Capítulo 32: Sorrateiramente, Tanaka Takashi se aproxima.
Esfaqueados? Houve uma mudança de método? Isso não faz nenhum sentido. Envenenamento parecia-me algo muito mais sútil de ser feito. Por que mudaria para um método tão brutal? A chance de chamar atenção agora é absurdamente maior.
— Sentimos muito por não termos impedido o mesmo incidente de acontecer mais uma vez — Takashi completa com a voz um pouco trêmula.
Ele aparenta estar muito abalado. Entretanto, possuo certa dificuldade em acreditar que ele esteja assim por causa das vítimas em questão.
— Como assim?! Esfaqueados?! Como não perceberam isso?! Quando isso aconteceu?! — protesta um aluno.
— Aconteceu de um modo que não pude prever. Os estudantes em questão quando foram ao banheiro tiveram que pedir permissão a mim, e eu os concedi. Após certo tempo, percebi que estavam demorando demais e fui atrás deles. Porém, já era tarde demais. O crime já havia ocorrido.
Talvez seja por isso. As coisas ocorreram dessa maneira porque ele flexibilizou um pouco as regras. E por causa dessa decisão dele, a operação foi um completo fracasso.
Mas isso tudo soa tão estranho… geralmente ele certifica-se ao máximo de estar agindo conforme o pedido da presidente. Seria uma anomalia de comportamento?
Todos permanecem assustados enquanto encaram o vice-presidente. Depois de alguns segundos de silêncio, ele volta a falar.
— É uma lástima, mas não há nada que possa ser feito para corrigir mais este infortúnio. O mínimo que posso fazer é levá-los à cena do crime. Se quiserem saber de mais detalhes, encontrarão por lá. No entanto, já os adianto que desta vez não será algo muito agradável de ver.
07h21
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
O local do crime foi no corredor em frente aos banheiros, de longe já pude constatar que há muito sangue pelo chão. Ao aproximar-se dos corpos podemos confirmar que as vítimas foram brutalmente esfaqueadas. Uma cena realmente horrorosa de se observar.
Manchas vermelhas cobrem as paredes, demonstrando certa resistência por parte das vítimas ao ataque do agressor. No entanto, tudo indica que se tratou de um ataque surpresa, de modo que não teriam como se defender de um inimigo armado.
As regiões corporais mais atingidas foram na área da barriga e pescoço. O assassino deve possuir uma cabeça muito fria para ter coragem de tomar uma ação dessas. Provavelmente deve ter começado seu ataque tapando a boca de seus alvos para que ficassem impossibilitados de clamar por socorro.
— Johann-kun, Manabu-kun, Shimizu-kun! — uma voz familiar nos chama.
— Ah, Miyu-chan! — reage Shou acenando
— Estava preocupada, não sabem o alívio que foi vê-los. Ao ficar sabendo da notícia, por um instante pensei que poderia ser um de vocês.
— Também estamos aliviados de que você esteja bem — diz Manabu.
— Já ficaram sabendo quem foram as vítimas desta vez?
— Nós não as conhecíamos. A Kaichou não falou mais detalhes do caso para vocês, Miyucchi?
— Não tivemos contato com a Kaichou desde o toque de recolher, acabamos de ficar sabendo através da Kobayashi-san sobre o ocorrido.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Então as garotas também não tiveram muito acesso à informação…
Mas o que realmente está me incomodando não são os corpos, mas a ansiedade de Takashi. Ele está muito inquieto enquanto os observa, andando de um lado para o outro sem parar.
— Tudo bem, Tanaka-kun. Você fez o melhor que podia — Keiko tenta confortá-lo um pouco.
O que está o incomodando tanto? O pior já aconteceu. Ou talvez ele esteja com medo de algo incerto? Algo que ele tenha deixado passar?
— Assustador, né? — diz Keiko aproximando-se de nós
— Muito! — replica Miyu.
Para falar a verdade, estou achando tudo muito estranho. Tenho certeza de que é a primeira vez que vejo um local ensanguentado assim, mas por que meu corpo continua reagindo como se fosse normal? Eu não deveria estar enjoado? Ou melhor dizendo, a maioria não deveria estar? Pelo que pude observar apenas algumas garotas mais suscetíveis não conseguiram ficar no ambiente. O nosso padrão comportamental está cada vez tornando-se mais bizarro.
— Keiko, poderia sanar uma dúvida minha? Além do Takashi, quem mais estava de guarda nos corredores durante esta madrugada? — pergunto a ela.
— Ele ficou como o único responsável pelos dormitórios masculinos. Já nos dormitórios femininos, a Kaichou, a Natsuki-chan e eu revezamos a guarda duas a duas.
— Entendo. Sabemos que apenas uma das vítimas era menina. Além dela, ninguém mais saiu dos dormitórios femininos?
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
— Não, ninguém mai- — Ela para de falar — Espere, acho que essas informações são confidenciais, não sei se posso dar mais detalhes. Se quiser saber mais a fundo, tente perguntar diretamente a Kaichou ou ao Tanaka-kun.
— Desculpe-me, não era minha intenção fazer perguntas incômodas ou causar problemas para você.
Era só isso mesmo que eu queria saber. Então a garota estrangeira a priori não saiu do dormitório…
09h43
Devido ao novo incidente, e de proporção maior, inevitavelmente o conselho precisou reunir os estudantes de todas as turmas no saguão da escola para discutir o que seria feito.
A ideia central do que foi passada até agora não foi nenhuma novidade. Keiko fez até um papel razoável tentando acalmar os ânimos do pessoal previamente.
Neste instante, a presidente Yukihara Mikoto está à nossa frente discursando sobre possíveis medidas que serão tomadas. Ela precisa ser cautelosa em suas palavras, afinal o assassino está em meio à multidão. Para ele ter contornado o último plano deve conhecer muito bem os passos dela e do vice-presidente.
— Acerca disso, também peço para que crieis hábitos de segurança, como evitar andar sozinho pela escola. Bem como reportar a mim qualquer atividade que pareça suspeita por parte de terceiros.
A presidente prossegue com seu discurso, entretanto é interrompida por um protesto. Um estudante eleva a sua voz quebrando a comunicação da presidente com o público.
— Isso é besteira! Como vocês ainda querem que confiemos em vocês após tudo o que aconteceu?! Vocês se comprometeram a resolver isso e falharam! Por que desta vez seria diferente?!
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
A presidente para de falar no megafone e todos se voltam para o rapaz que a interrompeu. Ele está acompanhado de um grupo de estudantes, os quais provavelmente estão criando uma oposição ao conselho estudantil.
Eles até possuem um ponto, o que garante que o responsável pelas mortes não esteja infiltrado?
— O que está insinuando com isso? Que alguém do conselho é o culpado pelo o que aconteceu?! — O vice-presidente retruca.
— Não era bem isso que quis dizer. Mas já que a carapuça serviu, nos digam, vocês teoricamente eram os únicos fora dos dormitórios? Não eram?
— Tsc. Farei você engolir estas palavras — ele cerra os punhos e fixa o olhar para o rapaz.
Bruscamente um som desmonta a cena de briga que estava prestes a se formar.
Surpreendentemente quem corta a fúria eminente de Takashi é justamente quem ele tentava defender. Um forte tapa marca o rosto do vice-presidente.
— Tanaka-kun, por favor, para. Esta não deve ser a conduta de um vice-presidente. Pelo teu posto, tu deverias saber que eles têm a liberdade de manifestarem-se — a presidente o repreende.
A expressão facial de Takashi passa-me a impressão de que ele está completamente perdido, deve ter travado ao receber uma reprovação tão intensa de sua ídolo.
— Mas Yukihara-san, eu só esta- — arregala os olhos e tenta se explicar, porém é cortado novamente.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
— Nada de “mas”, eles estão certos. Mantenhas a compostura e peça perdão por sua atitude e pela falha de ontem à noite. Tu és o único errado por aqui.
— Sinto muito, Kaichou. Prometo que nada disso irá se repetir — responde cabisbaixo.
— Não é a mim que tu deves desculpar-se. Não fui eu que fui esfaqueada brutalmente, como podes ver, estou ilesa. São a eles que tu deves prestar condolências, foram eles que perderam alguém próximo, são a eles que devemos satisfações — a presidente replica serenamente.
Então se vira novamente para o grupo de estudantes que estava protestando e pergunta a eles.
— Sem querer intrometer-me, mas por obséquio, podereis informar-me se vós éreis próximos de alguma das vítimas em questão?
— A garota era minha prima — diz com entonação mais baixa.
Logo a minha hipótese de que a anomalia ocorre menos quando a morte é de alguém próximo permanece em pé.
— Sei que não irá aliviar em nada o que estás a passar, mas posso dizer que entendo a tua dor, pois eu também perdi familiares próximos num passado distante — abaixa a cabeça perante o parente da vítima — Então, peço minhas sinceras condolências pela a nossa falha, todavia ao mesmo tempo também peço que nos de uma nova chance. Também sei muito bem que apenas desculpas não irão trazê-los de volta, porém com este aprendizado estou certa de que podemos evitar novas vítimas.
— E-está tu-d-do bem — gagueja ao responder.
O conselho consegue retomar o controle dos alunos, entretanto nem uma falha a mais será tolerada. É justamente esta impossibilidade de cometer qualquer erro que me preocupa. Pois eles não estão nas melhores condições.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
12h38
Algo com que sempre tive dificuldade é lidar com o fato de estar sendo observado, principalmente em horários de refeição.
