Índice de Capítulo


     

    ❖ ❖ ❖

    Matsuno ficou em silêncio por um momento, observando a cena diante dele. 

    Kazuki ainda acariciava os cabelos de Rei, sua expressão suavizada pela tranquilidade do menor dormindo em seus braços. 

    Era estranho ver aquele lado mais calmo do homem-fera, mas de certa forma, fazia sentido, pois a poucos minutos atrás parecia querer cair em lágrimas só pela condição de Rei. 

    O cavaleiro suspirou. 

    Ele se afastou um pouco, caminhando até onde sua espada e bainha haviam caído perto de uma área próxima.

    Pegando os itens, ele lançou um olhar rápido ao redor, analisando se não havia mais nada de errado, para não cair em mais alguma armadilha ou descuido. 

    No entanto, ele só pôde perceber o som de algumas corujas ao longe e o estrago causado por toda a região. 

    Ele ainda se lembrava, mesmo que com a visão turva, daquela bolinha preta das mãos de Rei que seguiu caminho até o corpo de Cerin, e destruiu a região inteira sem fazer sequer um barulho. 

    Era impressionante o que aquele estudante tinha conseguido fazer em tão pouco tempo. 

    Para alguém tão pequeno, Rei era capaz de um verdadeiro caos — tanto em relação a destruir quanto a questão de curá-lo quase completamente.

    Embora a reação normal nesse momento fosse ficar assustado, Matsuno apenas sorriu de lado. 

    — O que aconteceu aqui, fica entre nós, Matsuno.

    Kazuki disse de maneira séria nessa hora, mantendo contato visual com o cavaleiro. 

    Depois, acrescentou com uma leveza na voz:

    — Você sabe que, se isso se espalhar, só vai trazer problemas para o Rei. Ele não quer essa atenção, só deseja viver em paz e curtir mais a vida. Então, por favor, não fale sobre isso pra ninguém.

    Kazuki, dessa vez, não estava apenas instruindo, mas fazendo um pedido genuíno, algo mais sincero do que o habitual. 

    Pela primeira vez, sua voz soava mais amigável que o normal. 

    Matsuno, ao ouvir, apenas sorriu e assentiu.

    Ele então se voltou para o céu, que ainda estava pontilhado de estrelas, com a lua visível, enquanto o vento frio da noite batia em sua pele exposta. 

    O ambiente estava silencioso, apenas com o som de corujas ao longe, e também o som da respiração pesada e quente do cavaleiro. 

    — Entendi, pode deixar comigo. Todo mundo tem sua história de vida. Não vou questionar as habilidades desse garoto, então relaxa.

    Matsuno respondeu com seriedade, recolocando a bainha e a espada na cintura antes de voltar à posição de antes.

    Ele se sentou para descansar um pouco, mas manteve uma das mãos na cintura, atento a qualquer eventualidade. 

    Se houvesse outro ataque surpresa, dessa vez, ele estaria pelo menos preparado para reagir adequadamente, sem se sacrificar. 

    — Inclusive…

    — Hum?

    — Você também deve ter sua própria história, não acha? Aqueles dois, assim que te viram, pareciam ter visto um fantasma. Mas não vou perguntar nada, você tem seus motivos.

    Matsuno comentou, observando Kazuki suspirar cansado, ainda mantendo o olhar fixo nele.

    Kazuki lançou um olhar para Rei, que dormia profundamente. 

    Com cuidado, segurou-o firme nos braços e se ergueu, ajeitando melhor o garoto antes de se virar para Matsuno.

    — Você é bem curioso, que irritante. Vamos conversando enquanto andamos.

    — Tudo bem, essa é uma boa ideia. Precisamos encontrar os sobreviventes e o restante das minhas tropas.

    Matsuno acompanhou andando ao lado de Kazuki, então ele olhou para o peito de Kazuki e então sugeriu:

    — Se estiver cansado, posso carregá-lo por um tempo.

    — Nem pensar, sai fora.

    A expressão irritada de Kazuki fez Matsuno rir, enquanto ambos caminhavam. 

    Era fácil provocá-lo, e isso, de certa forma, até o divertia.

    A ficha de Matsuno ainda não tinha caído completamente, só foi depois de alguns minutos que ele então disse:

    — Eu queria agradecer. Se não fosse por ele, eu não estaria vivo agora. É estranho ver… toda a minha vida passar diante dos olhos em poucos segundos. Mas, por mais louco que pareça, eu não me arrependo do que aconteceu.

    Caminhando ao lado de Kazuki, ele mantinha uma chama de fogo fraca em sua mão acesa para iluminar o caminho. 

    Kazuki suspirou, ajeitando melhor o garoto em seus braços.

    — Você já disse isso antes, não precisa reafirmar seus erros a cada passo. Esse tipo de discurso não combina com você.

    A última coisa que queria naquele momento era ter que ouvir arrependimentos enquanto atravessavam uma região desconhecida.

    — Haha…

    Kazuki percebeu que Matsuno ainda parecia abalado. 

    Para alguém tão racional e fiel às regras, o choque do que aconteceu devia ter sido intenso. 

    Mas talvez fosse uma experiência necessária para o amadurecimento dele.

    Bem, não importava. 

    “Com toda essa bagunça no reino, o que realmente importa? Tudo está desmoronando. A Igreja de Querpyn age sem restrições, o imperador não se importa com nada, e ainda tentam matar a tropa do reino humano que veio ajudar… É um emaranhado de problemas sem fim.”

    Enquanto caminhava em silêncio, Kazuki ponderava sua situação. 

    A princípio, muito antes de concordar com Rei em ir para a capital, ele não queria voltar para aquele local, mas se deixasse tudo como estava, seu povo sofreria ainda mais. 

    No fim, não havia outra escolha: ele precisava reivindicar o posto de imperador.

    A política era um caos, e ele era o único que podia fazer algo a respeito daquele inferno. 

    Suspirando, ele quebrou o silêncio:

    — Olhando pra situação do reino, acho que não faz mal contar um pouco da minha história. 

    Kazuki começou a falar sobre os acontecimentos que levaram o reino ao estado que ele estava de decadência. 

    Estava a contar não porque confiava plenamente em Matsuno, mas por um motivo egoísta — precisava desabafar e ouvir outra perspectiva.

    Talvez alguém de fora pudesse chegar à mesma conclusão que ele?

    Bem, não dava para saber. 

    E naquele momento Matsuno precisava esfriar a cabeça e pensar em outra coisa que não fosse se colocar como um defeito ambulante e alguém sem valor, como estava a pensar.

    Matsuno caminhou ao lado de Kazuki, ouvindo atentamente cada palavra sem interromper. 

    Deixou que o homem-fera falasse até o fim, sem dizer uma única palavra em retorno. 

    Ele não fez perguntas, apenas observou o cansaço nos olhos de Kazuki.

    Se por um lado Matsuno se culpava por sua negligência com Cerin, Kazuki carregava o peso de uma linhagem que permitiu a ascensão da igreja de Querpyn e toda a corrupção que havia no palácio imperial.

    Continua…

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