Capítulo 01: Na obscuridade desse mundo
19 de junho de 2009 – Periferia de EVA – Zona 47. Algum lugar do subterrâneo.
Passos sorrateiros, ecoam quase que inaudíveis pelos tuneis escuros. As luzes roxas em um tom neon, dão um toque de futurismo para aquelas paredes velhas, sustentadas por madeiras mais velhas ainda. O coração em seu angustiante ritmo, parece querer saltar pela garganta e abandonar tudo para trás.
Chegando ao fim, o túnel por onde passou, se desfaz na escuridão. A sua frente, outro túnel, agora quatro vezes maior, cruza a vista e some para os lados. No alto, luzes vermelhas dão um ar macabro para todo o ambiente. Seguindo esse grande túnel para direita, pequenos tuneis talhados nas laterais, parecem querer regurgitar algo a qualquer momento. A sensação de que o ar fica mais escasso a cada metro, não algo real, não ainda.
Números se pintam discretamente por cima de cada túnel lateral. Conforme se segue em frente, uma luz que começa pequena lá na frente, vai se tornando cada vez maior. Até ser ela quem domina o ambiente. No fim, um portal tão grande que chega a ser desnecessário. Ao jogar olhares para além dele, nem todo ar do ambiente é suficiente para preencher a ansiedade que toma conta da respiração.
Um grande salão oval, que desce por escadarias de outros tuneis, e convergem no centro. Ali se ergue um pilar que não para até alcançar o teto arredondado. Praticamente um estádio se desenha, porém, no lugar das arquibancadas, quartos e mais quartos. No lugar de refletores, luzes brancas se estendem em tubos na horizontal.
Descendo a passos rápidos pela escadaria a frente, um silencio quase que ensurdecedor paira no ambiente. É então que o barulho de um tiro ecoa cortando tudo a sua frente. Mas sem tempo para parar, a descida continua, só pensamentos perturbam a mente. De novo o som de outro tiro se apresenta imponente.
Dessa vez é impossível não se obrigar a parar. E a figura encapuzada que percorreu todo esse caminho até então, observa a porta de vidro na base do pilar lá na frente. Estática por um monto, seu olhar longínquo quase se perde em pensamentos. Retomando o ritmo, ela entra a direita, por um pequeno corredor entre quartos.
Chegando a um quarto que tem a letra D e o número trinta e cinco pintado na porta. A figura então coloca uma chave estranha na fechadura que se desenha arredondada. Um cenário escuro surge a frente por um momento, mas que logo vai se revelando com a luz que despenca do teto ali dentro.
Um quarto se apresenta. Uma mesa, uma pia, uma cama e correntes presas no pé chumbado dela. Essa corrente se amontoa no chão e depois escala serpenteando até a cama, e entra por debaixo da coberta.
Não demora para a coberta se mover, e a figura de uma menina loira e franzina se levantar sentando a beira da cama. Ao observar a figura a frente, a menina começa a enxugar as lagrimas que escorrem por seu rosto.
A figura então se aproxima e se abaixa para até alcançar o pé da menina, e com a mesma chave que abriu a porta, agora abre a fechadura da algema que a prendia. Em seu primeiro ato de liberdade, a menina abraça a figura com toda a força que tem. A figura retribui gentilmente, a envolvendo com calor, carinho e proteção.
— Vamos? — A figura a chama enquanto já está indo em direção a porta.
A menina puxa um bocado de ar, e então se põem a segui-la.
— Pega! — A figura se abaixa na frente da menina a oferecendo um saquinho de tecido preto. — Preciso que me ajude. Tudo bem?
A menina pega o saquinho e o abre, revelando assim, mais chaves iguais aquela que a figura usou para lhe libertar. Com um grande sorriso no rosto, ela puxa um bocado de ar e logo o solta enquanto sai em disparada para o quarto mais próximo.
A figura ao ver a cena, esboça um leve sorriso de boca fechada, então também sai em disparada para o outro lado. Não demora para que mais e mais meninas e meninos, se revelem esgueirando pelos corredores e escadas do lugar.
Após alguns minutos, explosões surgem dos quartos. Um por um, todos pegando fogo. O concreto que os molda, vão voando para todo o lado. As crianças se esgueiram pelos escombros a procura de se juntarem para poderem tentar sair.
Do alto do pilar. O androide, em seu traje justo e todo preto, com detalhes roxos, observa toda a cena. Seu sorriso macabro, prenuncia o que se sucedera. O capacete em sua cabeça se fecha, ocultando seu rosto por debaixo de um visor com um V roxo curvado para fora pintado no centro.
Se lançando ao ar, ele despenca do alto até cair sobre uma das escadarias. Na queda, ele se abaixo para amortecer a queda. Uma pequena cratera se abre aos seus pés.
Uma por uma, ele vai alcançando as crianças e ceifando suas vidas. Gritos de desespero ecoam pelo salão em meio ao fogo e a fumaça. Em um ritmo acelerado, ele se lança pelos degraus e por cima de escombros.
Então uma vibração toma conta do ambiente a seu redor. Parando sem ousar a dar mais um passo se quer, ele se vira para trás. A figura encapuzada se apresenta a suas costas. Serrando seus punhos, ele observa os fios dourados que es revelam timidamente por alguns momentos sob o capuz.
Ele lança um olhar para a direita e para cima, alcançando o topo da escadaria e o portal com o número 8 pintado sobre ele. Ali se encontra a menina loira que observa tudo do alto. Quando a figura lança seu olhar para o mesmo lugar, e a observa, se volta para o androide, mas ele já não está mais ali.
Se forçando para a escadaria, a figura também some deixando uma pequena cratera aos seus pés.
Ao chegar no topo da escadaria, o androide faz uma pausa a frente da menina enquanto a observa dar alguns passos para traz. Ele volta a abrir seu visor, que revela novamente um sorriso perturbador. Mas não demora para o sorriso se desfazer enquanto morde os dentes.
Ele da uma grande inspirada antes de soltar tudo e fechara viseira novamente. A viseira vai fechando novamente enquanto oculta sua face séria. Um passo, e depois outro, e mais um é dado por ele. A figura em um movimento repentino, se vira para trás e pega a menina no colo. Então se põe a correr por vários metros, sendo seguida pelo androide.
Ela vira e entra em um dos tuneis laterais, um que ostenta o número 100 em seu topo. As luzes roxas não demoram a colorir o ambiente com tons neons. A figura para e coloca a menina no chão.
— Vai! Já te alcanço. — Ela diz em voz baixa enquanto observa o olhar azul celeste da menina.
A menina acena com a cabeça concordando, e parte pelo túnel acompanhada pelas luzes que acendem e apagam.
O androide chega até onde ela está e para em sua frente.
— Ainda não! — A figura pronúncia essas palavras em alto e bom tom com sua voz feminina e levemente rouca.
Então o ambiente começa a tremer entre os dois. O ar vibra com tanta intensidade que o obriga a dar alguns passos para trás saindo da turbulência. Rachaduras surgem nas paredes e no teto. Não demora e farelos despencam do alto. Seguidos de pequenos pedaços de pedra e terra. O túnel entre os dois desaba por completo. Deixando somente o silencio como ato final.
— Maldita! — A voz do androide sai abafada pelo capacete.
Então ele se vira e retorna para o salão.
Vários minutos depois.
— Espere aqui por favor. — A figura conversa com a menina. Ambas estão dentro de um carro de aparência luxuosa e estética arrojada. Sua coloração branca, da um tom de elegância para ele. A menina novamente acena de forma positiva com a cabeça.
Saindo do carro, ela carrega um escudo preto com detalhes douras. Ele é alongado e possui duas pontas, uma em cima e outra embaixo. A figura se direciona para dentro de uma que está toda aberta com marcas de sangue no chão.
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