Capítulo 5
Williams abriu lentamente os olhos, tudo ao seu redor parecia estar embaçado; ele conseguia ver as partículas de pó que ainda vibravam em pleno ar enquanto caíam lentamente. O som grave havia desaparecido, mas ele apenas conseguia o zunido em seus ouvidos e a dor pulsante em sua cabeça.
Ele tentou falar, mas a única coisa que conseguia fazer era tossir, ao estender os dedos ele sentia o dano no chão rachado embaixo de si; ele fechou os olhos com força, mas quando ele os quando os abriu, viu que ainda estava lá. Não era um pesadelo.
Ele ergueu seu corpo, apoiando as mãos no chão, apenas conseguindo ver a figura trêmula de seu contratado, que estava de pé bem à sua frente. A dor forte pulsou em sua cabeça; ao passar a mão pela testa, ele sentiu o sangue escorrendo brevemente entre os dedos, olhou para cima e notou que pequenos filetes de areia também caiam do teto danificado.
— Aju… me ajuda… — Williams tentava falar, mas, a poeira apenas permitia que ele tossisse.
O seu guarda-costas ofegava e tossia, com a cabeça abaixada e o corpo trêmulo. O teto acima dele deixava cair pedregulhos e o chão estava repleto de rachaduras.
Através da enorme cortina de poeira que vibrava levemente e ocultava tudo ao redor, era possível ver conforme os flashes de luz piscante: uma figura com olhos cintilavam na cor amarelo-claro a uma boa distância e quando a luz apagava, apenas dois brilhos flutuantes de mesma cor.
— Impressionante. — a voz cálida, porém exaltada de Koji pôde ser ouvida através da cortina de poeira. — Foram poucos os que conseguiram sobreviver a um ataque direto meu…
De repente, o andar inteiro passou a vibrar, enquanto os brilhos através da poeira cintilavam com mais intensidade, então novamente o poderoso som grave pôde ser ouvido, como o princípio de uma melodia mortal.
— Mierda… — o guarda-costas se esforçava para se manter de pé, ainda com mais dificuldade por conta do chão danificado aos seus pés. — ¡Hijo de puta mejorado!
Ele olhou ansiosamente ao seu redor, cobrindo o ferimento no ombro com a mão e recuando lentamente. Ao dar um passo para trás, seu pé escorregou no chão danificado, fazendo-o brevemente perder o equilíbrio, mas ainda se mantendo de pé.
Por um segundo ele parou e raciocinou, ouvindo aquele som grave aumentar aos poucos. Ele olhou para o chão abaixo de si, que estava repleto de rachaduras; rapidamente, fechou os dois punhos, e o brilho em suas pupilas surgiu novamente.
— Prepara-te! — o guarda-costas gritou olhando para Williams por cima dos ombros.
Este estava com uma mão na cabeça, tentando se levantar e não perder o equilíbrio.
Diante de ambos os lados do guarda-costas, duas figuras de punhos translúcidos se formaram lentamente, desta vez aparecendo menos definidas.
— O que você está fazendo…? — Williams murmurou ao se aproximar de seu contratado, mancando e desorientado. — Ele vai nos matar!
De repente, o andar inteiro parou de vibrar e por um momento o som grave também cessou.
— Apenas uma coisa poderia te salvar agora… — a voz de Koji foi proferida com um tom calmo e solene, porém em seguida com um tom odioso. — Mas eu não acredito em milagres!
Então a poeira começou a se afastar abruptamente com um som ensurdecedor à frente de Williams e do guarda-costas. O chão tremia mais conforme a onda de destruição se aproximava.
— No se mexe! — o guarda-costas gritou, cerrando os dentes por conta da pressão do som reverberando.
— Eu não quero morrer! — Williams tampava os ouvidos e fechava os olhos, sentindo a agonia do grave em seus ouvidos.
A onda de destruição se aproximava, carregando consigo uma vibração ensurdecedora e fazendo o andar inteiro tremer. O guarda-costas mantinha-se focado, levantando os dois punhos bem alto; então ao sentir o chão diante de seus pés oscilar, ele gritou e desceu os punhos com toda sua força — golpeando o chão com ambos os punhos translúcidos.
Quando atingido, o chão já danificado cedeu, derrubando tanto Williams quanto o guarda-costas para o andar inferior, alguns instantes antes que o ataque de Koji os atingisse.
A gargalhada de Koji ecoou pelo andar após o barulho de colisão com as paredes e depois com o silêncio quando seu golpe passou por todo o andar. Ele levantou a mão direita e fechou o punho; então a poeira aos poucos foi se afastando enquanto ele caminhava, com cada onda leve de vibração que as atravessavam; criando quase uma melodia constante.
Ele caminhou lentamente, retirando mais um cigarro da carteira e o colocando na boca. Seu lábio superior manchou o cigarro com sangue, a dor o fez sentir um leve desconforto que o fez descartar o fumo com frustração.
— Isso ainda não acabou seu mexicano. — ele disse ao passar o dedo levemente pelo corte. — Espero que você ainda não tenha morrido, mas o que eu vou fazer com você vai te fazer implorar pela morte…
Quando se aproximou, ele paralisou. Fechando os punhos com força ao notar o buraco no chão — exatamente onde estavam Williams e o guarda-costas deveriam estar.
Koji negou com a cabeça, passando lentamente a mão direita pelo cabelo que caía sobre o seu rosto — sua expressão agora era de ódio genuíno.
— Aquele mexicano… — a alteração na voz de Koji era perceptível, com seus lábios arqueados e trêmulos. — Não, isso não é possível…
Suas pupilas gradualmente cintilavam, então, ele desferiu uma onda de vibração que destruiu uma parede próxima, espalhando mais poeira naquela direção.
— Mexicano maldito!
Sombra apareceu da escuridão andando normalmente, guardando sua katana na bainha em sua cintura, porém mantendo uma lâmina em mãos.
Koji olhou em direção dele, o encarando com o nariz enrugado.
— E você!? O que estava fazendo!? Por que os deixou fugir!?
Sombra apenas o seguiu com os olhos, em seguida notando o buraco e negando a cabeça ao perceber toda a destruição que formou um caminho redondo entre as paredes até fora do local.
— Puta merda… — Sombra disse em tom reprovativo. — Ótima maneira de ser discreto, não é?
— Sabe Sombra… — disse Koji levantando e apontando uma mão em direção das costas de Sombra. — Eu estou sinceramente cansado de estar rodeado de inúteis…
— Você estaria morto se eu não estivesse aqui para salvar o seu rabo. — Sombra virou para Koji, encarando a mão levantada em sua direção. — Agora temos que ser práticos, você já chamou muita atenção.
— Então está dizendo que a culpa é minha!? — a deformação no ar se tornou aparente na mão que Koji apontava.
— Estou dizendo que temos que acabar com o 425 rápido. — Sombra se virou e encarou Koji enquanto firmava a lâmina em sua mão. — O aprimorado não deve durar mais que dez minutos.
— O que quer dizer? — Koji questionou com o lábio superior levemente levantado, demonstrando seus dentes cerrados.
Sombra demonstrou a lâmina que carregava; ela estava manchada de sangue, porém um líquido de coloração amarelo pálido, quase translúcido, também escorria da extremidade.
— Que o veneno foi aplicado. — Sombra guardou a lâmina no coldre.
A expressão de raiva de Koji lentamente se transformou em um sorriso perverso que tomou conta de seu rosto; então ele abaixou a mão.
— Sombra, seu sacaninha… — ele disse ao se aproximar do buraco feito no chão, observando apenas os destroços do andar inferior. — Isso pode ser divertido; você os segue pelo buraco e eu vou pelas escadas, quem encontrar com eles primeiro, vai ganhar um belo prêmio…
Sombra apenas seguiu Koji com os olhos que apressou os passos em direção de onde veio, com um misto de excitação e raiva em seu rosto.
— Não demore! Mas caso os encontre antes de mim, deixe Williams em paz, ele é meu e eu o quero inteiro. — Koji disse com um tom amigável olhando rapidamente em direção de Sombra. — Já o mexicano, se possível, degole-o e traga-me sua cabeça.
Após sua fala, com um sorriso, Koji foi em direção às escadas. Sombra apenas manteve o semblante sério, virando e encarando o buraco no chão.
Desembainhando sua catana, ele pulou no buraco com um brilho vermelho cintilando em suas pupilas. Antes de cair, a luz parecia não refletir mais o seu corpo e suas roupas; então, ele rapidamente se tornou um borrão que desapareceu em meio à escuridão.
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