Capítulo 220 - X.
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Com um movimento lento e calculado, ele guardou uma das adagas na cintura.
Com a outra, segurava o corpo de Maria, sem pressa, sem mostrar qualquer sinal de preocupação.
Ele havia tomado aquela decisão, então faria como sempre fez.
— Seu filho da puta desgraçado, se não fosse pelos superiores, eu não estaria nessa situação de merda! Eles ainda me deixaram com um fudido como você, que sequer consegue me proteger direito!
Maria, com a voz fraca, mas carregada de raiva, não hesitou em soltar aquelas palavras, mesmo com a dor que ela estava sentindo. A intensidade da sua fúria parecia devastadora, algo que nem a morte parecia ser capaz.
Cerin, surpreso, olhou para ela.
Como ela ainda estava falando?
Não deveria estar morta?
A raiva que ela emanava não fazia sentido.
Entretanto, o que realmente chamou sua atenção foi o movimento de sua mão, ainda fraca, mas com uma chama vermelha dançando ao redor dela.
Faíscas surgiam de seus dedos, e Cerin sentiu a tensão e calor aumentar.
O que Maria estava fazendo?
Ela era doida?
— Você! O que você…!
Cerin estava em choque, seus olhos arregalados, incapaz de acreditar no que estava vendo. Antes que ele pudesse reagir, Maria, com um sorriso frio, murmurou com a voz calma enquanto perdia a consciência:
— Eu não vou morrer sozinha! Oh, Cerin. Vamos juntos abraçar o divino.
E, com isso, uma explosão de energia tomou conta do ambiente, uma onda de poder imensa que iluminou o céu por um breve momento.
A terra tremeu, e o som da explosão ecoou por toda a região. Cerin foi jogado para trás, com seu corpo sendo atingido pela força bruta da magia, mas nem podia-se vê-lo mais.
A fumaça e os destroços começaram a se espalhar rapidamente, cobrindo a área.
Matsuno observava de longe, com a espada alocada agora na cintura, e de braços cruzados, mantendo a distância para evitar qualquer tipo de imprevisto.
Ele ficou surpreso que aquela sacerdotisa pudesse realmente se sacrificar apenas para levar seu companheiro, — essa era uma grande loucura, mas nada muito chocante visto que era a igreja de Querpyn.
Eles eram um bando de religiosos extremistas capazes de qualquer coisa, — até mesmo levar seu próprio companheiro à morte, por orgulho.
— O que aconteceu?
Rei perguntou, ainda em dúvida, tentando entender o que acabara de ocorrer.
— Parece que ela… se matou.
Kazuki respondeu com um tom sombrio, observando a fumaça que ainda estava no ar.
— Por que ela fez isso?
A pergunta de Rei foi acompanhada de uma expressão confusa, ambos observando de longe a cena, mas sem realmente saber o que aconteceu direito.
Por estarem longe o suficiente, não conseguiram ouvir o que os outros estavam falando, então podiam apenas deduzir o que acontecia.
— Ela já ia morrer com aquele buraco na barriga… Você viu?
Kazuki comentou.
— Sim, foi feio. Eu nunca pensei que a maneira como Matsuno luta fosse tão… brutal. É completamente diferente de como você luta, Kazuki.
Rei comentou, seus olhos se fixando no homem-fera ao seu lado, enquanto refletia um pouco sobre como aquilo tudo parecia muito irreal.
Quando a fumaça finalmente se dissipou, podia-se ver o corpo de Maria jogado ao chão, a sua roupa inteiramente rasgada.
Pela maneira como estava… ainda era possível chamar aquilo de corpo?
Do outro lado, perto de uma árvore caída, estava Cerin, imóvel, seu corpo estendido sobre o chão.
Não havia nenhum sinal de vida, com uma enorme poça de sangue formada abaixo.
O campo de batalha estava em silêncio, sem nenhum som, ou qualquer barulho de algum animal noturno por perto.
— Bem, eles realmente pensaram que podiam me matar, quanta confiança.
Matsuno comentou por fim, inclinando-se para trás e caminhando até Kazuki e Rei, que estavam observando-o chegar com seus passos lentos.
A expressão de Matsuno estava tão calma, ele estava ileso. Sem nenhuma marca no corpo, arranhão ou machucado evidente.
Apenas algumas peças de sua roupas estavam rasgadas, mas nem podia-se notar isso por conta da sua armadura escura.
Tudo que era possível ver naquele momento era a sua espada embainhada na cintura, respingando sangue a cada passo que dava.
— Você demorou demais. Que tipo de movimentos foram aqueles? Só estava se exibindo, né?
Kazuki comentou com um olhar inquieto, visivelmente insatisfeito com a demora para resolver a situação num geral.
Se fosse ele, teria finalizado tudo em menos de cinco minutos, e a espera de quinze minutos parecia completamente desnecessária.
Ele realmente só estava querendo prolongar tudo aquilo para se mostrar!
Que cara de pau!
Kazuki pensou nessa hora, com as orelhas levantadas em alerta.
— Não precisa se preocupar tanto comigo, um dia você também vai chegar nesse nível de esgrima.
Matsuno brincou, sorrindo de lado ao perceber a irritação de Kazuki.
— O que você disse?!
Kazuki respondeu, já com o corpo tenso, pronto para desafiar o cavaleiro novamente, como fizera várias vezes nas ruínas.
— Ei, pessoal. Calma aí.
Rei interrompeu, colocando a mão à frente de Kazuki para evitar que ele avançasse.
— Independente do que tenha acontecido, você está bem? Eles não eram adversários fáceis, você poderia ter se machucado. É bom saber que tenha saído ileso. A maneira como você lutou… Foi daora e muito legal, valeu por isso.
Após ouvir aquelas palavras, parecia que todo o esforço de Matsuno até aquele momento tinha sido recompensado. O comentário de Rei foi como um alívio, algo verdadeiramente satisfatório.
Matsuno sorriu levemente, reconhecendo que seu objetivo havia sido cumprido. Ele queria impressionar, e conseguiu.
— Um dia você vai chegar lá também, garotão. Por agora, que tal voltarmos para o acampamento?
Matsuno falou, e Rei apenas assentiu, enquanto Kazuki observava com um olhar desconfiado.
“Esse cara está se achando demais. Acabou a luta, venceu, e já está tomando todo tipo de decisão… Que coisa irritante.”
Enquanto Kazuki refletia sobre o quanto Matsuno o irritava, o cavaleiro simplesmente se inclinou e fez contato visual com o mesmo, lançando-lhe um sorriso que parecia dizer: “Você está bem? Se precisar, posso ajudar…”
Aquela expressão prepotente no rosto de Matsuno era desconcertante, fazendo Kazuki desviar o olhar, evitando qualquer contato visual.
Continua…
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