Capítulo 17: Tais como as memórias, os pecados permanecem. (2/2)
Tendo em vista tudo o que acabo de descobrir, percebo que não há outro jeito. A partir de agora precisarei parar de apenas reagir e acatar as ordens dela, e passarei tomar minhas próprias decisões. Ao menos uma vez deixarei de ser um coadjuvante da minha própria vida e vou lutar ativamente neste jogo.
— Mikoto, você não precisa servir de isca amanhã — viro-me para ela e concluo com toda a determinação que possuo — Pode ficar tranquila, pois eu farei isso em seu lugar.
— Não seja tolo! — arregala os olhos e levanta-se bruscamente — Jamais deixaria tu te responsabilizares por um erro meu. Fui eu quem conjurou este ambiente, eu sou a responsável por todo este sofrimento que vós estais a passar. Sendo assim eu devo encerrá-lo, custe o que custar, esta é uma responsabilidade minha, e apenas minha — replica me encarando fixamente.
Esta foi a primeira vez que a vejo elevando a voz e agindo impulsivamente. É quase como se eu pudesse ver a pessoa que está por trás desta linda camada de gelo que a cobre.
Um simples fato como este, o qual aos olhos de terceiros possa passar despercebido, é um gesto eternamente gratificante para mim.
— Eu já me decidi e nada que você diga irá me fazer mudar de ideia. Eu prometi a você, não lembra? Somos aliados, logo as suas responsabilidades também são minhas. E se você realmente se importa em compensar aos outros o seu erro de ter efetuado esta conjuração, permaneça viva e os ajude quando o jogo se encerrar. Você possui essa capacidade de liderança que eu jamais terei, então a use para guiá-los.
O resquício de revolta em sua expressão esvai-se durante a minha réplica. Após alguns segundos de silêncio, ela volta a falar e desta vez responde sorrindo levemente.
— Tu me surpreendeste. Em nenhum momento cogitei que tu te preocupasses com o bem estar do coletivo. Ver-te bancando o herói é a última coisa que eu esperava presenciar em vida.
Herói? Acho que alguma vez na infância todos pensamos em traçar um futuro digno de ser denominado como um herói.
— Sinto decepcioná-la, mas está completamente equivocada. Eu não me preocupo com o coletivo, na verdade não dou a mínima para os outros estudantes. O que eu disse foi apenas um argumento ao meu favor para fazê-la mudar de opinião. Pouco importa quantos sairão daqui com vida ou não. Minha intenção não é, e nunca será, salvar a eles, mas salvar você.
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Mikoto arregala os olhos. Em seguida os fecha e então se aproxima de mim me pressionando entre seus braços.
— Tu és realmente um grande idiota… tu estragaste os meus planos, estou muito frustrada com isso — sussurra com a voz carregada em meu ouvido.
Ela abraça-me cada vez mais forte. Não há mais o que fazer além de correspondê-la. Da mesma forma, eu imito seu gesto e a trago para mais perto de mim.
Já que provavelmente irei seguir para o corredor da morte, ao menos posso dar-me o luxo de tê-la juntamente a mim neste instante.
A princípio, isto pareceria um contrassenso. Sempre a vi como uma pessoa gélida, mas posso sentir o calor que emana do seu corpo me envolvendo por completo.
No momento, acredito que ambos sofremos do mesmo mal, a culpa esmaga nossas asas e somente um pode ajudar o outro a voltar a voar. Saber que eu posso fazer algo por ela é tão reconfortante, sinto que posso fazer tudo ter valido a pena.
E após este forte enlaçamento em meio aos seus braços, eu percebo-me regenerado. A determinação que sempre esteve ausente no decorrer da minha vida acende-se como uma forte chama. Finalmente eu possuo um desejo, existe algo porque vale a pena lutar, vale a pena arriscar tudo e este motivo está bem a minha frente.
Afastamo-nos, olho em seus olhos ainda amargurados e posteriormente despeço-me.
— Por hora descanse. Preciso que você esteja nas melhores condições para liderar este bando de jovens inconsequentes. Nos vemos pela manhã.
Ela morde os lábios em resignação e permanece fitando-me em silêncio enquanto me retiro da sala. O abraço que ela acabou de me dar já foi o bastante para que transmitisse totalmente como eu me sinto em relação a ela. Não queremos este fim, porém não temos outra escolha. O destino costuma ser bastante cruel.
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Por muito tempo eu debochei de quem caia nos encantos desta rainha gelada, não retiro tudo o que pensei, entretanto eu cedi-me por ela, não pela rainha, mas por quem está por trás dela. Até mesmo uma figura independente como esta não possui condições de lutar o tempo todo sozinha. Tenho convicção de que este é o papel que eu devo assumir.
