Capítulo 21
O alarme do celular despertou às seis horas da manhã, tocando uma música pop — rápida e energética, como uma explosão de energia em ondas sonoras que deveria acordar qualquer um. No entanto, a cama já estava vazia com lençóis desarrumados sobre ela.
As luzes estavam acesas e a vista para o nascer do sol parecia uma enorme pintura no vidro que partia do chão até o teto do quarto. A música continuava a tocar com o título do alarme: ‘Acorde-se Heroína!’
O celular continuou a tocar, e ao fundo podia-se ouvir sons de pancadas através da porta aberta que reverberam mesmo com o volume da música.
Em outro cômodo, uma jovem estava concentrada em cada golpe desferido, ela mantinha os olhos fixos no saco de pancadas. Seus punhos desferiam socos de direita, esquerda e novamente direita. O suor escorria por sua testa enquanto o grande saco de pancadas era atingido, movendo-se ligeiramente em seu trilho no teto devido ao impacto.
Ela respirava pelo nariz, apesar de suada ela não parecia cansada. Estava com seu cabelo vermelho preso em um rabo de cavalo. Em seus ouvidos, fones intra-auriculares tocavam uma composição envolvente, onde as notas se entrelaçavam em uma tapeçaria sonora, com melancolia, porém em seu fim a explosão de uma agitação fervorosa.
Um soco de direita, um de esquerda, um movimento pendular e por fim um chute giratório. O pesado saco de pancadas se arrastou pelo trilho levemente, alguns centímetros.
— Droga!
Sua voz era firme e melodiosa, mas irritada; ela colocou as mãos sobre os joelhos, agora deixando escapar a respiração, porém mantendo seus olhos esverdeados focados no saco de pancadas. Ela retomou a postura, porém encarando as luvas protetoras que estavam em cima de uma mochila sobre um banco próximo.
— Eu não devo ser tão impulsiva…
Ela foi até o banco, observando as luvas por um momento antes de vesti-las e voltar para frente do saco de pancadas.
— Eu devo aprender a controlar minhas emoções…
Fechou os olhos. Comprimiu os lábios. Inspirou fundo e soltou o ar pelas narinas, lentamente. Sua blusa branca já estava completamente suada, revelando um pouco do sutiã justo, enquanto suas leggings pretas e vermelhas exibiam os músculos de suas coxas.
Armou os braços em frente ao rosto; seus músculos se flexionaram e o suor começou a evaporar. Ela abriu os olhos e suas pupilas cintilavam com o fraco brilho sobrenatural de coloração azul-claro.
— Eu tenho que ser melhor que isso…
Então avançou novamente, desta vez com mais velocidade ao repetir os mesmos movimentos anteriores, porém o impacto de cada golpe era mais forte por conta da velocidade. O saco de pancadas já se movia com mais facilidade pelo trilho; leves fagulhas eram expelidas de seus punhos quando seus golpes eram desferidos.
— Tenho que ser mais forte!
Ela prosseguiu com um chute lateral que afastou o saco de pancadas com força. Então ela avançou; chamas impulsionavam seu movimento, fazendo-a avançar rapidamente como um foguete, assim desferindo um murro de direita.
— Eu vou conseguir!
Quando atingido, o saco de pancadas foi explodido, espalhando uma areia negra por todo o chão. Ela ofegava enquanto o brilho em suas pupilas desaparecia lentamente e encarava novamente as luvas que protegiam suas mãos.
— Eu não vou te decepcionar de novo…
Ela se expressou com um tom melancólico, dirigindo-se para perto do banco. O local era uma academia bem equipada, com máquinas de musculação, pesos livres, tapetes para ioga e grandes espelhos. Ela se aproximou de um dos espelhos, observando sua figura por um momento, respirando fundo e forçando um sorriso que não conseguiu sustentar por muito tempo.
— Mãe… como eu gostaria que você estivesse aqui…
O sussurro saiu de seus lábios que tremiam levemente até que ouviu uma notificação vindo de sua mochila. Ela foi até lá e retirou um aparelho que se assemelhava a um smartphone, mas era mais robusto.
‘Senhoria Crawford, poderia se encaminhar à nossa sede nesta manhã? Tenho assuntos para tratar com você.’
Ela leu a mensagem com ambas as sobrancelhas levantadas e, em seguida, bloqueou o aparelho.
— Tyx? Por que ele quer se encontrar comigo?
Ela murmurou para si, encarando o aparelho em sua mão, que agora refletia seu rosto na tela. Em seguida, guardou-o na mochila novamente e se retirou da academia com seus pertences.
Ao adentrar na sala de estar do apartamento, que era espaçoso e contava com móveis luxuosos e eletrodomésticos de alta linha, decorado de forma simples, mas elegante, ela ouviu a voz agradável de uma mulher ecoando pelos acústicos nos cantos do local.
— Senhorita Karoline, o senhor Crawford deixou uma mensagem de voz para você. Gostaria de ouvi-la?
— Sim, Lumi, pode transmitir. — Karoline disse ao agarrar uma garrafa de água e beber dela, o aperto dela por um momento se intensificou, fazendo o plástico ressoar um barulho.
‘Karoline, não poderei comparecer em casa esta semana também; porém já pedi para uma funcionária reabastecer os suprimentos necessários e realizar a limpeza.’
A jovem parou lentamente de beber da garrafa, afrouxando o aperto e se pondo cabisbaixa ao encarar uma foto de um homem muito grande e uma bela mulher ruiva em um grande retrato; ambos estavam sorrindo e segurando um bebê.
‘Não esqueça de manter o foco nos treinamentos e nos estudos. Cuide-se.’
Ao fim da mensagem, a voz feminina voltou a falar.
— Gostaria de responder à mensagem do senhor Conrad Crawford?
— Não, Lumi. Imagino que esteja ocupado demais… como sempre. — Karoline respondeu com um sorriso triste, terminando de beber sua água e descartando a garrafa em um lixo vazio.
— Lumi, vou tomar um banho quente. Coloque algo para eu ouvir.
— Gostaria novamente de ouvir as músicas mais tocadas?
— Sim, só quero esvaziar a cabeça. — a jovem respondeu ao agarrar uma toalha de sua mochila e se dirigir para longe da sala.
— Gostaria que eu informasse a algum funcionário que você deseja café da manhã?
— Não, quero fazê-lo com minhas próprias mãos.
Ela respondeu enquanto retirava sua blusa e se dirigia para o banheiro. Nesse momento, uma música rápida e energética começou a tocar, obscurecendo qualquer outro som naquele apartamento.
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