Capítulo 055 - Imensidão de Katze!
Capítulo 055 – Imensidão de Katze!
Guiados pelos sussurros e mapas antigos, o grupo partiu do vibrante reino de Sihêon em direção ao sudoeste.
Três grandes batalhões foram divididos para essa empreitada: os curandeiros liderados por Celérius, havia alguns necromantes junto deles, os batedores liderados por Yelena, que fora convocada de última hora, junto dela, além dos sentinelas e dos guardas reais, também constavam Kord e Claude.
O terceiro batalhão era o que estava no meio entre os outros citados, era onde constavam Ayel, Kassandra e Bruxo Negro.
Com eles havia um número pequeno de clérigos, necromantes, relicários e outros aventureiros. Entre os convocados para partir em direção às planícies onde os zumbis se aglomeravam, estavam Aaron, Mariane, Victoria, Amelie e Dalila. O restante do esquadrão do centro da praça.
Conforme deixavam para trás as muralhas e as agitadas ruas do reino, a paisagem verdejante se estendia diante deles. Um vasto tapete de relvas ondulantes e árvores monumentais os cercava, enquanto riachos cristalinos espreitavam solenes pelo terreno, refletia a luz do sol filtrada pelas folhas.
O cheiro de terra úmida e flores silvestres preenchia o ar, trazia uma sensação momentânea de paz.
Um cenário esverdeado chamativo e amistoso, diferente do Bosque das Folhas Densas, que era escuro e malicioso.
— Natureza, finalmente… Acho que nunca vi tanto verde na minha vida — comentara Aaron, respirando profundamente o ar puro que lhe enchia os pulmões.
— Não há florestas onde você morava? — questionou Amelie.
Ela andava observando a paisagem com atenção, acabara por erguer uma das sobrancelhas ao escutar o nortenho.
— Não! — Aaron riu. — Althavair, meu lar, fica no extremo norte… Sabe como é? Tão gélido que só vemos neve.
O mundo comportava-se dessa forma, todos os extremos eram completamente gélidos e os centros completamente áridos. Sihêon era um reino que pertencia ao continente que foi batizado de Planícies Verdejantes, justamente por isso. Com exceção dos extremos territoriais, o local era abastado em vegetação.
Os únicos extremos gélidos que as Planícies Verdejantes acolhiam eram em Althavair no extremo norte e Darazilia no extremo oeste, ambos tão distantes do reino do rei bárbaro, que nem poderiam ser considerados.
Mais ao leste, depois de Sihêon, havia um mar extenso… Onde finalmente repousavam as Planícies Áridas, que ficavam tão ao centro do mundo, que eram majoritariamente desérticas.
Amelie assentiu, embora tivesse decidido ficar em silêncio. Os nortenhos eram considerados pessoas frias e distantes, ela observava Aaron com uma certa estranheza.
O silêncio não se perpetuava, o som cadenciado das botas sob a grama era constante.
E a voz de Victoria ecoava entre os passos.
— Respirar aqui é tão bom… Tão limpo, que delícia… — dissera em um tom animado, embora ela estivesse com seus olhos sempre atentos ao redor.
Poderiam ser atacados a qualquer momento.
Mais adiante da tropa de Ayel e o esquadrão, estavam os batedores com Yelena liderando. Ela volta e meia olhava para trás tentando buscar o rei com sua encarada, ela desejava saber quanto tempo levaria até Victoria se jogar mais uma vez no seu bárbaro. Isso a distraia. Kord e Claude percebiam, reprovavam e tentavam fazer com que sua líder voltasse a si e focasse no seu objetivo.
— Devemos estar chegando logo… Consigo sentir o cheiro da morte me guiando. — dissera Kassandra, apática.
— Aproveitem para encher seus cantis e pegar alguma fruta que tenha caído das árvores — bradou Ayel assim que escutou a garota. — Essas coisas ficarão cada vez mais raras conforme avançarmos para o sudoeste!
Diversos responderam prontamente ao seu rei, tratavam de reunir suprimento o suficiente, principalmente depois de tantas horas de viagem.
Amelie olhara desconfiada para os lados.
— É tão estranho imaginar que um ambiente tão amplo e bonito possa ser morada de mortos-vivos. — refletiu ansiosa.
Não eram todos que estavam a cavalo, pelo menos um terço e meio de cada batalhão tinha montaria. Amelie era uma dessas, até sentir um toque no antebraço, vindo de alguém no chão.
— Seja quem for o necromante envolvido nisso, não durará muito. — Bruxo Negro surgira para acalmar a sua aluna, a voz dele saía com uma convicção admirável.
Dalila encarou o arcano, eles andavam mais adiante, ela chutou uma pequena pedra enquanto murmurava.
— Gostaria de ter essa confiança. Essas criaturas estão entre as coisas que eu mais abomino nesse mundo… Elas são contra a natureza.
Ayel torceu o nariz assim que escutou a mulher dizer, mas Dalila falava genuinamente. Ela tinha um asco enorme por mortos-vivos, talvez, já que era uma algoz.
O que havia morrido precisava continuar assim, ou seria o começo de um pesadelo.
Mariane caminhava em silêncio, estava perto de Aaron. Desde o incidente com os goblins ela se sentia envergonhada perto do bárbaro, ela se sentia inútil por conta da forma como ela agiu diante do rei goblin. Não que o Ayel necessariamente se importasse com isso, ele convidou todos os que estavam ao lado dele para o esquadrão, mas ainda assim, ela se sentia reprimida pela sensação de fracasso que a própria paladina havia criado.
Aaron percebeu, mas não conseguia puxar um assunto devido apenas com a mulher de fé, então calou-se igualmente.
Com o passar das horas, os três batalhões avançavam.
Estavam em Katze, finalmente.
Conforme prosseguiam o caminho, o cenário ao redor começou a metamorfosear-se. As cores vibrantes de outrora foram substituídas por uma paisagem entediante e acinzentada.
O ar ficara pesado e um odor fétido preenchia as narinas que recusavam o podre permanecer em suas vias.
As árvores, que antes eram imponentes, agora erguiam-se como esqueletos carbonizados, estavam tortas. O chão não passava de um solo rachado e era um aviso gigantesco de que a vida havia se tornado combustível para alguma outra coisa, e naquele momento, só existia a morte.
O nortenho de Althavair franziu o cenho, ele estava desconfortável com uma mudança tão drástica.
— Que lugar detestável… Não há um pingo de vida aqui. — murmurou com uma voz cheia de desagrado.
— Eu fico completamente incomodada com um lugar assim… Soa algo extremamente profano e perigoso. — Mariane quebrou seu silêncio, Aaron a encarou com empatia.
Ayel olhou ao redor, sua mente avaliava as possibilidades.
— Isso não é natural… Será que o mestre desses mortos-vivos limpou a área para construir algo? E os zumbis estão aqui para proteger esse local? — Ele refletira em voz alta, fazendo os galhos secos estalarem embaixo dos seus pés, ele buscava Kassandra, que balançou a cabeça de forma confusa.
— Geralmente a fala da morte e os poderes necromânticos envolvem apenas os corpos, esse mestre ter retirado vida até mesmo de vegetação é extremamente poderoso e preocupante, majestade — advertiu a Morta-viva.
— Melhor ficarmos atentos. — Dissera Dalila — Mesmo que a aproximação dos inimigos seja fácil de perceber, isso não significa que podemos facilitar. — Ela advertiu.
— Está com medo, algoz? — Ayel lançara um olhar desdenhoso para a mulher da pele de caramelo.
O bárbaro ainda guardava em si um ressentimento gigantesco com todos os algozes em um geral, ele sentia uma raiva irracional de Dalila.
Era conflitante, pois a mulher da pele de caramelo começou a admirar o bárbaro desde que soube o que ele fez na guerra contra os goblins. Ela visualizava um combatente tão poderoso que às vezes esquecia que ele repudiava sua classe.
— Que vergonha… — O Alvorada continuou. — Talvez eu tenha errado ao chamá-la. Se começar a tremer, pode voltar.
A amiga de Victoria manteve a expressão fria, entretanto soltara uma frase com uma voz carregada de sarcasmo.
— Só não sou o tipo de pessoa que se deixa levar e cria brechas para o inimigo, meu senhor.
O rei ainda bufava.
— Meu Deus, como você me cansa… — murmurou.
— E como você é barulhento, vamos ser descobertos pela horda! — Dalila falou em um tom um pouco mais alto.
A inquietação do grupo que estava no meio acabou chamando a atenção de Celérius que estava na retaguarda, que acelerou o passo para tentar entender o que estava acontecendo.
Yelena também havia reparado que algo estava atípico, mas como a interação do Ayel não estava sendo com a Victoria, ela decidiu ignorar.
— Mesmo que eu atraia mais inimigos, tenho confiança de que eu derrotaria todos, ou morreria tentando… Não me arrependeria, isso é ser um verdadeiro bárbaro. Também não espere me ver esgueirando pelas sombras, matando os outros covardemente como você aprendeu a fazer. — O olhar de Alvorada retornou para Dalila enquanto ele caminhava. Sua voz era a personificação da provocação.
— Sua estúpida do caralho, não enche o saco. Se não for ajudar, saia.
Assim que Dalila escutou o insulto, rapidamente colocara sua mão em cima da katar. Ayel percebeu e virou para ela, parado, a encarava.
O restante do batalhão também parou, fitavam a cena.
A Belomonte estava no meio de ambos, e ela bufou desapontada, os dois pareciam crianças e ela sempre estava lá para intervir, principalmente por se importar muito com os dois.
— Em nome dos sagrados, não comecem! Esse não é o momento e nem lugar para suas picuinhas. — Reprimiu a mestre dos venenos.
Ayel riu sem humor, seguindo adiante, Dalila estalara a língua, voltou a andar para ficar próxima de Victoria.
— Mostre algum valor nessa batalha, algoz e talvez eu pare de achar que você sobreviveu aos goblins por sorte.
Enquanto disferia tamanha frase, o bárbaro acelerou o passo e tomou a frente do batalhão. Dalila estava fervendo em raiva.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.