Capítulo 99 - Encontro de velhos amigos
A noite estava agradável, e o grupo de amigos continuava aproveitando o momento. Depois do cinema e da lanchonete, as meninas decidiram que precisavam de algo gelado para fechar a noite.
— Eu não vou embora sem um sorvete! — Sophie anunciou, cruzando os braços.
— Também quero, vai ser bom para refrescar. — Mia concordou, rindo.
E assim, todos foram até uma pequena sorveteria na esquina, onde se sentaram ao redor de mesas externas, conversando e rindo. O clima leve contrastava com as sombras das ruas, onde algo mais sombrio estava prestes a acontecer.
Do outro lado da rua…
Em um carro preto, estacionado discretamente, Danilo observava. Ele não estava sozinho, mas sua presença ali não era uma coincidência. Seus olhos passaram pelo grupo até que se fixaram em uma pessoa: Ben.
Ben também percebeu. No instante em que viu Danilo dentro do carro, sentiu uma onda de sentimentos conflitantes. Ele olhou para seus amigos, que continuavam rindo, alheios ao que estava acontecendo do outro lado da rua. Sem dizer nada, ele se levantou e atravessou a rua.
O carro preto estava com os vidros escurecidos, mas Danilo baixou o vidro ao vê-lo se aproximar.
— Quanto tempo, Ben. — Danilo disse, sua voz calma, mas carregada de algo frio.
— Pois é… — Ben respondeu, cruzando os braços. — Você tem um minuto?
Danilo olhou para o lado por um instante, depois empurrou a porta do carro e saiu, fechando-a atrás de si.
— Vamos. — Ele disse, gesticulando para um beco próximo.
Ben hesitou por um segundo, mas seguiu Danilo. O barulho da cidade ficou para trás à medida que entravam no beco escuro e silencioso, onde só os postes fracos iluminavam as paredes desgastadas.
Havia uma tensão entre eles, algo que o tempo não tinha apagado.
Ben quebrou o silêncio primeiro.
— Então… você realmente mudou, hein?
Danilo não respondeu de imediato. Ele apenas manteve seu olhar frio sobre Ben.
— As coisas mudam, Ben. Pessoas mudam.
— Ah, é? — Ben cerrou os punhos. — Mas não achei que você mudaria tanto assim.
— O que você quer dizer com isso? — Danilo arqueou a sobrancelha.
— Você era diferente, cara. Você tinha um propósito. Você lutava pelo que era certo, ao lado do seu melhor amigo. — Ben disse, sua voz carregada de frustração. — Mas agora… Agora você se vendeu.
Danilo suspirou, cruzando os braços.
— E você ainda é o mesmo sentimental de sempre.
— Se isso significa que eu ainda tenho princípios, então sim. — Ben retrucou. — Você abandonou ele, Danilo. Você virou as costas para seu melhor amigo, tudo para seguir aquele cara.
— Você não entende nada, Ben. — A voz de Danilo ficou mais séria. — O que eu fiz foi necessário.
— Necessário? Você está ouvindo a si mesmo? — Ben deu um passo à frente. — Desde que aquele cara assumiu a escola 35, você mudou. Você se tornou alguém que eu mal reconheço.
Danilo estreitou os olhos.
— Você não sabe de nada sobre o que acontece lá dentro.
— Então me conta. — Ben desafiou.
Danilo ficou em silêncio por um momento, como se estivesse escolhendo suas palavras.
— O novo líder… — Ele começou, a voz baixa e calculada. — Ele é diferente de qualquer um que já vimos. Ele não é apenas forte. Ele é inteligente, meticuloso. Ele planeja tudo.
— E você acha isso uma justificativa para ter virado as costas para seu amigo? — Ben insistiu.
Danilo respirou fundo, parecendo irritado com a insistência.
— Eu fiz o que precisei fazer. E a verdade é que, se você soubesse o que está por vir, não estaria tão relaxado com seus amigos naquela sorveteria.
Ben sentiu um arrepio na espinha.
— O que você quer dizer com isso?
Danilo sorriu de canto.
— Só estou dizendo que a escola 25 deveria estar mais atenta.
— Então vocês já têm algo planejado? — Ben perguntou, sua expressão ficando mais séria.
— Você vai descobrir na hora certa. — Danilo respondeu, girando o corpo como se fosse sair dali.
Mas antes de dar o primeiro passo, Ben segurou seu braço.
— Danilo… — Ele disse, apertando os dentes. — Me diz uma coisa, cara a cara. Você realmente acredita que está no caminho certo?
Danilo olhou para ele, e por um breve momento, algo parecido com dúvida passou por seu rosto. Mas então, ele puxou o braço de volta e ajeitou a jaqueta.
— Isso não importa mais, Ben.
— Importa pra mim. Importava pro seu amigo também. — Ben disse, com um olhar pesaroso.
Danilo desviou o olhar.
— Não se envolva mais nisso, Ben. Siga com sua vida.
E com isso, ele se virou e começou a caminhar de volta para o carro.
Ben ficou parado, olhando para ele sumir na escuridão. Algo dentro dele dizia que Danilo não estava completamente perdido, mas ele também sabia que, por enquanto, não poderia fazer nada para mudar a situação.
Danilo entrou no carro, e as luzes vermelhas dos faróis se acenderam. O carro arrancou devagar, deixando para trás apenas o som do motor desaparecendo na noite.
