Índice de Capítulo

    Quer apoiar o projeto e garantir uma cópia física exclusiva de A Eternidade de Ana? Acesse nosso Apoia.se! Com uma contribuição a partir de R$ 5,00, você não só ajuda a tornar este sonho realidade, como também faz parte da jornada de um autor apaixonado e determinado. 🌟

    Protótipo de capa Volume 1 – Ironia Divina

    Capa Volume 1

    Apoia-se: https://apoia.se/eda

    div

    — Não vamos conseguir correr mais do que eles.

    O sussurro de Lucia se dissolveu no vento frio da mata, mas Eva ouviu cada sílaba como uma lâmina arranhando sua paciência.

    — Isso não importa. Você não vai colocar fogo na floresta! O incêndio vai chegar na cidade.

    — Não existe mais cidade!

    As palavras saíram antes que a jovem manipuladora pudesse contê-las. A pequena esfera incandescente em sua mão brilhou ainda mais, pulsando como um coração acelerado, alimentada por algo além da magia — raiva, talvez. Ou desespero.

    “Ela me lembra a Ana…”, pensou Eva, mas não recuou. 

    Plantou os pés no chão, os ombros tensos como se sustentassem o peso do mundo. Não havia hesitação em seu olhar. Ela não deixaria isso acontecer.

    Não importava o quão fácil fosse a solução. Não importava que seus corpos já estivessem no limite. Que suas pernas já ameaçassem ceder, que o frio na barriga causado pelo medo já estivesse virando algo permanente. 

    O fogo não era uma opção.

    Elas estavam fugindo há meio-dia. Meio-dia de passadas pesadas e respirações ofegantes. Meio-dia sendo caçadas como animais, sem saber por quantos. As flechas haviam cessado, mas os passos persistiam. Às vezes, um som de risada zombeteira cortava o silêncio entre as árvores, como se a própria floresta estivesse rindo delas.

    Sabiam que estavam sendo levadas para longe. Tentavam seguir os uivos distantes de Garm, guiando-se por ele, como náufragos buscando um farol. Mas seus perseguidores eram inteligentes. A cada desvio, a cada nova tentativa de reencontro, as afastavam ainda mais.

    O cansaço rastejava por suas veias, sugando sua força, tornando a fome um peso que não podiam ignorar. Quase não falavam. Quando o faziam, eram discussões curtas sobre o que fazer. O silêncio que ficava no meio era insuportável.

    — Me escuta aqui — Eva voltou a murmurar, a voz baixa, mas afiada como uma lâmina. — Você e seus amigos já fizeram merda demais. Eu não vou deixar você acabar com a vida dos possíveis sobreviventes. Vamos só continuar correndo.

    Lucia franziu o cenho, a testa suada, os lábios entreabertos pelo esforço. Sua expressão deixou claro que queria retrucar, mas Eva não deu chance. Antes que as palavras saíssem, puxou-a com um tranco. A esfera de fogo se dissipou no ar no mesmo instante.

    Novas flechas passaram onde estavam um segundo antes. Voltaram a correr.

    Lucia suspirou fundo antes de abrir a boca de novo.

    — Eu não fiz por querer… — disse em palavras entrecortadas. — Achei que era o certo ficar com eles. Eles eram… fortes. — Ela piscou algumas vezes, tentando organizar seus pensamentos enquanto puxava o ar. — Eu entendo você, mas se não fizermos nada, vamos morrer…

    Eva continuou correndo, ponderando.

    — Você não pode falar com eles?

    — Se fosse alguém normal, talvez… mas esse cara não vai me ouvir.

    — Esse cara? — questionou Eva, lançando um olhar rápido para ela.

    — Matheus — Lucia cuspiu o nome como se o próprio som fosse amargo. — É um grande filho da puta. Tenho certeza de que vai nos matar mesmo que a gente se renda.

    — Droga… — Eva resmungou entre dentes, apertando o arco com mais força, como se pudesse esganar a situação junto com a madeira gasta. — O que você consegue fazer? Em que tipo de manifestação se especializa?

    Lucia piscou, confusa. O tipo de confusão que não era só falta de conhecimento, mas a hesitação de alguém que nunca parou para pensar na própria resposta.

    — Como assim?

    Eva bufou. Alto. O som saiu seco e impaciente, como quem sente uma enxaqueca se formando.

    — Como assim “como assim”, garota? Você não foca em alguma merda de mana?

    Lucia desviou o olhar, como se a pergunta fosse ofensiva.

    — Focar? Eu só… penso em qualquer coisa e faço aparecer. Não tem uma área exata.

    Silêncio.

    Eva piscou lentamente, absorvendo aquilo.

    Depois, revirou os olhos e soltou um riso seco, cínico, daquele tipo que não tinha humor de verdade, só descrença pura.

    — Só tem gente estranha ao meu redor…

    O olhar dela se demorou em Lucia por um instante a mais do que deveria, como se estivesse tentando decidir se a garota era uma prodígio incompreendida ou só um desastre ambulante esperando para acontecer.

    A jovem arqueira não era uma manipuladora, mas não era completamente ignorante sobre o assunto. Ouvira falar de como era difícil se concentrar, de como a mente precisava se alinhar a um conceito, de como o processo inteiro era tão exigente que beirava o insano. E era por isso que a maioria escolhia um único campo. Um foco. Um caminho.

    Porque para dobrar a realidade, era preciso entendê-la. Disssecá-la.

    Fazer qualquer coisa surgir, como se a lógica fosse um conceito opcional? Como se a natureza da mana não fosse algo que esmagasse os fracos?

    Isso exigia um nível de concentração que ia além do normal. Muitos chamariam de loucura.

    Então, sem perder mais tempo pensando nos assuntos, apontou para o topo das árvores. Os galhos grossos se erguiam como braços estendidos, promissores e traiçoeiros ao mesmo tempo.

