Capítulo 50: Infinito paraíso
Quando o ônibus chega, ela logo embarca em busca de um acento a beira da janela. A seguindo quase como se fossem sombras, outras pessoas começam a adentrar. Alguns jovens até chegam a disputar alguns lugares no fundo. Quando terminam a confusão, alguns estão emburrados enquanto observam o chão do largo corredor ao lado. Outros sorriem com sutileza e respeito enquanto admiram a paisagem do lado de fora como se nunca tivesse visto antes.
Sarah já está colocando seu pequeno fone de ouvido quando vê um homem de aparência envelhecida caminhando pelo corredor vindo em sua direção. Ele é tão alto que seu cabelo curto, grisalho e penteado para trás, quase roça o teto. Ele usa uma camisa larga e toda florida em tons alaranjados. Seus shorts brancos e chinelo dão o tom de seus anseios.
Os óculos escuros escondem o olhar dele. E em sua mão, um chapéu vermelho escarlate chama a atenção, porém, não mais que os pequenos peixes coloridos com anzóis que estão preso envolta do próprio chapéu. Cada um com uma cor e desenho diferente do outro.
Sarah já com seu livro aberto, alterna olhares entre as linhas e o chapéu que se aproxima balançando.
— Você realmente precisa trazer isso? — A voz áspera e forte do homem ressoa pelo corredor sutilmente enquanto ele nem desvia a face.
— Sim, da mesma forma que você precisa disso ai! — Uma voz masculina e límpida surge vindo das costas dele.
Conforme o homem vai passando e desobstruindo o campo de visão. Em seu lugar, vai surgindo um rapaz alto como o anterior, com vestes muito parecidas também, porém com tonalidades mais azuladas. Uma espécie de cinto vem descendo por cima de seu ombro, e cruzando o peitoral na diagonal até sumir por baixo do braço. Seu cabelo dourado e curto, quase raspado sacoleja com o ar-condicionado de circula no alto.
Sua pele levemente bronzeada que dá tom aos braços musculosos tiram o foco de Sarah da sua leitura. Enquanto corre um rápido olhar pelas veias do braço dele, acabe notando algo pendurado atras do rapaz.
Ao passar do lado de Sarah, o rapaz faz uma rápida vistoria nela, mas logo disfarça ao perceber que ela está o olhando de canto. Ele corre o olhar pelo ônibus até chegar do outro lado, até onde o homem que acabou de passar está se sentando. Quando o rapaz faz isso, uma longa bainha de couro cinza e aveludado atravessa as costas de cima para baixo na diagonal. No alto, uma empunhadura negra revela o que provavelmente existe ali.
— Você não se importa né? — O homem indaga olhando para o rapaz enquanto se escora do lado da janela.
— Fique à vontade. — O rapaz responde enquanto puxa a bainha para frente e a repousa do lado das pernas entre os dois.
Enquanto tenta disfarçar o sorriso inutilmente, Sarah pega seu celular e aumenta um pouco o volume. Agora mais concentrada, percorre cada linha e cada palavra como se só existisse ela e mais nada no ambiente.
As horas escorregam tão rápido quanto cada centímetro de estrada fica para trás. O astro rei a muito já se despediu de seu palco. Agora refletindo seu brilho em tons prateados, a rainha da noite se empodera no alto. Mesmo que incompleta, ainda se faz notar como em todas as outras noites que não é roubada.
Percorrendo uma estrada sinuosa à beira-mar. O ônibus corta a madrugada pronto para chegar em seu devido lugar. Após uma parada em um grande pear, ele retoma seu caminho agora com alguns passageiros a menos.
Sarah agora contempla as ondas que se chocam avidamente contra as pequenas embarcações de madeira, as fazendo balançar para os lados. Mas deixam a desejar quando tentam de forma incompetente fazer o mesmo com grandes navios de metal.
Depois de receber as primeiras brisas marítimas no rosto, se poe a caminhar pela calçada até chegar em uma embarcação toda branca e de tamanho médio. Ali, a beira da rampa de acesso para o barco, um homem com cachimbo na boca, e vestindo uma jaqueta azul escura. A observa se aproximar.
— Aqui está! — Sarah nem termina de se aproximar e já vai lhe entrando algumas moedas douradas.
O homem com seu olhar ríspido, inspeciona cada moeda enquanto da mais uma tragada no cachimbo. A fumaça que escapa de sua boca se perde rapidamente pelos tons escuros da noite. Somente sua longa barba tão branca quanto o barco, tenta se opor ao cenário.
