Índice de Capítulo


    ❖ ❖ ❖

    A marcação na palma da mão de Rei era uma pequena árvore, com galhos finos e um tronco seco, que parecia quase insignificante à primeira vista.

    Loki havia então explicado que todas as vezes que o garoto estivesse próximo da relíquia sagrada, o desenho de árvore em sua mão ganharia vida. Dos galhos brotariam folhas, e do tronco retorcido, ele ficaria mais forte, vivo e substancial. 

    — Hum. Ficou perfeito. Mas não temos tempo a perder. Você precisa sair daqui antes que a mente dos que vieram com você comece a se degradar — declarou Loki, com uma tranquilidade desconcertante.

    — Degradar? O que você quer dizer com isso? — Rei perguntou, a voz meio oscilando. Apesar de já imaginar o que aquilo significava, ele temia ouvir a confirmação.

    Loki suspirou e sorriu fraco como se estivesse escondendo alguma coisa, escolhendo cuidadosamente as palavras.

    — Você esteve comigo por algumas horas, mas isso não vale para os outros dois. O tempo aqui… — ele fez uma pausa breve, evitando o olhar direto de Rei — funciona de maneira diferente.

    Ao terminar, Loki sentiu o peso do olhar furioso de Rei cravado nele, como se quisesse arrancar mais informações. O estudante estava furioso. 

    — Tá me zoando, é? Tá me dizendo que eles estão presos há dias enquanto a gente fica aqui, conversando? — Rei gritou, a voz carregada de raiva. Ele fechou o punho com força, fazendo com que os seus dedos machucassem levemente. Em um impulso, bateu com força na mesa, o som ecoando pelo ambiente e fazendo Loki recuar ligeiramente, visivelmente assustado.

    O homem teve de engolir em seco.

    Estranhamente aquela visão de Rei era mais assustadora que a dos próprios deuses. 

    — Sim… Mas eles estão bem, eu juro! — murmurou Loki, quase hesitante, como se soubesse que suas palavras não seriam o suficiente para acalmar Rei.

    Rei respirou fundo, tentando controlar a onda de raiva que o tomava, mas sua expressão continuava a mesma. 

    — É isso mesmo? Na Moral, espero que nada de sério tenha acontecido com eles. Porque, se algo tiver dado errado, o nosso acordo já era.

    Antes que Loki pudesse abrir a boca para se defender, Rei o interrompeu, demonstrando uma impaciência evidente no tom.

    — Leve-me até eles. Já acabamos com essa merda, então vamos logo. Quero sair desse inferno. Você não quer recuperar seu artefato divino? Então anda, me mostra o caminho. 

    — Tudo bem… — Loki respondeu com a voz baixa, visivelmente hesitando. 

    Nessa hora, ele parecia mais intimidado por Rei do que pela ideia de antes, quando havia a possibilidade do garoto recusar o acordo.

    Enquanto caminhava, seu rosto parecia estar revestido com um único pensamento: Rei parecia mais ameaçador do que os próprios deuses superiores.

    Era totalmente diferente de quando estava conversando calmamente de poucos minutos atrás. 

    Loki deu alguns passos em direção à mesa de madeira no centro da sala e desenhou uma runa arcana sobre sua superfície. Em questão de segundos, o ambiente começou a se transformar. O branco estéril, que mais lembrava uma ala de reabilitação psicológica, deu lugar a um pequeno quarto.

    Era um espaço simples, com uma cama encostada na parede e móveis abarrotados de tralhas. Em cima deles, havia receitas mágicas, artefatos e outros objetos variados que pareciam ter sido acumulados ao longo dos anos.

    Loki caminhou até aquela pequena porta de mármore no canto do quarto, e Rei o seguiu de perto, sem desviar o olhar. 

    Quando Loki parou em frente à porta, ele se virou e começou a falar:

    — Não se esqueça do…

    Antes que pudesse terminar, Rei o interrompeu bruscamente.

    — Está me ameaçando? — perguntou, o tom carregado de raiva, enquanto seus olhos queimavam com uma intensidade que fez Loki engolir em seco.

    Loki ficou mudo, incapaz de formar uma resposta. Por um momento, o deus parecia completamente inofensivo. Ele só se lembrou que a presença de Rei lembrava a de um deus bem peculiar, que o mesmo odiava. 

    Loki abriu a porta de mármore com um gesto lento, e Rei não hesitou em dar alguns passos à frente, pronto para finalmente deixar aquele lugar para trás.

    Antes de cruzar o limite, o estudante lançou um último olhar para Loki, como se aquilo fosse o suficiente para se despedir. Ele sequer queria dizer alguma coisa, visto o que Loki havia feito com Kazuki e Matsuno. 

    No entanto, antes que ele saísse, Loki quebrou o silêncio com um tom sério. 

    — Uma última coisa, mas acho que você já sabe… Você não veio parar aqui por minha culpa. Então, tome cuidado com os olhos indesejados que te seguem.

    Foram justamente aquelas pessoas, responsáveis por desabar o chão sob os pés de Rei, que permitiram que Loki o encontrasse. Um acontecimento que, no fim das contas, havia se mostrado benéfico para o deus.

    No entanto, agora que estavam do mesmo lado do garoto, Loki sabia que não poderia esconder esse detalhe de Rei por muito mais tempo, ele só quis confirmar a suspeita que o garoto já tinha sobre esse assunto. 

    Rei parou por um breve instante, sem se virar, apenas pensando naquelas palavras. Em sua mente, provavelmente quem causou todo esse desastre não poderia ser ninguém menos que a igreja de Querpyn 

    Em seguida, continuou andando, deixando a presença de Loki para trás, mas com as palavras do deus ecoando em sua mente.

    Inevitavelmente, assim que passou pela porta, a figura de Loki desapareceu atrás dele com um sorriso estranho — um sorriso que lembrava, de certa forma, o do gato de Alice no País das Maravilhas.

    A partir daquele momento, Rei continuou caminhando. Por alguns minutos, sua mente estava tão cheia de pensamentos que ele sequer notou a mudança ao seu redor. Somente quando recobrou a consciência, percebeu que estava descendo uma longa escadaria, seus passos ecoando no silêncio.

    Tudo ainda parecia absurdamente irreal para Rei. Em um momento, ele estava a caminho da capital; no outro, explorava ruínas antigas e, em seguida, conversava com um deus. Os eventos se desenrolaram tão rápido que sua mente não conseguia acompanhar. No final, sua mente estava uma bagunça. Ainda mais por conta da responsabilidade que tinha, e o medo que se seguia delas. 

    Entretanto, sua mente foi logo puxada de volta à realidade ao avistar duas figuras que conhecia ao longe. Pela primeira vez em muito tempo, um grande sorriso havia se formado em seu rosto.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota