocorrendo atrás de si estava se aproximando rapidamente: ele empurrou Williams para tentar afastá-lo e ergueu ambas as mãos para enfrentar o ataque iminente.
— ¡La concha de tu madre! — o guarda-costas gritou ao firmar-se, flexionando os ombros e os joelhos.
Então, suas pupilas cintilavam novamente, e em sua frente se formou uma enorme barreira translúcida que ficou direcionada para a destruição que se encaminhava. O grave se tornava cada vez mais insuportável e o tremor de cada parede destruída se aproximava e então, colisão.
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