— Pode embarcar. — De forma elegante, ele vai abrindo caminho para ela.
Com um sorriso de agradecimento, Sarah se põe a caminhar até chegar em uma das cabines. Ao abrir a porta, para sua surpresa, achou um lugar confortável e sofisticado.
— Sempre que sair, tranque a porta. — O homem a adverte a deixando sozinha.
Ansioso, o sol já promete romper a neutralidade antes da alvorada. E junto dele, alguns peixes saltam perto do barco. O homem agora sem seu cachimbo, luta intensamente para puxar o que quer que seja, que tenha fisgado sua isca. A vara envergada, ameaça abandonar seu trabalho a qualquer momento. Mas não hoje, pelo menos não agora. Com um puxão feroz após o peixe saltar para fora da água. Ele consegue trazê-lo para o convés.
Avermelhado como o sangue com desenhos em formato de rajadas na cor preta. O peixe se debate para um lado e para o outro. Seu tamanho o torna ainda mais imponente e belo. O homem quase não consegue segurá-lo. Mas após cravar um punhal longo bem no olho, ele “adormece” docilmente. O olhar de triunfo e o sorriso no rosto não negam a alegria em seu peito.
Algumas horas depois, o barco enfim chega a maior ilha de Fiore. Ao desembarcar, Sarah logo percebe que o clima do local é mais abafado e quente. Enquanto caminha por uma calçada à beira da praia. Observa que do outro lado, algumas lojas já se encontram com abertas e até movimentadas.
Após vários minutos vasculhando prateleiras e manequins, ela encontra uma pequena loja de roupas de praia. Várias peças e conjuntos, são jogados sobre balcões. Ela escolhe algumas para levar e outras já veste ali mesmo.
Um short preto de praia curto no meio das coxas com um corte de cada lado. Uma saia de praia toda colorida e aberta com uma perna exposta. Um chapéu de palha grande e flexível na cor cinza médio. Seu top preto e seu chinelo branco é o look que Sarah já ostenta quando sai da loja. Fora mais algumas peças em uma sacola.
Voltando a andar pela calçada, um taxi para e oferece levá-la para onde desejar. Mas quando está prestes a aceitar, observa que do outro lado da rua, em meio a arei. Bugies de diversas cores se exibem como se pedissem para alguém os usar. Depois de agradecer e dispensar o taxista, A passos largos atravessa a rua.
Placas exibem preços que Sarah obviamente ignora. Ao achar um amarelo, na hora já vai sacando o cartão de sua mochila sem pestanejar. O atendente, sem entender muito aceita o cartão e parte para dentro. Logo ele retorna com outro homem, um pouco mais velho e com “cifras” escupidas em seu olhar esverdeado. Após pouco esforço, ele consegue vender uma promoção de um mês para ela.
Com os núcleos carregado, Sarah começa a dirigir sendo guiada por um pequeno mapa em uma pequena tela no painel do bugie. Ao chegar em uma rua no fim da ilha, onde tem várias residências. Sarah estaciona e caminha até a primeira. Lançando um olhar para a estrutura no geral, ela acaba esboçando uma feição de estranhamento enquanto bate palma na frente. Mais tarde descobre que cada uma das casas daquela rua, são como hotéis. Algumas são tão próximas da praia, que vinte passos bastam para você sai da porta e entra na água azul cristalina.
Uma vista incrível o dia todo. e a noite não é diferente. Em seus pensamentos Sarah sente que poderia largar tudo e morar ali pelo resto da vida. E por quatro dias, tudo que ela faz é aproveitar e relaxar.
Com uma prancha alugada, ela se arrisca entre ondas pequenas e grandes. Mergulhos até corais e algumas embarcações afundadas também se tornam parte da rotina. No kitesurfe, ela quase sai voando oceano adentro.
Ela se aventura com seu bugie por praias isoladas. Vê tartarugas nascerem e começarem sua jornada pela vida ao pôr do sol.
Em uma noite ela dorme na areia e acorda cheia de frio de madrugada. Frio que logo se esvai diante do vislumbre magnifico que inunda seus olhos ao vira-los para o céu. Constelações, estrelas cadentes, tudo ali quase ao alcance de suas mãos. A água tão calma que dá para ver o reflexo perfeito do ceu no oceano.
Depois de 4 dias aproveitando cada segundo.
Sarah decide procurar por um barco para alugar. Mas nenhum dono está a fim de levá-la onde deseja.
— Dificilmente você encontrará alguém pra te levar. Eles têm medo! — Um homem que aparenta ser mais velho do que realmente é. Com sua barba preta, e roupa de praia toda branca. Explica para ela, enquanto observa algumas ilhotas ao fundo.
— Medo do que? — Sarah se deixa levar.
— Dizem as lendas que em uma noite de grande calamidade. O céu brilhou colorido. E depois explodiu. Então choveu pedras mágicas por todo o mundo. Bom…, mas isso você já sabe. Foi assim que os núcleos surgiram. E as masmorras se formaram. Pelo menos essa é a lenda. — Ele faz uma pausa enquanto olha pro oceano — O que não falam, é que algumas pedras eram tão grandes que podiam abrir portais e sugar pessoas inteiras para dentro delas. — Então ele lança um olhar desafiador para Sarah. — Você deve estar me achando louco né. Pode falar. — Ele começa a se dirigir para onde ficam algumas lanchas.
— Não! Pode continuar, eu amo histórias!!
— Dizem que uma dessas pedras caiu por essa região. Onde você quer ir. Por isso ninguém vai lá. E ninguém fala sobre, com medo de serem motivo de chacota. Só dizem que não estão interessados e fim. — Ele termina sua fala ao chegar em uma das lanchas.
Ela só olha para ele em silêncio.
Eu posso alugar uma lancha para você, mas estará só. — Ele olha novamente para o oceano. — É bem fácil de dirigir. — Após alguns minutos de explicação — Esse é um tutorial por escrito. E aqui está o quite de primeiros socorros. Deixe-o a vista junto com a pistola de emergência. Não que alguém vá te socorrer. Bem.
Sarah escuta atentamente enquanto veste o colete salva-vidas.
— Embaixo do painel tem vários mantimentos enlatados. — Ele termina suas instruções.
Sua mochila com suas coisas também está lá. Ela dá a partida e sai para o oceano seguindo seu instinto enquanto observa o pergaminho por alguns momentos. Seguindo reto na direção de onde acredita que está oque procura, ela chega até a fechar os olhos enquanto conduz. Sempre sentindo o vento que força contra seu corpo e sacoleja toda sua rouba e cabelo.
Após mais de duas horas em águas um pouco turbulentas. Chega em uma região cheia de nuvens e vento. Algumas correntezas começam a levar a lancha para mais adentro daquela região nublada. Sem tentar fugir, e com o coração palpitando cada vez mais forte, ela desliga a lancha e só se deixa ser levada por mais de uma hora.
Ao chegar em um determinado ponto, as nuvens que antes escondiam o céu decidem bruscamente desaparecer como se diluíssem no próprio ar. Sarah estranha tal situação. Pelas suas contas, deveriam ser por volta duas horas da tarde. A água se torna tão estática, que parece um espelho que reflete o céu.
Sentindo que tem algo mais por ali. Sarah volta a ligar liga a lancha e continua seguindo seu extinto. Lança um olhar para vários galões de combustível que estão em um canto. Depois observa o núcleo no painel atrás do volante, que sempre irá brilhar em roxo enquanto se dirigir para o norte. Sem medo, ela continua. Após mais uma hora navegando por aquele espelho surreal. No horizonte, surge um pilar de luzes coloridas que corta de baixo para cima, conectando o céu ao oceano.
Seguindo por mais de vinte minutos desde então. Ela chega bem perto, e seus olhos não acreditam no que contemplam. Uma espécie de feixe de luz colorida que rotaciona em um vórtice. Tão grande caberiam cinco lanchas lado a lado. O vórtice de luz, vem do fundo do oceano e vai até o alto onde o olhar alcança.
E ao terminar de olhar para cima. Sarah se espanta surpreende mais ainda. Ela vê seu próprio reflexo de ponta cabeça lá no alto. Então quando se dá conta, ela se vê de ponta cabeça com seu cabelo apontando para baixo. E de volta ela se vê virada para cima novamente, porém, seu cabelo continua em pé. Agora ela perde a respiração pois está de ponta cabeça virada para dentro do oceano. Sua adaga começa a brilhar tão intensamente, que é possível ver através do tecido da mochila aos seus pés.
Ao soltar do volante para pegar a mochila. Sarah de repente se vê sendo puxada para longe da lancha, em direção ao vórtice que começa a rotacionar aceleradamente. Distorcendo e sugando tudo para si. Sarah começa a esticar parecendo uma goma de mascar junto de sua mochila. Até sumir no vórtice. Então do nada tudo se cessa, e a lancha fica ali largada, flutuando naquele espelho estático e infinito onde sempre é noite.
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