Capítulo 19: Ailiss von Feuerstein conta uma mentira. (2/3)

Ailiss sorrateiramente para de andar.
Ela move sua perna direita e dá um chute em um garoto que surge do meio do labirinto de móveis. Em seguida, rapidamente ergue e estende seu braço com a arma na direção do estudante e dispara um projétil.
Devido ao silenciador, o único som que se pode ouvir foi o barulho do impacto e o grunhido da vítima ao ter o crânio perfurado. A morte dele dá início a este confronto entre a rebelião de um grupo de estudantes contra uma assassina psicopata.
Logo, mais e mais rapazes brotam de trás de outras estantes para tentar desarmá-la e assim evitar que ela consiga dominar o rumo da batalha tão facilmente. Não dar espaço para ela revidar, em si, é uma tática razoável. Todavia, para a infelicidade de meus colegas de batalhão, ela majestosamente consegue desviar do movimento de todos ao mesmo tempo. Um a um vai caindo, em meio a chutes, socos e disparos enquanto ela recua.
Nada funciona nela? Jamais imaginaria que uma garota com aproximadamente a minha idade fosse capaz de tamanha dominação em uma briga.
Por meio desta sequência de ataques ela recua o suficiente para ficar fora do meu campo de visão. Apenas ouço o som abafado dos projéteis, gritos e batidas que provavelmente provém de mais socos ou chutes.
Poucos segundos depois, outro som toma o ambiente. Sons altíssimos de disparos, desta vez não há uso de silenciador. Julgando pelo som, claramente trata-se de uma metralhadora.
— Bela tentativa — diz a garota saindo do labirinto segurando um estudante pelos cabelos e com outro aos seus pés sendo chutado.
Não são quaisquer rapazes, mas Manabu e Haruki, provavelmente as duas figuras mais importantes da investida.
Se ela chegou até eles, significa que todas as nossas forças foram massacradas em um instante. Isso sequer pode ser classificado como batalha, ela simplesmente matou todos numa questão de segundos.
O que exatamente ela é?
— Uma metralhadora? Por essa eu não esperava — fala Haruki caído ao chão.
— Um erro de cálculo lamentável. Ao comprar briga comigo, deveriam estar preparados para tudo, se estivessem contabilizando tanques de guerras quem sabe teriam algum plano com uma chance menor de sofrer esta humilhação — o responde pisando em sua cabeça.
— Não merecemos alguma piedade ao menos? — Manabu vira o rosto para ela e pergunta.
Em seguida, em uma visão de raiva ao pedido de Manabu, ela chuta Haruki para que fique bem em nosso campo de visão e então arremessa Manabu acima dele. Posteriormente, começa espancá-los através de chutes bem na nossa frente.
Mesmo sabendo que não teria chance alguma de vencê-la, minhas pernas por reflexo andam para ajudá-los, mas logo sou interrompido.
— Não se mova! — Ailiss volta-se para mim — Fique assistindo caso não queira que eu dispare neles — aponta a metralhadora.
Ela nem precisaria recorrer a este método, mas de qualquer forma essa declaração nos deixa de mãos atadas. Mikoto e eu fomos obrigados a assistir Ailiss os espancar sem parar.
Num estado assim, como devo reagir? Não estou nem colocando pontos que beneficiam a mim e a Mikoto na balança, estou apenas pensando nos nossos colegas.
Após alguns minutos de tortura agoniante, os gritos de Haruki e Manabu cessam e então Ailiss diz.
— Que pena. Se eu continuar, provavelmente estes fracotes vão acabar morrendo — nos encara — então não terei com o que me divertir após matar vocês dois.
Pego um pedaço de madeira solto de uma das estantes e posiciono-me em defesa.
— O que pretende fazer com este brinquedo? Nem mesmo com facas seus amigos foram capazes de me fazer um arranhão sequer — dirige-se até nós.
Sei muito bem disso, todavia o que mais eu poderia fazer? Sentar e esperar vê-la terminar de matar os dois, matar Mikoto e por fim a mim? Não posso deixar isso acabar assim.
— Se serei morto da mesma forma, ao menos vou dificultar o seu trabalho — respondo.
Ela continua andando em nossa direção, porém com suas armas abaixadas. Acho que demonstro tão pouca ameaça, que ela nem faz questão de ter cautela em minha presença. Talvez eu consiga aproveitar-me da sua confiança excessiva para desarmá-la de alguma forma.
É com certeza algum ponto que está fora do seu escopo, jamais poderia imaginar a possibilidade de um miserável como eu conseguir a façanha de acertar a rainha, mesmo que por uma única vez.
Quando ela atinge minha zona de alcance, ataco verticalmente com o pedaço de madeira, tento reconstituir a técnica de Kendo. No entanto, ela move-se para a esquerda e facilmente esquiva do golpe. Em seguida, atinge com força a minha arma fazendo com que, devido ao torque aplicado, ela escape de minhas mãos.
