Capítulo 78: A Pré História
Quando o portal se abriu, nossos olhos se depararam com uma nova visão, uma floresta de um lado e um mar de outro, e no meio, lugar onde estávamos, era areia batida, tão branca, semelhante à de uma praia.
Senti uma pequena nostalgia das vezes em que fui para praia com minha família. Ah, como eu queria que essa prova fosse um daqueles capítulos de manga, uma fã service, ah, como queria… É errado torcer para isso? Quando tudo parece que vai dar errado. Afinal, quem estava por detrás disso tudo era o maior bandido deste mundo.
— Parece tudo calmo. Todos conseguiram chegar inteiros, né?
Oceano perambulou seus olhos sobre nós. Bem, tirando zernen que estava sob a tutela da Theresa, todos estávamos muito bem, nos preparando mentalmente para o que vinha por aí.
— Essa dimensão me lembra a terceira… Também estava tudo calmo quando apareceu aquele monstro.
Frida fez uma boa observação.
— Pode vir dragão, seja lá o que for, que dessa vez, não irei perder!
Fred, todo animado, bateu os punhos enquanto abria um sorriso colgate, que enunciava a cede de vingança de um homem cujo orgulho fora ferido.
— Mas, pessoal, agora que percebemos o quão a união é importante, tenho a certeza de que as coisas ficaram mais fáceis!
Concordei com a cabeça, balançando-a freneticamente, perante as palavras da Meredith. Sem dúvidas, agora estávamos mais preparados para enfrentar o que viria por aí. Tínhamos as teorias da Frida, o meu conhecimento, a medicina da Theresa, o poder do irmão da Frida e a força dos caçadores da lua.
Dessa vez, não podíamos falhar.
— Bem, antes que um imprevisto surja, vamos compartilhar o nosso raciocínio… — Enquanto o oceano falava, um terremoto aconteceu. Nossos corpos estremeceram e se desequilibram perante aquela agitação toda. Um sinal claro de que problemas vinham por aí… O estrondo não parava sequer um segundo e agora, devido à forte poeira que havia se levantado, não podíamos mais identificar o que estava vindo do outro lado.
Busquei me levantar e recompor, assim como os demais, cerrando os punhos. Meredith já estava com a espada na mão. No entanto, no meio disso tudo, alguns sussurros que fizeram o meu coração entrar em alerta adentraram aos meus ouvidos.
Eu não acreditei naquilo que estava ouvindo.
Não pode ser…
— Minha magia não vem…
Não vinha só dá boca do Oceano, do Fred e do irmão da Frida também.
— Mas eu sinto minha mana — acrescentou Fred. Irmão da Frida concordou, remexendo suas mãos enquanto tinha os olhos nas palmas: — Eu também sinto.
De fato, todos diziam que sentiam. Então, por que…
— Por que a magia não vem? — questionou Frida, me olhando fixamente. — Já tentei fazer a roupa dele desaparecer milhares de vezes.
— Ei, ei, por acaso, você tem alguma tara por mim?
Fiquei indignado.
Ela, por acaso, gosta de me ver nu?
— Isso é assédio.
— Pessoal, olhem…
A poeira havia se dissipado e aquilo, aquilo que nos havia aparecido na frente, era… Eu mal conseguia achar palavras naquele momento… Engoli em seco. O dragão e a sereia haviam me surpreendido, mas eu realmente não esperava por essa… Esse rei dos bandidos tinha umas ideias bem insanas mesmo.
— Era só essa que me faltava — eu disse enquanto observava de baixo para cima aquele ser com um pescoço largo, uma boca grande e uma cauda enorme, que batiam exatamente com as características de um lagarto. Bem, era melhor dizer que essa criatura era um lagarto na sua versão gigantesca, possuindo uma altura de aproximadamente dez metros. Dos cinco deles, três, detentores de patinhas, possuíam ossos em suas costas, imbuídas em sua carne que misturava cores verdes, laranjas e cinzas.
— Eh, o que dinossauros fazem aqui?
— Dino o quê?!
Esqueci de que neste mundo eles não eram conhecidos por este nome, provavelmente tratados como algum tipo de monstro, mas enfim, isso não importava agora… Agora, sem magia, sem nada, era salve-se quem puder.
— Corram! Agora!!!!
Nem era eu quem dizia isso, o próprio Oceano, o mais forte do grupo, havia colocado os pés para trabalhar enquanto carregava a Frida nas costas. Meredith segurou na mão da Meredith e Fred carregava zernen em seus braços, na velocidade em que seus pés se equiparavam a uma chita, deixando rastros de poeira no ar.
Irmão da Frida, Sond e eu não fomos exceções, no entanto…
Bastaram suas pisadas, que provocaram estrondos novamente, para nos fazer comer areia. Bem, pelo menos, Oceano e Fred haviam conseguido escapar, saltando antes das pisadas, continuando a correr com sucesso.
Enquanto isso, nós estávamos reféns daqueles monstros que aproximavam suas grandes bocas, seus enormes dentões e seu bafo horrível… Sei que são animais, mas bem que poderiam escovar os dentes, ao menos, imaginei eles assim.
“Ei, ei, não é hora para pensar nisso. Estou perdendo o foco, mais foco, Jarves…”
— Ei, aqui!
Aqueles dois, que estavam próximos à entrada da floresta, vociferavam, tentando chamar a atenção dos cinco.
Meredith tentou executar sua técnica de turbilhão de cortes, mas nada saiu. Irmão da Frida, tentava, desesperadamente, invocar uma arma, mas sem sucesso. Estávamos entregues… Não, espera…
— Olhem!
Como eu não tinha tentado nada, pensei em fazê-lo e deu certo, realmente deu certo! Uma esfera amarelada surgiu nas minhas mãos, uma luz cintilante que tomou conta não só dá minha face, como da dos outros, como se uma chama de esperança tivesse sido acendida.
— Então, só magia básica funciona aqui… — Theresa disse com admiração.
— Ou o Jarves é o único que consegue usar a magia por aqui.
Não podíamos descartar a ideia da Meredith, apesar de não fazer muito sentido, dado que eu não tinha nada de especial, pelo menos, não que eu saiba.
— Urrrrrr!!!
Os dinossauros rosnaram.
Aumentei a esfera amarelada de tamanho, superando muitas bolas de basquete. Aquilo poderia facilmente esgotar minha pouca mana, mas eu tinha que apostar tudo num único ataque eficaz, do que parcelar e não dar em nada. Pelo menos, se isso nos der algum tempo, então terá valido a pena.
— Aqui vai!!!
Lancei aquela esfera grandona, enquanto dava aquele grito famoso, inclusive o herói também gostava de fazer isso quando lançava seu melhor ataque. Então, por que não?
Enquanto aquele ataque que cegava a vista de qualquer um devido ao seu resplendor, todos se levantaram naquele momento e começaram a correr, enquanto ressoava uma grande explosão causada pelo impacto entre a pele daqueles dinossauros e as partículas de energia.
Resultou. Alguns deles foram derrubados, o que nos deu tempo de fuga para encontrar o Oceano e o Fred no limiar daquela floresta. Contudo, aquilo ainda não acabou. Naturalmente, os três que ficaram de pé vieram atrás de vingança, mas assim que entramos nas matas, o estrondo parou de soar, o que dava indicativo de que eles haviam parado de nos seguir.
— Ufa, essa foi por pouco.
Dei um suspiro, me encostando numa árvore frondosa, enquanto observava os demais se recompondo depois daquela corrida.
— De fato, a magia básica funciona aqui. — Oceano levantou sua mão, mas apesar de não ver nada, eu conseguia sentir uma energia girando em forma esférica.
— Maldito chefe de bandidos… Dessa vez, ele optou por restringir nossas magias — emitiu Meredith, indignada.
— Ahhh! Sempre que eu quero dar o meu melhor, acontece isso! Ahhh! — Fred batia a cabeça, todo frustrado.
É, eu entendia muito bem ele. Cada fase nos revelava uma surpresa diferente, que nos deixava impotente.
— E agora? — questionei, olhando para os intelectuais do grupo, mas antes que eles pudessem me responder, um monte de flores carnívoras começou a aparecer, algumas com o pescoço grande, se entrelaçando as árvores no estilo serpente, enquanto nos intimidavam com os seus dentões em meio aos lábios tingidos de vermelho.
Era só essa que nos faltava, não bastasse lidar com dinossauros, tínhamos que lidar com plantas.
— Cuidado, não deixem que essas plantas vos mordam, elas contêm um veneno muito tóxico!
Isso vindo da especialista e médica Theresa Zerth. Rapidamente, me afastei da árvore, no entanto, aquilo não bastou, aquelas plantas eram espertas demais para seres irracionais. Incrivelmente, elas nos encurralaram, formando uma teia de lianas ao nosso redor, com milhares de espinhos em sua superfície para impedir nossa fuga.
— Mas nada temam, pois eu tenho isso… — no final murmurei com desânimo após ver uma esferinha amarelada surgindo na
palma da minha mão. — Então, é isso que me restou de poder, é?
— Você fez um bom trabalho! — Oceano colocou a mão sobre o meu ombro com um sorriso, enquanto segurava em sua outra palma da mão, uma esfera invisível.
— Eu também! Uhmm! — Fred tentava fazer uma esfera em sua mão, mas não conseguia…
— Eu disse, humph! Você deveria aprender magia básica!
— Olha, eu não quero ouvir isso de você!
— Além de nossas magias serem diferentes, você é um homem, tal magia bruta combina com você, se é que me entende. — Frida deu um sorrisinho provocador.
— Ah… — Fred deu um sorriso triunfante. — Então, você está chamando o Oceano de bruto?
— E eu também?
Levantei o braço.
— Tse, não coloque palavras na minha boca! Não me lembro de ter citado nome algum!
— Ei, ei, parem com isso — Oceano emitiu, elevando sua esfera ao alto. Eu não podia ver, mas pela quantidade de partículas que eu sentia, estava ganhando um tamanho colossal, maior do que aquela que eu havia usado contra os dinossauros. Assim que lançou, tudo que estava na sua frente virou cinza, depois lançou para os demais lados.
No entanto, aquilo só havia provocado uma fúria maior…
A terra estremeceu, várias raízes começaram a romper a areia, eram grandes e vinham das plantas agora no chão…
Oceano deu ordem para que corrêssemos e assim o fizemos, pois aquele lugar não era mais seguro. Enquanto avançávamos pela vanguarda, ele permanecia na retaguarda, lançando esferas para aquelas raízes que nos perseguiam descontroladamente, sem uma cabeça de comando.
Ao passo que, à medida que corríamos, a vegetação mudava, estava ficando mais densa e um cheiro nauseabundo já começava a invadir nossas narinas, cheiro semelhante ao de um esgoto. Sem dúvidas, aquilo se travava de um pântano… As raízes enfim cessaram e caíram após milhares de ataques, mas agora nossos pés estavam ficando cheios de lama pegajosa.
À nossa frente havia um lago cheio daqueles monstros que eu bem conhecia, eram crocodilos que nadavam de um lado para outro.
Mas entre todas essas andanças e perseguições, a pergunta que não queria calar era: Qual é o objetivo dessa prova?
Infelizmente, ninguém tinha resposta para isso no momento. Era prematuro abordar algo. No entanto, Frida prometeu que, como uma analista profissional que era, estava trabalhando para isso, assim como os demais intelectuais.
— Conto com vocês!
— Agora, quanto a você, irmão da Frida… — Fred chamou a atenção dele. — Não tem algo para compartilhar conosco?
— Se eu tivesse, pode ter certeza de que eu já diria!
— Faz sentido! Mas estou de olho, hein! — Ele deu um sorriso, enquanto carregava Zernen nas mãos. Vendo ele repousar ali, queria que fosse eu… Pelo menos, ele não estava vivenciando, pelo contrário, amaria.
— Bem, enquanto isso, vocês querem atravessar esse pântano?
Oceano questionou. Foi algo que realmente me surpreendeu. Esperava que ele desse alguma ordem e nos liderasse, mas ele estava pedindo nossa ajuda.
— O caminho é para frente.
Dei o meu voto.
— Mas é claro que sim!!!
Meredith também.
— Que escolha temos?
Theresa tinha razão. Retornar não era opção.
Bem, todos escolheram prosseguir. Oceano criou uma esfera, mas quando estava prestes a arremessá-la contra os crocodilos bem calmos nas águas, ouvi-se um farfalhar. Vinha de uma árvore frondosa enraizada no lamaçal. Era uma silhueta masculina coberta por folhas, seus olhos castanhos brilhavam intensamente em meio àquela escuridão.
— Quem é você?
Oceano roubou as exatas palavras da minha boca.
A resposta foi nada mais nada menos que sua revelação diante de nós. Ele saltou do ramo e se colocou à nossa frente, empunhando uma lança na sua mão direita.
Dei um sorriso largo ao o contemplar. Realmente, essa dimensão não parava de me surpreender… Quem teve a ideia de trazer este homem para aqui? Só podia ser a cabeça maluca do rei dos bandidos.
Primeiro os dinossauros, agora isso…
— Você…
Esse homem, não havia quem não conhecesse, pois os livros datavam sobre ele. Seu corpo rechonchudo com tatuagens ancestrais, sua barba negra, seus cabelos frondosos espalhados pelo corpo e uma pele animal cobrindo sua parte íntima…
É, isso mesmo, estávamos diante do famoso homem das cavernas.
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