Capítulo 97 - Vivendo como adolescentes normais
A sala de reuniões da Escola 25 estava tranquila, algo raro nos últimos tempos.
As janelas estavam abertas, deixando a brisa fresca entrar, balançando levemente as cortinas brancas.
Yoru estava sentado à cabeceira da mesa, braços cruzados, ouvindo seus companheiros discutirem sobre a situação da Escola 27.
— Estranho… — Sophie murmurou, encostada na cadeira, girando uma caneta entre os dedos. — Hiroshi sempre foi do tipo que age rápido, mas dessa vez… está muito quieto.
Ben, de braços apoiados na mesa, assentiu.
— Ele está planejando algo grande, com certeza. Mas o que me intriga é essa demora.
Ryuji bufou, impaciente.
— Isso tá me deixando ansioso. É como estar em um campo aberto sabendo que tem um atirador de elite te mirando.
— Uma comparação bem dramática — comentou Mia, com um pequeno sorriso.
Lee, que estava quieto até então, coçou a nuca.
— Mas faz sentido. Hiroshi não é do tipo que joga para perder. Ele deve estar preparando alguma jogada forte.
— E o Kaito Suzuki? — Yuna perguntou, olhando para Yoru.
O líder da Escola 25 manteve um olhar sério.
— Esse cara é perigoso. E o pior é que não sabemos qual é o papel dele no plano do Hiroshi.
O grupo ficou em silêncio por alguns instantes.
A pressão da iminente batalha contra a Escola 27 estava cada vez maior.
Era sufocante.
Sophie suspirou, apoiando o queixo na palma da mão.
— Sabem… isso tá começando a me irritar.
Todos olharam para ela.
— A gente tá sempre falando sobre estratégias, lutas, inimigos… e esquecemos que ainda somos adolescentes.
Yoru arqueou uma sobrancelha.
— Onde você quer chegar?
Ela sorriu.
— Que tal darmos um tempo? Sair, nos divertir um pouco.
Ben soltou uma risada curta.
— Como se fosse fácil esquecer tudo isso.
— Não é questão de esquecer. — Sophie girou os olhos. — Mas não podemos viver só para brigas.
— Concordo com ela — disse Mia, animada. — A gente precisa relaxar um pouco.
Hayato, que estava mais quieto do que o normal, finalmente falou:
— Faz tempo que não fazemos algo normal…
Lee bateu levemente a mão na mesa.
— E o que vocês sugerem?
Sophie deu um sorriso travesso.
— Que tal um cinema?
A ideia pegou todos de surpresa.
— Cinema? — Ryuji repetiu, confuso.
— Sim! Vamos assistir um filme, comer pipoca, sair um pouco desse clima de guerra.
Yoru ficou pensativo.
A ideia parecia… estranha.
Ele não se lembrava da última vez que havia feito algo comum, como um simples passeio com amigos.
Mas talvez fosse necessário.
Ele olhou para os outros.
Mia parecia animada.
Hayato parecia interessado.
Yuna sorriu levemente.
Ben deu de ombros, como se não se importasse.
Ryuji ainda parecia incerto, mas não rejeitou a ideia.
Yoru fechou os olhos por um momento, depois suspirou e abriu um pequeno sorriso.
— Certo, vamos ao cinema.
Sophie bateu palmas.
— Ótimo!
Mia sorriu ainda mais.
— Isso vai ser divertido!
Enquanto eles continuavam conversando sobre o filme que iriam assistir, Yoru percebeu algo.
Por um momento…
Eles pareciam apenas um grupo de adolescentes comuns.
E ele não pôde evitar pensar…
Por quanto tempo essa paz iria durar?
A noite estava agradável. As luzes dos postes iluminavam as ruas de forma suave, dando um brilho dourado ao asfalto. O trio caminhava sem pressa, algo raro para eles.
Yoru, Ben e Hayato estavam voltando para casa juntos, algo que não acontecia com frequência, mas que tornava a caminhada mais divertida.
E naquele momento, o alvo das provocações era Hayato.
— Então, Hayato… — Ben começou, lançando um olhar travesso. — Como é estar tão perto da sua amada todos os dias?
Hayato ficou vermelho na hora.
— O-o quê?!
Yoru sorriu de canto, percebendo a chance de provocar o amigo.
— É, Hayato. Você e Yuna são um casal agora?
— D-desde quando?!
— Desde que você começou a agir igual um cachorrinho perdido toda vez que ela aparece. — Ben riu.
— Eu não sou assim! — Hayato reclamou, desviando o olhar.
— Claro que não. — Yoru cruzou os braços. — Você só gagueja, fica suando e quase tropeça no próprio pé quando ela fala com você.
Ben segurou o riso.
— Verdade! No outro dia, ela só te chamou pelo nome e você quase engasgou com a própria saliva.
Hayato bufou.
— Vocês estão exagerando.
— Estamos? — Yoru arqueou a sobrancelha. — Ou será que você está tão apaixonado que nem percebe?
Hayato virou o rosto para o lado, tentando esconder o constrangimento.
— Vocês dois são um saco…
Ben continuou, sem piedade:
— Ei, Yoru, e se fizermos um teste?
— Que tipo de teste?
Ben sorriu malicioso.
— Vamos gritar o nome da Yuna aqui no meio da rua e ver o que acontece com ele.
— NÃO! — Hayato se desesperou.
Yoru cruzou os braços, fingindo pensar.
— Boa ideia.
— NÃO É UMA BOA IDEIA!
Ben já estava pegando fôlego.
— YUU—
— EU MATO VOCÊ, BEN!
Hayato pulou em cima de Ben antes que ele gritasse, mas o gordinho desviou com agilidade.
— Ele está desesperado! — Yoru riu.
— VOCÊS DOIS SÃO DOENTES!
A cena era ridícula: Hayato tentando agarrar Ben, enquanto Yoru assistia, se segurando para não rir alto.
Depois de alguns segundos, Hayato desistiu e colocou as mãos nos joelhos, ofegante.
— Eu odeio vocês…
— Também te amamos, Hayato. — Yoru sorriu.
Ben limpou uma lágrima de tanto rir.
— Mas falando sério… você vai chamar ela pra sair algum dia?
Hayato hesitou.
— Eu… não sei.
— Você gosta dela, né? — Yoru perguntou diretamente.
Hayato ficou em silêncio por alguns segundos antes de murmurar:
— Eu acho que sim…
Ben e Yoru trocaram olhares.
— Então já era! — Ben sorriu.
— Você tá ferrado. — Yoru concordou.
Hayato olhou para eles, confuso.
— Como assim?
Ben deu um tapinha nas costas dele.
— Quando você admite que gosta de alguém, não tem mais volta. Você vai pensar nela o tempo todo, vai querer vê-la sorrir, vai sentir o coração acelerar quando ela estiver perto…
Yoru completou:
— E se ela sorrir para outro cara, você vai querer socar ele na hora.
Hayato piscou algumas vezes, processando a informação.
— Merda… acho que já tô ferrado faz tempo.
Os três ficaram em silêncio por um segundo antes de caírem na risada.
A noite seguiu tranquila, com eles rindo e provocando Hayato até chegarem em casa.
E, pela primeira vez em muito tempo, Yoru sentiu que, apesar de tudo, ainda existiam momentos simples e divertidos na vida.
[No mesmo tempo]
A noite estava fresca, e a cidade parecia um pouco mais tranquila do que de costume. Mia, Sophie, Lee e Yuna caminhavam juntas pela calçada, rindo e conversando sobre tudo e qualquer coisa.
— Então você nunca comeu ramen picante antes, Lee? — Mia perguntou, chocada.
Lee deu de ombros.
— Eu não sou muito fã de pimenta.
— Você precisa experimentar um dia. — Sophie sorriu. — É um sabor que muda sua vida.
— Ou queima sua língua. — Yuna brincou.
As quatro riram.
A conversa seguiu leve, com elas contando experiências engraçadas e falando sobre como cada uma havia se tornado uma delinquente.
— No meu caso, sempre fui meio agressiva. — Mia admitiu. — Mas só porque os outros me testavam demais.
— Você agressiva? — Sophie levantou uma sobrancelha. — Não diga!
Mia riu.
— E você, Sophie?
— Ah, eu entrei nessa vida por necessidade. — Sophie cruzou os braços. — Às vezes, você precisa ser forte para sobreviver.
Lee assentiu.
— Eu também. Quando percebi que o mundo não era gentil, decidi não ser gentil com o mundo.
O grupo ficou em silêncio por um momento.
— Bom, e você, Yuna? — Mia perguntou com um sorriso malicioso. — Como acabou virando uma delinquente?
Yuna suspirou.
— Eu sempre fui mais… reservada. Mas um dia, percebi que, se eu não me defendesse, ninguém faria isso por mim.
As garotas assentiram, entendendo bem o sentimento.
Mas então, Sophie sorriu maliciosamente.
— E falando em você, Yuna…
Yuna olhou para ela, confusa.
— O que foi?
Lee já estava segurando o riso.
— Hayato.
O rosto de Yuna ficou vermelho na hora.
— O-o quê?!
Mia colocou a mão no queixo, fingindo estar pensativa.
— Agora que mencionamos isso, você e Hayato passam muito tempo juntos, não é?
— Ele te olha de um jeito diferente. — Sophie completou.
— É, e ele parece muito tímido perto de você… — Lee acrescentou.
Yuna estava completamente sem reação.
— E-ele só é assim mesmo…
— Ah, claro. — Mia zombou. — Com certeza ele não tá caidinho por você.
— Isso não tem nada a ver! — Yuna protestou.
— Então você não gosta dele? — Sophie perguntou diretamente.
Yuna abriu a boca para responder, mas hesitou.
As três amigas trocaram olhares e sorriram.
— Pegamos você. — Lee riu.
— Mas não tem nada de errado em gostar de alguém. — Mia disse.
Yuna suspirou, finalmente admitindo para si mesma.
— Eu… não sei. Hayato é… fofo.
— Eu sabia! — Sophie exclamou.
— Ele é um idiota fofo. — Yuna corrigiu, rindo um pouco.
— E você gosta de idiotas fofos, então. — Mia brincou.
Yuna balançou a cabeça, sem conseguir esconder o sorriso.
— Vocês são impossíveis…
O grupo continuou rindo e conversando, aproveitando aquela noite tranquila.
E, mesmo sem perceber, um laço ainda mais forte se formava entre elas.
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