— Isto é o que você define como dificultar? Hmpf — zomba.
Droga. Fui desarmado em menos de um segundo. Olho aos arredores numa busca por outra qualquer coisa que sirva para distraí-la por mais alguns segundos. Foco a visão na estante, mas vejo apenas livros. Estou no fim de linha, o xeque-mate já pode ser efetuado com sucesso.
Paralisado, observo seus olhos vermelhos brilhando na penumbra e então vejo a mira de sua metralhadora subindo lentamente na orientação do meu peito.
É o fim? Morrerei de uma forma patética e sem valor como esta? Vivo perguntando-me isso para criar certa dramaticidade, pois assim quem sabe eu deixe uma boa impressão póstuma. Contudo, em relação a mim tanto faz. Por hora só preciso segurar ela e deixar Mikoto viva.
A beira da hora de ser morto, a estante ao nosso lado desaba sobre nós, fazendo com que Ailiss ocupe suas mãos em segurá-la. Aproveito-me da situação para recuar alguns metros.
Estou salvo? Coincidências assim não ocorrem todos os dias.
Mikoto? Entendo, ela aproveitou o nosso conflito para dar a volta neste “corredor” do armazém e empurrou a estante pelo outro lado.
Com isto eu devo julgar que ela pretendia enterrar-me junto da Ailiss? Ou já supôs que a própria seguraria? Prefiro pensar que seja o segundo caso.
Ailiss consegue empurrar de volta a estante, fazendo-a a tombar para o lado oposto.
Mikoto surge pelo caminho formado com a queda da estante.
— Obrigado, você me salvou. Devo-lhe uma — a agradeço.
— Ela no máximo adiou a sua morte — vira-se irritada para Mikoto — Como nos interrompeu, acredito que gostaria de participar. E como está com tanta pressa, que tal ser a primeira a morrer? — pergunta esboçando um olhar obscuro.
— Sinto muito, todavia irei recusar educadamente o teu convite. Ainda tenho muitos afazeres daqui em diante, assim não pretendo morrer tão cedo, ainda mais para alguém da tua casta — Mikoto replica.
Ailiss prepara-se para disparar em Mikoto, então, sem nem mesmo cogitar, parto para cima dela. Tento agarrar seus braços para que Ailiss não consiga mirar em Mikoto adequadamente.
— Solte-me seu rato imundo.
Em impedi-la, até obtenho sucesso. Contudo, facilmente ela contra ataca agarrando um dos meus braços, contorce-se e por fim arremessa-me, por cima de seu corpo, contra a parede.
O impacto contra a parede é forte.
Assim mais uma vez estou numa situação desfavorável e com as costas doendo um bocado. Eu realmente espero não ter quebrado algum osso com este arremesso absurdo.
Estando caído, ela caminha em minha direção pronta para aplicar um soco em meu rosto. No entanto, mais uma vez sou surpreendido por Mikoto, a qual acerta ligeiramente o cotovelo de Ailiss desviando o forte golpe dela em direção à parede atrás de mim.
Vejo que Ailiss não estava medindo as consequências, pois ela conseguiu rachar concreto mesmo com um soco desequilibrado.
Os punhos dessa garota são feitos de aço? Ela é realmente humana? Não quero nem pensar no estado em que meu rosto estaria caso ela tivesse me acertado, pois teria um funeral completamente desfigurado.
Infelizmente, não há tempo para comemorar. Ailiss mesmo com o corpo desequilibrado consegue utilizar uma de suas pernas para retribuir Mikoto e a empurrar para longe.
— Meus parabéns, garota. A primeira vista pareceu-me ser apenas uma princesa indefesa, mas você foi capaz de desviar um golpe meu. Quem lhe ensinou a lutar deve ser muito competente — comenta Ailiss.
— Eu estudei karatê durante o ginasial, apesar de estar um pouco desacostumada, ainda consigo defender-me razoavelmente bem — Mikoto responde enquanto levanta-se.
— Não me faça rir, não pode ser simplesmente isso — vira o rosto para mim — Quem diria Mistkerl? Chega a ser patético o fato de que sempre você precisa de uma garota para salvar o seu rabo — Ailiss ri e fala.
Sempre?
— Querem saber de algo? Não me lembro de quando foi a última vez que errei um golpe. Podem ir embora, considerem como uma recompensa por este feito. Mas façam o favor de levar o lixo que trouxeram.
Podemos ir? O que deu nela? Bem, não é momento para reclamar disso. Por hora, devemos apenas pensar em sobreviver e cair fora daqui.
Mikoto e eu nos entreolhamos e então assentimos em recuar.
Dirigi-me até Manabu e Haruki que estavam caídos e demasiadamente feridos. Ajudei-os a levantar e distanciamo-nos dela sem virar o rosto para trás.
— Da próxima vez venham apenas os dois — diz Ailiss enquanto saímos do porão.
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