Capítulo 221 - X.
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Foi então que ele notou o cenário ao redor com mais nitidez: tudo estava destruído, e o corpo da sacerdotisa Maria estava no chão, imóvel — ou o pouco que havia sobrado daquela mulher, que antes era tão bonita ou mais que as nobres da capital.
E do outro lado, perto da árvore, estava Cerin, que não deveria estar morto?
Por que ele estava sorrindo de longe?
O homem estava de bruços no chão, no entanto sua cabeça estava inclinada levemente para cima, com uma adaga posicionada em sua mão.
— Espera! O que é…
No momento em que foi completar a frase, a adaga havia sido lançada, cortando o vento e indo em direção aonde Rei estava localizado.
Em um momento de reação, Matsuno que estava vendo a adaga vindo com toda aquela velocidade para cima, pensou que não conseguiria desembainhar a espada na cintura para se defender, ainda mais levando a velocidade e a trajetória daquela pequena adaga, que estava em direção ao garoto ao seu lado.
Kazuki já havia percebido isso, e tentou ficar na frente de Rei, mas logo foi empurrado por Matsuno, que decidiu tomar aquele golpe.
Crack!
No instante em que a adaga cravou no peito de Matsuno, destruindo parte de sua armadura pesada preta, um sorriso calmo surgiu nos lábios de Cerin, ainda caído próximo à árvore.
Mesmo que estivesse à beira da morte, ele tinha conseguido uma pequena vitória: Pela forma como a armadura de Matsuno tinha sido destruída, com certeza aquela adaga com veneno e imbuída em magia tinha acertado a sua carne.
Ele queria saber o que aconteceria daquele momento em diante, mas durou pouco sua felicidade. Logo depois, seus olhos se fecharam de vez, cuspindo sangue pelo chão e o corpo caindo completamente.
Rei que estava olhando para toda a situação, logo entendeu o que tinha acontecido, e ele ficou momentaneamente perdido.
O ataque de Cerin havia sido tão rápido que em um piscar de olhos, uma pessoa próxima a si estava ferida, e ele sequer teve muito tempo de reação.
Aquela sensação de impotência o consumiu, e a raiva logo tomou conta. Ele ficou indignado, furioso por não ter feito nada.
Em um momento Matsuno estava sorrindo para ele e até mesmo brincando, e no próximo ele estava em sua frente, protegendo-o enquanto cuspia parte do próprio sangue no chão, junto dos cacos que restaram de sua armadura nobre caídas no chão.
— Nem fudendo.
Murmurou baixinho o garoto.
Rei estava realmente puto nessa hora, sem conseguir pensar em outra coisa além de Cerin que estava deitado lá. Ele mal estava a prestar atenção na discussão que começou logo depois.
— Por que você fez isso? — Kazuki explodiu, encarando Matsuno com raiva. — Era só ter empurrado a gente! Ninguém precisava se machucar, você desviou antes de ataques bem piores! Por que teve que bloquear com o corpo?
Matsuno tossiu, sentindo o peso a lâmina perfurada em seu peito, mas ainda manteve um sorriso fraco no rosto, encarando Kazuki com os olhos levemente trêmulos pela dor.
— Coff… Você também tentou proteger o Rei com o corpo. Se realmente quisesse desviar, não teria ficado na frente dele pra receber um ataque, acha que eu não percebi?
Naquele instante, o rosto de Rei estava com uma expressão fria e impassível.
Ele levantou a mão até a altura do peito, e uma pequena esfera negra começou a se formar na ponta dos seus dedos.
Sem hesitar, lançou-a diretamente em direção ao corpo de Cerin.
Assim que a esfera tocou o alvo, uma explosão intensa reverberou pelo local, desintegrando tudo ao redor e deixando para trás apenas um buraco profundo no chão.
Não restava mais nada, apenas o vazio deixado pela destruição.
Era como se sequer existisse algo ali para início de conversa, estava uma cratera enorme em formato oval.
A única coisa que passava pela mente de Rei naquele momento era simples e direta: “Se vai morrer, então morra de uma vez com dignidade. Não atrapalhe mais, seu lixo humano.”
— Você tá bem?
Quando recobrou a consciência de novo, e viu que Matsuno teve que se sentar no chão às pressas com ajuda de Kazuki, Rei correu até o rapaz e ficou com medo pela aparência pálida que tomava conta do rosto do rapaz.
— Não tem que se preocupar, eu tô bem, garotão. Sério, relaxa.
Matsuno brincou, tentando suavizar a tensão enquanto olhava para o rosto preocupado de Rei. Mas, apesar das palavras, o suor frio escorrendo por sua testa e o olhar trêmulo deixavam claro que ele estava longe de estar bem.
Kazuki, que estava dando apoio, segurando as costas de Matsuno para evitar que ele desabasse de vez, também começou a ficar inquieto.
Ver o cavaleiro daquele jeito quase não conseguindo se manter em pé era desagradável.
Se não fosse por Matsuno, talvez fosse ele naquela situação, caído no chão, lutando para se manter consciente.
Ou pior, poderia ser Rei, que agora estava ali ao lado, visivelmente abalado.
Só de pensar nessas possibilidades, tudo parecia ainda mais pesado.
Ele podia até não ter tanta afinidade assim com Matsuno, mas vê-lo naquele estado, depois de ter protegido tanto ele quanto Rei, deixou Kazuki com um peso na consciência.
— Me acalmar? Uma ova! Você não devia ter feito isso. Olha pra você, cara. Você não tá bem! Tipo, não tá mesmo! — Rei rebateu, a voz cheia de frustração e ansiedade. — Kazuki, vem cá, me ajuda aqui rápido, por favor!
Neste momento, Rei apoiou suavemente o corpo de Matsuno sobre a grama, deitando-o para cima com a ajuda de Kazuki, que estava acompanhando cada movimento do garoto.
O cheiro de terra molhada, e de sangue deixava tudo ainda pior.
Com calma, mas de forma rápida, Rei retirou o que restava da armadura quebrada do cavaleiro, despojando-o das partes danificadas e deixando ao lado.
Ao removê-la completamente, era possível ver uma camada de malha protetora sob a armadura e uma camiseta de seda, mas também a ponta de uma adaga cravada na região do torso de Matsuno.
Continua…
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