Índice de Capítulo


    ❖ ❖ ❖

    Elfina ficou em silêncio por um tempo. 

    Ela parecia estar refletindo consigo mesma, chegando a conclusão que não adiantaria discutir.

    O que havia passado, simplesmente passou. 

    [Está tudo bem, mestre. Não foi culpa sua. Mas, se aquele deus inconveniente aparecer de novo, pode deixar que eu acabo com ele por você]

    Elfina disse, com um tom confiante, respeitoso e quase puxado para o arrogante. 

    Mesmo sem estar em sua forma transmogrifada, dava quase para notar mentalmente um leve sorriso no canto dos lábios dela.

    Rei pensou em responder algo como: “Tsk, duvido que consiga”, “você é meio incompetente” mas, reteve-se para não ofender e substituiu por apenas um simples: 

    — Eu acredito em você.

    [Ah, mestre… É bom saber que confia em mim. Mas, para isso, o mestre sabe que precisa me ajudar, não sabe? Eu preciso de poder. Estou tão fraca, tão insignificante neste momento… Acho que sangue pode me ajudar, se me entende bem]

    Elfina comentou na cara de pau. 

    Ela sempre fazia isso, em qualquer momento.

    Após ouvi-la, Rei suspirou e acenou com a cabeça em afirmativo.

    Era difícil controlar Elfina, ainda mais quando aquele serzinho tinha uma personalidade tão sádica, e tenebrosa às vezes.

    Enquanto conversava com ela, Rei seguiu atrás dos dois rapazes que lideravam o caminho com maior cuidado, inclusive eles estavam a cuidar absolutamente de tudo.

    Colocando ênfase em “tudo”. 

    Se uma barata aparecia próximo de Rei, Matsuno e Kazuki não hesitavam em desembainhar suas espadas, despedaçando o inseto em incontáveis pedaços, como se fosse uma ameaça mortal.

    E, se uma teia de aranha surgia à frente, o destino era o mesmo — destruída sem piedade. 

    Os dois faziam isso com tanta dedicação que era quase cômico. Era óbvio que estavam exagerando, mas, ainda assim, continuavam a fazer a mesma coisa quando se tratava de Rei.

    Por quê tanta superproteção?

    Rei já estava começando a se sentir desconfortável com tudo aquilo.

    No entanto, sempre que olhava para os rostos determinados e um tanto orgulhosos que Kazuki e Matsuno faziam enquanto “ajudavam”, ele não sabia se sentia vergonha ou se simplesmente aceitava aquilo. 

    “Bem, ter esses dois assim… não acho que seja tão ruim.”

    Pensou Rei, tirando a mão do bolso e passando-a pelo rosto, como se tentasse organizar seus pensamentos.

    “Porra, essa sensação… de ser protegido tão de perto… não é tão ruim assim, cara,” 

    Ele teve de admitir para si mesmo, quase relutante, enquanto o desconforto inicial começava a se misturar com algo que ele não conseguia exatamente dizer. 

    Eles passaram por escadas desgastadas e cômodos em ruínas, com o ambiente mudando constantemente ao redor deles. 

    A cada minuto, parecia que estavam entrando em um novo lugar, o que, apesar de impressionante, tornava a caminhada ainda mais cansativa.

    ❖ ❖ ❖

    Todos estavam agora em uma região aberta, onde a lua iluminava o ambiente que estava à em cima de suas cabeças. 

    O espaço ao redor era imenso, e, aos lados, estavam as escadarias laterais de madeira em formato oval subindo, estreitamente e sinuosas, até o topo.

    O som do vento ecoando sobre a madeira suavemente dava medo, ainda mais levando em consideração a maneira como elas estavam deterioradas. 

    Estava tudo bem mesmo subir por ali? 

    Não parecia ter mais outras opções de saída. 

    Meio que…

    Aquela era a única alternativa.

    Vendo tudo aquilo e o perigo que representava subir aquelas escadas, Matsuno, que estava em silêncio durante a maior parte do caminho, foi o primeiro a se pronunciar.

    — Vamos subir.

    — ……

    — ……

    Kazuki e Rei ficaram em silêncio, ambos ponderando se aquilo era realmente uma boa ideia.

    Sinceramente, não parecia ser.

    Mas, no fim, era a única opção.

    Ao menos o topo estava visível, o que dava uma sensação de que não seria tão ruim assim.

    — Certo, vamos seguir esse rolê então — comentou Rei, ficando na retaguarda.

    Após ouvi-lo, Matsuno e Kazuki começaram a se mover em direção às escadarias, e, um passo de cada vez, começaram a subir.

    Primeiro foi Matsuno, depois Kazuki, e, por último, Rei. Eles subiram a maior parte das escadas, mas o caminho não era fácil.

    Alguns pedaços de madeira se soltaram e voaram para o lado quando foram pisados, enquanto outras desabaram logo após Rei passar por elas.

    A única coisa que o estudante não queria fazer naquele momento era olhar para baixo e sentir aquele frio na barriga crescendo a cada passo.

    Era estranho observar o cenário abaixo, ainda mais com tudo parecendo tão pequeno. Mesmo com sua habilidade de Manifestação de Asas, o medo ainda continuava. Ainda mais agora, quando sequer conseguia utilizá-la.

    Ele apenas segurou firme a mão nas vestimentas de Kazuki, que estava bem a sua frente, e com o rosto corado por causa disso. Rei andou devagar, enquanto caminhava ao passo em que Kazuki dava.


    ❖ ❖ ❖

    Quando finalmente chegaram ao fim daquelas infernais e intermináveis escadas, os três se jogaram no chão para descansar e recuperar o fôlego. Haviam passado duas ou três horas descendo mais ou menos, e por um momento parecia que aquilo nunca acabaria.

    Rei dentre eles era claramente o mais exausto. 

    Ele não tinha o mesmo vigor que Matsuno e Kazuki, que pareciam bem mais acostumados a esse tipo de esforço, por outro lado. 

    Enquanto descansavam no chão, Matsuno parecia meio ansioso, ainda mais quando se pegava olhando para trás e vendo o rosto de Kazuki alterado pela aproximação de Rei.

    Matsuno percebeu que os dois começaram a rir, e rapidamente tentou mudar de assunto:

    — Certo, acho que já descansamos o suficiente. Precisamos procurar pelos outros. Eu tenho uma tropa para organizar.

    — Espera aí! Não está vendo que ele ainda precisa descansar um pouco mais? — Kazuki retrucou, lançando um olhar firme para Matsuno enquanto se sentava na grama. — Ele está exausto.

    Kazuki então virou-se para Rei, que ainda suava e respirava pesadamente. Talvez mais alguns minutos, três ou cinco no máximo, fossem suficientes para que ele recuperasse o fôlego. Não seria tão difícil assim esperar.

    Matsuno lançou um olhar severo, fixando seus olhos no garoto por alguns segundos. Observou as gotas de suor escorrendo lentamente pelo rosto de Rei, que brilhava suavemente sob a luz da lua. Depois de um momento de hesitação, desviou o olhar, sua expressão endurecida suavizando levemente enquanto um tom de vermelho subia por seu rosto.

    — Alguns minutos… — respondeu. — Acho que não vai fazer mal.

    Continua…

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