Capítulo 6: Rudemente, Ailiss von Feuerstein profere seus insultos.
Não vai dizer nada?
Um assombroso silêncio prossegue desde que a alcancei.
— Qual o seu nome? Tenho o pressentimento que já a conheço de algum lugar — tento iniciar a conversa.
Continua apenas me encarando sem dizer nenhuma palavra. Que situação bizarra.
Será que ela entende alguma palavra de japonês? É possível que tenha acabado de chegar aqui e nunca tenha estudado o idioma antes. Neste caso, devo tentar comunicar-me com o idioma mais provável que ela conheça.
— Entende o que estou falando? — pergunto em inglês.
Também sem respostas. Será possível que ela também não fale inglês? Sendo ocidental e intercambista, isto deveria ser um requisito mínimo.
Prossigo preso em seu olhar encantador.
Agora que pude reparar bem em seus olhos, acho que nunca vi uma coloração assim.
A intimidação que estou sofrendo é diretamente proporcional à beleza dela. Por que garotas extremamente belas como ela e a presidente possuem esse tipo de personalidade complicada de se lidar?
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Sem pistas de sua origem, apelo para a sorte e resolvo tentar a minha língua materna, o alemão.
— Que idioma você fala?
Para a minha surpresa obtenho uma resposta, entretanto não é uma das melhores.
— Mistkerl.
O quê? Acabo de ser insultado na minha língua materna. “Cara de esterco” hein? Não é o tipo de resposta que eu esperava, mas pelo menos tive a sorte de ela falar alemão.
Vendo minha cara de surpresa, ela prossegue com a fala.
— Eu posso entender perfeitamente o japonês.
Ora, dito isso, não é difícil fazer a seguinte conclusão.
— Então estava apenas me ignorando mesmo? Que atitude indelicada da sua parte.
— Pode-se dizer que sim. Então o que quer de mim?
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Ela nem ao menos hesita em afirmar isso.
— Se você conseguiu compreender o que disse antes, sabe o que perguntei. Logo, não preciso repetir meus questionamentos.
— Eu consigo entender o idioma, mas não significa que prestei atenção no que você disse, Mistkerl — impacientemente cruza os braços.
Vai persistir com esta injúria? Este tipo de garota me irrita demais. Quando dizem que sou grosso às vezes, será que soou dessa forma? Talvez eu esteja provando do meu próprio veneno ao tentar me comunicar com ela.
— Tudo bem que não tenha prestado atenção. Todavia, ao menos poderia pedir educadamente para que eu repetisse a pergunta.
— E por que eu faria isso? Para começo de conversa, é você que está exigindo respostas de mim. A princípio não devo nada para ti a ponto de ter um dever de ser cortês contigo.
Vamos, Johann, mantenha a calma. Apenas ignore os por menores e repita a pergunta, somente deste modo conseguirei as informações que estou buscando.
Não, simplesmente não dá para fazer vista grossa para alguém como ela.
— Eu perguntei quem é você, pois tive a impressão de que já nos conhecíamos. Todavia, não parece ser o caso. Então, por favor, esclareça-me uma única dúvida. O seu vocabulário é reduzido a um único insulto?
— Posso afirmar categoricamente que é a primeira vez que você me conhece. E não estou usando “Mistkerl” como insulto, foi assim que decidi te nomear.
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Nomear-me? Ela está pensando que é o quê?
No entanto, acho melhor manter-me o menos hostil possível à sua provocação. Se eu tentar confrontá-la diretamente acabarei perdendo feio e de sobra não conseguirei informação alguma. Realmente é difícil ter sangue frio nestas situações. Por isso prefiro evitar interações sociais, elas nunca acabam bem para mim.
— Sinto muito, mas prefiro manter o nome que a minha mãe optou por me nomear, Johann. Então dispenso o seu carinhoso apelido.
— Não importa se você já possui outro nome. Para mim, você é Mistkerl. É um nome que combina perfeitamente contigo, assim não preciso gastar meus neurônios tentando me lembrar do nome de outro sujeito insignificante — pausa para um suspiro e prossegue com murmuro — e que provavelmente irá morrer em breve.
Já não suporto mais conversar com essa garota estúpida, nem mesmo quando tento descontrair ela cessa as ofensas. Quem ela pensa que é para agir de modo tão superior?
Todavia, sinto que posso descobrir algo com ela, afinal ela é de longe a figura mais suspeita em toda a escola. Logo, preciso sujeitar-me a este palavreado ríspido um pouco mais para obter as respostas que estou buscando.
— Certo, já que você colocou-se na posição de me nomear, ao menos me diga o seu. Poderia informar-me qual o seu nome e de onde veio?
Com um tom de indiferença, a garota senta-se em um banco próximo e retruca o meu questionamento.
— Não sou obrigada a responder.
Tsc. Não basta a sua simpatia imanente, também precisa ser teimosa. Porém não estou surpreso, já imaginava que ela retrucaria de maneira grosseira. Acabarei não chegando a lugar algum, ela se recusa a cooperar de qualquer maneira.
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— Veja bem, você ao menos deve saber em quais circunstâncias está inserida. Provavelmente é a número um na lista de suspeitos. Mais cedo ou mais tarde virão atrás de você, e pode ser que não sejam tão amigáveis quanto eu. Neste caso, ter um álibi não é uma má ideia, não acha?
Ela cruza as pernas, e só agora pude perceber que estava usando saia e meias-calças. Ontem estava vestida como um aluno do gênero masculino. Esta mudança de visual deixou sua aparência mais feminina, porém o seu modo de falar não tem nada disso, na verdade é o oposto. A sua aparência e personalidade causam um contraste muito engraçado, tão bela, mas ao mesmo tempo é tão mal educada que até parece que estou conversando com um ogro.
— Hmpf. E eu vou lá me importar com uma potencial perturbação de mosquitos como vocês?
Mosquitos? Do ponto de vista dela não devemos passar disso, já é um ponto positivo não sermos encarados como um verme ou algo pior.
— Pode nos ver desta forma, mas não refuta o que disse sobre a imagem que você está passando. Tenha um mínimo de noção e deixe-me ajudá-la se realmente não for a culpada.
— Não preciso da sua ajuda. Você é um detetive tão inexperiente a ponto de acreditar no que parece óbvio? É lógico que eu possa parecer suspeita por ter acabado de entrar na escola quando esses incidentes ocorreram. Porém, o que garante que não seja apenas um “post hoc ergo propter hoc”? — responde e evita contato visual.
Ela tem um ponto. Contudo, também não devo tirar meus olhos dela por enquanto. Pois aparentemente não existe uma figura melhor dentro dessa escola para apresentar algum tipo de poder fantasmagórico do que esta bizarra garota.
Apesar de ela ter dispensado qualquer suporte meu, permaneço parado no local. E de praxe, ela continua me ignorando.
A luminosidade do dia cessa cada vez mais. Com o anoitecer o cenário escolar que até então passava uma falsa tranquilidade começa a mostrar sua verdadeira face. A face de um recinto inquieto e temerário.
Normalmente escolas, ou ambientes que são demasiadamente movimentados durante o dia, ao serem abandonados durante a noite criam uma sensação agoniante. E nestas condições, o clima fica dez vezes mais tenso.
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— Você não vai embora enquanto eu não respondê-lo, não? — volta a manifestar-se.
Só percebeu agora? Sinto muito, mas não vou desistir tão facilmente assim. Preciso descobrir a origem dessa sensação que vem me incomodando desde ontem. É um risco que estou correndo, porém posso levar as regras do jogo ao meu favor, as quais garantem a minha segurança.
— Precisei correr atrás de você daquela forma, foi uma cena patética e espero que ninguém tenha me visto em tal situação. É óbvio que ao menos quero saber qual a sua identidade, não pretendo sair de mãos vazias depois daquele ocorrido.
— Tudo bem, eu cederei a sua persistência. Meu nome é Ailiss von Feuerstein, e assim como você, vim da Alemanha. No entanto, vou logo avisando que caso queira mais alguma informação, só terá a da geometria do meu punho em sua cara.
Eu disse que vim da Alemanha em alguma instância? Poderia ser suíço ou austríaco. Ela reconheceu meu sotaque com uma única frase? Enfim… pelo seu nome não consigo recordar-me de nada. Talvez nunca tenha a conhecido e este déjà vu seja mera coincidência.
Não obstante, acho que ao menos entendi o recado para me retirar.
— Não se preocupe, não quero saber o seu número de identidade, passaporte ou tipo sanguíneo. Pois esta curta conversa foi mais do que o suficiente para saber da sua personalidade tóxica. Já pude constatar que deu a hora de me retirar.
— Gosto de deixar explícito quando não quero interagir com alguém. Mas dizer que esta conversa foi curta? Provavelmente está sendo a conversa mais longa que já tive em toda minha vida. Sério, vá logo embora antes que meus punhos mudem de ideia — me encara e replica agressivamente.
O modo que ela tenta me expulsar do ambiente deve assemelhar-se muito como tratei Shou mais cedo. Agora posso constatar que isso não é algo muito agradável de se ouvir.
— “Quando não quer”? E alguma vez você já se interessou em interagir com outras pessoas?
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— Claro. Todavia, em todos os casos era uma interação que partia mais dos meus punhos e pés do que a argumentação em si.
Não fico nem um pouco surpreso com a resposta, já podia deduzir que esta deve ter sido a única forma dela socializar-se. Neste ponto até somos parecidos.
O sol já se pôs, e a provável hora do assassino agir aproxima-se cada vez mais. Francamente, não sei se monitorá-la por mais um tempo é um risco que gostaria de correr. Em ambos os casos sairei perdendo. Caso ela seja de fato a assassina, estarei em apuros e caso não seja, conhecerei a tal “geometria do seu punho”.