Desço até a sala a qual uso como dormitório e observo pela janela que ainda mais neve cai nesta fria noite.
6º Dia
09h47
Cedo pela manhã nos organizamos para encontrar o recinto de Ailiss. Então mais uma vez dividimo-nos em grupos e iniciamos a busca por seu paradeiro. Após algum tempo de procura, Haruki e Natsuki conseguiram identificar uma movimentação em um dos blocos mais antigos da escola. Tudo indica que ela estava se escondendo no subsolo abandonado daquele bloco.
Aquele antigo bloco sempre passou despercebido por mim durante o tempo em que estudei nesta escola, mas agora sinto certa estranheza em relação a ele.
Quando tudo está de acordo para nossa ofensiva, subitamente recebo o aviso de que Mikoto precisa falar comigo antes do nosso ataque à base inimiga. Mesmo estranhando o chamado repentino, decido ir até ela para conferir do que se trata.
— O Haruki avisou-me de que você tinha algo a me dizer. Já não está tudo preparado para a investida? — pergunto entrando na sala do conselho.
— Sim, está tudo conforme o planejado. Apenas gostaria de certificar-me de algo antes de tudo. Tu não mudaste de ideia? Pretendes mesmo seguir em frente com isto? — diz Mikoto de costas enquanto toca com a palma da mão o vidro da janela e olha para fora.
Por que ela está trazendo esta conversa à tona? Imaginei que fosse um ponto resolvido entre nós. Onde você está tentando chegar com essas repentinas mudanças de humor?
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— Estou certo disso, achei que havia entendido claramente o que lhe disse. Vou matar Ailiss e encerrar o jogo agora mesmo.
— Pude repensar melhor a nossa conversa de ontem à noite, e cheguei à conclusão de que desaprovo a tua decisão. Tu ainda tens uma vida inteira pela frente. Não precisas fazer isso — vira-se para mim.
Uma vida inteira pela frente? Não sabe o quão enganada está sobre isso.
— Não, eu não tinha — desvio o olhar passivamente para baixo.
Aquilo seria mais bem qualificado como meramente uma existência. A minha vida até este incidente sempre foi sem cor. Não havia nada que eu desejasse conquistar, queria apenas que o tempo passasse logo. Porém, fui capaz de encontrá-la, a minha luz, no meio deste inferno.
— E de qualquer forma, já discutimos isto ontem à noite. Não há mais o que pontuar — ergo o rosto e completo.
— Sim, nós discutimos. Todavia, eu pensei melhor e mudei de ideia, não há nada de surpreendente nisto. Eu me arrependi de ter aceitado a tua proposta.
Mudou de ideia? Justo agora?
— Certo, e por que você desistiu da minha ideia? — pergunto.
— Já não te disse? — sorri — Sinto-me em relação a ti da mesma forma que tu expuseste ontem: Não quero que tu morras, também quero te salvar. Ser a única de nós dois a ser salva não haveria sentido para mim, seria injusto — encara-me com determinação.
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Não nego que isso é algo gratificante de se ouvir. Entretanto, está conflitando com meu interesse maior.
— Pensei que havia a convencido de que é mais importante você sobreviver do que eu.
A bela presidente abaixa o rosto, desloca-se até mim e suavemente segura suas mãos em meus ombros. Então prossegue falando.
— Johann, na verdade, nunca pretendi morrer — balança a cabeça — A única ideia da qual mudei foi exclusivamente a respeito de ti, quero que nós dois saiamos vivos — dirige seus olhos aos meus — Não temos muito tempo para entrar em detalhes, apenas adianto-te que me arrependo muito da minha conduta de ontem. Eu sei que será difícil, no entanto, por obséquio, perdoe-me.
Perdoá-la? Mikoto, do que você está falando?
Ela solta meus ombros, dirige-se até a porta e me deixa sem reação sozinho na sala.
10h21
O quebrar de vidro. Ecoar de gritos. Um rastro de sangue.
— Socorro!
Corro ao ouvir o som provavelmente gerado por disparos e então me deparo com inúmeros cadáveres espalhados pelo chão dos corredores.
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Toda a tribo de estudantes que se instalou nesta sala de aula foi dizimada…
Não há outra explicação para o ocorrido. Ela finalmente enlouqueceu, Ailiss parou de ponderar qual lá fosse seu plano. Assassinar um estudante ou outro foi uma ferramenta muito eficaz para transtornar a organização do conselho e gerar caos. Todavia, por que agir desta maneira quando já se atingiu seu objetivo? Ela parece estar matando apenas por matar.
Nem sinal de quem emitiu o pedido de socorro, pode ter sido qualquer um que agora está caído em meus pés em meio a este temeroso mar vermelho.
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