Ben soltou um longo suspiro e passou a mão pelo rosto.
Ele sabia que algo grande estava para acontecer. Algo que poderia mudar tudo.
E pela primeira vez, sentiu medo do que viria a seguir.
A tensão no ar era espessa como névoa. Ben não podia deixar Danilo ir embora sem dizer tudo o que precisava. Ele ainda acreditava que dentro daquele rosto frio e endurecido, seu velho amigo ainda existia.
Ben foi até o carro do Danilo, fazendo ele sair do carro e prestar atenção no que o mesmo iria falar.
— Danilo… Você não precisa continuar nesse caminho. — Ben insistiu, dando um passo à frente. — Eu sei que você está tentando justificar suas ações, mas lá no fundo, você sabe que isso tá errado.
Danilo suspirou pesadamente, ainda de costas para Ben.
— Eu já disse, Ben… Eu fiz o que era necessário.
— Necessário? — Ben repetiu, com uma risada irônica. — Desde quando virar as costas para um amigo se tornou necessário? Desde quando servir um tirano se tornou algo que você aceitaria?
Danilo cerrou os punhos. O brilho fraco dos postes refletia seus olhos, que agora exibiam um olhar sombrio e cansado.
— Você não sabe de nada. — Ele respondeu, com a voz mais baixa e carregada de irritação.
— Então me faz entender. — Ben desafiou. — Eu tô aqui, cara a cara contigo. Me explica por que você traiu seu melhor amigo.
Foi aí que Danilo perdeu a paciência.
Em um piscar de olhos, ele girou o corpo e avançou contra Ben. Antes que Ben pudesse reagir, o punho de Danilo acertou em cheio seu rosto. O impacto foi tão brutal que o ar foi arrancado de seus pulmões, e seu corpo voou para trás.
Ben colidiu contra as latas de lixo e rolou pelo chão sujo do beco. Ele gemeu de dor, sentindo o gosto de sangue na boca.
Danilo caminhou lentamente até ele, o olhar frio e cruel.
— Você se acomodou demais, Ben. — Ele disse, com desprezo. — Você se cercou de novos amigos, de um ambiente de paz, de diversão… E esqueceu quem você era.
Ben tentou se levantar, mas sentiu o corpo pesado. Danilo continuou:
— Você já foi um monstro em combate. Forte. Temido. Mas agora? Você é só um cara que gosta de sentar e rir com seus amiguinhos depois de um filme. — Danilo cuspiu no chão, demonstrando desdém. — Isso não combina com você.
Ben rangeu os dentes, sentindo a raiva borbulhar dentro de si.
Enquanto isso, do outro lado da cidade…
Yoru olhava ao redor, inquieto.
— Onde diabos o Ben foi? — Ele perguntou, cruzando os braços.
— Ele sumiu do nada. — Hayato disse, preocupado. — Ele nem avisou.
— Isso não é normal. — Sophie comentou.
O grupo inteiro começou a procurar por ele, perguntando para as pessoas na rua, andando pelos arredores, verificando cada canto possível.
Foi então que Sophie, depois de se afastar um pouco do grupo, ouviu um som estranho vindo de um beco.
Ela se aproximou devagar, os passos silenciosos. Quando virou a esquina, seu coração quase parou.
Lá estava Ben, no chão, com sangue escorrendo do canto da boca, enquanto Danilo o encarava de pé, como um predador observando sua presa.
Os olhos de Sophie se arregalaram.
— Ben! — Ela gritou, correndo para perto dele.
Danilo ergueu o olhar e sorriu de canto.
— Ah… Mais uma dos amiguinhos.
Sophie se ajoelhou ao lado de Ben, tocando seu ombro.
— Você tá bem?!
Ben gemeu de dor, mas assentiu.
— Tô vivo… — Ele murmurou, cuspindo um pouco de sangue.
Sophie virou-se para Danilo, com raiva evidente nos olhos.
— O que você pensa que está fazendo?!
Danilo apenas riu.
— Só colocando um antigo amigo de volta na linha.
— Isso não é amizade, seu idiota! — Sophie disparou.
— E quem é você pra me dizer o que é amizade? — Danilo retrucou, sua voz carregada de sarcasmo. — Você não sabe nada sobre mim e o Ben.
Sophie apertou os punhos, furiosa.
— Eu sei o suficiente para perceber que você é um covarde.
O sorriso de Danilo desapareceu.
— Cuidado com as palavras, garota.
Sophie não recuou. Ela olhou fixamente nos olhos dele.
— Eu não tenho medo de você.
Danilo ficou em silêncio por um momento, analisando-a. Então, ele sorriu de canto e suspirou.
— Bom, pelo menos alguém aqui ainda tem um pouco de espinha dorsal.
Ele olhou uma última vez para Ben e deu um passo para trás.
— Vamos nos ver de novo, Ben. E quando isso acontecer… Espero que você já tenha se lembrado de quem realmente é.
E com isso, ele se virou e começou a sair do beco.
Sophie ajudou Ben a se levantar.
— Vamos sair daqui. Os outros estão preocupados.
Ben olhou para a saída do beco, onde Danilo desapareceu na escuridão. Seu punho tremeu.
Ele sabia que aquilo ainda não tinha acabado.
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