O vice-presidente Takashi está olhando para a nossa mesa constantemente, diferente de mim, ele nem ao menos se deu o trabalho de tentar disfarçar que nos observa.
Tudo isso posto em mente, leva-me a traçar alguns questionamentos do que está o levando a me vigiar de modo tão frenético. A hipótese mais crível é que ele de alguma forma descobriu que sou um jogador. Mas como ele teria feito isso? O que mais de chamativo fizemos durante a manhã? Não consigo pensar em nada.
A minha segunda hipótese é que de alguma forma ele tenha percebido a minha desconfiança ao seu respeito. E assim como um criminoso precisa se livrar das testemunhas, ele precisa dar um jeito de me silenciar.
— Pessoal, não olhem agora, mas estão nos observando — sussurro.
— Quê?! QUEM?!
Shou se toca da sua atitude idiota e volta a ficar em silêncio.
— Johann-kun, quem está nos observando? — pergunta Miyu.
— Nosso querido vice-presidente desequilibrado.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Miyu aproxima-se do meu ouvido e sussurra.
— Sobre o Tanaka-senpai, acha que ele está nos olhando porque o conselho já descobriu sobre você?
— Talvez não o conselho como um todo, mas possivelmente o camarada ali esteja desconfiado — sussurro de volta.
— Como você vai contornar isso?
— Não tenho a menor ideia. Em todo caso, mais cedo ou mais tarde eles virão falar comigo, aí eu decido na hora o que fazer.
Tentar planejar algo agora vai acabar sendo em vão. Vamos ver como as coisas irão se desenrolar nos próximos dias.
— Ei, sobre o que vocês estão fofocando aí? Não me deixem de fora — pergunta Shou.
— Não é nada, Shimizu-kun — responde Miyu.
— Poxa, eu quero saber! Contem-me, por favor, não conseguirei dormir de noite de curiosidade.
— E se eu contar e você gritar como antes, chamando a atenção de todos à nossa volta? — indago.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
— Tá, seu chato, deixa pra lá — emburrado desvia o olhar.
Ele continua sentado com Keiko e Natsuki e olhando fixamente para cá. Já a presidente não parece estar em lugar algum do refeitório, assim como ontem preferiu não almoçar por aqui.
O comportamento dele estava tão inquieto hoje que fica difícil não desconfiar do próprio. A minha sensação de paranoia está tão forte que não posso deixar de pensar que ele esteja escondendo algo a respeito das mortes de ontem à noite, não duvido nada de que ele não tenha uma dose de culpa nisso tudo. A explicação dele parece-me agora simplista até demais, digna de um cúmplice.
Se a minha intuição estiver correta, eu preciso pensar em alguma forma de expor a sua verdadeira face.
14h25
Enquanto caminho pelos corredores do bloco principal, posso ouvi-lo me seguindo. A frequência e a intensidade sonora advinda de seus passos estão aumentando gradualmente. Aproxima-se a cada segundo, e com isso posso sentir o perigo tomando conta do ambiente.
Sigo à risca o trajeto planejado e pelo visto tudo está de acordo com o timing.
Ok. Como estou bem próximo do ponto final, posso deixá-lo se aproximar um pouco mais. Meus instintos alertam fervorosamente sobre o seu sedento desejo de sangue. Não posso provar racionalmente, porém tenho a convicção de que Takashi realmente possa ser o assassino.
Os sons de seus passos começam a ficar mais sutis, como se estivesse querendo aproximar-se sem que eu perceba. Talvez se eu não estivesse prestando atenção desde o começo, não perceberia que ele está logo atrás de mim.
— Ei, você aí. Pare por um instante — escuto a sua voz.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Paro em um cruzamento de corredores, e permaneço de costas na sua direção. Os passos dele voltam a ecoar pelos corredores vazios.
— Posso ao menos saber o que você quer de mim? — pergunto ainda de costas.
— Gostaria de conversar um pouco. Não é nada demais, só quero que me responda algumas perguntas.
A imagem dele aproximando-se enquanto eu estou de costas é refletida em uma superfície metálica próxima a janela. O foco não é dos melhores, mas posso ver claramente sua mão deslizando até seu bolso. Vai sacar uma arma? Tomando os corpos que vimos de manhã como referência, provavelmente trata-se de uma faca de cozinha.
A tensão está aumentando, está ficando mais perto.
Mais perto.
Mais perto.
Meu coração está acelerando. Será que ele já percebeu?
Droga. Ele ainda não retirou o que está segurando em seu bolso e continua a se aproximar mais e mais. Devo me virar agora?
Se eu continuar aguardando deste jeito, eu vou acabar morrendo mesmo.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.