— Ailiss, né? Caso meu preconceito esteja errado, tome cuidado. Seria trágico você morrer logo após chegar ao país.
Apesar de todas nossas desavenças, não consigo deixar de simpatizar de algum modo com ela. Quem sabe uma pessoa vista como um babaca possa ter apreço por outra mais babaca que a própria.
Eu realmente quero estar errado sobre ela. Seria muito desagradável tê-la como inimiga.
— Não sou eu que preciso de algum conselho. O tal assassino precisa tomar mais cuidado comigo do que eu com ele.
De fato, um lobo caçador de ovelhas jamais enfrentaria um leão.
— Tem razão, fui tolo de presumir isso. Se eu estivesse na pele dele, você seria a última na minha lista de alvos. Ademais, não recomendo ficar aqui fora até tarde, além de esfriar muito a noite, poderá se incomodar com o conselho estudantil.
Ela não responde mais. Sua cota de falas já deve ter se esgotado e a partir de agora apenas me ignorará.
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E com isso eu me despeço visualmente e volto o meu andar em direção ao bloco principal, nosso atual dormitório.
A garota em questão foi mais complicada de se lidar do que imaginei. Que comportamento estranho… Entretanto ao mesmo tempo… “divertido”? Foi uma experiência engraçada. Por mais que tenha me irritado, foi algo agradável. É estranho de colocar em palavras.
Não lembro de jeito nenhum de ter me encontrado com ela antes na Europa, mas ao mesmo tempo sinto que estava conversando com uma velha conhecida.
Porém, ela não é a única com um comportamento tão fora do padrão. Isso anda martelando a minha mente… Todos estão agindo de forma peculiar. O pavor de um assassinato passaria tão rápido? Seria um evento nada traumático para um bando de adolescentes?
20h58
Eu costumava gostar tanto do horário de dormir, mas uma ansiedade muito grande está me perturbando, isso é tão estranho.
Nunca liguei se eu acordaria ou não no dia seguinte, para falar a verdade até preferia nunca acordar. Todavia, um sentimento diferente está me acompanhando nesta noite, uma sensação de dever? Há algo que eu preciso cumprir? Acho que esta insanidade coletiva passou a me contagiar também.
Enquanto eu tento adormecer preso em meus pensamentos, os outros estão por mais uma noite reclamando do “toque de recolher”.
— Ai cara, como eu queria estar no dormitório do Haruki. O Takashi está nos ordenando dormir cada dia mais cedo — comenta Shou.
É o natural, não? Com uma morte na última noite, seria estranho deixar-nos com permissão para perambular por aí tarde da noite.
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— Nisso eu concordo com você Shoucchi. Não consigo ler meus mangás no escuro — diz Manabu sacudindo um mangá em suas mãos.
Na verdade, isso é o único ponto positivo do Takashi. Acho que nós dois possuímos esses hábitos de velho.
— Fazer o quê, esse cara é o cachorrinho da Kaichou, faz tudo o que ela manda. No fim deve estar cumprindo as ordens dela com umas duas horas de antecedência.
A porta do dormitório se abre justamente quando todos estão fofocando sobre o nosso monitor. Para azar deles a pessoa que adentra a sala é o alvo da conversa.
— Muito bem! Todos estão prontos? — finge não ter percebido que era o alvo das fofocas.
Todos assustados de terem sido flagrados apenas o encaram sem saber o que responder.
— Como já os informei anteriormente, para prevenir outro incidente e eliminar suspeitas, vocês não poderão sair do quarto até o amanhecer. Logo, eu ficarei de guarda na porta — prossegue com a explicação — Alguma pergunta?
— E se quisermos ir ao banheiro ou beber água? — um estudante questiona.
— Não deixou uma garrafa d’água preparada? Bem, pelo menos sem beber você aguentará mais tempo sem ir ao banheiro. Que como já disse, apenas ao amanhecer.
O descontentamento alheio ficou evidente pelas expressões faciais de meus colegas de dormitório.
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— Caramba, eu me esqueci de pegar água no bebedouro, e tudo por sua culpa de voltar tão apressado para o dormitório — cochicha Shou.
— Não pedi que vocês me acompanhassem — replico.
3º Dia
07h15
De novo…
Não teve jeito. Aconteceu de novo!
Levantamos e percebemos que diversas pessoas morreram nessa noite. De nada adiantou o plano de Takashi, pois os alunos nem ao menos precisaram sair do dormitório para serem assassinados.
Isso me faz pensar que o assassino sempre esteve um passo à frente do conselho estudantil. A informação de que os estudantes estariam com a mobilidade restrita deve ter chegado a ele de alguma forma, e assim colocou isso ao seu favor.
Os corpos pálidos de cinco garotas e seis garotos foram encontrados. Novamente constatou-se que a causa da morte decorreu por envenenamento.
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