    — Se você só “pensa e faz aparecer”… consegue fazer uma rampa para nos mandar lá pra cima?

    Lucia seguiu seu olhar.

    O topo era denso, mas as árvores eram robustas. Poderiam se mover entre elas com dificuldade, mas ainda assim, pareceriam sombras na folhagem, inalcançáveis.

    A jovem manipuladora hesitou.

    — Não vamos ficar muito lentas?

    — Tem ideia melhor?

    A mana crepitou ao redor de seus dedos, e o olhar de Lucia endureceu.

    — Tenho sim…

    — Hã? E por que tá enrolando pra falar? Mas que porra…

    — A-acabei de ter a ideia, não tô enrolando!

    Bufou, meio irritada, meio nervosa. Era estranho falar assim com alguém da sua idade. Com Arthur… bem, Arthur era Arthur. Não se deram bem no início. Foi uma evolução gradual: de companheiros de equipe para algo próximo de amizade. Mas ele era silencioso, metódico, alguém que ouvia antes de falar. 

    Eva não. Eva parecia um espelho distorcido dela mesma.

    A ruiva tinha uma presença forte. Falava com firmeza, decidia, e não aceitava besteiras. A verdade é que Lucia queria socar sua cara. Mas, ao mesmo tempo… sentia aquela irritante, sutil, quase dolorosa vontade de se aproximar. Não como com Ana. Ana era outra coisa, uma montanha inalcançável. Mas Eva? Eva parecia alguém que podia ser uma amiga. Uma de verdade.

    Balançou a cabeça. Distrações não ajudariam.

    — Eles não querem se aproximar, não são caçadores treinados em lutas corporais. São assassinos furtivos, especializados em ataques rápidos e leitura de terreno. É a única guilda que trabalha assim de Barueri. Pela quantidade de flechas, talvez sejam pouco mais de meia dúzia?

    — Oito pessoas. Talvez nove. Onde quer chegar?

    Lucia apontou para o arco da ruiva.

    — Quantos disparos você consegue fazer em uns 8 segundos?

    A ruiva arqueou uma sobrancelha.

    — Tá pensando em ir direto neles?

    — Eu não consigo fazer nada fugindo. Se não vamos destruir tudo, a única forma de acabar com isso é enfrentar.

    — Ah, merda… — Eva fechou os olhos, e quando os abriu novamente, estavam diferentes. Determinados. — Que seja. Vamos lá.

    — Firme o corpo!

    — O quê?

    — Firme o corpo, droga!

    Sem mais explicações, ainda correndo, Lucia se jogou para o lado. Seus dedos tocaram o solo lamacento, e, num instante, dois pilares de terra endurecida irromperam do chão, catapultando Eva para o céu.

    A jovem arqueira arregalou os olhos, surpresa. O lançamento foi instável — o vento arrancou um palavrão de seus lábios — mas seu corpo não demorou a se ajustar no ar.

    — Isso é loucura! — gritou, mas suas mãos já haviam puxado uma flecha.

    O mundo se abriu diante dela.

    Viu-os. Homens e mulheres encapuzados, ocultos entre as sombras da mata. Moviam-se em silêncio, corpos disciplinados para caçar. Todos arqueiros. Alguns tinham facas amarradas às cinturas, mas não pareciam tentados a usá-las. O ataque furtivo ainda era prioridade.

    Não esperavam ser vistos.

    A primeira flecha disparou antes mesmo que um deles percebesse que estavam sob ataque.

    Foi certeira. O homem caiu sem som, apenas um baque surdo contra a terra. A segunda flecha foi engatilhada antes que o primeiro corpo atingisse o chão. Outro disparo. Outro corpo. Os sussurros entre os caçadores se transformaram em exclamações alarmadas.

    E então, Eva parou de ver qualquer coisa.

    Porque estava caindo.

    “Espero que ela tenha um plano para a hora de descer também.”

    O pensamento veio com uma risada curta. Se fosse morrer, ao menos não teria sido como um animal encurralado.

    Mas Lucia tinha um plano.

    Na altura da copa das árvores, Eva viu as folhas se movendo, torcendo-se, tensionando-se como se puxadas por fios invisíveis. Um emaranhado de galhos se fechava abaixo dela, formando uma rede viva.

    E, no meio disso, a jovem de cabelos negros.

    A garota estava com as mãos firmemente pressionadas contra dois troncos, os olhos semicerrados em concentração, a respiração irregular de quem estava forçando seu limite.

    O impacto veio com força. Doeu. Mas Eva não morreu.

    Isso era o que importava.

    Quando parou de se balançar na rede improvisada, olhou para Lucia.

    — Isso foi… insano.

    — Mas deu certo, né?

    Eva bufou, mas havia um traço de respeito no olhar.

    — Da próxima vez, me avisa antes de me jogar no céu, idiota.

    — Tá… firme o corpo!

    div


    Quer apoiar o projeto e garantir uma cópia física exclusiva de A Eternidade de Ana? Acesse nosso Apoia.se! Com uma contribuição a partir de R$ 5,00, você não só ajuda a tornar este sonho realidade, como também libera capítulos extras e faz parte da jornada de um autor apaixonado e determinado. 🌟

    Venha fazer parte dessa história! 💖

    Apoia-se: https://apoia.se/eda

    Discord oficial da obra: https://discord.com/invite/mquYDvZQ6p

    Galeria: https://www.instagram.com/eternidade_de_ana


    div

    Ficaremos sem imagens por um tempo, mas logo volto a postar!

    Estou meio sem tempo e não estão saindo resultados bons…

    Curtiu a leitura? 📚 Ajude a transformar Eternidade de Ana em um livro físico no APOIA.se! Link abaixo!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota