Índice de Capítulo

    O sol da manhã iluminava a cidade, mas para Yoru, aquele brilho parecia ofuscado por suas próprias preocupações.

    Ele caminhava até a escola com as mãos nos bolsos, a expressão carregada. Os últimos dias foram um inferno, e mesmo com a vitória sobre a Escola 24, ele não conseguia se sentir realmente satisfeito.

    Seus passos eram automáticos, seus pensamentos pesados.

    — … Eu ainda sou fraco.

    Aquele pensamento martelava em sua cabeça desde a noite anterior.

    Quando chegou em casa, abriu os três baús que recebeu. Dois lendários e um épico.

    A habilidade épica que ganhou era útil.


    [Habilidade: Armazenamento]

    Com ela, poderia guardar qualquer coisa em um espaço próprio, algo quase como um inventário infinito.

    Mas o que realmente deveria ser impactante eram as habilidades lendárias.


    [Habilidade: Domínio do Impacto]
    — O usuário pode controlar a força de impacto de seus golpes, tornando até um simples toque devastador ou um soco extremamente suave.


    [Habilidade: Instinto do Predador]
    — Quando ativada, essa habilidade coloca o usuário em um estado de concentração absoluta, onde ele enxerga os movimentos do inimigo como se estivessem em câmera lenta.

    E mesmo assim…

    Ele não estava satisfeito.

    — Não é o suficiente.

    Yoru cerrou os punhos dentro do bolso do casaco.

    Ele sabia que qualquer outra pessoa piraria de felicidade ao ganhar essas habilidades, mas no fundo… ele sentia que ainda estava longe de ser forte o bastante.

    Porque agora, o verdadeiro inferno estava vindo.

    Ele já havia sentido isso na luta contra Kaito.

    Mesmo derrotando um monstro como ele, Yoru sabia que existiam inimigos ainda mais aterrorizantes por aí.

    Se ele não evoluísse rápido, não sobreviveria.

    Suspirando, se forçou a se recompor.

    A escola já estava próxima.

    Os portões estavam abertos, e os olhares estavam sobre ele.

    — É ele… o líder da Escola 25.

    — Ele derrotou o Kaito Suzuki…

    — Um monstro.

    Sussurros. Cochichos. Mas Yoru apenas ignorou tudo.

    Ele caminhou pelos corredores até sua sala, abriu a porta, e viu que a maioria dos alunos já estava ali.

    Seus olhos rapidamente encontraram Hina.

    Ela estava sentada perto da janela, olhando para ele com preocupação.

    E ao vê-la, Yoru sentiu um breve alívio.

    Ele caminhou até seu lugar, e antes mesmo de se sentar, Hina quebrou o silêncio.

    — … Você está bem?

    Yoru parou por um segundo, antes de finalmente se jogar na cadeira ao lado dela.

    Ele soltou um suspiro pesado.

    — Vivo.

    Hina não riu da resposta.

    Seus olhos escanearam Yoru de cima a baixo, como se buscasse qualquer ferimento oculto.

    — Ouvi dizer que a Escola 24 caiu completamente.

    — … É.

    — Que você, Hayato e Ben derrotaram o Kaito Suzuki.

    — … Foi por pouco.

    — Você… tem noção do que fez, Yoru?

    Ele a encarou.

    — Você acabou de chocar a escola inteira e as outras rivais também

    Yoru desviou o olhar, apoiando o cotovelo na mesa e massageando a têmpora.

    — … Não ligo pra isso.

    Hina franziu o cenho.

    — Você deveria.

    O tom dela não era acusador, mas sim preocupado.

    — Você está se jogando nessas batalhas cada vez mais perigosas. Se continuar assim…

    Ela parou.

    Mas Yoru sabia o que ela queria dizer.

    “Se continuar assim… vai acabar morto.”

    O silêncio pairou entre eles.

    O rosto de Hina estava cheio de emoções conflitantes.

    Ela sempre soube que Yoru era assim.

    Alguém que nunca recuava.

    Mas isso não significava que ela não se preocupava.

    Finalmente, Yoru suspirou e tentou aliviar a tensão.

    — … Não vou morrer.

    Hina arqueou a sobrancelha.

    — Ah, é?

    — Sim.

    Ele deu um leve sorriso, fechando os olhos.

    — Ainda tenho muitas perguntas sem resposta.

    Hina estreitou os olhos.

    — Sobre sua mãe?

    Yoru abriu os olhos novamente, dessa vez sérios.

    — Sim.

    Hina ficou em silêncio.

    Ela não insistiu.

    Mas no fundo, estava com medo.

    Porque sabia que, para Yoru, descobrir a verdade sobre sua mãe significava mergulhar ainda mais fundo nesse mundo perigoso.

    E ela não sabia se conseguiria vê-lo saindo disso vivo

    ….

    A sala de aula estava silenciosa, mas para Yoru, parecia um vazio completo.

    O professor falava na frente da turma, riscando equações no quadro, mas as palavras simplesmente não faziam sentido.

    Nada fazia.

    Seu olhar vagava pela sala, mas ele não estava ali de verdade.

    “Hayato nem apareceu hoje… nem o Ben.”

    Os dois sempre estavam ali.

    Sempre juntos.

    Mas hoje… não.

    Yoru se perguntava o que havia acontecido.

    Ele sabia que depois da batalha contra Kaito, seus corpos ainda não tinham se recuperado completamente.

    Mas mesmo assim, o silêncio era estranho.

    Seus pensamentos estavam tão bagunçados que ele nem percebeu quando o professor chamou seu nome.

    — Yoru.

    Ele piscou, voltando à realidade.

    A sala toda o encarava.

    O professor cruzou os braços.

    — Está distraído, não está?

    Yoru não respondeu. Apenas desviou o olhar.

    O professor suspirou.

    — Só preste atenção.

    Yoru permaneceu em silêncio.

    E ao seu lado, Hina o observava.

    Ela mordia levemente o lábio inferior, preocupada.

    Yoru não era alguém que se distraía facilmente.

    Mas ultimamente…

    Ele parecia cada vez mais distante.

    (Horário do recreio)

    O pátio estava movimentado.

    Grupos de alunos conversavam animadamente, enquanto outros se reuniam para comer.

    Mas Yoru não estava em meio a isso.

    Ele estava sozinho, sentado em um canto mais afastado.

    Sua mente ainda girava com os mesmos pensamentos.

    “Estou mesmo pronto para o que vem a seguir?”

    “Tenho que ficar mais forte.”

    “Ainda sou fraco.”

    De repente, uma bandeja de comida foi colocada na mesa à sua frente.

    — Você está estranho.

    Yoru olhou para cima.

    Hina havia se sentado em frente a ele, os braços cruzados, o olhar firme.

    — Você mal falou comigo hoje.

    — …

    — Nem com ninguém, aliás.

    — …

    — E eu não gosto disso, Yoru.

    O tom dela era sério, mas ao mesmo tempo…

    Ele percebeu algo ali.

    Algo que fez sua expressão se endurecer.

    Medo.

    Ela estava com medo.

    — Você precisa falar comigo.

    Yoru respirou fundo, desviando o olhar.

    — Não tem nada pra falar.

    Hina apertou os punhos sobre a mesa.

    — Tem sim.

    O olhar dela tremeu.

    — Você… você está indo longe demais.

    Ele franziu a testa.

    — O que quer dizer?

    — Você está se jogando nesse mundo, Yoru. Cada vez mais fundo.

    — …

    — Eu sei que quer descobrir o passado da sua mãe, quer respostas para sua morte, mas não é necessário viver essa vida louca que pode te matar a qualquer momento Yoru… Por favor, pense em mim, e no que eu sou para você… Eu quero seu bem

    Ela engoliu seco.

    — Você está realmente feliz com isso tudo? — ela olhou nós olhos do Yoru, mas ele desviou o olhar

    Yoru trincou os dentes.

    — … E daí?

    — E daí?!

    Hina se inclinou para frente, batendo as mãos na mesa.

    — E daí que você não é um robô, Yoru! Você não pode simplesmente se destruir por algo que nem sabe se vale a pena!

    Yoru travou.

    — Você não entende…

    — Claro que entendo!

    Ela cerrava os punhos com força.

    — Eu vejo você lutando. Eu vejo você se machucando. Eu vejo você indo cada vez mais fundo nesse caminho sem volta!

    Os olhos dela começaram a brilhar com lágrimas contidas.

    — E você acha que eu consigo simplesmente assistir a isso sem fazer nada?!

    O peito de Yoru apertou.

    Ele odiava ver Hina assim.

    Odiava o fato de que… ela se importava tanto.

    Mas ao mesmo tempo, ele não podia parar.

    Ele não tinha esse luxo.

    — Eu… não posso simplesmente parar.

    — E por quê?

    Ela o encarava diretamente nos olhos.

    — Me diz, Yoru. Por quê?

    Ele cerrou os punhos.

    — Porque eu preciso me tornar mais forte.

    — Mais forte pra quê?!

    Yoru respirou fundo.

    — Pra proteger vocês.

    Hina arregalou os olhos.

    Por um momento, o silêncio reinou entre os dois.

    Mas então…

    Ela sorriu.

    Um sorriso triste.

    — E quem vai te proteger, Yoru?

    Ele congelou.

    O peito dele apertou ainda mais.

    Ele não tinha resposta.

    Hina baixou a cabeça.

    E as lágrimas começaram a cair.

    — Desde que se tornou um delinquente, e líder dessa escola, você começou a tomar as dores e todos e se arriscar

    Sua voz saiu baixa, trêmula.

    — Sempre carrega tudo sozinho.

    Yoru fechou os olhos, segurando o próprio braço com força.

    Ele não sabia o que dizer.

    Porque no fundo…

    Ele sabia que ela estava certa.

    Mas não podia mudar.

    Não podia simplesmente parar.

    O caminho que ele escolheu… não tinha volta.

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